Morreu por isso mesmo, à procura do sonho, afogando-se em álcool para não esquecer o sonho.
Esse
sonho, essa 'loucura química', acontece mas dura pouco se não estivermos atentos
a mantê-los vivos.
Esse
sonho se o esquecemos - para poder viver com os outros - é
irrecuperável. Desilusões, desistências, desespero depressa matam o sonho.
E crescemos inexoravelmente. Poderemos alguma vez
voltar para trás? Ou o nosso momento cósmico de sombras que passam não é repetível?
Depende
de cada um. Depende do que conservarmos do Sonho, da tal loucura química que não
se pode deixar adulterar com a passagem do tempo.
E
ponho-me a pensar e sinto medo de nunca ter sido completamente entendida pelos
outros.

Há
uma barreira sem limites entre estas duas realidades. Creio que só se pode manter
o sonho, o tal momento de folia química, se nunca se esquecer que “eu
sou eu, tal como “sou” – ou julgo ser.
Francis
Scott Fitzgerald morreu com 41 anos. Tivera um sucesso enorme com os primeiros
livros. Foi adolescente na sua loucura até ao fim, guardando um pedacinho do Sonho despedaçado.
Nasceu em 24 de Setembro de 1896, em Saint Paul, Minnesota e morreu em Hollywood
em 21 de Dezembro de 1940.
Começou a sua carreira literária muito cedo ao publicar o romance que fala dos anos loucos intitulado “This side of
Paradise” (“Este lado do Paraíso”), em 1920.
Poeta,
romancista, guionista, contista extraordinário, é considerado um dos grandes
escritores americanos do século XX -dos anos 20 - que
reflectiam um estado de espírito de liberdade e da “folia química” da época do
Jazz.
Eram a chamada “geração perdida”. Dela faziam parte, com ele, Ernest
Hemingway, Sherwood Anderson (considerado um dos maiores escritores da sua época), John Dos Passos, T. S. Elliot e Ezra Pound cujo destino foi trágico.
Ezra Pound, 1913
Scott fica
milionário com o sucesso do primeiro livro. Quisera ser muito e era; quisera ter tudo e chegou às nuvens
mais altas com as suas asas de diamantes, de loucura e de sonho.
Encontra Zelda, uma bela jovem e casam. Têm uma filhinha, Scottie, que adora o pai e que mais tarde escreverá sobre ele.
Os diamantes que foram seus, ("Um diamante do tamanho do Ritz"), estavam na riqueza das histórias que soube contar como nenhum outro, na sua humanidade, nas conquistas e as perdas.
Depois do sucesso do primeiro livro decide ir viver em Paris, onde já era conhecido.


As festas
dispendiosas, o encanto dos bailes ao som do Jazz, num universo irreal e brilhante
.
O
“sonho americano”? A verdade é que descreve a alta sociedade - da qual começara
a fazer parte - com uma visão crítica áspera, anotando os defeitos, a
fatuidade, a superficialidade.
Silvia apresentou-o ao escritores franceses e àqueles que estavam de passagem, como James Joyce - por quem Fitzgerald tinha grande admiração.
Encontra Ernest Hemingway que não se porta lá muito bem com ele como se pode ver em "Paris est une fête", de Hemingway.
Continuava jovem dentro.
Em
1934, em Paris ainda, publica “Tender is the night” (Terna é a noite). Um
romance triste, nostálgico que o autor gostava de dizer que era o seu
preferido e que considerava a sua “melhor obra”.
Sente porém que tudo desabara na sua vida. Talvez quando a bebida passou a ser a compahneira da vida.
Há um conto extraordinário, "A década perdida", que fala de alguém que durante dez anos estivera bêbedo, alheio a tudo. Um dia pára e percebe que estivera "ausente" de tudo. Resolve então apanhar um táxi e pede ao chauffeur que o leve pela sua cidade a ver o que mudara.
Ou talvez um dia tenha esquecido a "química" do seu Sonho, porque aceitara viver a vida que os outros lhe impunham viver. Deixou-se levar por eles. Parou a inspiração do sonho. Perdeu-se na multidão dos que o arrastavam e bajulavam.
Volta
para Hollywood muito doente. Diziam ser tuberculose mas segundo muitos Scott transformara-se num alcoólico e encontrava-se debilitado física e
moralmente.Continuava jovem dentro.
Lutou, quis voltar atrás - a esse “eu” essencial. Começa a escrever o que seria o
último romance, uma obra-prima, segundo dizem, que será publicado em 1941 depois da sua morte.
“The love of the last Tycoon” é o título em
inglês; na tradução portuguesa (Relógio de Água) "O grande magnate".
Uma manhã em que se preparava para ir escrever deu de repente uma volta sobre si mesmo e caiu
morto no chão. O coração tinha parado.