um barco no pôr-do-sol de Trieste (MJF)
De
repente, em Trieste, um barco.
Ao
longe? No horizonte? Não. Mesmo detrás dos telhados vermelhos e das chaminés, em
frente da minha janela. Podem vê-lo a espreitar por cima do telhado do lado esquerdo.
telhados de Trieste e o barco (MJF)
Como
se estivesse encaixado no meio das casas, viam-se cores estranhas: as riscas brancas e negras da nave enorme, que
chegava à altura dos prédios.
Confesso que, primeiro, senti o choque de ver um barco dentro da cidade! Como era possível?
Trieste
parecia-me livre destes paquetes de recreio que percorrem o Mediterrâneo para
cima e para baixo, cheios de gente que não se vê.
Sobem
até Veneza e “instalam-se” dois dias, ou apenas uma noite, subindo e descendo o
canal da Giudecca, na
cidade lagunar. Duas ou três vezes na semana. Os venezianos sentem-se invadidos pelos 'bárbaros', outra vez.
Piazza San Marco (MJF)
E
a gente invisível “espreita”, lá de cima, a Piazza San Marco, a Salute, as ilhas ao longe. Alguns descem a terra, outros não. As cores do
barco avistam-se da praça. As águas estremecem de certeza, numa ondulação forte, e vão bater nos
suportes de madeira onde Veneza está implantada sobre palafitas.
Piazza San Marco (MJF)
Os
venezianos escondem-se no Castello,
no Cannaregio, nas Zattere ou Dorsoduro. Os venezianos que ainda vivem
em Veneza e que são cada vez menos.
Cannaregio (foto da net)
Zattere (foto da net)
Cannaregio, à noite (MJF)
E saem à noite quando a cidade se esvazia dos turistas e volta a ser bela. E volta a ser deles um pouco mais, até à manhã seguinte. Os primeiros vaporetti chegam carregados de turistas, da Ferrovia ou da Piazzale Roma bastante cedo.
Laguna e Canal Grande (MJF)
Cannaregio à noite (MJF)
Piazza dell'Unità com barco (MJF)
Num dos ângulos da Piazza, a nave dá a ideia de querer entrar por ali. Sei lá como, um par de noivos aparece a dançar...
Piazza dell'Unità d'Italia e noivos (MJF)
Mais tarde, ao
cair da noite, encostado, de proa virada para o cais, a nave vai-se iluminando com a luz rosada do pôr-do-sol no golfo de Trieste.
A
noite desce, devagar, e a nave, no céu cor de rosa, enche-se de luzinhas douradas que desenham as amarras, os
cabos e as janelas.
a nave e os pescadores (MJF)
Um pescador olha distraidamente o barco, com a linha
de pesca na mão e fala com um amigo. De que falarão? Muito provavelmente falam do barco que entrou quase pela cidade adentro.
riva del Mandracchio e barco (MJF)
É
noite na Piazza dell’ Unità. O céu
muito azul ainda, e as nuvens brancas e redondas fazem ressaltar o desenho do
navio. As pessoas passeiam no pontão àquela hora de temperatura suave.
pontão da Riva dei Caduti (MJF)
A escultura de Fiorenzo Bacci "As meninas de Trieste" (ou "as costureirinhas" como lhes chamam os triestinos), sentadas na pedra do cais à beira-mar, e que passam o dia a coser sabe-se lá que coisas (*), olham-no, distraídas.
"Le sartine de Trieste"
Lentamente, o barco afasta-se do cais e desaparece detrás da praça -talvez a caminho da Ístria, continuando pela curva do golfo e virando para trás, no
Mar Adriático. Talvez viessem de Veneza e seguissem a depois a caminho da Croácia. Spalato, Dubrovnik. Talvez depois Corfù. Não me interessava.
Por
momentos, veio-me à lembrança a imagem do filme Amarcord, de Fellini, quando o paquete passa cheio de luzes frente
aos que tinham vindo vê-lo, nos seus barquinhos a remos, e que, na espera de
horas, tinham adormecido.
Vêem-no, na escuridão da noite, deslumbrados. É uma imagem belíssima!
-
Che bello!, murmuram, estremunhados. E agitam as mãos, os chapéus.
E
quase nem têm tempo de olhar: o barco já desaparecera na noite.
Como aqui em Trieste. As meninas continuam, distraídas de tudo, a coser. Contaram-me que estão a coser a bandeira tricolor, a bandeira italiana. A história de Trieste foi acidentada. Um dia conto mais coisas.
A verdade é que fiquei com saudades do barco dentro da cidade! Seria influência de Fellini?
Como aqui em Trieste. As meninas continuam, distraídas de tudo, a coser. Contaram-me que estão a coser a bandeira tricolor, a bandeira italiana. A história de Trieste foi acidentada. Um dia conto mais coisas.
A verdade é que fiquei com saudades do barco dentro da cidade! Seria influência de Fellini?
'As meninas de Trieste' à noite (MJF)
(*) Na
Riva dei Caduti, na Piazza dell’Unità, estão duas estátuas de Fiorenzo Bacci.
Numa representou um “bersagliere” a subir as escadas que vão do mar ao molhe. Simboliza a entrada deste corpo militar na cidade, em 3 de
Novembro de 1918, no caça-torpedeiro italiano Audace.
A
outra intitula-se “As meninas de Trieste” e mostra duas jovens sorridentes, sentadas na parede junto ao mar, a coserem a bandeira tricolor: a italiana.
estátuas de Fiorenzo Bacci (MJF)
As
estátuas foram ali postas em 2004 para festejar os 50 anos do regresso de
Trieste à Itália - depois de ser território inter-aliado Território Livre de
Trieste, de 1945 a 1954.
Gostei imenso de a "ouvir" falar de Trieste. As fotografias documentam uma cidade que deve ser uma maravilha!
ResponderEliminarÉ o progresso em forma de paquete, que é que se há-de fazer? Mas para dizer a verdade, gostei de ver o barco, nas fotografias.
A praça é linda!
Cá fico à espera de um pouco da história dessa bela cidade:)
Um beijinho grande:)
Eses barcos são realmente uns monstros, no cais ou no meio do mar, a imagem é sempre de desproporção total. No porto de Cádiz chega a haver dois ao mesmo tempo, os passageiros saem, comem e fazem compras, e isso está a salvar a economia de muitos comércios, dizem...
ResponderEliminarFaz impressão um navio desse tamanho num porto onde se espera ver só vaporetos e gondolas.
ResponderEliminarTrieste deve ser muito bonita. As fotos estão óptimas.
Beijinho. :))
Mais uma excelente viagem
ResponderEliminarcom tantos apeadeiros
Bj