sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Um amigo inesquecível...




"O meu cão era um raposinho abandonado que o meu  filho encontro, rafeiro lindo, de pêlo vermelho, olhar inteligente e doce. 
Tinha umas orelhas macias como veludo, caídas - quando estava a descansar e punha um ar pensativo, arrebitadas - quando alguma coisa lhe despertava o interesse, ou queria sair para a rua..." 

(in "A Minha IIha Perdida", colectânea de contos meus, inéditos claro...) 



"Unforgettable" canta Nat 'King' Cole e Nancy Cole, sua filh

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

MARTIN LUTHER KING 50 ANOS..




Uma data que mudou a percepção de uma certa América sobre os negros e a igualdade de direitos para todos.

O discurso de um Homem.  O homem foi Martin Luther King que nasceu em Atlanta, no dia 15 de Janeiro de 1929.

A cidade de Atlanta, hoje




O Cerco de Atlanta 1864


E foi assassinado, em Memphis, à beira do Mississipi, capital do esclavagismo no passado, a 4 de Abril de 1968.

Memphis

No dia 28 de Agosto de 1963, convocou uma marcha sobre Washington de que participaram centenas de milhares de pessoas: brancos e negros. 

E nela participaram artistas, escritores, músicos. Negros e brancos: Sidney Poitier, Joséphine Baker, Marlon Brando, Joan Baez ou Bob Dylan. Ou Mahalia Jackson.


O problema é que muita gente nem sabe bem o que ele fez ou disse...

O "meu" problema é que não posso pensar nisso sem vir logo dizer, ensinar, relembrar.

Como diria Fellini no seu filme Amarcord. "Amarcord" é exactamente lembrar, amando, com amargura e amor, o que se recorda....

E o que quero recordar é belo!

Há 50 anos, realizou-se uma marcha sobre Washington, exigindo direitos fundamentais para todos.


Há 50 anos, o pastor Martin Luther King “arrastou” consigo, num sonho, em palavras cheias de entusiasmo e de força. 

“Eu tenho um sonho”, dizia ele.

E milhões ouviram falar do seu sonho e acreditaram no que ele anunciava. E, provocados por ele, pensaram se, de facto, se preocupavam a sério com os outros. Porque ele detestava a indiferença.



“Eu tenho um sonho”... e falava da esperança de um dia os seus filhos viverem lado a lado com os seus coetâneos brancos.

“Eu tenho um sonho” e insistia na igualdade de direitos: a liberdade, o direito ao trabalho, a justiça social.

"Eu tenho um sonho" e exigia o fim da segregação racial. 

Rose Parks, 1955, com Martin Luther King atrás

Anos antes, em 1955, Rose Parks fora presa, em  Montgomerey, por não ter cedido o seu lugar no autocarro a uma branca. 

Martin Luther King apoiara-a e os líderes negros decretaram um boicote aos autocarros de Montgomerey.

De tudo falou, convidando ao sonho. 
Céu e nuvens - foto de R.A.M.


“Eu tenho um sonho...” E, quase no final do discurso, disse: “Eu tenho um sonho que um dia haja um Presidente negro nos Estados Unidos da América. Quem sabe, talvez nos próximos 40 anos. Ou mesmo 25 anos.”

Hoje a América tem um Presidente negro. 


Há 50 anos, provavelmente Barack Obama não teria sequer podido frequentar a Universidade...


"Eu tenho um sonho!"

Não se pode evitar ter sonhos...



segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O regresso de J.D. Salinger?


Le Monde: livros de Salinger, em 2010



Fotografia de El Pais

O New York Times revelou ontem, dia 25 de Agosto, que - segundo o documentário e o livro, ambos intitulados Salinger- a sairem nos USA no dia 6 de Setembro, pelo menos cinco  novas obras do escritor americano J.D. Salinger, poderiam ser publicadas a partir de 2015. (Le Monde online, de hoje)


O escritor, de facto, deixou muito cedo de publicar os seus livros.  Em 1974, confessou mesmo em  entrevista ao New York Times: “há uma paz maravilhosa em não publicar”. 

Quando morreu, em 2010, muito se escreveu e muito se esperou... Teria Salinger deixado alguma obra na gaveta para publicar? 


O mistério durou até ontem...


Um dos autores da Biografia, Shane Salerno (também realizador do documentário sobre a vida de Salinger) disse que antes de morrer o escritor teria deixado indicado a "Salinger Estate" (o organismo que gere o seu património artístico) quais as obras a publicar: algumas completamente inéditas, outras refeitas.

A obra de Salinger deixou sempre perplexos alguns. E há os que duvidam da sua real diferença. É ou não é um génio? Vai ficar ou não na Literatura Mundial?

 Que importa? 

Muitos  são seus fãs incondicionais (como eu). 

Escreve Michiko Kakutani, crítica literária famosa do NYT, num artigo muito interessante, sobre Salinger:

"Como diz  Franny de Mr. Salinger, os seus personagens, sentem que 'tudo o que toda a gente faz é tão - não sei bem- não propriamente errado, ou mesquinho, ou mesmo necessariamente estúpido. Tão pequeno e insignificante e faz sofrer tanto. ' "

É o sofrimento causado pelas pequenas coisas que se dizem sem pensar (?) e que magoam os outros; as frases mesquinhas que procuram humilhar; os comentários aparentemente involuntários para rebaixar e diminuir o próximo.

