Sempre
à procura de Literatura policial, descobri há tempos um livro organizado por
Maria de Lurdes Sampaio e Gonçalo Vilas-Boas, ambos professores de Literatura
Comparada (1). Maria de Lurdes Sampaio regeu também a cadeira de "Literatura Policial", na Universidade do Porto.
Trata-se
de um conjunto de textos sobre literatura policial composto de traduções de
artigos de autores consagrados do género policial e estudiosos do mesmo.
A
escolha é bem variada e vai desde Raymond Chandler e “A Arte simples do assassínio” (1944) ou a “Perspectiva filosófica sobre o romance policial” (1962) de Ernst
Bloch, como, ainda, a “Filosofia da Série
Noire” (1966) de Gilles Deleuze - até ao velho e famoso G. K. Chesterton e “Uma defesa das histórias de detectives”
(1902).
Referem
a obra de duas mulheres, Priscilla L. Walton e Manina Jones, que se debruçam
sobre o problema da ‘mulher-detective’, num livro cujo título em inglês é bem sugestivo
- “Does she or doesn’t she? The
Problematics of Feminist Detection” (em português: “Sim ou não? A problemática da narrativa de detecção”, 1999).
Por
motivos especiais devidos ao meu interesse pessoal pelo assunto, gostei do texto
de Priscilla e Manina sobre a problemática da narrativa de detecção
feminina. A mulher continua afastada do romance “hard-boiled” (termo
intraduzível) americano, do romance duro, tipicamente masculino, da figura de Marlowe ou de Sam Spade...
É,
de facto, pouco usada a figura da mulher-detective, nos autores americanos.
As duas escritoras, Priscilla L. Walton e Manina Jones, focam esta recente proliferação das mulheres escritoras de literatura detectivesca - apresentando em livro um estudo profundo e longo das mudanças de sociedade e históricas que implodiram esta popularidade – juntando divertidos textos das escritoras escolhidas.
As duas escritoras, Priscilla L. Walton e Manina Jones, focam esta recente proliferação das mulheres escritoras de literatura detectivesca - apresentando em livro um estudo profundo e longo das mudanças de sociedade e históricas que implodiram esta popularidade – juntando divertidos textos das escritoras escolhidas.
Do
lado de cá do Atlântico, a realidade é um tanto diversa: há anos que existia a
irreverente, curiosa e (aparentemente) suave Miss Marple, criada por Agatha
Christie, escritora inesgotável e muito especial. A sua Miss Marple,
observadora inveterada da natureza humana, é, porém, uma detective "acidental".
“Por
acaso” surge um assassínio nas redondezas e é, relacionando as condições em que
acontece e as atitudes dos suspeitos com o seu conhecimento da aldeia de Saint
Mary’s Mead e da mente humana – igual em toda a parte - que ela consegue “detectar”
o culpado.
Temos, ainda, o caso de Dorothy Sayers cujo herói é o sofisticado Lord Peter
Wimsey, cuja mentalidade e qualidades de observação são porém bastante femininas.
No entanto, desde os anos 70, escrevem Manina e Priscilla, explodiu, no mercado popular da ficção policial, um sub-género desse tipo de literatura escrita por mulheres e apresentando já uma mulher investigadora profissional.
“Does she or doesn’t she? The Problematics of Feminist Detection”, afinal?...
“Does she or doesn’t she? The Problematics of Feminist Detection”, afinal?...
Impossível, por isso, não falar, das “mulheres-escritoras-policiais” modernas: as “damas do crime” - dos últimos decénios- do Reino de Sua
Majestade Britânica.
Refiro-me a Ruth Rendell (1930-2015) e a P.D.James (1920-2014), para mim as mais relevantes. E, também, ao “alter ego” de Ruth Rendell, Barbara Vine.
Refiro-me a Ruth Rendell (1930-2015) e a P.D.James (1920-2014), para mim as mais relevantes. E, também, ao “alter ego” de Ruth Rendell, Barbara Vine.
Com protagonistas masculinos, é certo, mas
contrabalançados por figuras femininas que têm o seu papel decisivo, na
concepção e no desenrolar da história.
P. D. James tem, aliás, em alguns dos seus livros, uma detective, Cornelia Gray, que, aos 22 anos, "investiga" e resolve um crime ("Estranha Profissão Para uma Mulher", 2001 Europa-América).
P. D. James tem, aliás, em alguns dos seus livros, uma detective, Cornelia Gray, que, aos 22 anos, "investiga" e resolve um crime ("Estranha Profissão Para uma Mulher", 2001 Europa-América).
