quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Esquilinhos e avelãs no Cemitério de Old Brompton Road...

Os esquilinhos no Cemitério de Old Brompton Road...


Passeando de manhã por Roland Gardens, seguindo para Evelyn Gardens, ou contornando o pequeno quarteirão de Evelyn Gardens, indo até Crawley. Todos os caminhos dali vão dar à Fulham Road.
Ou, no sentido contrário, virando para trás, vai-se ter à Old Brompton Road, que é uma paralela, onde está o lindo edifício cor de rosa-salmão do Museu de Escultura...
Em redor são jardins, jardins, jardins... Jardins particulares, com chave, e só para os que moram ali, como o Evelyn Gardens, outros públicos com os seus banquinhos à bera das árvores.
A Roland Gardens é uma rua suave, de cores claras, muito mármore branco e tijolo vermelho, excepto o edifício Black Drake, o club-hotel, negro de cima abaixo, que contrasta vivamente com os outros prédios.Há trepadeiras lindas na Roland Gardens! Lembro uma, em especial, de glicínias, que, durante um mês inteiro, vi passar dos tons mais verdes e brilhantes, ao amarelo vivo, depois delido, enquanto as folhinhas começavam a cair. Quando me vim embora, na trepadeira de glicínias já não havia senão o tronco cinzento claro, à espera que, na Primavera próxima, voltem a brotar as florinhas lilazes e perfumadas. Pode-se passear sem destinopelas ruas de Londres, escolhendo sítios solitários, ou procurando as ruas iluminadas, brilhantes de luzes e de cores, os cafés fantásticos desde o Café Nero, aos vários Starbrucks, ao Paul...
Há um passeio completamente diferente... No final da Old Brompton que continua para fora, aos arredores da cidade, encontra-se o Cemitério de Old Brompton. Único no seu género. E com esquilos!

Os muros de pedras soltas, as árvores de copas altas, o portão largo de ferro pintado, cheio de desenhos e florões são os de um jardim Romântico.
E... o cemitério de Old Brompton é um jardim romântico. Diferente de todos em tudo, porque visitado pelas pessoas, pelas crianças,com bancos para se ficar a divagar sobre o sentido da vida e da morte... Com a cidade viva ao lado. Há longas áleas bem desenhadas, e relva por toda a parte. Os túmulos, as cruzes, os baixos-relevos são elegantes, alguns rostos esculpidos são delicados e os anjinhos, pensativos...
E mais ainda: n
o Cemitério de Old Brompton vivem famílias de esquilinhos! Que sobem e descem das árvores a velocidades incríveis, que páram, ou escutam, e correm para nós...
Convém irmos preparados, com saquinhos cheios de avelãs, de nozes e outros frutos secos. Disseram-me que não gostam de caju...
De repente, sem nos darmos conta, estamos rodeados de esquilos silenciosos que se aproximam sem medo, e nos olham curiosos e com uma certa expectativa, a ver se as mãos que estendemos estão cheia de frutos secos...
Sempre ouvi dizer que os esquilos comiam avelãs, mas estes, muito pequenos, tinham dificuldade em parti-las e corriam a escondê-las detrás de uma pedra, ou enterravam-nas na terra...
Seguravam com as patinhas dianteiras que parecem mãos pequeninas, quando tiravam os frutos secos das nossas próprias mãos.
Sem medo, e ao mesmo tempo indiferentes, tranquilos como se lhes fosse devido e o esperassem já de nós.
Os dentinhos vinham muitas vezes ajudar as patitas, e mordiam-me os dedos com força.
Mas mesmo essa dor, a sensação da mordidela -que até podia sangrar- era como se fosse um gesto amigo, tal a doçura que eles têm sempre.

Coisa estranha de se ver: no Old Brompton, convivem os esquilos com os corvos negros - e com as pombas brancas que esvoaçam e também vêm procurar ao pé dos humanos qualquer coisa para comerem...

Nunca me lembro de ter visto descer sobre mim uma revoada de corvos, como ali no Cemitério, com os esquilos ao meu lado. Ergui os olhos quase receosa: era uma sensação estranha, como se de repente qualquer coisa de escuro se deslocasse num céu azul. E assustava. Talvez me lembrasse do filme do Hitchkock...

Era uma nuvem negra e barulhenta que veio de longe e pousou numa árvore, de galhos já secos e abertos, como se ela já esperasse os corvos, tétrica, a meio dos túmulos e das pedras. Com os esquilos por ali, tínhamos esquecido que estávamos num cemitério... 

Agora, dezenas de corvos negros e brilhantes enchiam os ramos - como folhas negras.

Lembrei-me de um quadro de Isaac Levitan, o magnífico Levitan, que vi em Moscovo: a mesma árvore de ramos sem folhas e troncos brancos acinzentados e os pássaros –neste caso “les corneilles” que chamavam a Primavera.
Estranha coisa a natureza: os corvos vinham simplesmente comer a parte deles que, no fundo, com delicadeza, os esquilos lhes deixavam, deslocando-se um pouco mais para o fundo do jardim, e olhando para trás como se nos chamassem...
E lá íamos andando, nós e eles, com os sacos de plásticos quase vazios de nozes e avelãs, sempre atraídos pela beleza dos "suaves" esquilos.


Quando o jardim fechou o crepúsculo descia já sobre a cidade. Anoitece cedo por aquelas paragens.Era tempo de voltar para casa...
A pensar nos esquilos e nos corvos. Como teriam eles arranjado aquele 'mútuo acordo' para viverem bem naqule jardim já de si tão habitado por seres, adormecidos para sempre, ainda mais tranquilos...
Pensava, então, que só o bicho homem não é capaz de encontrar com facilidade estes "acordos"!

Voltávamos a Roland Gardens, ao anoitecer...

Respondendo ao "desafio" do blog "bicho carpinteiro"; aqui vão os títulos (das obras) que "não" me (puderam) marcar!



LIVROS, LIVROS, LIVROS!!!!
JÁ AGORA...ENTREM NESTE JOGO!

Títulos das dez obras que –NÃO- mudaram a minha vida

Respondendo ao desafio lançado por Austeriana no seu blog "bicho carpinteiro", por sua vez desafiada por "Catharsys" e por aí atrás, venho dizer quais os tais “títulos”:

Dez livros que {não} me marcaram... E poderiam, sim, talvez, mas –por motivos alheios- esses títulos não me puderam marcar...

