sábado, 5 de outubro de 2019

PATRICIA CORNWELL E AS MENTES DESVIANTES/ DESVIADAS



Leio mais um livro de Patricia Cornwell. É um dos seus primeiros - publicado em 1997- mas  comprei-o há pouco numa lojas de livros usados.

Point of Origin é o título, o “ponto de começo” de algo que se desconhece mas de onde se prevê que não vai sair nada de bom desde o início. É uma praga, uma série louca de assassinatos provocados por fogos.
Leio pelo prazer de ler em inglês, sempre que posso, aprender um pouco mais. É a minha justificação quando me perguntam: 
Com tantos livros bons que tens em casa, para é que andas a ler essas coisas?” A palavra “coisas” tem, evidentemente, uma conotação negativa: livro policial uma coisa qualquer que não presta. No entanto, quantos magníficos escritores policiais existem! 
Sim. Desde os grandes Mestres americanos como Raymond Chandler ou Dashiell Hammett ao belga inesquecível, George Simenon, e às grandes inglesas policiais de Agatha Christie e Dorothy Sayers  a Ruth Rendell e a P.D.James - para não falar de outros.
A verdade é que todos ensinam alguma coisa nova sobre o ser humano nem que seja sobre o lado escuro e turvo, o negativo da mente.
Estava a preparar-me para ir a San Francisco quando o comprei e queria saber sobre o tipo de língua que iria ouvir por lá. 
Patricia Cornwell foi mais uma desculpa: a "possibilidade" de   perceber melhor a língua inglesa que falam os americanos, cheia de abreviações, simplificada nas expressões, elisões de sílabas por aqui e por ali, slang, só mesmo num livro policial se podem aprender!
 Não podemos esquecer que os que partiram para a colonização do mundo novo pertenciam a classes sociais baixas, quantos deles analfabetos.

Peguei, pois, no livro e levei-o comigo. Como não tive tempo para o acabar, trouxe-o de novo e eis-me a falar de Patricia Cornwel.
A escritora, licenciada em Literatura dedicou-se, porém, a estudar os desvios da mente humana, interessando-se por psicologia e psicopatologia - sabe do que fala quando escreve um romance destes.
 Richmond, Virginia

A sua detective é Kay Scarpetta, de origem italiana, de Verona, que ama a boa comida – e sabe cozinhar para tirar o “stress”- que aprecia viver, e entende que dentro dos assassinos que persegue "há mais mundos". Desviados. Há traços marcados quer geneticamente quer no comportamento ou pelo ambiente em que passam a sua adolescência ou infância tormentadas.
Vive em Richmond, na Virgínia,  e é considerada uma das cidades mais violentas da América.
A Dra. Kay Scarpetta trabalha como Chefe do Departamento de Medicina Legal da Polícia de Richmond. É médica-legista e analisa, nas autópsias das vítimas, tudo o que é detectável, com aparelhagem moderníssima que nunca sonhei que existisse. Depois vai alargando os círculos até ao criminoso. Estudou criminologia, especializou-se nas “psychopatic disorders”. 
Trabalha diariamente com o Capitão Pepe Marino, descendente de italianos como ela, velho amigo - que não se entende muito bem com ela - que decidiu “protegê-la” naquele mundo brutal, selvagem, violento, em que escolheram viver. 

 É divorciada, tem cerca de 40 anos e geralmente tem uma boa relação de amizade com os colegas à excepção de Marino. O que talvez se deva à personalidade forte dela e a um certo “machismo” dele.
 Mundo sem regras até à aberração, assustador, daqueles que se afastaram do caminho da normalidade, que se desligaram há muito do mundo real, para entrarem no mundo dos “desvios” graves do comportamento que levam ao desrespeito da vida humana, à morte, à tortura física e psíquica - aparentemente continuando na normalidade. 
Num mundo de loucos, aceito, onde o caos, a solidão, a desistência e a loucura podem reinar.
(Tenho um caderno de significados como dantes tinha no liceu e vou tomando notas: “to bloom”, “to blow”, to bay”, “to bark”, “to blurre” ou “stick up”, “pick up”, “shut out”.)
E continuo a tentar explicar por que me interessam estes livros e outros mundos.
Será mórbido ler isto? Ou  escrever sobre isto? Por que havemos nós de saber o que se passa “nesse” mundo dos loucos?
A mim atrai-me a psicologia, a compreensão do outro e insisto sempre  até onde me for possível.De preferência sentada num sofá, confesso.
Neste romance, Carrie é a psicopata em fuga, depois de uma evasão considerada impossível de uma das prisões mais rigorosas, com ajuda de alguém de fora. 
É uma mulher  impiedosa com uma capacidade de camuflagem enorme. Aparece, desaparece, identifica-se com os lugares onde vive, com os habitantes dos lugares e é indetectável. 

Escondida nos espaços enormes daquela região, encontrá-la é um problema. Deixa falsos “sinais”, marca encontros que parecem conduzir a ela, enquanto espreita os investigadores.  Numa provocação calculada, conduz a Polícia a um beco sem saída. 
Kay Scarpetta sabe que prepara um novo ataque. Resta-lhe investigar tentando antecipar o que não é fácil prevenir. Não  há a certeza de a poder parar.
A missão evitar que esses “desviados” perigosos causem o mal. Evitar a todo o custo. Por vezes, é tal a pressão que exercem sobre eles, que quase duvidam do próprio equilíbrio. 
Carrie está em toda a parte, no espírito de todos. Até na dos leitores.
És demasiado mórbido” diz Scarpetta a Marino, falando da sua apreciação sobre Carrie.
Pepe Martino responde simplesmente: “É premonição da morte. Chama-se a isto realidade.”
Quem são as pessoas como Carrie?
Vêm de mundos em que só viram abusos, foram eles mesmos abusados, ofendidos”, continuou Marino. E fazem o mesmo aos outros, para se vingarem...”
Kay Scarpetta replica:
Não. Eles fazem muito mais do que isso aos outros! Tiram-lhes a vida depois de os fazer sofrer. Assassinam.”
Marino acabou dizendo:
“Sabes? De certo modo a alma deles foi assassinada... Já não têm alma.”
Percebemos que, neste trabalho extenuante, feito de vigílias, de ansiedade e medo, Kay, Marino e os outros sabem que o importante não é apenas levar Carrie à prisão mas sim perceber por que razão o faz. 
O que os levou a matar do modo como o fizeram? É preciso entender as causas profundas. Para evitar que possam voltar a torturar e matar, a destruir. E isso não é fácil...
É um livro com o costumado suspense, momentos de grande dureza, num mundo de crueldade, sem leis. 
***


3 comentários:

  1. Sei que é a outra face da realidade que vivemos, mas fujo dela...
    A minha idade própria do altruísmo já passou há muito e, com ela, o desejo de me aventurar nestas leituras que implicam stress.
    Há uns anos vi episódios dos CSI pela curiosidade de conhecer os novos métodos científicos usados na investigação criminal...
    Boas leituras, MJ, neste lindo Outono que ora começa a arrefecer...
    Beijinhos
    ~~~~

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  2. Interessante, e uma coisa curiosa que nesse livro o psicopata seja "a" psicopata. Normalmente são homens.

    O Ratinho também está muito interessado...

    Gosto da nova imagem do blogue, lá em cima. A anterior também era bonita.

    Beijinhos e um bom domingo:))

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  3. Gosto muito de policiais e li alguns da Patricia Cornwell (embora não me lembre deste) tenho a ideia que os livros dela iam ficando cada vez mais sombrios

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