Ontem
morreu o escritor Elie Wiesel, a voz de uma consciência que tende a
desaparecer e que é fundamental manter alta para que exista a memória do Mal e o desejo da Paz e o banir da Indiferença. Porque o contrário do amor, não é o ódio, mas sim a indiferença.
Digo eu: “calou-se a voz de um justo”.
De facto vem na Torah esta frase que tão bem a ele se aplica: “Quando um justo morre, deixa a cidade às escuras”. (*)
Sighetu
"Elias" Elie Wiesel nasceu em Sighetu Marmatiei, no antigo reino da Roménia, na Transilvânia, no vale do rio Tisza, em 30 de Setembro de
1928. Até ontem era um judeu sobrevivente do campo de Auschwitz, hoje é mais um dos que morreu, depois de terem tido a experiência do campo de concentração.
o rio Tisza
Foi Prémio Nobel da Paz em 1986 pelo
conjunto da sua obra (57 livros) dedicada a ‘memória’ do que não se pode
esquecer: o holocausto.
Aos 15 anos é levado para o campo de
Auschwitz-Birkenau, que ficava na Polónia ocupada pelos nazis. A mãe e a irmã
são mortas nesse campo, quase à chegada.
Ele e o pai sobrevivem uns tempos. Transferidos para outro campo, o pai morre, à sua
frente, em Buchenwald, na Alemanha, de onde foi libertado em 1945, pelas tropas americanas.
Frequenta a Universidade da Sorbonne e forma-se em Estudos Filosóficos.
Em 1958 publica La nuit (Editions de Minuit) o primeiro livro em que conta a sua vida no campo de Auschwitz. Outros livros se seguirão, entre romances, novelas e ensaios.
Auschwitz-Birkenau
Buchenwald
Foi recolhido,
nessa altura, em França pela Association Oeuvre Juive pour les Enfants, onde vive até 1956. Frequenta a Universidade da Sorbonne e forma-se em Estudos Filosóficos.
Em 1958 publica La nuit (Editions de Minuit) o primeiro livro em que conta a sua vida no campo de Auschwitz. Outros livros se seguirão, entre romances, novelas e ensaios.
Posso estar contra Deus, mas sou sempre judeu e tudo o que faço é como judeu. "Posso ser judeu com ou contra Deus mas com ele. O meu pai era crente, o meu avô era crente, o pai dele era crente…como posso eu quebrar esta corrente?”
O “Testamento de um poeta judeu assassinado” é a obra em que contesta o silêncio de Deus (1980).
Wiesel estudou, leu, aprendeu. Escreveu. Comentou textos bíblicos. E falou. E ouviu. E contou. Porque o tempo corre e é pouco sempre.
O “Testamento de um poeta judeu assassinado” é a obra em que contesta o silêncio de Deus (1980).
Wiesel estudou, leu, aprendeu. Escreveu. Comentou textos bíblicos. E falou. E ouviu. E contou. Porque o tempo corre e é pouco sempre.
Auschwitz, Wiesel é o 7º na fila de baixo, contando da esquerda
O Presidente Obama, quando falou da morte dele, chamou-lhe "a consciência do mundo".
Dizia: "Nunca presenciem uma acção má sem protestar. A indiferença é tão indesculpável como o próprio mal."
“A guerra é como a noite”, escreveu. “Cobre tudo. (…) Dizemos
depois que nos entregámos a uma luta sagrada (…) que lutamos contra qualquer
coisa, ou a favor de qualquer coisa..." (L'Aube)
Em 'L’aube' escreve:
“Que
o carrasco e a sua vítima tenham medo, um ou o outro - ele há tantas formas de
medo! - tem pouca importância. O que importa é o facto de que cada um
desempenha na peça um papel que lhe foi imposto. Carrasco e vítima são as duas
extremidades da nossa condição. Que se seja obrigado a desempenhar esse “papel” sem o querermos, isso é que é
trágico."
Revolta-se:
Revolta-se:
"Não
me julgues a mim. Julga Deus. Foi ele quem criou o universo e fez de modo que a
justiça se obtenha pelas injustiças, e que a felicidade de um povo seja
adquirida ao preço das lágrimas.”
Era uma pessoa doce e acessível, mas mesmo quando sorria os seus olhos tinham uma expressão de profunda tristeza. Que repouse em paz.
Como diz o Salmo 15, ele -que foi justo- "pode repousar na tenda do Senhor". Todos os rios correm para o mar. Mas o mar nunca está cheio...
Outros títulos: Tous les fleuves vont à la mer (1994) e Et la mer n’est pas remplie (1996), L'Oublié, Celebration Hassidique, Celebration Talmudique, Entre Deux Soleils, enfim tantos para procurar ler!
Como diz o Salmo 15, ele -que foi justo- "pode repousar na tenda do Senhor". Todos os rios correm para o mar. Mas o mar nunca está cheio...
Outros títulos: Tous les fleuves vont à la mer (1994) e Et la mer n’est pas remplie (1996), L'Oublié, Celebration Hassidique, Celebration Talmudique, Entre Deux Soleils, enfim tantos para procurar ler!
(*)
Rabbi Jacob Ben Isaak Askhenazi (século XV) escreve: “A Torah ensina-nos; quando um justo deixava a cidade, a beleza da
cidade parte com ele. A luz do justo é a beleza e a luz da cidade.”
Sobre Elie Wiesel:
Sobre Elie Wiesel:
É sempre triste saber da morte de pessoas justas e de bem.
ResponderEliminarUm beijinho grande e uma boa semana:)
PS: Por onde andam os meus heróis favoritos, que há séculos não aparecem por aqui?!...
Excelente
ResponderEliminarSempre
Uma homenagem belíssima que me deixou comovida.
ResponderEliminarCom efeito, um a um, vão partindo todos os escassos
sobreviventes daqueles infernos criados por criaturas
que se julgavam humanas...
Ainda não o li, pelo que vou tomar nota.
Beijinhos, MJ.
~~~~~~~~~
Querida Maria João,
ResponderEliminarTenho andado absorvida com trabalho e não tenho andado por aqui. Apareço de vez em quando no (In)Cultura mas aos poucos vou começar a aparecer.
Só ficarei livre lá para 24 ou 25 de julho.
Beijinho. :))
"Porque o contrário do amor, não é o ódio, mas sim a indiferença" o quanto é verdadeiro.
ResponderEliminarpara que não nos apaguem a memória...
ResponderEliminargostei de conhecer o blog
voltarei, se me for permitido
abraço
Morreu mais um justo . Ainda antes de conhecer quem de facto era Elie Wiesel , já uma das suas frases me servia de estímulo e suporte , principalmente quando era assaltado por algum sentimento de impotência - "haverá alturas em que nada podemos fazer para impedir a injustiça , mas nunca poderá haver uma altura em que desistimos de protestar "
ResponderEliminar