Muito tempo passou sem falar aqui, nos amigos! No entanto, andamos sempre na
conversa. Há
dias, disse-me o Ouricinho:
-
Então este ano não temos cá as pombas do costume, a fazerem o ninho?
-
É verdade! Este ano não...
O
Ratinho olhou-me de lado. Fiquei a pensar naquele olhar. Havia em mim um sentimento
de culpa, confesso. Porque este ano fiz tudo para não ter ninhos de pombas na
varanda. Não sabia que eles tinham reparado.
Medidas dissuasivas, mas nunca agressivas, porque eu até gostava daqueles
pombos. Punha-me a imaginar se eram os mesmo do ano passado. Ou o 'filho' que
sobreviveu.
pombinhos na varanda, no ano passado...
Não esqueci nunca a pombinha que se afogou, ali mesmo ao pé da
janela, só porque eu tinha saído nesse dia muito quente e deixei ali uma jarra
cheia de água. Quis beber, desequilibrou-se e morreu.
os amigos, na janela, à conversa...
-Pois
foi. Este ano eles não vieram…, respondi, comprometida.
-
Vieram sim, atalhou o Ratinho. Mas tu tinhas tudo tapado!
A Primavera chegara e não via flores chegarem à minha varanda!
Por isso, enchi-a de garrafões cheios, a tapar
os buracos possíveis onde se poderia enfiar o casal de pombos, pus caravelas para crianças (o que eu gostava destas caravelas quando era pequena!) a
girar neste vaso e naquele.
Eles vinham, à mesma, sem medo, nem ligavam ao facto de
nós lá estarmos ou não.
"Talvez venham só visitar-nos e não ponham um ovo...", pensava eu, sempre optimista. Depois percebi que continuavam à procura de um poiso.
"Talvez venham só visitar-nos e não ponham um ovo...", pensava eu, sempre optimista. Depois percebi que continuavam à procura de um poiso.
Zangados
comigo? Era o que faltava! Como é que o Ratinho e o Ouricinho tinham dado por estes meus “truques”? É
certo que eles são espertíssimos! E têm um grande coração...
O Inverno foi duro,
estiveram sempre em casa, agasalhados nos seus sacos-cama e, se calhar,
esperavam que os pombinhos viessem dar vida a esta Primavera assustada.
Mas
não houve poiso desta vez: os cabides de arame da lavandaria, as velhas
colheres de pau, as colherzinhas de café e de chá de que não gosto, etc, tudo
serviu para encher os vasos de “impedimentos”, mas eles vinham sempre espreitar...
um pombo no vaso, a espreitar...
Até
me sentia culpada -quase como aqueles seres impiedosos que enchem as fronteiras dos países com
arame farpado, deixando de fora famílias e crianças, na chuva, na lama, no frio e
na neve.
Mães com os filhos ao colo sem saber o que lhes fazer. Pais de mãos na cabeça porque a luta era difícil e tinham de a continuar!
Mães com os filhos ao colo sem saber o que lhes fazer. Pais de mãos na cabeça porque a luta era difícil e tinham de a continuar!
Como aconteceu neste Inverno horrendo pela Europa! Que Natal -ou outra festividade!- que festas terão tido estes desgraçados!
Giovani Segantini, As Duas Mães
Os amigos olhavam-me, com um ar de vaga censura. Viram-me triste e disseram os dois:
-
Não faz mal!, disse o Ouricinho!
-
Eles têm outros lugares para ir!, disse o Ratinho. Há sítios com flores, com meninas e com borboletas...
Censura suave do meu querido Ratinho Poeta? Sempre delicado, lembrava-me que não era na minha varanda que iriam encontrar flores ou borboletas...
meninas e borboletas (Zélia F.)
Por sorte, a varanda iluminou-se há dias com umas flores fabulosas, brancas umas, de um
rosado pálido outras, surpresa dos bolbos que a Gui cá nos deixou. Disse-me a minha amiga Mané -que é especialista de flores e plantas!- que deviam ser orquídeas, mas já percebi que não são. Mas não sei o que o são! Alguém sabe?
Num canto, surgiu, alta e orgulhosa, a malva roxa, ou purple , que trouxe da praia
do Magoito.
