quarta-feira, 15 de julho de 2020

Irene Lisboa a escritora da simplicidade profunda


Irene Lisboa  (Irene do Céu Vieira Lisboa) nasceu no Casal da Murzinheira, na Arruda dos Vinhos, em 25 de Dezembro de 1892 e morreu em Lisboa em 25 de Novembro de 1958.
 Escritora, poetiza, professora e pedagoga Irene Lisboa formou-se na Escola Normal Primária de Lisboa, criada por D. Luís em 1896 (1).
o rei D. Luís

Irene Lisboa continuou a estudar na Suíça, em França e na Bélgica, em Bruxelas, onde encontrou Afonso Duarte e José Rodrigues Miguéis - igualmente estudiosos no campo da Educação. 
De volta a Portugal especializou-se em Ciências da Educação e escreveu várias obras sobre pedagogia.
 Eugène Claparède

Esteve em Genebra com uma bolsa do Instituto de Alta Cultura onde teve oportunidade de conhecer Eugène Claparède e Jean Piaget dois dos nomes mais importantes das "Ciências da Pedagogia e da Psicopedagogia" da época – com quem estudou no Instituto Jean-Jacques Rousseau

Eram os tempos da Iª República Portuguesa e pela primeira vez escola primária  tornou-se uma preocupação, devido ao grande grau de analfabetismo existente.

Irene Lisboa foi professora da educação infantil. Recebeu em 1932 o cargo de Inspectora Orientadora do ensino primário infantil. 
Museu Irene Lisboa

Mas o Estado Novo instala-se e “essas modernidades” não estavam dentro das preocupações dos dirigentes. 
Para os seus escritos pedagógicos usava muitas vezes o nome de Manuel Soares, com receio de a afastarem do lugar que tinha no ensino público. 

Em 1940, Irene Lisboa é definitivamente afastada do Ministério da Educação e de todos os cargos oficiais alegadamente “por ter recusado um lugar em Braga”. 
De facto, a escritora e pedagoga tornara-se uma personalidade incómoda pelas ideias avançadas que trazia e Braga seria uma espécie de exílio.

Em 1942, publica um livro, intitulado “Modernas Tendências da Educação” (3) espécie de “súmula” da sua experiência lá fora – a escola nova - e dos conhecimentos adquiridos.
Anos mais tarde Irene Lisboa é afastada dessa função “o programa de Irene Lisboa que reformulava de alto abaixo as funções de um órgão estatal até aí consagrado apenas ao controlo ideológico, administrativo e disciplinar dos docentes”, como escreveu Rogério Fernandes, na sua Biografia sobre a autora. 
Tantas coisas que Irene escreveu a pensar no ensino das crianças. O ensino infantil era a sua maior preocupação. Por isso, dedicou-se muito do seu tempo a escrever histórias que fossem próprias para as crianças que tanto amava ensinar.

As ilustrações fazia-as a sua amiga Ilda Moreira – amiga de sempre, que com ela estudara na Escola Normal Primária de Lisboa e foram as duas as primeiras mulheres a formarem-se na Escola. 
Foi Ilda quem depois da morte de Irene continuou a luta pela publicação da sua obra. 
Tive a sorte de a conhecer e era uma mulher doce e forte.
Certos ‘contarelos’ como chamou aos seus contos curtos - “Treze contarelos”, por exemplo, têm uma pureza, uma ternura e uma ingenuidade que limpam as tristezas do mundo.

Lembro a história da Rosalina ou a do Joanico que fazem sonhar, sonhar e voltar à realidade da vida sabendo um pouco mais.

Também “A vidinha da Lita” (publicado, póstumo em 1972 por Ilda Moreira) que costumava ilustrar as histórias que Irene escrevia, propositadamente, para as crianças. 
Ou “Uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma” (4) um livro maravilhoso com as belas ilustrações de Pitum Keil do Amaral.

Não me alargo mais – havia tanto a dizer sobre esta escritora admirável - só deixo uma “chamada” de atenção para os grandes escritores portugueses que parecem esquecidos. 
Irene Lisboa é uma escritora que devíamos ler - a partir da infância - e "reler" até ao fim da vida.  
Aconselho a leitura atenta dos seus textos de grande beleza e simplicidade a grandes e pequenos.
E já agora ler os contos dela aos meninos e meninas antes de irem dormir. Se não quem os lê?


Quero referir o trabalho importantíssimo que Paula Morão tem desenvolvido desde há muito tempo para a promover. 

E o trabalho que teve para criar o Museu de Irene Lisboa, na Arruda dos Vinhos.
E, ainda, Sara Barbosa que há pouco publicou a sua tese de Mestrado sobre a escritora "O Sujeito e o Tempo".


NOTAS:

(1)     Fundada por decreto do rei D. Luís, no ano de 1862, manteve-se em funcionamento até ser extinta em 1930 no decurso da reforma educativa conduzido pelo governo da Ditadura Nacional (...) O regime saído do golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 tornou-se uma Ditadura Militar ao suspender a Constituição de 1911.” (in wikipedia)
(2)    Irene Lisboa, Modernas Tendências da Educação, editora BIBLIOTECA COSMOS, Lisboa, 1942.

4 comentários:

  1. Uma escritora que li cedo, mas que descobri e passei a apreciar no início dos anos 90.
    Há muito que quero ir ao Museu Irene Lisboa. Vou colocá-lo numa lista de visitas a fazer em breve.
    Bom fim de semana!

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  2. Sempre me encantou
    a complexidade do simples
    Boa partilha

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  3. Goso muito da escrita da Irene Lisboa, da qual pouco conhecia até a Maria João e o Manuel me ensinarem mais sobre ela. Gostei do seu post e já fui ver o blogue que indica, sobre a autora.

    Beijinhos e saúde! Cuidado com o calor!

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  4. Conhecia muito pouco sobre a sua vida.
    Fiquei sensibilizada, porque a minha avó materna, nascida em 1895, fez o curso da Escola Normal do, então, distrito de Horta, Açores.
    Beijinhos.
    ~~~~~

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