quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Amor que mata ou: "Antes de Adormecer", de S. J. Watson


Livro perturbante. Aterrador, por momentos. Nos quais, os sentimentos fundamentais da vida: amor, ódio e medo se cruzam.

E, no meio de tudo, o “suspense”.

Onde os meandros do amor e da morte, das situações doentias, do exacerbar de certas pulsões negativas se revelam lado a lado.

Amor que podia ser “Amor de Perdição”, já o Camilo dele falou...

A história é simples: Christine acorda todas as manhãs, jovem, ou criança, sem recordar nada do passado depois disso.

Acorda ao lado de um homem que não conhece.

Ele explica, calmamente, todo os dias com as mesmas palavras: que ele é o marido dela e que ela perdeu a memória depois de um acidente grave.

E explica mais: depois de vários anos de consulta a diversos especialistas, estadias em hospitais, casas de cura, até um hospital psiquiátrico – os médicos concluíram que era um caso sem cura.

A memória tinha sido atingida profundamente, pela pancada, pelo traumatismo. Tinha sido o marido que a tirara do último asilo e a trouxera para casa, conta ele. Abandona o trabalho por muito tempo, sacrifica tudo por ela.

Chama-se Ben.

Sentimos algo que nos disturba naquele discurso: que ele quer que ela não faça mais esforços para recordar, não quer vê-la sofrer, diz ele, “basta-lhe que ela acorde todas as manhãs e saiba que ele a ama e se sinta bem ao pé dele.”.

- Eu amo-te, diz ele.

E todos os dias ela acorda sem saber quem é, por que razão ele está ali. Só sabe que se julga jovem e todos os dias e, ao ver-se ao espelho da casa de banho, percebe que é uma mulher de meia idade, um rosto que quase não recorda.

O marido vai trabalhar desde que ela se tornou mais autónoma e deixa-lhe um papel na cozinha a indicar as tarefas a fazer, as horas a que volta, ou se vão jantar fora nesse dia...

E assim Christine vive o dia a dia.

Os seus sentimentos de jovem de 20 anos permanecem. Mas ao querer recordar, nada lhe vem à memória.

Vê as fotografias coladas no espelho e procura “decifrar” nomes, rostos, mas só percebe que muitas são dela, outras de Ben, mais novo nessa altura, que não reconhece.

Porque as poucas coisas que recorda durante o dia, o que vive nessas vinte e quatro horas, esquece durante a noite.

Um dia recebe o telefonema de um médico que não sabe quem é, mas que deve ter conhecido antes e diz chamar-se Dr. Nash.

Afirma conhecer bem o seu caso, gostaria de escrever um trabalho sobre o problema dela.

E diz que quer vê-la.

Vai encontrá-lo. Precisa de mais, confiar em alguém, porque o que o marido diz não lhe basta.

E ele dá-lhe um caderno onde ela anotará tudo o que for vivendo no dia a dia e o que recordar do passado.

E dá-lhe um telemóvel para poder falar-lhe quando quiser.

Todas as manhãs, nesse telemóvel, tem uma chamada do médico (uma voz que não reconhece) que lhe recomenda: “procure o seu diário”.

Quando ela se espanta: “que diário? Eu tenho um diário?, ele responde que vá ao armário do quarto.

Leia o que escreveu para trás e escreva tudo o que lhe acontecer hoje.

Durante o dia, sozinha em casa, ela escreve. Na manhã seguinte tudo passou e volta a mesma angústia.

Quem sou? Quem é este homem? Quem é a pessoa que me telefona?

'As I sleep, my mind will erase everything I did today. I will wake up tomorrow as I did this morning. Thinking I'm still a child. Thinking I have a whole lifetime of choice ahead of me .

Há uma “conquista” todos os dias, mesmo que ganha com sofrimento, dor, surpresa. E o medo de ter de recomeçar na manhã seguinte.

Mas o diário vai aumentando, as histórias ganhando forma.

Relendo de manhã o que escreveu, vai saber quem é, recordar um pouco de quem foi.

Surgem “flashs” súbitos do passado - que um cheiro, um gosto, um gesto, tal como a madaleine de Proust, lhe trazem: imagens, cenários, rostos.

Assim surge Claire, a amiga com quem tudo dividira na juventude, e que nunca mais tinha visto. Ou não se lembrava?

Não vou contar o resto, é claro. O livro vale a pena ser lido e não quero estragar-vos o prazer.

O seu autor, S. J. Watson sabe do que fala. Formado em Química, decidiu trabalhar apenas em Hospitais. Trabalhou anos no Centro Nacional de Saúde em Londres.

Bem conduzido, bem escrito, lê-se de uma ponta à outra em dois ou três dias.

Foi isso que eu fiz...

http://www.bookbrowse.com/biographies/index.cfm/author_number/2038/sj-watson

http://www.independent.co.uk/arts-entertainment/books/reviews/before-i-go-to-sleep-by-s-j-watson-2277300.html

Publicado pela Editora Civilização, “Before I Go to Sleep” saiu no reino Unido em 2011 (Lola Communications)

O livro vai ser adaptado para o cinema por Ridley Scott. As filmagens deverão começar ainda em 2011.

1 comentário:

  1. Olá MJ Falcão,

    Fiquei com muita curiosidade.
    Vou comprar.

    Obrigado por este post.

    Um beijinho grande

    Blue

    ResponderEliminar