Há
dias a minha amiga Magui falou-me deste livro que nunca li: “A lebre com olhos cor de
âmbar”. Já o título me deixou encantada! "Uma lebre com estes olhos deve ser
linda", pensei.
Gosto das lebres! As lebres são animais com grande leveza, elegância e força ao mesmo
tempo. Têm uma rapidez especial, na forma como correm.
Como esquecer a lebre que para mim ficou famosa? Aquela que Thomas Mann descreve no seu extraordinário livro, “O Cão e o Dono”… A lebre que foge, que se esconde, que espreita, que desafia, que tem medo, ao ponto de fazer com que o escritor-caçador desista de a caçar!
Como esquecer a lebre que para mim ficou famosa? Aquela que Thomas Mann descreve no seu extraordinário livro, “O Cão e o Dono”… A lebre que foge, que se esconde, que espreita, que desafia, que tem medo, ao ponto de fazer com que o escritor-caçador desista de a caçar!
Fui
espreitar quem era este autor do livro da lebre com olhos de âmbar. Chama-se Edmund de Waal e é um conhecido artista ceramista britânico.
A família materna de Waal veio para a Europa, a partir de Odessa. O avô chamava-se Ephraim e eram judeus vindos da Grécia que asseguravam o comércio do trigo,
em Odessa.
Palácio Ephrussi, em Viena
Eram os maiores exportadores de trigo, no Império Russo. (A
verdade é que os Gregos desde muito cedo tiveram colónias na Rússia, em Odessa
por exemplo, mas em redor de todo o mar Negro).
Edmundo de Waal nasceu em Nothingham no dia 10 de Setembro de 1964. Professor
de Cerâmica na Universidade de Westminster o seu descendente, Edmundo Waal, é, também,
um famoso ceramista (oleiro?) com objectos de grande simplicidade e sobriedade.
Em
1871, Charles Ephrussi chega a Paris. Autodidacta, e muito rico, Ephrussi entra
nos salões literários, relaciona-se com pintores e homens de letras. Interessa-se
pelo Impressionismo.
Conhece Degas, Manet a quem encomenda obras, compra quadros e faz de mecenas. Foi editor da Gazette des Beaux-Arts. Foi o proprietário dum célebre quadro de Renoir onde o pintor o representa, ao fundo do quadro, como um 'marchand' de pintura.
Conhece Degas, Manet a quem encomenda obras, compra quadros e faz de mecenas. Foi editor da Gazette des Beaux-Arts. Foi o proprietário dum célebre quadro de Renoir onde o pintor o representa, ao fundo do quadro, como um 'marchand' de pintura.
Renoir, Déjeuner avec les canotiers
Renoir, (pormenor com Ephrussi) Le Déjeuner
Marcel Proust ter-se-à inspirado na figura dele para o seu Swann
de "À la recherche du temps perdu".
Edmund de Waal
Nesses
anos, em Paris, desenvolvera-se o interesse pela arte japonesas: pelos objectos de laca vermelha, por gravuras e por pequenas estatuetas realizadas em matérias preciosas, chamadas netsukes, figurinhas muito expressivas, trabalho minucioso e realista.
E Ephrussi começa a fazer uma colecção que vai chegar a mais de duzentas peças.
Degradação de Alfred Dreyfus
“Até
que, em 1894, o caso Dreyfus fez com que a França se dividisse entre ‘dreyfusards’
e ‘anti-dreyfusards’ fazendo surgir cortes radicais entre amigos, criando
separações familiares, fins de relações antigas, numa guerra aberta aos judeus.
Sendo Ephrussi judeu, muitos se afastam dele. Para Charles, mundano parisiense
de adopção, Paris mudara, sente-se ofendido. Desinteressa-se
pela colecção japonesa que acaba oferecida a um primo, Viktor Waal, como prenda de casamento". (wikipedia)
Mais
tarde, a colecção vai parar a Inglaterra, 'herança insólita', como lhe chama
Edmund de Waal.
Porque Viktor Waal (de origem holandesa) era o pai de Edmund.
Porque Viktor Waal (de origem holandesa) era o pai de Edmund.
Jan Syberechts, View from the East (1695)
Edmund de Waal, Victoria and Albert Museum
Quando recebeu em herança um grupo muito grande de pequenas estatuetas em madeira
e marfim, “netsukes”, pertencentes à família.
E Waal teve vontade de perceber mais sobre a vida da
sua família.
Escreve: “Posso passar o resto da vida a contar histórias sobre esta
insólita herança dum velho parente, muito querido, ou ir à procura do seu
significado”.
O significado da herança da colecção que Charles Ephrussi fora criando ao longo da vida.
“Quero
chegar à porta, girar a maçaneta e senti-la abrir-se. Quero entrar em cada sala
onde este objecto viveu, sentir o volume do espaço, ver os quadros das paredes,
saber como se projectava a luz pelas janelas. Quero saber por que mãos este ‘netsuke’
passou, e o que pensavam dele".
O 'netsuke' de que fala é a lebre com olhos de âmbar, a peça preferida de Charles Ephrussi.
'netsukes' da colecção Ephrussi
E
começou, assim, a história. O livro é publicado em 2010 e recebeu até hoje vários
prémios, entre eles o Costa Award em 2010.
E é a da história da família que vai falar, através 'da lebre com olhos de âmbar'.
Podem começar a ler sobre o livro e sobre o autor... Livro que espero ler em breve!
Vou ver se o encontro e depois conto mais coisas quando o ler...
Podem começar a ler sobre o livro e sobre o autor... Livro que espero ler em breve!
Vou ver se o encontro e depois conto mais coisas quando o ler...
Muito interessante. As peças são lindíssimas e gostei de conhecer a história da família e do livro.
ResponderEliminarTudo belo e bem contado como é costume.
Beijinho. :))
Deve ser bem interessante, esse livro. Vou ver, também, se o descubro.
ResponderEliminarAquela colecção de figurinhas devia ter peças bem giras!
Lembro-me da lebre do livro do Thomas Mann:)
Um beijinho grande e obrigada por mais um post tão interessante!
Fui googlar o livro, está à venda na wook.pt, mas a capa do livro não é tão bonita como a que a aparece aqui
ResponderEliminarum beijinho
Esta deve ser brasileira, Gábi...Obrigada pela visita! bjs
EliminarGostei muito e fiquei também com muita vontade de ler... Existem tantos escritores desconhecidos e que escrevem tão bem, com o coração nas mãos! Esses é que me interessam, os escritores "que nos tocam e picam", como diz Kafka... Bjs ! Obrigada ! m.
ResponderEliminarFoi uma delícia ler o seu texto e participar na busca da origem
ResponderEliminarda coleção de artesanato oriental...
Porém o que mais me agradou, foram as peças de porcelana,,,
É sempre um prazer ler os seus textos, MJ, pelo que, lamento
muito ter andado afastada, por razões alheias à minha vontade.
~~~ Beijinhos ~~~
É a primeira vez que passo por aqui e gostei bastante de ler o texto "Uma Lebre com olhos de âmbar" e também fiquei com uma enorme curiosidade em ler o livro. E ao conhecer a história do autor e da sua profissão veio-me à memória o filme de Otar Iosseliani, "Os Favoritos da Lua", em que acompanhamos a viagem através do tempo de um belo serviço de porcelana.
ResponderEliminarPS - Não descobri no blogue a opção de seguir, mas irei passando por aqui.
Bom fim-de-semana
Muito interessante a história e as peças são belas. Certamente o livro é igualmente interessante.
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