quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Quero um cavalo de várias cores!


O CAVALO DE VÁRIAS CORES

Poema de Reinaldo Ferreira

“Quero um cavalo de várias cores,
quero-o depressa que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
que só cavalos de várias cores
Podem servir.

Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva – nimbos e cerros –
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.

Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.

Deixem que eu parta, agora, já,
antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho.
Mas como posso partir sozinho
Sem um cavalo de várias cores?”

***
 
Nascido em Barcelona em 20 de Março de 1922, Reinaldo Ferreira  era filho do escritor e jornalista Reinaldo Ferreira, o conhecido Repórter X (1). 
Poeta, escritor de várias novelas, Reinaldo Ferreira (filho), viveu em Moçambique, a partir de 1941. Estudou, acabou o Liceu e continuou por lá. 
De vez em quando vinha a Portugal mas logo voltava para Lourenço Marques (hoje, Maputo). 
Morre em Junho de 1959. Em Março tinha-se declarado um cancro no pulmão que foi fulgurante e fatal.
Autor de reportagens, ficções várias, peças de teatro, realizador de filmes foi sem dúvida uma personagem fascinante, com uma fulgurante pela vida.
Publica artigos e poemas nas revistas culturais de Moçambique, escreve letras de canções mas a sua obra poética só foi publicada, póstuma, em 1960, em Moçambique.
“Poemas” sai, por iniciativa do Governo-Geral de Moçambique, organizada pelos amigos, que promovem igualmente uma marcha fúnebre ao túmulo do Poeta.
Ali é colocada uma lápide com um dos seus poemas gravados.
Em 1962, é publicada em Portugal, pela Portugália - precedida de um ‘estudo analítico’ de José Régio que admirava muito o Poeta.

 Escolhi esta poesia de entre muitas de que gosto, porque queria apresentar os meus cavalos preferidos: 'Dom Quixote no cavalo azul' e o meu cavalo árabe, de El-Jadida, oferecido em Marrocos por um bom amigo.

***
(1)O chamado “Repórter X” nasceu em Lisboa, em 10 de Agosto de 1897 e morreu, também em Lisboa, no dia 4 de Outubro de 1935. Tinha 38 anos.Os seus livros são mistérios policiais e aventuras.

3 comentários:

  1. Não se pode ter um arrebato de loucura mais poético e convincente, apetece-nos a todos segui-lo nessa viagem maravilhosa a nenhuma parte. Gosto muito do quadro e da figurinha, adoro cavalos.
    BOM FINDE

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  2. Tenho uma edição de 1998 da editora Vega, com o desenho da capa dessa edição, reproduzido lá dentro. Veio da Lumière.

    Este poema é muito bonito:))
    E gosto muito do quadro e da escultura.

    Beijinhos e bom domingo:))

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  3. Sem dúvida que o poeta, repórter X, é uma personalidade muito interessante, o poema escolhido é admirável.
    Tem razão em orgulhar-se dos seus cavalos, também os acho notáveis.
    Beijinho, MJ.
    ~~~~

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