Releio “Rumo ao farol”, agora em inglês (To
the Lighthouse, 1928). A primeira edição sai, em 1928, na editora Hoggarth que Virginia e Leonard Woolf dirigiam. A capa é da irmã, Vanessa Bell. Vou lendo mais atentamente - em inglês leio
mais devagar.
"O Farol" atrai-me e vou
seguindo a evocação das pessoas, com a grande visibilidade que a autora lhes dá. O modo como as descreve e as ouvimos falar, as cores, nítidas, vivas ou assinalando as luzes e sublinhando as sombras, dentro e no exterior das personagens, é notável.
O mar e as ondas – que a fascinam e sempre fascinaram- na tranquilidade e na turbulência e o farol, sentinela luminosa, parecem viver para nós, contemplamo-los ao mesmo tempo que ela.
Do azul vivo à cor rosada do por-do-sol, Os céus - têm tons de aguarelas, são aguadas que vão mudando as nuances e variam conforme o momento do dia ou conforme os sentimentos ou a emoção das personagens.
O mar e as ondas – que a fascinam e sempre fascinaram- na tranquilidade e na turbulência e o farol, sentinela luminosa, parecem viver para nós, contemplamo-los ao mesmo tempo que ela.
Do azul vivo à cor rosada do por-do-sol, Os céus - têm tons de aguarelas, são aguadas que vão mudando as nuances e variam conforme o momento do dia ou conforme os sentimentos ou a emoção das personagens.
Sente-se a
angústia da passagem do tempo, da ausência e da morte. A história é simples: uma família - os Ramsey- reúnem-se na casa de campo, em férias, com amigos. A casa fica situada perto do
farol.
Todas as manhãs a ideia é preparar a "ida ao farol" - que se vai arrastando durante todo o tempo de férias, sem nunca se concretizar. O passeio não se realiza. O farol é possivelmente um desejo nunca realizado.
Mrs. Ramsay, a protagonista (?) passa, entra e sai e prende-nos aquele movimento maquinal, certo, idêntico, cheio de afazeres, de todos os dias.
Depois temos as tensões entre os personagens. As relação complexa entre os esposos, ele professor de filosofia cheio de dúvidas sobre
a própria importância, que aguarda sempre a opinião e aprovação da mulher.
Reencontramos no romance as tensões e as 'oposições' que a autora gosta de explorar: a mulher e marido; a separação e a conexão; o real e o fantomático - a palavra fantasmas (“ghosts”) aparece inúmeras vezes ao longo do livro.
As atitudes das personagens podem ser paradoxais e a própria imagem do farol é "vista" de modo diferente, por cada uma delas
Anos mais tarde, dez anos para ser exactos, no regresso à casa perto do farol, o mesmo James vê-o sem a imaginação que tinha em adolescente: para ele, é agora, apenas, "uma torre estreita e alta às riscas brancas e pretas".
Virginia Woolf por Vanessa Bell
Sem a emoção da infância - o farol era 'realmente' a "torre prateada" que imaginara na infância, ou "a torre "às riscas brancas e pretas", sem o fantástico de antes - como ele o via agora?
Virginia Woolf aconselhava aos que pretendiam ser "escritores", a sinceridade, a verdade, o trabalho constante. Em "L'art du roman" -livro extraordinário- escreve:
No que contava não havia assuntos proibidos ou coisas escondidas. Escrevia em L'Art du Roman, requerendo essa liberdade de dizer a verdade, seja ela qual for: ‘Sempre que virem um letreiro a dizer
'proibido passar', passem logo, não parem."
É um livro difícil de seguir, por vezes, exige muita atenção. Cruzam-se ideias, trocam-se os momentos, o tempo é incerto, a lembrança ora pertence ao passado ou ao presente, flui.
A sua escrita segue "o fluxo de consciência liberto, que flui ao acaso, cruzando vários tempos, na memória do passado e na actualidade do hoje”. Perdemos por vezes a noção das diferenças porque há uma interligação entre todas, conforme as recordações afluem e se associam e se repelem.
Um livro sério, como todos os livros de Virginia Woolf que aconselho. Existe uma edição portuguesa com uma boa tradução do escritor Mário Cláudio.
“Escrevam
todos os dias, escrevam livremente; mas comparando sempre o que escreverem com o
que os grandes escritores escreveram. É humilhante, mas é essencial. Se
quisermos conservar, criar, é o único meio.”
Escrever sempre sobre o que sentia e conhecia - do que era "seu" - e, disso, só isso queria escrever. Porque "o que importa aos outros", aos que lêem, pensava, "é a nossa verdade". No que contava não havia assuntos proibidos ou coisas escondidas. Escrevia em L'Art du Roman, requerendo essa liberdade de dizer a verdade, seja ela qual for: ‘Sempre que virem um letreiro a dizer
'proibido passar', passem logo, não parem."
É um livro difícil de seguir, por vezes, exige muita atenção. Cruzam-se ideias, trocam-se os momentos, o tempo é incerto, a lembrança ora pertence ao passado ou ao presente, flui.
A sua escrita segue "o fluxo de consciência liberto, que flui ao acaso, cruzando vários tempos, na memória do passado e na actualidade do hoje”. Perdemos por vezes a noção das diferenças porque há uma interligação entre todas, conforme as recordações afluem e se associam e se repelem.
Um livro sério, como todos os livros de Virginia Woolf que aconselho. Existe uma edição portuguesa com uma boa tradução do escritor Mário Cláudio.
Interessante.
ResponderEliminarUm dos últimos filmes que vi, foi Vita e Virgínia, sobre Virgínia Woolf. Foi interessante. A Maria João havia de gostar.
Ultimamente tenho ido pouco ao cinema, tenho lido pouco...tenho vários livros da Virgínia Woolf para ler. O dia devia ter pelo menos 48 horas! :))))
Beijinhos e uma boa semana:))
Maria João, li esse livro há alguns anos. Impressionou-me! Agora, porque a oiço falar nele, vou revisitá-lo!
ResponderEliminarÉ um livro imprescindível, fizeste bem em relê-lo. A autora trata de maneira brilhante (li há muuuuito tempo), essas questões transcendentais que a ela sempre a obsesionaram, como o sentido da existência, a inutilidade de alcançar qualquer meta ou a inevitável morte. Talvez acabou com a vida por não encontrar nenhuma resposta, como a viagem a nenhuma parte que é esse maldito faro inalcançável.
ResponderEliminarFELIZ NATAL!! agora sim que sim...