KIRK DOUGLAS E O ÚLTIMO DUELO

Lembrar Kirk Douglas (1) é rever toda a minha vida, a minha adolescência, as férias, os filmes de aventuras que ia ver, nas noites de Verão, ao Cine-Parque de Portalegre.

E era, já casada, continuar, à procura dos mesmos filmes, já com o Manuel, nas tardes de Verão tórrido de Lisboa  a fugir do calor da nossa casa que era num 6º andar – o último do prédio. 

 

 O São Jorge, no blog "restos de colecções"

As tardes em que nos fechávamos no cinema São Jorge, a ver todos os filmes policiais e de aventuras que ali passavam no Verão.

E vinham os filmes americanos e os westerns. E lá aparecia nos filmes de guerra ou nos westerns, Kirk Douglas herói ou “fora de lei”, mas sempre perfeito actor. 
Se bem que, segundo recordo, eram mais os filmes ingleses de série noire do que outros.

 

O São Jorge, hoje, no blog "restos de colecções"

Numa entrevista disse o actor há uns tempos que “fez sempre papéis de son of a gun”. Talvez, mas conseguia sempre que ficássemos do lado dele, talvez pela humanidade que conseguia dar aos personagens.
Fez tantos filmes - e de géneros tão variados - do gladiador ao herói da Guerra de Tróia, Ulisses, a Van Gogh, a boxeur, jornalista, ou gangster... Com bons e maus realizadores. Stanley Kubrik, BillyWilder, Sturges e outros escolheram-no. 

 

John Sturges

O meu filme preferido era “Duelo de Fogo" (Fighting at Ok Corral?, de John Sturges, em 1957- mas há tantos outros magníficos.

Quantas vezes vi o filme? O revi? Até, na televisão, dobrado em italiano, porque em Itália têm o péssimo hábito de dobrar os filmes. Como, aliás, em Espanha e em França e se calhar em outros países – abençoado Portugal que nunca caiu nisso, se bem que as razões não fossem exactamente puras, eram outras. 

Revejo-o hoje nos velhos DVDs. Comove-me sempre a história do velho pistoleiro, bêbado e “acabado”, o falhado que ninguém respeitava. 

E esperava sempre que tudo acabasse bem.

Neste filme a que me refiro há a cena da preparação do velho “guerreiro”  Doc Hallyday, considerado um falhado desde que se pusera a beber, e que decide voltar à vida para ajudar o sheriff a apanhar os bandidos.  Como velho “samurai” que renasce das cinzas para mais um último combate é uma actuação extraordinária do actor.

Hoje o guerreiro, o velho samurai,  foi-se embora.  Tinha 103 anos e creio que foi feliz. Bom repouso onde quer que esteja.

(1)       Kirk Douglas (cujo nome verdadeiro era Issur Danielovitch Demsky) foi filho de Bryna Sanglel e Herschel Danielovitch, imigrantes judeus de Chavusy (hoje Bielorrusia).

 

 Amsterdam

Nasceu já em Amsterdam, New York, em 9 de Dezembro de 1916. Apesar de ter crescido num pobre ‘ghetto’ dos arredores de New York, foi um aluno exemplar e trabalhou duramente para poder pagar os estudos na Saint Lawrence University. Conseguiu arranjar lições de teatro e era suficientemente talentoso para conseguir estudar na American Academy of Dramatic Art.

(2) Gunfight at the OK.Corral é um filme do realizador John Sturges, de 1957, com Kirk Douglas, Burt Lancaster, Van Heflin e Ronda Fleming. Baseado na historia real da luta e do duelo entre o sheriff Wyatt Earp (o actor Burt Lancaster) ajudado por Doc Holliday (o actor Kirk Douglas) e um bando de assaltantes e  assassinos, em Outubro de 1881.

(3) Encontrei no blog "restos de colecções" um belo post com fotografias sobre o Cinema São Jorge.

 https://restosdecoleccao.blogspot.com/2016/07/cinema-sao-jorge.htm