sábado, 31 de outubro de 2015

Boa noite com os U2 - Stay (Faraway, So Close!)

Bono, vocalista dos U2 nasceem 10 de Maio de 1960, em Dublin.


A banda é “criada” por ele, em 25 de Setembro de 1976, com David Evans, o irmão Dik e Adam Clayton.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Les Demoiselles De Rochefort , Françoise e Catherine...


Françoise Paulette Louise Dorléac nasceu em Paris em 21 de Março de 1942 e morrer em Nice em Junho de 1967.

Uma actriz que prometia ter um grande futuro. Trabalhou com René Clair, François Truffaut, Polanski, Jacques Demy e Philippe de Broca.

Com 25 anos, morre num acidente de automóvel, prisioneira das chamas do carro. Ia para o aeroporto de Nice onde embarcaria no voo para Londres para assistir à estreia de Les Demosielles

Como já ia atrasada, viajava a grande velocidade e, ao deixar a auto estrada, o carro despistou-se, rodou sobre si próprio e incendiou-se. Ninguém conseguiu ajudá-la a sair, a porta estava travada por dentro. Era um Renault 10.
Alguns filmes em que participou:
1961, La fille aux yeux d’or (de um romance de Balzac), filme de Albicocco;
1964, L’Homme de Rio, com Jean-Paul Belmondo, de Philippe de Broca;
1964, La peau Douce, de FrançoisRabin, com Jean Desailly.
Truffaut
com Jean Desailly

Nesse ano mesmo, saíra o filme de Jacques Démy, com as duas irmãs Françoise e Catherine: “Les Demoiselles de Rochefort”.



Françoise era irmã de Catherine Deneuve. Filhas do actor de teatro Maurice Dorléac.

 1995, Catherine Deneuve

Em 1996, Catherine publicou, com o escritor Patrick Modiano (hoje Nobel de Literatura), uma biografia romanceada da irmã: “Elle s’ appelait Françoise”.

sábado, 24 de outubro de 2015

Trieste e o barco dentro da cidade…

um barco no pôr-do-sol de Trieste (MJF)

De repente, em Trieste, um barco. 
Ao longe? No horizonte? Não. Mesmo detrás dos telhados vermelhos e das chaminés, em frente da minha janela. Podem vê-lo a espreitar por cima do telhado do lado esquerdo.
telhados de Trieste e o barco (MJF)
Como se estivesse encaixado no meio das casas, viam-se cores estranhas: as riscas brancas e negras da nave enorme, que  chegava à altura dos prédios.
Confesso que, primeiro, senti o choque de ver um barco dentro da cidade! Como era possível?
Trieste parecia-me livre destes paquetes de recreio que percorrem o Mediterrâneo para cima e para baixo, cheios de gente que não se vê.
Sobem até Veneza e “instalam-se” dois dias, ou apenas uma noite, subindo e descendo o canal da Giudecca, na cidade lagunar. Duas ou três vezes na semana. Os venezianos sentem-se invadidos pelos 'bárbaros', outra vez.
Piazza San Marco (MJF)
E a gente invisível “espreita”, lá de cima, a Piazza San Marco, a Salute, as ilhas ao longe. Alguns descem a terra, outros não. As cores do barco avistam-se da praça. As águas estremecem de certeza, numa ondulação forte, e vão bater nos suportes de madeira onde Veneza está implantada sobre palafitas.
Piazza San Marco (MJF)
Os venezianos escondem-se no Castello, no Cannaregio, nas Zattere ou Dorsoduro. Os venezianos que ainda vivem em Veneza e que são cada vez menos. 
Cannaregio (foto da net)
Zattere (foto da net)



Cannaregio, à noite (MJF)
E saem à noite quando a cidade se esvazia dos turistas e volta a ser bela. E volta a ser deles um pouco mais, até à manhã seguinte. Os primeiros vaporetti chegam carregados de turistas, da Ferrovia ou da Piazzale Roma bastante cedo.
Laguna e Canal Grande (MJF)
Cannaregio à noite (MJF)

telhados de Trieste (MJF)
Agora, em Trieste, de repente, um barco!

Desço a rua Diaz e dirijo-me para a Piazza dell’ Unità como todas as manhãs. Vejo-o atravessado numa das ruas que cruzam a via Armando Diaz e a riva del Mandracchio. Imóvel. Silencioso. Imponente.

