terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Louisa May Alcott, Mulherzinhas e outras histórias


Voltar atrás no tempo à procura dos escritores e das escritoras que nos fascinaram na infância e adolescência é um trabalho agradável. Leituras inesquecíveis!
 O livro “Little Women” (1886), de Louisa May Alcott (1832-1888)foi um desses – com tantos outros - livro do qual se tiraram várias versões de filmes.

Havia ainda Charles Dickens e o romance “David Copperfield” que tanto me fez chorar às escondidas. Eu tinha a mania que era dura e que disfarçava os sentimentos e, então, ia limpando as lágrimas, sentada à mesa redonda, com a braseira por baixo, nas noites de Inverno.
Porque Dickens associo-o às noites de Inverno, ao frio. Como “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, com a chuva ininterrupta e a pobreza. 
Já a escritora George Eliot me lembra a Primavera. O humor e o sentido crítico do romance "Middlemarch" faz com que o livro ainda seja actual.Muito sofri também a ler “O moinho à beira do Floss”. Ainda tenho nos olhos as águas revoltas do rio em fúria que arrastaram tudo e esperava, até ao fim, que não acontecesse o inevitável.
Havia as irmãs Brontë, maravilhosas escritoras. Livros como “O Monte dos Vendavais”, de Emily, deixaram-me um misto de sentimentos entre o medo e a amargura e a ideia da infelicidade inelutável. 

E Charlotte Brontë e a sua “Jane Eyre”? Na tradução portuguesa que primeiro li, da Romano Torres, chamava- se “O grande amor de Jane Eyre”. 
Ou a grande Jane Austen, anterior a elas quase um século- que foi sempre uma das minhas preferidas. “Orgulho e Preconceito” consegue ser ainda hoje actual.
Mas eu queria falar de Louise May Alcott por uma razão especial. Encontrei um recorte do jornal La Reppubblica que trouxe de Trieste para ler com calma. 
Perdi-o no meio da papelada que sempre levo atrás, mas há dias encontrei a página rasgada. Era um artigo de Irene Bignardi, uma boa jornalista desse jornal e que ainda conhecemos nos tempos de Roma. No início do artigo – que se intitula “Piccola donna modernissima”- escreve:
Louise May Alcott girou por todos os géneros, antecipando muito os tempos e os temas.”
E explica como a escritora, nascida e crescida no Massachusetts, teve um “background” muito especial.

Theodore Parker

“Educada por um pai com infinitos interesses culturais, o pedagogo, professor e pensador transcendalista, Amos Bronson Alcott,assim podemos encontrar entre os seus professores Ralph Waldo Emerson (1803-1882), criador do New England Transcendalism, Theodore Parker (1810-1860) participante do movimento anti-esclavagista, ou Nathaniel Hwthorne (1804-1864);


 
 Nathaniel Hawthorne
E também o famoso romancista, autor de "A Letra Escarlate", Margaret Fuller (1810-1850), poetiza americana defensora dos direitos da mulher e Henry David Thoreau (1817-1862) – todos eles amigos da família - que lhe deram uma formação excepcional.
Henry David Thoreau

E Irene Bignardi acrescenta: “tantas paixões e quantas tensões ideais nutriram aquela que foi o modelo da sua Jo March, personagem muito amada.”

E vamos descobrir com Irene Bignardi que a América do século XIX “era um país cheio de tabus, de vínculos e de laços” onde outras obras de Alcott como por exemplo “Enigmas”(1864) - que saiu em Itália em 2019 e foi, no seu tempo, uma obra muito censurada, pela paixão amorosa do herói Clyde, por várias pessoas da mesma família, de sexos diferentes – assunto de que ela fala com grande à vontade, contra todo o puritanismo da América.
A personagem principal de “Enigmas” é, desta vez, um jovem inglês, chamado Clyde, o qual, segundo a articulista, é uma espécie de “irmão” do escrivão Bartleby de Herman Melville (1819-1891).
Herman Melville

Aqui tenho que fazer um pequeno parêntesis: o escritor Herman Melville, contemporâneo de Louise Alcott, conhecido sobretudo por “Moby Dick”, é também autor do livro espantoso, de humor, de ternura e de irreverência que se chama “Bartleby” (1853).