Lembro-me de um conto do grande Bashevis Singer (procurar ler, se possível, alguma coisa dele no próximo ano!), “ a linha perdida”: um dia, um escritor que está sentado à secretária, escrevendo na velha máqueina de escrever, descobre que “perdeu” uma linha! Uma linha já escrita! A linha vai-se embora pela janela, por aí fora, entra e sai por outras janelas e cria uma data de sarilhos...
Foi talvez o que aconteceu com os títulos que vou citar...
Ou, então... Não poderia ter sido um “dibbuk”?! O famoso “dibbuk" (Não conhecem os dibbuks? Nunca se meteram vom vocês? Bem, o dibbuk é como um diabinho atrevido, ou um djin, que gosta de arreliar os humanos!) passou pelos títulos e deu-lhes um piparote tal que trocou tudo e nunca mais foram os mesmos!
Daí, não terem podido “marcar-me...
Vamos a ver o que ficou...

Romances/Contos/Policiais:
1. A Guerra e a Paz dos Forsyth, Tolstoï
2. A pérola de Shangai, John Seinbeck
3. Feira da Ladra, Thackeray
4. A Gripe, de Albert Camus
5. A Montanha da Lua, Thomas Mann
6. Lady Jane Grey, Charlotte Brontë
7. Tess de Ubirajara, Thomas Hardy
8. Corações pelo Centeio, Salinger
9.Champanhe e Diamantes, Scott Fitzgerald
(desta maravilhosa Antologia, destaco os contos: “A Patrulha perdida” e
Brideshead Revisited”!)
10. Ventos de Verão
, Emily Brontë
11. Emma Bovary, Jane Austen

...e entre os
romances policiais –como não podia deixar de ser !

1. O Falcão de Jade, Dashiell Hammett
2. Adeus, ó Bela!, de Raymond Chandler
3.
Seara dos Ventos, Dashiell Hammett
4. Um bolso cheio de caracóis, Agatha Christie
5. O cão verde, de Georges Simenon

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

"Gran Torino", de Clint Eastwood, o filme mais generoso deste ano!...De facto, penso o mesmo: "Life is the tiny things you left behind"...



"Tomar o peso do que é verdadeiramente importante: o valor (grande) de Gran Torino é esse e o tema criado por Jamie Cullum e a voz quente do intérprete e ...
E quero lá saber que os críticos digam que este filme é um lugar-comum."

Isto diz Austeriana no seu blog "bicho carpinteiro", em 26 de Setembro de 2009, que reli hoje...

Tem razão por vários motivos, mas digo só este: porque é assim...

A vida é mesmo as pequenas (e grandes, quando é possível... ) coisas que deixamos atrás de nós.

Não serve o "alibi" que por vezes escolhemos: "Ah! esta vida é muito complicada, não se pode fazer nada...!"


Pode-se fazer, sim.


(E viva o "slogan" da campanha de Obama: Yes, we can!)

As tais pequenas coisas... Tudo, afinal.


Sorrir à pessoa que vem no comboio, ao nosso lado, destruída, sem forças para nada, e sentirmo-nos solidários (Ai, solidariedade! Por onde andas?)...

Rir para a criança que procura o sorriso da mãe que lho não dá.

Perguntar à vizinha (aquele ser humano...) se precisa de alguma coisa...

Agradecer...

Fazer uma festa ao cão solitário de olhos tristes que erra pelas ruas.

E, por que não?, dar um toque no ombro da mulher (homem) solitária que anda sem saber para onde vai, com olhos que não vêem...

Ajudar com uma lembrança -mesmo pequena- os que querem -ainda- qualquer coisa...

Enfim, não é preciso ser o bom Samaritano da Bília...

Basta ser sincero no que se faz, ter uma palavra, um olhar humano... Até os cães percebem bem o que está no olhar dos homens...

Pensar que não existimos só nós. Há mais gente, há mais mundos...

Pensar nos outros. Mesmo que ao princípio custe...(é tudo muito complicado!...)


E, pronto, lá vem bem a propósito o Gran Torino, sim, esse filme generoso de Clint Eastwood, talvez o filme mais "bom" (não se choquem os professores de português!, é o mais bom mesmo! ) deste ano de 2009...

Que seja ele - e a frase que citei acima (encontrada no blog que referi)- a conduzirem-nos no próximo ano (complicado) que se aproxima, é o que VOS desejo...
Bom Ano 2010!
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Vejam este "trailer" e ouçam a música de Jamie Cullum.
Já gora podem ir ao blog do bicho carpinteiro ver o "post" de hoje: "J.C. ganda maluco!"
Vale sempre a pena...


domingo, 27 de dezembro de 2009

HURRAH PELOS MEUS ALUNOS!

"What a diference a day makes?", canta Dinah Washington:
Pois, faz toda a diferença!... Porque hoje reencontrei uma grande amiga! E vinte e quatro pequeninas horas antes, não sabia onde ela parava!

HURRAH, PELOS MEUS ALUNOS!

“Oh! Captain, my captain!”

Poucos momentos atrás, pus no blog uma canção de Dinah Washington. Foi ela, e a canção “What a difference a day makes?”, que me vieram à cabeça quando, hoje, me aconteceu, hoje de manhã, uma coisa fabulosa!
Como dizia no post anterior, "Faz toda a diferença..."
Porque hoje reencontrei uma grande amiga! E vinte e quatro pequeninas horas, antes, não sabia onde ela parava!
Ia a entrar para o carro, e vi uma jovem mulher pensativa, com um cão pela trela. Pareceu-me um vulto conhecido. Estava parada junto ao ribeirinho que, ainda hoje, corre ao lado da minha casa a olhar para longe.

Não, não o ribeirinho não é no campo, é em S. João do Estoril !
Por sorte do destino –e até quando?- este ribeirinho –onde, nos primeiros dias, ia colher agrião quando cheguei- mantém-se por aqui, tranquilo, excepto nestes dias invernosos, em que a corrente é forte e ruidosa, e quase me faz imaginar o rio Floss, de Georges Eliot...
Devo dizer que “a comissão de moradores” conseguiu que plantassem, ao lado dele e perto do muro meio caído, uns salgueiros, um chorão, alguns arbustos e muita relva.
Há um banco onde um grupo de alunos do Liceu se vem sentar, a conversar e a comer sandwiches ou um franguinho assado com batatas fritas, dividido por todos, pois os tempos vão difíceis...

