Regresso a casa -e encontro os amigos amuados. Estive longe, longe , durante muitos dias.
Voltei.
Não foi fácil. Nem o regresso, nem a reacção dos amigos que ficaram por cá. Claro que falo do Ratinho Poeta e do Ouricinho Dan, e da amiga deles, a Gatinha japonesa, que são os mais próximos amigos. O resto dos que por aqui vivem penso que não sentiu muito a minha falta. Entretêm- se uns com os outros.
Não foi fácil. Nem o regresso, nem a reacção dos amigos que ficaram por cá. Claro que falo do Ratinho Poeta e do Ouricinho Dan, e da amiga deles, a Gatinha japonesa, que são os mais próximos amigos. O resto dos que por aqui vivem penso que não sentiu muito a minha falta. Entretêm- se uns com os outros.
Calculei
que a recepção ia ser complicada, como é sempre quando os deixo e se sentem ‘abandonados’.
Mas ao ponto de virarem a cara e
fingirem que não me viam, isto era de mais! Inútil perguntar o que tinham, ou por que o faziam, sabia-o
bem, mas perguntei à mesma para criar uma conversa. Para 'comunicar', pensei.
-
Voltei, queridos! Está tudo bem?
Logo
o Ratinho:
-
Ainda perguntas? Está tudo mal! Voltaste a fazê-lo! E tinhas prometido que nunca
mais o fazias!
-
Eu, Ratinho? Prometi o quê?
-
Que nos levavas!, disse, agitado, e fixando-me com olhos tristes e brilhantes o Ouricinho.
Confesso
que não me lembrava de tal promessa. Às vezes dizem-se coisas, bem intencionados, que depois
esquecemos, com a pressa de andar em frente. Neste momento, não interessava saber se tinha
prometido, ou não, interessava sim perceber que eles se tinham sentido sozinhos. E
que estavam – mais do que amuados - sentidos. Tinham sofrido com o meu
afastamento, tinham estado ‘sós’.
A Gatinha japonesa olhava-nos, calada, a
dar voltas à sua malinha de seda. Observava tudo sem falar, com um olhar atento
que ia de um para o outro, preocupado.
-
Eu não os deixei sozinhos, estava cá o Diogo...
-
Ah, estava, estava. Só que, de repente, já não estava. Demos por nós sozinhos
em casa.
Era
o Ouricinho, com lágrimas na voz.
-
A casa estava vazia.
Uma
frase curta que revelava muito do meu Ratinho, poeta sensível, com o seu toque leve de ‘cepticismo’.
Constatava apenas, sem se emocionar, de olhos fixos na distância.
O Ouricinho,
infantil e ciumento, continuou a queixar-se:
-
E levaste o burrinho outra vez!
Ah,
era o burrinho que os afligia. “Abandonados”, trocados, miseravelmente, pelo
burrinho. Era isso! Iriam perdoar-me desta vez?
Olhei-os, desolada. Vinha tão cansada da viagem - uma viagem infindável
e, ridiculamente, aventurosa por causa das malas!
Comecei a desfazê-las, sem parar um segundo, numa pressa absurda de ver tudo arrumado nos lugares - queria era esquecer o cansaço e voltar a entrar numa vida –talvez monótona mas repousante. Trieste e as suas águas transparentes e o seu mistério ficara para trás.
Comecei a desfazê-las, sem parar um segundo, numa pressa absurda de ver tudo arrumado nos lugares - queria era esquecer o cansaço e voltar a entrar numa vida –talvez monótona mas repousante. Trieste e as suas águas transparentes e o seu mistério ficara para trás.
Trieste, de Egon Schiele
Arrumadas as odiadas maletas, estoirada e cheia de dores, deitei-me no chão - o que me acontece de vez em quando.
Com os músculos tensos do esforço físico e da preocupação, estiquei-me toda. Pensava: "para endireitar
o esqueleto!"
Respirei, imóvel, durante muito tempo, tentando uma forma de meditação, yoga ou zen que nunca atinjo, se bem que me repouse. E, de repente, vi-os ao meu lado, a espreitar, cheios de atenções, falando com suavidade. Tentavam pôr-me
uma almofada debaixo da cabeça.