Bartleby é um jovem escrivão que levava todo o dia, de olhar fixo na parede do prédio em frente do escritório, sem fazer absolutamente nada. Vive num mundo vazio, solitário, à parte. Não ama o trabalho, não é permeável à vontade de trabalhar e é a incarnação de todos os que procuram a vida e, ao mesmo tempo, a negam, quando escolhem a resposta: “Sim, mas prefiro não”. Parado no tempo, sem vontade de nada, não vive.

Ficamos também a saber que Louisa Alcott escolheu inicialmente, tal como George Eliot, ou George Sand (e as irmãs Brontë), um pseudónimo masculino: AM.Barnard – e que, além destes dois livros, escreveu várias histórias de mistérios, divertindo-se durante a carreira literária a escolher géneros e temas diferentes.

Escritora que, como acentua Bignardi,  "conseguiu sair do seu tempo, escrevendo livremente e tirando das próprias experiências um modelo "ideal" que fez apaixonar gerações e gerações pela sua personagem Jo March"
Quantas jovens desejaram ser Jo March!


 Muitos filmes foram tirados deste livro. O primeiro, de George Cukor, em 1933,  com Katherine Hepburn na figura de Jo March. 
Mais tarde, em 1949, Melwyn LeRoy vai escolher a actriz June Allyson para o papel da heroína. Junta outras actrizes famosas como Elysabeth Taylor, a pequena Margaret O’Brien e, ainda, nos seus começos, Janet Leigh. 
Em 1999, Gilliana Amstrong volta a recriar a atmosfera das Mulherzinhas agora com Winona Ryder que é Josephine (Jo) March, e Susana Sharandon.
Consegui ver estes três filmes, se bem que não recorde quase nada da interpretação da grande Katherine Hepburn. E tive saudades desses tempos, desses filmes, confesso... E de Louisa May Alcott e das suas mulherzinhas.

(1)O Transcendentalismo é um movimento que emerge do Romantismo Inglês e Alemão, do cepticismo de David Hume e da filosofia transcendental de Kant. Está próximo do movimento dos Upanishad, ligados estes ao Hinduísmo e ao Budismo, e que se dedicam à meditação, filosofia e conhecimento espiritual.

6 comentários:

  1. Adoro todos os livros de que fala. E as Mulherzinhas li-o umas poucas de vezes.
    Ainda hoje tenho um livro velhinho e algumas edições mais novas.

    Beijinhos:)) Desejo-lhe uma boa semana:))

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  2. Um belíssimo post. Deixa-me que acrescente O Pequeno Lord, que fez as minhas delícias com apenas 6 anos, o que me leva a pensar que já é hora de ir comprando todos estes livros à Carolina. Não sei se terá tempo de lê-los, está sempre tão ocupada...Bjinhos

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    1. Sabes, María, oPequeno Lord foi também uma das minhas leituras preferidas! E reli-o duas ou três vezes.Acho bem que comeces a dar certas coisas "boas", a companhia dos belos livros que tivemos a sorte de ler!

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  3. Interessante, que li todos os livros citados, mas não me recordo
    de ter lido Mulherzinhas.
    Foi um prazer rever os autores da juventude e as suas considerações
    sobre tantos autores interessantes.
    Beijinhos, MJ
    ~~~~~

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    1. Eu por acaso lia mais os livros da Biblioteca dos Rapazes, mas este "Mulherzinhas" era da Biblioteca das Raparigas. Seguiu-se
      "Boas Esposas" (?) mas já não me interessou ler. Gostava do Stevenson, do Fenimore Cooper ou Mark Twain e Jack London.Obrigada pelo seu interesse|

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