Pois essa figura esguia, ligeiramente curva, virou-se e eu vi os olhos claros, o olhar tímido, mas cheio de personalidade, da Marta, uma aluna da turma de Artes que tive há alguns anos e que me deixou uma grande saudade.

Todos os alunos me deixaram sempre saudades, confesso, de uma forma ou de outra, e raro é aquele de quem me posso queixar...

No entanto, a verdade é que, numa turma de onze alunos (era esse o caso), se torna mais fácil a convivência, a relação afectiva que sempre achei tão importante como o ensinar a matéria do programa de Português.

E, ao mesmo tempo, falar mais de “outra literatura”, de “outra cultura” que não faz parte do tal programa, falar dos “pensares e dos sentires” (como tanto gosta de dizer a minha amiga Luísa M.).
Sim, saber dos desejos, das ânsias, conhecer um pouco do que se passa no “íntimo” desses seres em formação: as ideias, os ideais, as dificuldades, os gostos...
Trazer-lhes um pouco do que se passava “lá fora”, pois a minha experiência e a passagem por outros sítios levava-me a querer dividir com eles os conhecimentos que me fora permitido ter, os lugares, as artes...

Falávamos de Itália, de pintura, do fantástico Renascimento italiano, mas igualmente dos Impressionistas, Surrealistas e do que lhes vinha à mente quererem saber daquilo que eu, por acasos da vida, soubera. Monet, Manet, Renoir, Gauguin eram nomes que apareciam muitas vezes, e, claro, a beleza dos quadros de Botticelli, Leonardo, Filippo Lippi, ou dos maneiristas, Andrea del Sarto, de Caravaggio e outros.

Falávamos de filmes. Saíra, por esses anos, o filme O Clube dos Poetas Mortos, (O Clube dos Poetas Mortos, Dead Poets Society, é uma obra prima de
Peter Weir ) que todos fomos ver e de que falámos, longamente.

Quem não gostaria de ter tido aquele professor? E quem não desejaria ser aquele professor?! Claro que eu gostaria que me lembrassem do mesmo modo, sabendo porém que era impossível, mas amando que alguém o tivesse feito –mesmo que fosse só um filme...

Mr. Keating, o professor de Literatura Inglesa que lhes ensina Poesia e lhes faz declamar Walt Whitman, de cima das carteiras, que lhes diz quão importante é pensarem por si próprios (não esqueço o "ritual" das folhas rasgadas do Compêndio que explica os Poetas), o "carpe diem", o viver de modo intenso e sincero todos os momentos da vida...

Revejo a imagem dos alunos a subirem para o tampo das cadeiras, um a um, quando ele é afastado do Colégio, a gritarem, virados para ele, “Oh Captain, my Captain...” -o verso do poema que lhes ensinara na primeira aula.

E quem não lembraria a bela recordação do Good-Bye Mr. Chips de James Hilton? Qualquer professor com um mínimo de coração, teria adorado ver-se no “papel” de um deles...

Outros dias falava-lhes de um livro cuja leitura me tocara, nessa altura: Les Poneys Sauvages, de Michel Déon, e do velho professor que reúne quatro dos seus últimos alunos para lhes deixar uma mensagem, ou, antes, pedir-lhes uma promessa...

Quando me despedi dos meus alunos–partia uma vez mais, agora para África- falámos muito nisso tudo...
E reli-lhes a passagem do romance de Déon.
Fui agora buscar o livro e vou copiar um pouco desse momento.
É Georges Saval, um dos alunos, que conta ao narrador:

O professor Dewagh vai deixar a Universidade e voltar à Irlanda e quer que nós os quatro lhe continuemos a escrever. Vê cair sobre o mundo a catástrofe predita pelo Apocalipse. De mão estendida sobre a salamandra apagada, fez-nos jurar recusarmos ter destinos medíocres, e correr em socorro uns dos outros, sempre que for preciso. Dewagh está convencido que se quatro homens em dois biliões de indivíduos mantêm essa promessa, o mundo pertence-lhes... Jurei, mas pareceu-me um juramento pueril, o sonho de um tímido de meias de seda que nunca saiu dos seus livros. A guerra que nos vai cair em cima, não deixa grandes esperanças aos juramentos deste tipo...”

E, mais adiante, diz ele a uma amiga:

“(...)
São os primeiros póneis selvagens que vejo e talvez sejam os últimos. Vamos em direcção a um mundo onde cada vez menos vai haver póneis selvagens...”

Sim, ouvem a lição do professor. Anos mais tarde, na praia da Dunquerque, um deles vai repetir os gestos que o professor lhes pedira, e cumprir o juramento feito: “sempre que um de vocês precisar, ou chamar, ou correr perigo, os outros deverão responder a essa voz”.

De facto, sem pensar na própria salvação, Barry leva o corpo de Georges, gravemente ferido, às costas, através do areal escaldante, no meio dos gritos, debaixo de fogo, sem o largar, batendo-se contra tudo e todos, atravessando as linhas, arrostando com as proibições (nem todos podiam embarcar e serem salvos...), até depositar o seu corpo ferido num hospital de campo.
Anos antes, tinham discutido e tinham acabado zangados. Agora, salva-o, e desaparece sem lhe dizer nada.

Quando hoje a Marta disse que se lembrava do que eu lhes lera nessa aula de despedida, comovi-me...
Oh!, sim, Marta! Obrigada!
Oxalá os meus alunos tenham aprendido a lição do Professor Dewagh de solidariedade, e os vossos destinos não tenham sido –nem nunca sejam medíocres!
Oxalá continuem a ser os póneis selvagens que sempre foram para mim!

Para todos, meus queridos alunos, aqui vai um “Hurrah!”

E a poesia de Walt Whitman, que vos dedico, com amizade!

O Captain My Captain

a poem by Walt Whitman

1.

O Captain my Captain!our fearful trip is done,

The ship has weathered every rack, the prize we sought is won,

The port is near, the bells I hear, the people all exulting,

While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring;

But O heart! heart! heart!