Piazza dell'Unità com barco (MJF)
Num dos ângulos da Piazza, a nave dá a ideia de querer entrar por ali. Sei lá como, um par de noivos aparece a dançar...
Piazza dell'Unità d'Italia e noivos (MJF)
Mais tarde, ao cair da noite, encostado, de proa virada para o cais, a nave vai-se iluminando com a luz rosada do pôr-do-sol no golfo de Trieste.
A noite desce, devagar, e a nave, no céu cor de rosa, enche-se de luzinhas douradas que desenham as amarras, os cabos e as janelas. 
a nave e os pescadores (MJF) 
Um pescador olha distraidamente o barco, com a linha de pesca na mão e fala com um amigo. De que falarão? Muito provavelmente falam do barco que entrou quase pela cidade adentro.
riva del Mandracchio e barco (MJF)
É noite na Piazza dell’ Unità. O céu muito azul ainda, e as nuvens brancas e redondas fazem ressaltar o desenho do navio. As pessoas passeiam no pontão àquela hora de temperatura suave.
pontão da Riva dei Caduti (MJF)

A escultura de Fiorenzo Bacci "As meninas de Trieste" (ou "as costureirinhas" como lhes chamam os triestinos), sentadas na pedra do cais à beira-mar, e que passam o dia a coser sabe-se lá que coisas (*), olham-no, distraídas. 
 "Le sartine de Trieste"
Lentamente, o barco afasta-se do cais e desaparece detrás da praça -talvez a caminho da Ístria, continuando pela curva do golfo e virando para trás, no Mar Adriático. Talvez viessem de Veneza e seguissem a depois a caminho da Croácia. Spalato, Dubrovnik. Talvez depois Corfù. Não me interessava.
Por momentos, veio-me à lembrança a imagem do filme Amarcord, de Fellini, quando o paquete passa cheio de luzes frente aos que tinham vindo vê-lo, nos seus barquinhos a remos, e que, na espera de horas, tinham adormecido. 
Vêem-no, na escuridão da noite, deslumbrados. É uma imagem belíssima!
- Che bello!, murmuram, estremunhados. E agitam as mãos, os chapéus.
E quase nem têm tempo de olhar: o barco já desaparecera na noite. 
Como aqui em Trieste. As meninas continuam, distraídas de tudo, a coser. Contaram-me que estão a coser a bandeira tricolor, a bandeira italiana. A história de Trieste foi acidentada. Um dia conto mais coisas.
A verdade é que fiquei com saudades do barco dentro da cidade! Seria influência de Fellini?
'As meninas de Trieste' à noite (MJF)

(*) Na Riva dei Caduti, na Piazza dell’Unità, estão duas estátuas de Fiorenzo Bacci. Numa representou um “bersagliere” a subir as escadas que vão do mar ao molhe. Simboliza a entrada  deste corpo militar na cidade, em 3 de Novembro de 1918, no caça-torpedeiro italiano Audace.
A outra intitula-se “As meninas de Trieste” e mostra duas jovens sorridentes, sentadas na parede junto ao mar, a coserem a bandeira tricolor: a italiana.
estátuas de Fiorenzo Bacci (MJF)

As estátuas foram ali postas em 2004 para festejar os 50 anos do regresso de Trieste à Itália - depois de ser território inter-aliado Território Livre de Trieste, de 1945 a 1954.


 

Boa noite com Bill Evans Trio- "Alice In Wonderland"

Gosto desta música de Bill Evans, Alice in the Wonderland!
Enquanto a irmã lê, Alice distrai-se e é 'apanhada' na sua contemplação pelo escultor Edwin Russel. Que a fixa nesta imagem (1984) enquanto ela vê o coelho a saltar para a toca do País das Maravilhas
A estátua de Alice (e do coelho) está em Guildford.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Ratinho e Ouricinho e o regresso a casa…


