Todas as coisas da
adolescência giram à volta - entre outras muitas, claro- da escola. Por isso, pensar no
problema é sempre útil, por vezes mesmo urgente.
Como professora que
fui, trago atrás de mim a necessidade de me interrogar e de ver como os outros
se interrogam sobre a educação e sobre os alunos.
A escola era melhor antes
do 25 de Abril, ouvi para aí alguém dizer, hipocritamente. É, apenas, querer ignorar a causa da “dificuldade”
da escola de hoje. É hipocrisia fingir que essa escola antiga era boa.
Boa - para
quê, antes do mais? Para aprender de memória uma data de informações muitas
vezes incompletas? O que ficámos nós a saber da história verdadeira, se não
foram as batalhas, os cognomes dos Reis e quando foram as cruzadas para dilatar a Fé? Tudo “empinado”, sem
relacionamento no tempo ou no espaço, sem sermos estimulados a mais do que
isso?
Com excepções, como é evidente!
A verdade é que ser professor nos nossos dias da velocidade informativa, do "tecnológico", implica "ensinar" muito mais: ter um saber mais “enciclopédico”? não sei, mas um saber
relacionado com o momento em que vivemos isso sim.
Há muito mau professor - e
sempre houve. Há muito bom professor - e sempre houve. Partindo daí, pela minha
experiência vejo que muito se tenta fazer. Os professores são “agentes” de
tudo: de comunicação, de educação quase lhes exigindo que sejam “actores”.
Nunca me esqueci
de um novo programa que apareceu para a disciplina de Português e a
coordenadora dizer, perante as nossas dúvidas: “Ora, vão e improvisem!”
Os alunos são
(deveriam ser) levados a pensar sozinhos, a tirar ilacções, a escrever com correcção, a ler, a entender o
que lêem porque só isso (o entendimento do que se leu) é que é ler! Levados a diferenciar os modos de escrita e da fala, as diferentes funções - e isso eu sei que se tem feito nas nossas escolas.
O problema fulcral é (não) tirarem ao
professor o tempo necessário e fundamental para se informar, preparar, ter
conhecimentos pedagógicos sérios (e didácticos, claro), em vez de lhes encherem
os dias com reuniões, fichas para tudo, relatórios e presença física na escola,
para fingir que estão.
Sim, trata-se de
improvisar muitas vezes - e cada um o faz como pode, porque depende das turmas
que se têm, da idade dos alunos, do tipo de aprendizagem, etc.
Fico por aqui, neste
campo.
Vinha falar dum
artigo que li sobre a adolescência, a escola e a competição! O artigo é de
Fabrice Plishkin (Nouvel Observateur, 11 de Abril) e vem a propósito de dois
filmes recentemente saídos em França (e, provavelmente, cá).
Trata-se de “Divergente”, do
americano Neil Burger, e “Suneung” (tradução à letra: teste de aptidão aos
estudos), da sul-coreana Shin Su-won (uma jovem, nascida em 1967, ex-professora).
No primeiro, o realizador descreve
uma sociedade de ficção científica (e metafórica?), numa escola numa Chicago dividida em
castas: os Eruditos, os Sinceros, os Fraternos, os Audaciosos e os Altruístas.
Isto passa-se no futuro dentro de 100 anos!
Isto passa-se no futuro dentro de 100 anos!
Neil Burger
Ali se propõem uma
série de “testes de aptidão” que estes alunos devem fazer para poderem participar.
Uma espécie de “concurso” para escolher a vida? Um exame de “aptidão” à vida?
A verdade é que os
alunos que chumbam nos testes tremendamente difíceis, alguns mesmo violentos,
mortíferos e irrealizáveis - são afastados da Humanidade.
São Divergentes.
Divergentes, sem futuro, inadaptados para todo o sempre.
O filme coreano "Suneung" fala
de outra realidade comum, mesmo por cá - sem chegarmos a tanto, felizmente: os exageros da
sociedade coreana, uma das mais rigorosas no campo da educação, num sistema
educativo de histeria: o excesso de competição entre os alunos, o egoísmo
desenvolvido para “ser melhor do que o outro”, ficar à frente, “liderar”, ter
melhores notas, vencer, entrar para a Universidade sem pensar em mais nada!
O Suneung é o teste de entrada na Universidade, chamado "Teste Escolar de Habilidades" que se realiza todo os anos na segunda quinta-feira de Novembro! De extremo rigor e organização (exige polícia especial para o trânsito!) é um momento traumático para muitos jovens estudantes.
De facto, a Coreia do Sul regista o maior número de suicídios de adolescentes no mundo.
O Suneung é o teste de entrada na Universidade, chamado "Teste Escolar de Habilidades" que se realiza todo os anos na segunda quinta-feira de Novembro! De extremo rigor e organização (exige polícia especial para o trânsito!) é um momento traumático para muitos jovens estudantes.
De facto, a Coreia do Sul regista o maior número de suicídios de adolescentes no mundo.
https://storify.com/kim9171/suneung-life-or-death-exam-for-korean-students
Diz Plishkin: “Na hora em que as nações e as empresas só
falam na palavra sagrada competição, (ser competitivo o que é afinal? “matar o
outro”?), os dois filmes auscultam uma juventude monstruosa, desumanizada pelos
imperativos da concorrência.”
E eu penso apenas:
hoje, nesta sociedade “selvagem” de capitalismo financeiro desmedido (em que
nos meteram), onde os licenciados vão logo para o desemprego, sem esperança de algum
dia exercerem a profissão que escolheram, vamos olhar para o que é positivo!
E mais: num tempo em que não
há emprego para ninguém, ao menos que os nossos adolescentes e jovens escolham o
curso, ou a profissão manual, técnica, que lhes apetecer, que seja mesmo uma “vocação”,
um desejo sincero, sem pensar no “emprego” que há ou não há.
Já não há os
cursos “com mais saídas”, os tais que seriam mais bem pagos no futuro… Então,
talvez seja bom voltar às humanidades que tanta falta fazem.
Tantas verdades diz!
ResponderEliminarÉ preciso que as mentalidades mudem...
Gostava de ter oportunidade de ver esses filmes de que fala.
Um beijinho grande :)
O mundo está numa enorme encruzilhada, em que ninguém se pode alhear do que está a acontecer.
ResponderEliminarComo professor, subscrevo por inteiro a sua opinião.
Tenha uma boa semana.
Angustiante o que nos diz. E tão verdade!
ResponderEliminarBeijinhos
Assino por baixo... Completamente de acordo com tudo o que disseste,prima... Beijo grande
ResponderEliminarJá tinha lido mas só hoje é que deixo cá o meu agradecimento por estes pensamentos com os quais concordo.
ResponderEliminarOntem não consegui dizer nada.
Beijinho.:))