O the bleeding drops of red,

Where on the deck my Captain lies,

Fallen cold and dead.

2.

O Captain! my Captain! rise up and hear the bells;

Rise up -for you the flag is flung, for you the bugle trills,

For you bouquets and ribboned wreaths, for you the shores a-crowding,

For you they call, the swaying mass, their eager faces turning;

Here Captain! dear father!

This arm beneath your head

It is some dream that on the deck,

You've fallen cold and dead.

3.

My Captain does not answer, his lips are pale and still;

My father does not feel my arm, he has no pulse nor will;

The ship is anchored safe and sound, its voyage closed and done;

From fearful trip the victor ship comes in with object won;

Exult O shores, and ring O bells!

But I, with mournful tread,

Walk the deck my Captain lies,

Fallen cold and dead.
(In Leaves of Grass, 1885, a que o poeta chamou "Song of myself")
****
Podem ver algumas imagens do filme neste pequeno video do Sapo. Vale a pena!

Nota importante:
Existe a edição portuguesa do romance de Michel Déon, "Os póneis selvagens"!
Ilustrações:
1. foto de Walt Whitman (1819-1892)
2,3,4 imagens do filme e do DVD de "O Club dos Poetas Mortos", de Peter Weir

"What a difference a day makes? Twenty four little hours..." e Dinah Washington, a Lady dos Blues... outra vez!


Dinah Washington e a canção:
"What a diference a day makes? Twenty-four litlle hours..."
Faz toda a diferença... Porque hoje reencontrei uma grande amiga! E vinte e quatro pequeninas horas antes, não sabia onde ela parava!
Já vou contar...
Depois.

Dinah Washington (29 de Agosto, 1924 - 14 de Dezembro, 1963) cantora americana de blues, jazz, e gospel singer. Voz forte, emocional, inconfundível...
Aqui a têm outra vez!
Bom Ano Novo, com Dinah Washington!

(Because of her strong voice and emotional singing, she is known as the "Queen of the Blues").


sábado, 26 de dezembro de 2009

A Poesia e o Sonho: Coleridge e o poema "Kubla Khan: or a vision in a dream"



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Coleridge e o poema “Kubla Khan”

Gravura :"Visita de Marco Polo ao Imperador Kublai Khan"


The shadow of the dome of pleasure
Floated midway on the waves;
Where was heard the mingled measure
From the fountain and the caves.
It was a miracle of rare device,
A sunny pleasure-dome and caves of ice!”
****
Sim, são versos do fantástico, onírico e misterioso poema “Kubla Khan: or a vision in a dream. A fragment” (1797), do poeta inglês Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), um magnífico, ainda que fragmentário devaneio lírico, que, segundo o poeta contou, lhe teria aparecido em sonhos, como uma oferta...

Aconteceu assim:
Em 1797 quando vivia em Somerset, em Exmoor, em casa do seu amigo Wordsworth e mulher, numa tarde de verão fumou ópio e adormeceu a ler uma passagem do Purcha’s Pilgrimage, que relata a construção do célebre palácio do Imperador chinês Kubla Khan (1215-1294), -o grande Imperador Mongol que conquistou a China e que
Marco Polo visitou-, em Shang-tu (Xanadu).
"A leste de Shang-tu, Kubla Khan erigiu um palácio, segundo um plano que havia visto em um sonho e que guardava na memória".

Quem escreveu isto foi o vizir de Gashan Mahmud, que descendia de Kubla.
Um imperador mongol, no século XIII, sonha um palácio e o edifica conforme a visão; no século XVIII, um poeta inglês que não podia saber que esta construção se originou de um sonho, sonha um poema sobre o palácio...”(in blog abaixo citado).

Ao acordar desse sono profundo, contou ao amigo que compusera em sonho umas 200 ou 300 linhas sobre esse tema. Sentou-se à mesa e começou a escrever os versos que formam o “fragmento”.
Tendo sido interrompido durante a escrita por alguém –“ a person from Porlock”-, ao retomar o trabalho, descobre que o resto do poema se lhe apagara na mente, desaparecera da memória...
Visões, uma cornucópia de imagens iridescentes, sugerindo outros mundos, o rio sagrado caindo com fragor numa fonte, o palácio do Khan, as cavernas, o “sunless sea”, o interior dos jardins paradisíacos onde surge a luz do sol, a cor.
E uma donzela...

Disso tudo, restam oito ou dez linhas dispersas, o resto dissipara-se “tal como as imagens na superfície de um rio para dentro do qual se atirou uma pedra...”, diz o poeta.


Curiosa, fui ler no “actual” manual de Literatura Inglesa (Oxford Concise Companion to English Literature) que actualmente me tem acompanhado, e que recomendo, consultei a net e encontrei alguns “blogs” interessantes.
No blog Afonso Henriques Rodrigues, li um “post” muito bem feito, de 26 de Novembro de 2008, intitulado “O sonho de Coleridge”:

"A leste de Shang-tu, Kubla Khan erigiu um palácio, segundo um plano que havia visto em um sonho e que guardava na memória".
Quem escreveu isto foi o vizir de Gashan Mahmud, que descendia de Kubla.Um imperador mongol, no século XIII, sonha um palácio e o edifica conforme a visão; no século XVIII, um poeta inglês que não podia saber que esta construção se originou de um sonho, sonha um poema sobre o palácio."

Lembro-me de ter lido o poema de Coleridge numa “Selecta Inglesa”, em Roma. A minha filha preparava nessa altura o "A level" de Inglês, no St. George’s School of Rome, e deu-mo a ler.
Estava entusiasmada e insistiu para eu o ler...

