Sim, hoje sou Finn Norgaard o documentarista dinamarquês que foi assassinado em Copenhague, num Centro Cultural onde se realizava um debate intitulado "Arte, blasfémia e liberdade de expressão".
Finn Norgaard
foto do site da Universidade
E porque penso que todas as palavras valem a pena e que os testemunhos são para ser conhecidos e espalhados para que o maior número os possa conhecer.
E porque eu acredito que só o saber, o conhecimento e a luta contra a ignorância poderão vencer a batalha da 'barbárie' que nos ataca, aqui deixo o que conta um seu amigo, Lars K. Andersen: um pouco do que
ele foi e quis e esperou fazer. E que fez! Até ser assassinado estupidamente por um jovem daqueles que ele, com o seu sentido da rectidão e generosidade, costumava procurar ajudar...
Andorinha da Dinamarca
“Finn e eu conhecemo-nos na Universidade de Copenhague, onde ele estudou
cinema. Assistimos à época da explosão
de todos as maravilhas oferecidas pelos vídeos que ele aproveitou logo.
Lembro-me que partimos para Londres onde tínhamos começado um projecto sobre um
grupo inglês, mas éramos muito jovens e abandonámos o projecto. Depois,
retomámos um filme, juntos, sobre um grupo icónico da cena hippie dinamarquesa.
(…) Finn trabalhou com uma energia considerável e conseguimos fazer dele um
documentário, acabado em 1988, cuja procura e ideias inspiram hoje um grupo, os
Itsi Bitsi, que dentro de semanas se apresentará aqui. (…) Depois, eu segui um
grupo rock e Finn continuou na sua procura de realizar a sua ambição de
documentarista, mantendo empregos no sector da produção, especialmente com a
sociedade 'Zentrepa' do realizador Lars Von Trier, até conseguir a sua própria
companhia. Tinha começado a realizar documenários para a 'tv' dinamarquesa,
seguindo sempre o seu ideal de justiça e equidade e de fraternidade.
Era uma
pessoa que filmava com o coração. Conheci-o sempre ancorado à esquerda. Ao
longo sua vida, foi ganhando um interesse pela espiritualidade através sobretudo da
meditação e do budismo. Mas o coração estava sempre do lado dos pobres, dos
fracos, dos deserdados da nossa sociedade. Em 2008, fez um filme “Lê Lê: De jyske
vietnamsesere", em que acompanhava uma família de refugiados
vietnamitas que queriam abrir um restaurante em Copenhague. (…)
Muitos dos sus
projectos se ligavam aos problemas da integração dos jovens, muitas vezes de
origem árabe, que não encontram o seu lugar nesta sociedade e que podiam ser atraídos
pelo crime. Finn acreditava que, filmando-os, poderia fazê-los sair dessa
espiral. É tristíssimo e absurdo que tenha sido morto por um dos jovens
aos quais consagrava os filmes. O assassino matou alguém que era, afinal, o
seu melhor amigo”.
(In Libération, 17 de Fevereiro 2015)
E agora?
O país chora os seus mortos e as ilusões perdidas. A Universidade pôs a bandeira a
meia haste, no dia 14, em homenagem a dois dos seus ex-alunos. De facto, tanto
Finn como o judeu Dan Uzan (**), que foi morto para proteger outros judeus, numa cerimónia de "Bar Mitzvah", na
Sinagoga, tinham estudado naquela Universidade.
Os dinamarqueses pensam que nada vai ser nunca mais igual, na Dinamarca, país de abertura e pacífico: "Copenhague nunca mais vai ser a mesma cidade..."
Na Sinagoga, realizava-se a Bat Mitzvah desta menina
Creio que a 'Sereiazinha' de Copenhagen virou a cara de lado, porque não quer olhar, está triste...
(*) Finn Nørgaard,
realizador e produtor dinamarquês de filmes documentários, nascido em 1959,
morre em 14 de Fevereiro de 2015, no tiroteio frente ao Centro Cultural, no
Centro de Copenhague.
(**) Dan Uzan era o 'segurança' da Sinagoga de Copenhague. Tinha
37 anos. Filho de pai israelita e de mãe dinamarquesa.
Improváveis somos todos nós
ResponderEliminarum rio com duas margens
firmes na espuma das águas
quando um belo barco passa
por uma nesga de sol
Bj
É incompreensível esta vontade de violência gratuita, por todo o lado. É como diz, pura ignorância!! Se assim não fosse, todos saberiam que há lugar para toda a gente. Temos que saber respeitar os outros e respeitar as suas ideias. Mas gente fanática e ignorante não respeita nada nem ninguém. De tão ignorante julga-se dona da verdade única e absoluta: pura ignorância!
ResponderEliminarA Maria João faz sempre post excelentes!
Um beijinho grande:)
Oh, Isabel...obrigada, fiel leitora do meu blog!
EliminarÉ tanta coisa junta! Ignorância acima de tudo, mas ódio, raiva, incapacidade de aceitar o outro...
Um beijinho