Até a hortelã tinha voltado a rebentar! A hortelã que veio ainda da quinta dos meus pais, num vaso que a Senhora Rafaela me arranjou há mais de dez anos e que tem resistido. Este ano, no entanto, parecia morta. E os pombinhos andavam sempre à roda dela, a tentar poisar...
Eu já não sabia bem o que fazer para evitar a chegada de mais uns ovos e, logo, uma família de pombos instalada na varanda! Eles estavam por ali, sempre à espreita.
Eu ia-me distraindo, a podar os ramos, a arranjar as flores, a plantar mais tomatitos, num vaso.
Eu ia-me distraindo, a podar os ramos, a arranjar as flores, a plantar mais tomatitos, num vaso.
Qual
não foi o nosso espanto ao ouvirmos, na varanda abaixo da nossa, esta conversa:
- Ora venham ver! Já cá está o ovo!
- Ora venham ver! Já cá está o ovo!
Era
a vizinha, que chamava alguém lá de dentro da casa dela. Ficaram a olhar.
Eu respirei fundo: "este ano os pombos foram para lá..."
Fingi que não percebia nada. Fechei as portadas de vidro e fomos para dentro.
Eu respirei fundo: "este ano os pombos foram para lá..."
Fingi que não percebia nada. Fechei as portadas de vidro e fomos para dentro.
- Já arranjaram um poiso!, pensei eu, aliviada.
- Chegou a Primavera!, disse.
O Ouricinho e o Ratinho, esses, riam-se às gargalhadas! - Chegou a Primavera!, disse.
~~~
ResponderEliminarTive um problema semelhante com um casal de andorinhas,
que nidificou na varanda de acesso à porta principal...
Foram meses, enfrentando o problema da higiene.
No ano seguinte, voltaram exatamente, para o mesmo cantinho...
Os meus remorsos por ter que destruir o ninho com a mangueira!
Quando chegava às 9h da manhã, já tinham outro ninho quase pronto. À terceira vez desistiram e foram procurar outro lugar...
Coisas desagradáveis da vida que temos de enfrentar com
determinação, mas que nos incomodam de mais, por não serem concordantes com os nossos valores éticos.
~~~ Beijinhos, MJ. ~~~
E esse o meu problema, Majo! Queria deixá-los na varanda (ainda não desistiram...) mas sei que não posso. Não é possível, pois teria de desistir da minha varanda e, claro, além de saber que os pombos podem trazer doenças etc, não é isso: é mais uma atitude egoísta, reconheço, de não querer mais maçadas. De querer a varanda com flores e não toda seca e a terra dos vasos e as plantas todas espezinhada por uns animaizinhos sem culpa que querem fazer o seu ninho...mas me "desestabilizam"...
ResponderEliminarUm beijo
Pombos na varanda, não quero, mas andorinhas adorava ter, só que elas não querem nada com as minhas varandas...
ResponderEliminarJá andava saudosa de uma história com os meus heróis! Adorei! Eles são o máximo!
História com o Ratinho e o Ouricinho, tem sempre ***** (nota máxima!!)
Um beijinho e não tenha problemas, pois os pombos têm muitos lugares onde ficar!
Obrigada, Isabel! Também acho que eles têm mais lugares... beijinhos
EliminarLembrei que morei em um apartamento e os pombinhos gostavam de fazer ninho nos vasinhos que lá enfeitavam, com flores, que igualmente sumiram e secaram, pouco a pouco.
ResponderEliminarA história é muito gostosa de ler e com um final bem alegre. A flor que não sabes o nome, eu também não sei, mas é belíssima. Beijo Falcão.
Boa noite.acabei de de separar com dois ovos no vaso que tenho na varanda...isto as 23.30.Pois o meu cachorro quis ir a varanda e abri.só que a pomba assustou se...e eu!fiquei agora curiosa se volta ou simplesmente abandona o ninho pelo susto.?obrigada
ResponderEliminarPenso que a pombinha vai voltar... E vai ter uma companhia durante uns tempos.... Já tive essa experiência no ano passado. Neste ano preferi não ter. Boa sorte, Paulinha!
EliminarEstas suas histórias, cheias de sentidos, sempre me enternecem...
ResponderEliminarBeijinhos