Por que escreve um escritor? Para anotar o que observa e se poderia perder se o não fizesse. Pode ser igualmente para guardar os pensamentos simples, sem pretender que sejam 'profundos' mas quase poéticos e bem humorados. Não são "máximas", são "mínimas", segundo Claude Roy (*).
"Por que escreves? Para anotar, graças a palavras vivas o que os meus olhos afloraram e o meu espírito entreviu, tudo o que se ia perder e se dissipar."
"Por que escreves? Para anotar, graças a palavras vivas o que os meus olhos afloraram e o meu espírito entreviu, tudo o que se ia perder e se dissipar."
Chemins Croisés, é o sexto volume das suas memórias - a que chama "diário de bordo"- "são os caminhos cruzados da curiosidade, dos encontros e do acaso."
E ainda bem que o escreveu: encanta-me ler o que diz. Desta vez, fico-me por algumas "mínimas"...
"Si
mince était le chat noir, qu’il ne savait plus
s’il était le chat ou son ombre”. (Era tão magro o gato preto, que já não sabia se era o gato ou a sua sombra.)
estudo para um gato, de Delacroix
* * *
"Une
pensée pieds nus descend l’escalier du grenier, le bois vit, vif et craque." (Um pensamento desce as escadas do celeiro, de pés descalços e a madeira vive, viva e estala.)
casa onde viveu o Manuel, abandonada hoje
* * *
"Un
ange au téléphone, on l’entend respirer." (Um anjo ao telefone, ouve-se respirar)
Anjo, de Rosso Fiorentino
"Il aurait voulu être là au moment de mourir. Mais comment en être sûr?" (Gostaria de estar presente no momento de morrer. Mas como ter a certeza?)
"Il avait fait si beau ce matin-là, que déjà la journée avait les larmes aux yeux." (Tinha estado tão bonita aquela manhã que até o dia tinha já lágrimas nos olhos.)
a luz da manhã em São Tomé, e o meu cão
Claude Monet
"Venu le jour, l'aube nous prit dans ses bras." (Chegado o dia, a alba apertou-nos nos braços)
A alba de Claude Monet (Impression soleil levant)
Claude Monet, Crepúsculo
* * *Mas nem tudo é poesia nas suas "mínimas"... é ironia também!
"Il est si plein de lui-même qu'il n'y a en lui de place pour rien d'autre." (Está tão cheio de si próprio que não lugar para mais nada.)
Logo, nem se via de tão cheio que estava de si...
(*) Claude Roy, Chemins Croisés (1994-95), Gallimard
Grande personagem, gosto muito da sua poesia.
ResponderEliminar"Combien de temps nous faudra-t-il pour retrouver nos jours perdus comme un parfum qui se faufile si j´ouvre un livre déjà lu...." etc.......
Gosto muito! Bjs
É uma pena, mas os diários não estão traduzidos em português. Gosto muito de ler diários e biografias.
ResponderEliminarGostei muito de algumas destas "Minímas", complementadas com belas escolhas de pintura.
A casa abandonada, da Guarda, é linda linda! Uma casa para se ser feliz! É uma pena que deixem estragar casas tão lindas!
Um beijinho grande e um bom domingo:)
Maria João,
ResponderEliminarGostei muito.
Ando um pouco cansada com tarefas muito prosaicas.
Beijinhos.:))
Nunca li nada de Claude Roy, apesar de me passarem alguns livros dele pelas mãos...
ResponderEliminarGostei das "mínimas" que aqui nos trouxe".
Realmente é uma pena a casa onde viveu o Manuel, estar ao abandono! Diria mesmo que é um crime!! Infelizmente, crimes destes existem muitos...
Um beijinho grande.:))