vidrinhos de Veneza, de Burano

Pois é, fui viajar uns dias e, desta vez, “eles” ficaram em casa. Eles, claro, são o Ratinho Poeta e o Ouricinho Dan. 
Andei por Veneza e Trieste. De avião, de comboio e de vaporetto. Voltámos ontem.
Estão tristes, ali, num canto. Calados, a ver-me acabar de desfazer as malas, atarefada. Os meus amigos se calhar teriam gostado de ir. Ao olhá-los, pensei que estavam com inveja do burrinho Alonso, que levou as chaves dos cadeados. Percebi que tinha de lhes explicar alguma coisa. Tinha de quebrar aquele silêncio tão sentido da parte deles.
- Era complicado, amigos queridos. Preparei a viagem a correr. Achei arriscado irem, foi melhor ficarem em casa…
- E por que não nos perguntaste?
Era o Ouricinho, queixoso.
- Deixa lá, sei que fizeste tudo a correr, disse o Ratinho.
E não resistiu à ironia.
- Como sempre…
- Tens razão. E levámos coisas a mais!
- Como sempre, repetiu ele abanando a cabeça.
- Fomos carregados de roupas inúteis. Um peso horrível e um desconforto a arrastar as malas de rodinhas por aqui e por ali.
- Ora…tu vais sempre carregada! Com tralhas e mais tralhas que nunca usas!
Tinha razão o Ratinho.  Olhavam-me os dois de dentro da gaveta da cómoda. O Ouricinho calara-se e estava melancólico, de olhar perdido no vazio.  De repente, apontou para o burrinho Alonso:
- Mas a ele, levaste-o!
- Tive que levar, Ouricinho. Ele é que tem as chaves das malas.
- Sim, claro. Eu é que sou o porta-chaves.
E o burrinho Alonso inchou o peito onde, na camisola, se destacava uma ferradura bordada.
- Eu também era capaz de as levar!, resmungou o Ouricinho.
 Tinha pegado na chave de um cadeado pequenino e girava-a na patinha.
- Não, disse o Alonso. Não é o teu trabalho, tu não foste preparado para seres porta-chaves! É uma responsabilidade.
Eu corroborei a afirmação, mas pensei que era demasiado convencido o Alonso:
- Sim, Ouricinho. Ele é que sabe levar as chaves e encontrá-las quando são precisas.
Era uma desculpa inventada a correr. O Ratinho percebeu e respondeu logo:
- Não tens que te justificar! A escolha é tua. Nós gostamos de ti e aceitamos o que decidires. Estávamos só com um bocadinho de inveja do Alonso que se fartou de ver coisas bonitas. Imagino!
O Ouricinho acrescentou:

- Sim! Trieste e Veneza, são lindas de certeza… As pontes, a Laguna, os vaporetti dum lado para o outro! Ele viu tudo isso...





- Oh! Eu?…eu fiquei sempre a tomar conta das chaves, disse o burrinho. E não vi nada.

Eles riram-se, finalmente, aliviados e bem dispostos. Que malandrecos! Eu pensava de facto que tinha sido melhor para eles ficarem em casa. Continuei:
- Por lá houve chuvadas horríveis, ventanias…
- Por cá também!, não resistiu o Ouricinho, a protestar um pouco mais. Viste  como está a varanda, não viste? Os vasos no chão, a terra entornada, etc.
- Sim, vi. Mas por lá foi pior! Enchentes, tufões por todo o norte da Itália. Acqua alta, em Veneza.
-Estavas lá?, entusiasmou-se o Ratinho.
- Não, já estávamos em Trieste, confessei.
 Trieste, noutro ano...

- Trieste também já conhecias. Pelo que contaste, ali vivia-se bem… Descansaste. Vê-se na tua cara.
Era o Ratinho, a amenizar a conversa.
- Mas havia a “bora” triestina! Um vento gélido que faz entontecer a gente!
- Sim -protestou outra vez o Ouricinho. Mas viste a Regata Histórica Internacional. A regata da Barcolana! Devia ser bem giro…
- Estava muito perigoso o tempo! Podias até ter voado porque és pequenino! Havia a bora, mas não era a “bora nera” que essa é de fugir, dizem os triestinos. De fugir!  Céu fechado, chuvas batidas e muito frio!
- Sim, mas viste a feira e as barracas… E as comidas! E os barcos!

O Ouricinho fixava-me, pensativo. 
- Devia ser bonito. E à noite então...
- Sim, Ouricinho, era muito bonito à noite! 

Lembrei-me da bela Piazza dell'Unità ao cair da noite, com o chão molhado e a luz azulada dos candeeiros. 

E os cafés 'históricos' de Trieste. Com a sua carga de escritores e de livros. James Joyce e Italo Svevo. Umberto Saba e Giorgio Voghera. 
James Joyce, no Ponterosso


O Café dos Espelhos, o Café San Marco, o Café Urbanis. O Tommaseo. E por aí adiante...
Caffè San Marco

Caffè Degli Specchi

O Ratinho atalhou:
- Voltaram bem e isso é que importa. Estás aqui com o Manuel. Estiveram contentes. E nós tomámos conta da casa! Está tudo em ordem!
O Ouricinho riu-se:
- É verdade! Deu-nos um trabalhão! 
- Imagino....
Mas o Ouricinho já não estava triste e disse:
E vais-nos contar tudo o que viste!