Hoje, quero trazer-vos um pouco do sonho de Kubla Khan –e de Samuel Taylor Coleridge, é evidente- , a pensar já no ano de 2010 e nos sonhos que gostaria que o Novo Ano vos (nos...) trouxesse...
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NOTAS:

(*) in blog citado acima:
"O poeta sonhou em 1797 (outros acham que foi em 1798) e publicou o seu relato do sonho em 1806, a maneira de glosa ou justificativa do poema inconcluso. Vinte anos depois apareceu em Paris, fragmentariamente, a primeira versão ocidental de uma destas histórias universais em que a literatura persa é tão rica, o Compêndio de histórias de Rashid ed-Din, que data do século XIV. Em uma página se lê: "A leste de Shang-tu, Kubla Khan erigiu um palácio, segundo um plano que havia visto em um sonho e que guardava na memória". Quem escreveu isto foi o vizir de Gashan Mahmud, que descendia de Kubla. Um imperador mongol, no século XIII, sonha um palácio e o edifica conforme a visão; no século XVIII, um poeta inglês que não podia saber que esta construção se originou de um sonho, sonha um poema sobre o palácio. Confrontadas com essa simetria, que trabalha com almas de homens e abarca continentes, parecem-me significar nada ou muito para as levitações, as ressurreições e o aparecimento dos livros religiosos. Que explicação preferimos? Aqueles que de antemão rechaçam o sobrenatural (eu trato sempre de pertencer a esse grupo) julgarão que a história dos dois sonhos é uma coincidência, um desenho traçado pelo acaso, como as formas de leões e de cavalos que as vezes configuram as nuvens. Outros argüirão que o poeta soube de algum modo que o imperador havia sonhado o palácio e disse ter sonhado o poema para criar uma esplêndida ficção que em si aplacasse ou justificasse o truncado e o rapsódico dos versos...


(**) A propósito de Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), e do poema"Kubla Khan, uma visão":
Em abril de 1796 Coleridge publica sua primeira colectânea, "Poemas sobre vários assuntos".
E, no final desse mesmo ano, escreve e publica "Ode ao ano que se vai".
Em 1797 começa a escrever "O velho marinheiro" e "Kubla Khan, uma visão".
(***)
Deixo-vos em companhia dos "Kublai Khan" (banda "thrash metal", formada no Minnesota em 1985):


quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Conto de Natal, dedicado a todos os meninos como os "Musas" deste conto...


Deixo-vos hoje este conto de Natal que o meu pai escreveu, há tanto tempo...

Achei que era o momento de o pôr no meu "blog" e, assim, recordá-lo com mais intensidade, o seu sentido de justiça, a sua humanidade... Com ele, quero lembrar os amigos que desapareceram para sempre e que não estarão presentes neste momento de festa.

Mas o espírito deles há-de andar por perto: a nossa saudade irá buscá-los, um por um, onde quer que estejam, trazendo, também, o meu querido cão Zac entre eles...
E ficarão contentes por nos ver felizes...
O quadro maravilhoso de Leonardo da Vinci -que o meu pai venerava- vai fazer-lhes a eles -e a nós também- boa companhia.

Bom Natal, amigos desaparecidos!

Bom Natal, "Musas" de todo o mundo!

Bom Natal, meus amigos de hoje!



UM NATAL DISTANTE...
Feliciano Falcão


"Conheci-os na minha infância longínqua como companheiros de brincadeira. E, ora que ora, a sua lembrança com insistência me volta, numa presença violenta de emoções encadeadas.

E uma noite de Natal me acode nítida, passada com eles nesse tempo tão remoto. Tenho nos olhos tudo, como se fora hoje.

A noite, bela e ríspida, com estrelas e luar, - um luar de brancura líquida a envolver a atmosfera. Na minha rua, na periferia da cidade (chamo-lhe minha, tantas recordações duras e doces que ainda guardo e por elas modelei esta personalidade simples), era um silêncio rústico quase total.
Todos recolhidos, uns, poucos, na unção da grande Noite, outros, a maioria, exaustos e mergulhados num sono fundo, sedante para as frustrações do dia adia... Na minha casa – lar modesto de camponeses transplantados para a cidade- onde os dias eram uns iguais aos outros, numa suave monotonia, gozava-se um interregno de Felicidade.


Meu pai, de olhos azuis e a bondade estampada no rosto, sentava-se, absorto, num banco a um dos cantos da lareira, olhando os grossos tições vermelhos. Minha mãe ocupava o outro canto numa cadeira de bunho, tirando da caçarola com o azeite fumegante as filhós encarquilhadas. Nós, eu e os meus irmãos- ficávamos entre ambos, exultantes e suspensos, num banco rústico, baixo e comprido.
Pela chaminé caíam flocos de fuligem sobre o lajedo da lareira. E sentia-se lá fora um vento fino que mais avolumava o senso de conforto da nossa casa pobre.
Nem o meu pai leria naquela noite o folhetim ingénuo do Notícias que o comovia até às lágrimas. Nem a minha mãe levaria o serão ponteando meias como era seu hábito.

Em roda tudo era mágico e prenhe de pulcritude, grato à imaginação infantil. Ali vivíamos esses momentos da Noite com uma simplicidade como a dos tempos bíblicos.

Mas esse contentamento puro de uma família simples (só as almas simples e as crenças podem ter contentamentos puros, integrais) em breve foi perturbado por plangência arrastada, cada vez mais próxima, vindo das costas da rua, para as bandas do jardim.
Um soluço de tonalidade infantil com intermitências agudas que punham frémitos nas nossas mentes incipientes. Vidas em botão, sós no mundo, ao deus-dará, sem um amparo, por flébil que fora, os “Musas” faziam o triste deambular costumado, a pôr uma obnumbração na Noite festiva e bela.
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Da mãe só tinham uma memória esfumada. O pai, sob o jugo de uma vida sem grandeza, conformado, umas vezes aqui, outras ali, pária em instabilidade pecuniária crónica, continuava nos filhos quase na origem o seu fado sombrio.

(Há certas vidas cínzeas dos homens de pura irracionalidade e adensada torturação. Se tudo lhes é negado e nem o vegetativo satisfazem. Ai, esta ladeira de ascensão para o justo e para o perfeito onde os seres e as coisas se nos espraiam até o âmago, dá-nos outro alento e um vigor novo!)
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E assim os “Musas” encetavam no mundo logo à nascença um drama dos mais tristes. Sujos, cheios de parasitas, descalços e rotos, metidos em calças compridas safadas, cobertos de sacos velhos, os vimos nestes dias invernosos, sempre juntos, semelhando dois irmãos siameses.
Um, o mais velho, seria da minha idade (João, onde estás?), de um castanho acobreado, de olhos grandes, era o professor do irmão, ele tão necessitado de protecção também. O outro, fino, linfático, de cabelos louros, parece-me agora de longe um bambino de Fra Angelico...