-
Shiu!, dizia o Ratinho. Está cansada.
-
Coitadinha!, e o Ouricinho fez-me uma festa na mão com a sua patinha.
-
Estávamos a ser egoístas…
Era o meu Poeta, a lutar contra aquela forma de egocentrismo que sente borbulhar dentro dele. Falou-me com doçura:
-
Descansa. Agora estás na nossa casa e é muito bom para todos.
O Ouricinho olhava-me, embevecido. Que malandrino amoroso!
O Ouricinho olhava-me, embevecido. Que malandrino amoroso!
-
Sim, Jana, é tão bom voltar a ver-te! E o Manuel! Tivemos saudades dos dois.
-
Eu também! É bom ter uma casa e gostar de voltar a ela! E encontrar os amigos.
- Tens aqui os óculos se quiseres ir ao teu 'blog'...
Sorri. Eram assim os meus amigos.
- Tens aqui os óculos se quiseres ir ao teu 'blog'...
Sorri. Eram assim os meus amigos.
Vi
que a Gatinha japonesa ficara contente. Como já vos contei, é uma pessoa calma,
e creio que a sua filosofia é ver, saber, conhecer os outros e nunca julgar
ninguém.
Ela compreende, pela sua cultura diferente, que a vida é mesmo assim, com momentos de esquecimentos, silêncios, pausas, separações. E de ausências eternas, é certo, mas de regressos também.
E que tem de haver uma forma de aceitação – que, porém, nos não paralise. A vida deve ser feita a andar, olhando para trás, sim, recordando o que passou, mas seguindo em frente.
Ela compreende, pela sua cultura diferente, que a vida é mesmo assim, com momentos de esquecimentos, silêncios, pausas, separações. E de ausências eternas, é certo, mas de regressos também.
E que tem de haver uma forma de aceitação – que, porém, nos não paralise. A vida deve ser feita a andar, olhando para trás, sim, recordando o que passou, mas seguindo em frente.
Afinal
o regresso tinha corrido bem! Sabia que no dia seguinte iam começar as
perguntas, na curiosidade de saber o que sentira, o que vira de belo, para
poderem ‘participar’ da viagem, eles também.
A viagem a Trieste afastava-se na distância, mas sabia que ia recordar essa maravilhosa cidade, e os amigos de lá, e a beleza desse mundo durante muito tempo!
E para o ano -quem sabe?- lá estaremos de novo. Desta vez com eles! Obviamente!
A viagem a Trieste afastava-se na distância, mas sabia que ia recordar essa maravilhosa cidade, e os amigos de lá, e a beleza desse mundo durante muito tempo!
E para o ano -quem sabe?- lá estaremos de novo. Desta vez com eles! Obviamente!
Não posso deixar de sorrir, eu que segundo a nossa Isabel sou tão "pragmática", e faço minhas as palavras do poeta Luis Alberto de Cuenca: "Ese niño que sigue vivo en mí no va a desaparecer jamás, yo voy a ser pueril siempre. Bendito complejo de Peter Pan, si es que existe. Hemos de luchar por conservar al niño que tenemos, él es quien nos alumbra". Sábias palavras...
ResponderEliminarBeijinhos, feliz regresso!
Não deixes essa niña desaparecer...eu também não deixo! Assim, vamos 'brincando' na vida, sem a levar demasiado a sério!
EliminarADOREI!!
ResponderEliminarJá estava com saudades de a ver aqui e de ler as histórias dos amiguinhos.
Desta vez a coisa começou feia! Vá lá, que eles são compreensivos e reconsideraram.
As fotos ficam sempre giríssimas; estou a ler e a imaginá-los a conversar de verdade!
Então a viagem foi boa? Só podia ser, não é verdade?
E agora é o sossego após a agitação da viagem:)
Bom regresso, boa semana e ...conte mais coisas de Trieste!
Um beijinho grande:)
"Ela compreende, pela sua cultura diferente, que a vida é mesmo assim, com momentos de esquecimentos, silêncios, pausas, separações. E de ausências eternas, é certo, mas de regressos também."
ResponderEliminarO que conta é esse regresso e que tenham regressado bem e com saúde.
Beijinhos desde a cidade branca :)