Michiko Kakutani

J.D. Salinger foi um dos escritores mais lidos pelos leitores adolescentes. Porque não se esqueceu da sua adolescência, porque crescer foi difícil, porque ver morrer e matar, na guerra, o marcou.
Salinger (de bigode, à esquerda) com os "mosqueteiros"



E porque sabe falar da susceptibilidade, da sensibilidade ferida, do sofrimento, da revolta, da "febril especialidade" da adolescência.

O seu romance  The Catcher in the Rye foi um dos livros mais amados. E Caulfield, o herói, ficou na história dos que não conseguem esquecer a adolescência, ou se recusam a crescer...




Como dizia Salinger: "todos crescem, mas alguns limitam-se a envelhecer"...

E é bem verdade. Não precisa de ser um génio para ser importante um escritor. Quanto a mim,  precisa, sim, de ter  coisas (importantes) a dizer e escrevê-las, comunicá-las,  de modo pessoal!

Disso não tenho qualquer dúvida!

Charles Aznavour faz sempre bem à alma! e "Sa jeunesse" e "Hier encore" falam de nós...

Ouvir Aznavour lembra-nos que o tempo passou.  Mas...só envelhece quem deixa! Foi o que concluímos ontem: a Lívia e eu.


Conhecemo-nos aos 14 anos, no Liceu de Castelo Branco e somos amigas desde então. Líamos muito, líamos os mesmos livros. Ela, nervosa e extrovertida, eu, calma e introvertida. Ela com o seu cabelo loiro, eu de cabelos castanhos (hoje -as duas- pintamos o cabelo, claro) Ela a rir com grandes gargalhadas, eu a rir com ela, sem gargalhadas. 


Feitios. E, sempre, o respeito pelos que não são iguais a nós, mas que amamos. Daqueles de quem somos amigos até à morte!

Eu casei muito cedo, ainda estudante, ela não. 



Separámo-nos anos sem fim e voltámos a encontrar-nos. Em Roma, lembro-me bem. E recomeçámos. Muita água passou debaixo das pontes, e do Pont Mirabeau também, muito destino aconteceu, nem sempre bom, quando a doença vem e nos quer atingir, anos e anos passaram. 

As flores murcham mas podemos sempre pintá-las num quadro!
Myrna Landau

Que importa? Falamos da mesma maneira, rimos das mesmas coisas... E ainda acreditamos nos outros e que a vida vale a pena. E concluímos que o Aznavour tem razão: 

"Il faut boire jusqu'à l'ivresse sa jeunesse!"
"É preciso beber a nossa juventude até à embriaguez!"

Ninguém mais a viverá por nós...


Amiet, Jarra de flores azul


sábado, 24 de agosto de 2013

Estufa de ananases, na ilha de São Miguel



Uma maravilha a estufa de ananases (aberta ao público) que tive a sorte de ver em São Miguel.








Situada numa quinta paradisíaca, colorida do verde das árvores encantadas no tempo, como belas adormecidas.











Bela igualmente a araucária enorme, bem central na quinta, e que deve bem medir dezenas de metros de altura.






De pequeno porte, nos anos 30, contaram-me que serviu de árvore de Natal, na festa da família, e re-plantada dias depois.





Mas voltemos às estufas. Verdadeiras jóias de arquitectura e design, na sua elegância e rigor estético, recortavam-se no céu pesado de nuvens cinzentas.



Por fora, magníficas e, no interior,  tinha-se sensação de poder ver crescer os ananases, à medida que íamos de estufa em estufa! Simples folhas, depois já floridos, depois os frutos.














E o tempo passa, sem cansar.


A realidade que nos rodeia, ao sair, é, também, sempre diferente...E o tempo vai mudando.


Nesse dia, o clima passou várias vezes do sol brilhante ao chuvisco, da chuva cerrada, ao calor, do céu azul ao cinzento-chumbo, sem esquecer a chuvinha "molha parvos" ao cair da noite...


Aprendi coisas.

~
Interessante, por exemplo, saber que o ananás foi levado do Brasil para os Açores, nos meados do século XIX (ananas comosus), inicialmente como planta ornamental. 

Ananás e abacaxi são dois termos para designar a mesma coisa. Uma coisa bem boa!


O ananás foi "descoberto", em 1493, pelos navegantes de Cristóvão Colombo.





É um fruto que nasce nos climas tropical e sub-tropical, existia, pois, em toda a América do Sul.





No século XVI, ao chegar ao Brasil, os marinheiros portugueses descobrem que os indígenas cultivavam o ananás. 


Chamava-se "ananás" ou "abacaxi", conforme a língua dos autóctones: dizia-se "naná", em guarani e "abacaxi", em língua tupi.


O primeiro cultivador de ananases, em São Miguel, foi José Bensaúde. A primeira exportação fez-se em 1864.

Mais coisas importantes:  dizem que o ananás de São Miguel é dos mais doces do mundo! Provei-o, vi que era!



E vem-me à memória São Tomé, os ananases... e a Dáy! 


A beleza da vida, da natureza, das pessoas é sempre igual!

ananas comosus (wikipedia)