(O frágil bambino de Fra Angelico, na "Adoração")

Quantas vezes, quantas, corri com eles a avenida florida, primaveril, num viver despreocupado de almas pequeninas! E quantas, pela madrugadea, eu os sentia já vagueantes, acordados ao toque da alvorada do Quartel e à hora do almoço, dia após dia, de volta da Escola os encontrava à porta da parada metidos na bicha intérmina (uma fila heterogénea de corpos lassos, homens, mulheres, crianças) cada um com a sua lata ou panela a mendigar as sobras do rancho!
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E foi assim que a noite cheia de luar me tirou o terror todos e o primeiro anseio de solidariedade nasceu em mim naquele transe. Procurei na arca uma bolsa de chita onde meti uns nacos de pão e um bocado de toucinho também. E juntei, ainda quentes, filhós e azevias.
Fugi a porta fora com o asssentimento comovido de meu pai, de minha mãe, e o pasmo de meus irmãos, e, banhado de luar, sem medo (que o tocar lúgubre da corneta do sereno nem nessa noite se ouviria) tomei, rua abaixo, o rumo do recanto onde pernoitavam os “Musas”.

Lembro-me ainda das janelas iluminadas da casa do vizinho em frente, onde viviam duas donzelas bonitas (Oh! As coisas impuras que desencantam!: Mais tarde vim a saber como a corrupção minava a face folgazã daquele homem abominável), e de um romântico enamorado, de fato negro, encostado à parede, cor de cera, héctico, morrendo aos poucos com pulmões lacerados, a olhar a namorada também héctica, lá, muito alta, inacessível.

Na cidade, muitas luzinhas em emulação pálida com as estrelas e, ao cimo, a ermida de S. Cristóvão e o pinheiro esguio furando para o céu, persistente, como uma prece estéril.

Ao dobrar da esquina havia um recôncavo na parede da igreja e ali estavam os meus amigos abraçados uma ao outro, gelados, num choro monocórdico, cobertos com sacos esfarrapados por onde espreitavam as estrelas.
E eu sentei-me no chão frio, comendo com eles o que levava na minha bolsa.
Ainda sinto, a tantos anos de distância, o sabor daquele pão comido com os “Musas” sob o Céu mágico dessa noite de Natal.
Por isso, este, porque outros “Musas” sempre vivem, deu-me desde esses tempos distantes uma atitude de recolhimento e de amargo inconformismo."

(in semanário “A Rabeca", nº 1413-1414, de 25 de Dezembro de 1946, pp. 3 e 8)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Boas Festas, Bom Natal! Lembrando José Régio...

(foto do blog Valandgui)
It's Christmas time...
Um poema de Natal de José Régio

NATAL

Mais uma vez, cá vimos
Festejar o teu novo nascimento,
Nós, que, parece, nos desiludimos
Do teu advento!
Cada vez o teu Reino é menos deste mundo!
Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos,
Festejar-te, ─ do fundo
Da miséria que somos.
Os que à chegada
Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,
Somos ─ não uma vez, mas cada ─
Teus assassinos.
À tua mesa nos sentamos:
Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome;
Mas por trinta moedas te entregamos;
E por temor, negamos o teu nome.
Sob escárnios e ultrajes,
Ao vulgo te exibimos, que te aclame;
Te rojamos nas lajes;
Te cravejamos numa cruz infame.
Depois, a mesma cruz, a erguemos,
Como um farol de salvação,
Sobre as cidades em que ferve extremos
A nossa corrupção.
Os que em leilão a arrematamos
Como sagrada peça única,
Somos os que jogamos,
Para comércio, a tua túnica.
Tais somos, os que, por costume,
Vimos, mais uma vez,
Aquecer-nos ao lume
Que do teu frio e solidão nos dês.
Como é que ainda tens a infinita paciência
De voltar, ─ e te esqueces
De que a nossa indigência
Recusa Tudo que lhe ofereces?
Mas, se um ano tu deixas de nascer,
Se de vez se nos cala a tua voz,
Se enfim por nós desistes de morrer,
Jesus recém-nascido!, o que será de nós?!

( in Diário de Notícias, edição nº 33 345, 25 de Dezembro de 1958)

Faz amanhã, dia 22 de Dezembro, 40 anos que José Régio morreu . Quis recordá-lo com um poema de Natal seu...

Música de Natal: Bing Crosby e "White Christmas": imagens e canção inesquecíveis


O Natal vem-me sempre à ideia com imagens de neve, pinheiros do Norte, a árvore de Natal com balões vermelhos, bocadinhos de algodão ou os sofisticados "cabelos de anjos" no meu tempo, hoje luzes coloridas ligadas à electricidade, no meu tempo velas verdadeiras -e era preciso estarmos atentos para não queimarem os bonecos ou o pinheirinho.
Recordo um Natal (foram vários, aliás...), passado em clima tropical, no meio do calor.
A temperatura era superior a 38 graus e a percentagem de humidade enorme, talvez 90%!
Em S. Tomé, quase na linha do Equador...
Fiz a minha árvore de Natal, como sempre e, da primeira vez, confesso que fiquei surpreendida ao abrir a porta da rua e sentir o bafo de calor húmido e os cheiros de África que vinham lá de fora, em vez do fresco dos natais anteriores: era a estação das chuvas, a mais quente do ano, e que dura cerca de oito meses.
Apenas as chuvadas súbitas refrescam um pouco os corpos. Quase nos apetece andar à chuva...
Vêm, às vezes, acompanhadas de trovoada, ao longe o ribombar dos trovões, mas, tal como chegavam, desapareciam num instante e voltava o sol escaldante.
Ainda hoje vejo o espanto dos filhos da Milly, e dela própria, do Sr. Semedo, da Nina e da Tina, a alegria nos olhos iluminados pelas luzinhas acesas, o contentamento com as prendas...
A Dáy, o Nini, o Maiquel de olhos bem abertos, a ver os balões, estendo os dedos para tocar nos fios prateados, espantados e a rirem-se.
E lá vinham as canções de Natal e o Bing Crosby, ou o Dean Martin, o Frank Sinatra, e as "eternas" músicas: "White Christmas", ou "Silente Night"...
Se tenho saudades?
Oh!, sim, muitas saudades...
Bom Natal!



sábado, 19 de dezembro de 2009

Sunderland, a Universidade, o porto, a indústria do vidro e a neve hoje...