Ruth
Rendell (1930-2015) ficará para sempre ligada ao seu Inspector Wexford e ao ajudante
Burden.
O Inspector é um homem muito culto, sensível e humano. Com uma mulher tranquila, chamada Dora, e duas filhas Sheila e Sylvia. Que o enchem de problemas! Um mundo de mulheres, no fundo.
Mais recentemente, surge Ann Cleeves (1954) cuja figura de muitos romances é a Inspectora Vera - que na série televisiva da BBC chamou muito a atenção sobre a escritora.
As
duas escritoras são Priscilla L. Walton e Manina Jones que focam esta
proliferação recente do assunto das mulheres escritoras de literatura detectivesca apresentando um livro com
um estudo profundo e longo das mudanças de sociedade e históricas que
implodiram esta popularidade – juntando divertidos textos das escritoras
escolhidas. (“Detective- Agency”).
***
(1) O
livro intitula-se “Ficção Policial,
Antologia de Ensaios Teórico-Críticos”, publicado pelo Instituto de
Literatura Comparada Margarida Losa e pelas Edições Afrontamento, Porto, 2012
(2) Priscilla
L. Walton e Manina Jones, “Detective-
Agency”, Mulheres re-escrevendo os romances policiais “hard boiled” … “Does she or doesn’t she? The Problematics of Feminist Detection”...
Boa partilha
ResponderEliminarGostei do que li e é sempre um prazer passar por aqui, porque termino sempre por aprender mais um pouco sobre esses temas que me preenchem os dias. Embora a senhora aqui de casa seja a "especialista" dos policiais, sendo fã da Elizabeth George, já eu adoro a Patricia Highsmith e o seu Ripley, para além da inevitável Agatha Christie. Registei alguns nomes que refere, para futuras leituras.
ResponderEliminarMuito boa tarde e bom fim-de-semana!
è curioso mas eu também adoro essa Patricia Highsmith! Completamente anárquica e nada PC. Louca ! Leu a história do "Observador de Caracóis"? Está numa colecção de contos dela. Vou ver quem é essa Elizabeth George! troca por troca... Abraço a si e à apreciadora de policiais!
EliminarNada politicamente correcta...
EliminarUma pequena confissão:)
EliminarFoi através do livro "O Observador de Caracóis" que eu e a Paula nos reencontrámos muitos anos depois:) e rapidamente nos casámos, já lá vão 14 anos. Eu adorei o livro e ofereci-lhe, ela odiou o livro,mas foi ele que nos uniu, quando ela viu uma jovem a ler o "Observador dos Caracóis" em Algés e pensou (coitada!) que será feito do Rui e depois esperou pelo Natal e enviou-me um postal.
Aqui fica a nossa história com o livro da Patricia Highsmith. Uma escritora que adoro;)
Muito boa tarde!
Adorei a sua história! Um encontro "preparado" pela Patricia Highsmith, com esse livro terrível, é mesmo "à maneira" da Patricia Highsmith!
EliminarEra uma mulher terrivelmente lúcida, digam o que disserem. Gosto muito dela também! Boa semana....
Muito interessante.
ResponderEliminarUma curiosidade, um jovem meu conhecido, que há uns anos entrou num curso de investigação criminal, dizia que o curso era frequentado por uma maior percentagem de raparigas.
Será que a PJ tem muitas investigadoras?
A Maria João traz sempre temas interessantes para os seus posts.
Beijinhos e um bom fim-de-semana:))
Isabel, se estiver interessada em ler O Observador de Caracóis pode requisitá-lo na Biblioteca de Castelo Branco, isto supondo que não o tem. :)
EliminarMaria
O meu conto favorito da Patricia Highsmith é "O Homem que escrevia livros na cabeça", incluído no livro de contos "Levemente, levemente ao vento" (edição Distri).
ResponderEliminarMuito boa tarde!
Também gosto muito da Patricia Highsmith e dos seus livros têm saído excelentes filmes:
ResponderEliminar- Plein Soleil do René Clément
- O Talentoso Mr. Ripley do Anthony Minghella
- O Jogo de Ripley da Liliana Cavani
- Carol do Todd Haynes, este de temática diferente.
O Observador de Caracóis é realmente uma história arrepiante, mas em começando a ler não há como parar.
Quem também escreve umas histórias bem misteriosas e macabras é a Daphne du Maurier, algumas adaptadas para cinema por mestre Hitchcock: Os Pássaros, Rebecca ou a Pousada da Jamaica.
Destaco ainda 2 contos que acho fantásticos: Don't Look Now e The Apple Tree (não sei se estão traduzidos).
Maria