Quanto
a mim, o perigo maior que hoje corremos é o da indiferença. Se houvesse anjos seria essa a desolação do Anjo! Porque a indiferença mata a humanidade e a solidariedade do Homem.
As
imagens de horror repetidas, as notícias desoladoras do que se vive pelo mundo
entram-nos pelas janelas da televisão, dos jornais, do dia a dia. O
cansaço das mortes, massacres, sofrimentos, hospitais em sangue, crianças
mortas das mais diversas maneiras invade-nos.
Queremos parar. Não ver nem
ouvir. Descansar.
Desculpamo-nos: “o que podemos nós fazer? Não é connosco. Nós não temos culpa…”
Este
é o perigo e esta pode ser a nossa culpa. Porque
ignorar ou não nos indignarmos com a injustiça - um dia será a morte da nossa humanidade.
Habituarmo-nos
a ver horrores sem comentar, sem protestar ou sem dizer nada é uma culpa. Mudar
de canal é perigoso.
Confesso que me custa mas eu não mudo! Porque acho que é dever e quase penitência ver, olhar, reflectir, pensar o porquê.
"Não somos nós, não é connosco!", já dizia o outro. "Não somos pretos nem judeus. Não somos árabes nem muçulmanos", dizia outro, noutro sítio qualquer. Mas a nossa raça é a humana e somos todos homens e,
como tal, com destinos iguais...
Recordo a afirmação de uma amiga, há bem pouco, perante imagens da televisão:
"Ao ver certas fotografias, o meu coração sente-se confrangido e eu própria sinto vergonha de pertencer a uma espécie humana que não sabe respeitar-se a si própria."
E Albertina Dordio cita alguns versos de uma sua Poesia:
e a nossa passagem breve. É urgente sabermos o que devemos cumprir, na solidariedade para o sofrimento dos outros e para a injustiça que sofrem. Tão variados estes horrores de egoísmo...
Este é o poema, cheio de verdade e dor, que Primo Levi escreveu, no início do livro Se isto é um homem:
Confesso que me custa mas eu não mudo! Porque acho que é dever e quase penitência ver, olhar, reflectir, pensar o porquê.
"Não somos nós, não é connosco!", já dizia o outro. "Não somos pretos nem judeus. Não somos árabes nem muçulmanos", dizia outro, noutro sítio qualquer. Mas a nossa raça é a humana e somos todos homens e,
como tal, com destinos iguais...
Recordo a afirmação de uma amiga, há bem pouco, perante imagens da televisão:
"Ao ver certas fotografias, o meu coração sente-se confrangido e eu própria sinto vergonha de pertencer a uma espécie humana que não sabe respeitar-se a si própria."
E Albertina Dordio cita alguns versos de uma sua Poesia:
"Quer
a Paz e faz a Guerra
Que
a Paz e faz a Guerra
Que
estranha forma de agir
Assim
andamos na terra
Fazendo
a Paz a mentir…"
Este é o poema, cheio de verdade e dor, que Primo Levi escreveu, no início do livro Se isto é um homem:
"Vós
que vivei tranquilos
Nas
vossas casas aquecidas,
Vos
que encontrais regressando à noite
Comida
quente e rostos amigos:
Considerai
se isto é um homem
Quem
trabalha na lama
Quem
não conhece a paz
Quem
luta por meio pão
Quem
morre por um sim ou um não.
Considerai
se isto é uma mulher,
Sem
cabelo e sem nome
Sem
mais força para recordar
Vazios
os olhos e frio o regaço
Como
uma rã no Inverno.(…)"
……………
Pensando nele, eu quero olhar, quero pensar que esta realidade, essa e a outra - seja elas quais forem- se referem a mim!
Sei que:
Que posso ser eu um dia!
Podem ser os meus!
Podem ser os nossos!
Tudo se repete, no avanço do mal e da desumanidade crescente destes tempos de horror!
E então penso: quero saber mais! E devo saber mais! Protesto! Indigno-me porque esse menino
que morre é ou poderia ser meu irmão, meu filho, meu neto!
Nesta máquina de morte que nos rodeia de novo,
mais ou menos distante, ora aproximando-se, ora afastando-se, dou por mim a fechar
os olhos e a pensar: “mais não! não quero ver!”
A desesperança invade-nos e não queremos pensar.
Mas não posso deixar de ver! Porque não querer ver os olhos pasmados das crianças que morrem e sofrem - é perigoso. Ficamos desumanizados!
crianças, na Síria, a brincar
A desesperança invade-nos e não queremos pensar.
crianças refugiadas, a fugir...
um mundo azul, de paz
Crianças no parque infantil em Trieste
Estamos
todos “encurralados” no mesmo mundo. Prisioneiros, mais perto ou mais longe, mais tarde ou mais cedo, perseguidos pelos mesmos tiranos.
Crianças encerradas fora da salvação, com arames farpados, com muros, com armas apontadas...
Crianças encerradas fora da salvação, com arames farpados, com muros, com armas apontadas...
Desses ditadores que voltam a matar, por aí,
sem vergonha, sem ninguém os impedir. Que nem nomeio!
Não percebo estas ondas de morte, estas revoltas de sangue e horror que
passam de dias a meses, de meses a anos...
Mas percebo que não posso fechar os olhos. Tenho de olhar.Tenho de me forçar a ver!
Mas percebo que não posso fechar os olhos. Tenho de olhar.Tenho de me forçar a ver!
Tenho de me indignar! De ter
raiva! De protestar!
Falemos ao menos das coisas horríveis que se passam! Isso todos nós podemos fazer. Para tentar mudar para um mundo em que as oliveiras de Van Gogh azuis não sejam raminhos de oliveira doentes, cheios de bichos!
Van Gogh, Olivais azuis, Arles
Mesmo
que seja aparentemente uma indignação inútil... Indignemo-nos! Como Hessel que até ao fim da vida se indignou.
Infelizmente, tudo quanto aqui escrito é verdade.
ResponderEliminar"Se aprende a escuchar pero también a desconectar si algo te incomoda, porque si bien hay que estar atento, resulta saludable practicar la introspección para refugiarse del prójimo"
ResponderEliminarElvira Lindo
(Uma gran escritora y periodista que sim faz bastante pelos outros)
Beijinhos, bom finde
Concordo com o que diz, a indiferença é muito má. Tem que ser através da educação, da mudança de mentalidades, que se pode fazer alguma coisa...mas é tão difícil!
ResponderEliminarE os loucos com poder, que têm a faca e queijo na mão...
A humanidade não muda...
Um beijinho e um bom sábado:)
Na verdade não basta ter razão
ResponderEliminaré sempre urgente agir
É verdade, ficar mudo é negligência cúmplice
ResponderEliminarabraço
E a religião? O que mais mata neste mundo, incrivelmente!
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