Falo-lhes hoje de uma cidade no norte de Inglaterra que tem a particularidade de ser uma das maiores Universidades para estrangeiros no país...

Está situada na costa nordeste da Inglaterra tendo fácil acesso a toda a beleza dos campos da Inglaterra, e ao mar. Tem o rio, um farol, e o mar e os rochedos logo ao pé. Tem campos e campos verdes, relvados por toda a parte. A Universidade está situada perto do mar.


O nome de Sunderland deriva, provavelmente, de Sunder, o rio, e de "land" ( terra dividida pelo rio), terra que foi concedida ao Bispo Benedict, em 686 AC.

O porto de Sunderland tem mais de 800 anos de existência atrás de si, com uma “carta” que lhe permitiu o comércio marítimo desde 1154. A indústria continuou a crescer ao longo do rio, com docas que existem desde 1382.



A indústria do vidro estabeleceu-se cedo, trazida pelos Flamengos -chamados pela Igreja para virem embelezar o mosteiro, começando então essa indústria pela qual Sunderland ainda hoje é famosa.
Nevou ontem em Sunderland, como em muitos sítios com certeza, mas vi estas imagens de neve e aqui vos deixo um pouco dessa neve, do pôr do sol, do rio, da igreja.
Imagens que encontrei no blog arquivo-fotográfico. Espero que gostem...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

George Eliot e "O Moinho à beira do Rio"




Hoje, quando li a última página d’ O Moinho à beira do rio” e fechei o livro, estava comovida e as lágrimas vieram-me aos olhos.

Como, com certeza, terei chorado quando o li, adolescente.

Depois fiquei contente por essa emoção, contente ao ver que podia ainda comover-me com a sorte ingrata de seres –tão vivos como os vivos- criados pela pluma de uma grande escritora.
Seres tão verdadeiros que, com a vida deles, e por eles, ao longo das quase 500 páginas, me senti acompanhada.

Tom e Maggie, a infância feliz e despreocupada, os amuos, as zangas dele, irmão mais velho, a susceptibilidade dela.
Os “avisos do destino” –como diria Régio (é o título do III volume de A Velha Casa)- que se sucedem, a desgraça que vem, regularmente, bater à porta da família Tulliver.

Lá está o moinho, na confluência dos rios Ripple e Floss, rodeado de árvores, a pequena ponte, os botes ancorados ao lado, o bosque de Red Deeps, onde Maggie vai falar com o seu amigo Philip Wakem; e o rio Floss, de águas calmas, transparentes, ou encrespadas, ameaçando a cheia que todos receiam.
George Eliot descreve tudo tão bem, fixa os lugares, as pessoas, a passagem do tempo.
Faz-nos entrar logo no mundo desta gente: Maggie e os seus entusiasmos, a visita ao acampamento dos ciganos, as suas paixões.
Imaginamos facilmente a figura morena e atraente, tão fora da loira família Dodson, com os cabelos negros e revoltos, que a mãe desesperava de pentear...
Tom e a sua força de carácter, a teimosia - que raia a estupidez- que o não deixa compreender o feitio rebelde da irmã, as hesitações, as mudanças.

E os outros... O pai, a mãe, as aprumadas tias Gleggs, Deanes e Pullets (em solteiras, Dodson, irmãs da mãe) e os seus maridos.
Depois, a descrição e caracterização das figuras secundárias, da "sociedade" de St. Ogg -uma cidade de província, igual a todas no mundo, a observação, a cuscovilhice, as críticas impiedosas, a falta de generosidade no julgamento.

E, em contrapartida, a afeição do bom Bob Jakin, o amigo de infância, pobre e inteligente, que “segue” –e protege- os dois irmãos, fielmente, de longe, atento a tudo o que possa fazer-lhes mal.
Bob e a sua mulher pequenina e doce, a casinha junto ao rio, o cão Mumps que é bom, "melhor do que muitos cristãos", como ele diz a Maggie:
“Uma bela companhia, se é! Entende tudo e não incomoda ninguém. Meu Deus é bem bom ter um bicho caladinho que gosta da gente; ele há-de defendê-la...” E deixa-o ao pé dela, para a ajudar.

Tanto sentimento, tanta compreensão, tanta certeza na análise psicológica.
Um belo livro, sem dúvida, em que, desde o início, sentimos a tragédia que paira sobre a cabeça dos dois irmãos e ansiamos por que não chegue: aproxima-os, afasta-os até ao reencontro no fim...
Não, não vou contar a história! Procurem lê-la depressa!

Música: a voz maravilhosa de Dinah Washington, uma das Ladies do Jazz...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O policial "Olhos de Jade" e o seu herói - que não é o Corto Maltese de Hugo Pratt...


"Os Olhos de Jade", de M. J. Falcão



CAPÍTULO 9


No ferry que se aproxima de Newhaven, a sul da costa inglesa, um homem novo está encostado à amurada. Fuma nervosamente, enquanto olha o horizonte aproximar-se.
Alto, tem os cabelos ruivos, os olhos castanhos, e as olheiras fundas de quem não dorme há muito tempo.
-Que pesadelo!..., diz em voz baixa.
E continua, a pensar:
-“Como é possível voltar a casa e saber que está morta? Que não a posso ver... As ilhas dão-me azar. Da última vez, na minha ilha de África, perdi o meu pai, a minha infância...tudo desapareceu num momento... Agora, aproximo-me da minha terra, outra ilha, e vou encontrar a morte da minha mãe...”

Revia os espaços de África, o verde infindável da floresta na bruma, o mar dum azul sempre vivo, a chuva a bater no telhado da casa, as torrentes de lama vermelha descendo a rua na estação das chuvas. O jardim tropical e os frutos que lhe pareciam de todas as cores do mundo...
E a imagem da mãe, no seu vestido branco com papoilas, a segurar o chapéu de palha com uma das mãos, e as fitas vermelhas caídas atrás sobre os cabelos ruivos, os olhos azuis a brilhar, divertidos, parecia flutuar na frente dele, sobre as águas.
-Meu Deus! Como foi possível!? Ela não devia morrer!

