Descobri
na minha biblioteca um livro que me deu a Gui, a minha filha, que foi a
primeira a ‘levar-nos’ para a poesia curta japonesa.
É de 1993 essa oferta,
estávamos nós em São Tomé. Estranha mistura! Não me lembro de ter lido os poemas lá na
Ilha, vê-se que foi um dos livros que ficou por cá.
Descobrem-se coisas novas nos
livros. Este livro, que se intitula “Le Livre d’ Or du Haïkaï ”, explica a evolução do
poema curto japonês. (*)
Debruça-se
sobre a poesia de Batshô, Issa, Buson e e Shiki que, creio que de nome já os
vamos conhecendo. Mas aparece sempre algo de novo.
De
facto, é Bashô - que se chamava Matsuo Manifusa mas que simplifica o nome para Bashô, depois dum aluno lhe «plantar à porta de casa uma bananeira que não dá
frutos e se chama “bashô”. Tem poemas delicados e belos. Apenas estes dois poemas e uma história:
Um dia o seu aluno preferido Kikaku escreveu:
Uma libélula vermelha
cortem-lhe as asas
um pimento.
Bashô achou os versos demasiado cruéis e para tornar o haïkaï mais fiel aos sentimentos budistas -que eram os seus- escreve em resposta:
Um pimento
ponham-lhe umas asas
libélula vermelha.
Bashô
A partir de 1675, Bashô “põe em prática uma poética do haïkaï que os seus discípulos
vão seguir. Não se trata de um ‘jogo’ como a poesia imediatamente anterior era,
um ‘jogo de corte’, de habilidade e de belas palavras mas, sim, de um género poético
específico, tocando na essência mesma da poesia”. (in Prefacio)
Antes surgira a ‘tanka’ que se torna muitas vezes num jogo de sociedade,
uma espécie de "poema-cadeia": um poeta propõe os três primeiros versos, um outro
continua e por aí adiante.
Mais tarde, ainda, o haïkaï vai ter apenas 3 versos, com poetas como Sôgi,
Sôkan e Moritake Arakida (1473-1549). ´
Com
Bashô - monge entre zen e laico- (1644-1694),
o haïkaï não vai ser nenhum “jogo”
nem será facilitado pela ausência de regras da escrita: vai ser uma composição ‘reflectida,
requintada, trabalhada”. Uma linguagem alusiva mas simples, uma linguagem ‘não
palpável’ que tem a intenção de suscitar os ecos do mundo interior.
Masaoka Shiki
Uma
poesia de grande pudor dos sentimentos que vai buscar as palavras simples do
dia a dia e que as enche de sentido, apresentando, numa visão súbita e
simultânea do instante vivido, imagens, sons, sentimentos…
Bashô
vai ser o grande poeta-viajante, atravessando as “Oito grandes Ilhas”, para ler
os seus poemas e ensinar os seus alunos por toda a parte, criando a amizade.
(Só
no século XIX aparecerá o ‘haïku’, derivado do haïkaï -hokku.)
Kobayashi Issa
Este livrinho apresenta, além de Bashô, poemas
de Busón, Kobayashi Issa, e Masaoka Shiki.
Hocusai
(*) editado pelas Editions Seghers, com um bom Prefácio de Pierre Seghers, o livro tem muitas notas explicativas, e belas imagens de pintores japoneses, um biombo 'Nanban', que representa a chegada dos portugueses ao Japão e muitas imagens de pinturas de Toyokuni Utgawa e de Katsushika Hocusai.
Gosto de Haiku. Gosto desta poesia aparentemente "simples". Adorei este registo, belo como sempre.:))
ResponderEliminarTenho saudades também, não tenho andado pela net.
Beijinho. :))
Não costumo ler esta forma de poesia, apesar de já o ter feito!
ResponderEliminarMas reconheço-lhe a beleza e a capacidade de síntese!
E os livros, por norma, possuem belíssimos desenhos japoneses!
Um beijinho, Maria João.:)
gosto de ler haïkaîs
ResponderEliminarJá há muita gente que se exprime nesta forma de poesia
bjo
Como em poucas palavras se pode dizer tanto e tão bonito!
ResponderEliminarNão siga as pegadas dos Antigos
procure o que eles procuravam
Matsuo Bashoo
Venho aqui poucas vezes, confesso, mas nunca me arrependi. Aqui, respira-se bom gosto e erudição.
ResponderEliminarAdoro a poesia que refere. Na sua aparente simplicidade esconde as mais profundas subtilezas para a descoberta do leitor.
Felicidades, MJ.
Tão bonito, tudo:)
ResponderEliminarUm beijinho e continuação de boa semana:)
Aparentemente simples, não me parece um estilo fácil de dominar, de modo a que com poucas palavras se expresse um sentido lato e súbtil.
ResponderEliminarBeijinho
~~~
Olá querida. Não sei bem porquê, pensei que o quadro que puseste podia ser uma imitação de Nolde. (Uma boa imitação, e adorei ver aí essa orgia de cores). Mas Nolde não é difícil de imitar, e na net isso acontece muito. A mim aconteceu-me com Cézanne. Peço-te pois que comproves bem, e entretanto que não ponhas o meu comentário, claro...
ResponderEliminarHoje está outro dia maravilhoso, cinzento e fresco. Outro beijão!