Falava alto, sem dar por isso. Sacudia a cabeça mas as imagens não o largavam. Via os pais e a irmã no jeep atolado. Eles, miúdos, com o o Zurigo e o pai, a tentarem tirá-lo da lama, pondo enormes folhas de palmeira secas e duras, que lhes picavam as mãos, debaixo das rodas.
A mãe, agarrada ao volante, a rir-se. Depois, o fim desse mundo maravilhoso de espaços abertos, o corte tremendo e doloroso, a chegada à cinzenta Inglaterra onde nunca mais se sentira em casa. O fim da infância. Sem o pai...

-“O que é que eu vou fazer? Morreste, mãe, e a vida parou... Estamos separados para sempre? Calo-me. Como posso calar-me?! Aceitei já a tua morte?”

Sentia uma angústia enorme. Tinham-lhe vindo à memória uns versos de Hanoch Levin, que a mãe gostava de declamar:

Aceitar a morte?
sem gritos, sem protestos”?...

-“Sem me revoltar? Em silêncio, mãe?"
Sentia-se melhor, a protestar, a falar com ela...
- "Tinhas razão quando dizias que um dia iria aceitar a tua morte em silêncio...
-“Inelutável...”, lembrava-se de a ouvir dizer há tanto tempo.
- "E nunca mais nos vemos?", perguntava ele, ainda miúdo, revoltado, assustado.
- ...“Fica só o pensamento, a lembrança, mais nada...”

Ia recordando os versos:

Silent…meaning you did not rise,
did not rebel...
meaning you go this way,
I go that...”

-“Como posso deixar-te ir embora, sem protestar? Cada um para seu lado, como na poesia?. Separados para sempre... E recomeçar tudo do princípio... mas sem ti. Mais sozinho, o vazio à volta..."
Com uma das mãos tentava arrumar os cabelos despenteados pelo vento e pela maresia, segurando o cigarro apagado na outra.
Gritou, sem se dar conta:
-Não quero!
Encolheu-se dentro do duffle-coat, arrepiado, na solidão da manhã.

-“Parece mais frio que em Amesterdão! Ou será ideia minha? Será do cinzento do céu? Ou porque estou gelado dentro?...”

A costa aproximava-se, o movimento dos viajantes começara, ouviam-se vozes, os motores a aquecer. Dirigiu-se para o carro, sentou-se e ficou a olhar para o mar, à espera. Lembrava a irmã.
- “Pobre Joan, imagino o estado em que está...”

Recordava tudo. Soubera da morte da mãe pelo telefone. Joan chamara-o de Abidjan.
-“Michael querido, vou dar-te um desgosto enorme. Desculpa, tenho de ser eu a dizer-te, só eu é que posso... Uma coisa horrível...”
A voz dela suspendeu-se, por um instante, depois ouvira-a respirar fundo e dizer num arranque:
-“A mãe morreu...”
-“A mãe? Estás doida?!”
-“Morreu...”
-“Não é possível a mãe morrer”, pensara...
-“Foi há três dias. Só soube agora, telefonou-me o Gabriel. Já marquei o voo, parto amanhã à noite.”

Ele calara-se. Como se o coração lhe tivesse parado. Não conseguia perceber o que ela dissera.
-“Imaginação?! Pesadelo?”
Era um sonho aquela conversa. Um pesadelo do qual iria acordar...
"Não era possível!"
-“Michael, ouves-me?... “
-“Sim, ouço...”
Esforçava-se por articular os sons.
-“E não dizes nada?! Protesta, meu Deus!”
-“Não quero acreditar, não posso...
- "Michael!
-"Estou aqui, querida Joan! Ouço-te! Custa-me a acreditar... Dizes que a mãe morreu... Como?
A voz soava metálica, como se não fosse ele a falar. De repente percebeu que ela começara a soluçar, primeiro devagarinho, depois convulsivamente, sem conseguir parar.

-“Joan, Joan, por favor, não chores...”
-“Michael, não sei o que hei-de fazer. Tu vais ter comigo?”
-“Vou o mais depressa que puder. O Peter vai contigo?”
-“Não, tem estado a trabalhar fora de Abidjan.
Hesitou e disse:
- "Sabes, acho que certas situações temos que as viver sozinhos...
Engolia os soluços, queria mostrar-se forte, como sempre procurara ser.
-“És uma tipa dura”, gostava de dizer a mãe, a brincar.
Mas agora era tão difícil ser forte...

-“Como foi?! Como é possível que a mãe esteja morta? Não estava doente, não tinha nada!”
-“Não sei os pormenores. Sei que foi de repente, disse-me o Gabriel, e confesso que nem quis ouvir mais... Telefono-te de Brighton, sim? Vou precisar da tua força, Michael. Ajuda-me, por favor!”
-“Eu vou depressa ter contigo, Joan!”

Mais tarde, de Brighton, voltara a telefonar-lhe.
-“Ouve, Michael, tudo isto é muito esquisito. Dizem que foi paludismo, mas eu não acredito, não pode ter sido. Há coisas que me parecem estranhas... Sabes o que eu penso?
- Não...
- Que foi envenenada! Não sei porquê, nem sei quem foi...
-“Mas isso é um absurdo! Porquê a mãe?”
-“Não sei. Tenho as minhas razões... A mãe tinha-me escrito, estava assustada. Havia alguém que a quis matar, e conseguiu!”
- “Escreveu-te a dizer o quê?!”
- “Deixa, depois falamos. Tens que dizer que acreditas no que te estou a dizer!
- "Sim, acredito...
- "Oh! Michael, vem depressa!”
- “Vou, sim, Joan, tem calma... Espero estar aí o mais tardar no fim da semana.”

O barco abria-se como o ventre de um animal gigantesco. O mar cinzento agitava-se, violento, as ondas batiam com força no casco.
-“O Jonas devia sentir-se assim a sair de dentro da baleia...”

Tentava ironizar, mas sentia o rosto esticado no esforço de conter as lágrimas que com a água salgada lhe ardiam nos olhos e na pele.

E ali estava, quase a chegar a casa. De Newhaven seguira a estrada junto ao mar.
Em menos de meia hora estaria em Brighton e dali a Arundel era pouco. A casa ficava antes de Arundel.

Olhava a paisagem, via de um lado o mar, do outro as doces colinas dos Downs e lembrava os tempos em que fora feliz ali.
O que o aguardava? Qual o mistério que envolvera a morte da mãe? Ignorava. Sabia que Joan estava sozinha e precisava dele.