domingo, 28 de fevereiro de 2016

Arthur Rimbaud e ''Le dormeur du val''




O belo e intraduzível soneto de Rimbaud, em alexandrinos, Le Dormeur du Val, é uma poesia que nos comove diria mesmo até às lágrimas. Quem a não ouviu ou leu? Quem não pensou na injustiça da guerra, das vidas jovens, ceifadas num segundo? 
Nos corpos massacrados, nos membros amputados? No choro quase de criança que eles choram. 
Rimbaud, desenhado por Valentine Hugo

Num momento em que a morte voltou a rondar pelo mundo, sem respeito por nada, lembrei-me de Rimbaud e do seu maravilhoso "Dormeur du Val". Deixo uma imagem de Gustave Courbet, O homem ferido.

Le Dormeur du Val

C’est un trou de verdure où chante une rivière
Accrochant follement aux herbes des haillons
D’argent; où le soleil de la montagne fière,
Luit: c’est un petit val qui mousse de rayons.

Un soldat jeune, bouche ouverte, tête nue,
Et la nuque baignant dans le frais cresson bleu,
Dort; il est étendu dans l’herbe, sous la nue,
Pâle dans son lit vert où la lumière pleut.

Les pieds dans les glaïeuls, il dort. Souriant
Comme sourirait un enfant malade, il fait un somme:
Nature, berce-le chaudement: il a froid.

Les parfums ne font pas frissonner sa narine;
Il dort dans le soleil, la main sur sa poitrine
Tranquille. Il a deux trous rouges au côté droit.” (*)


Poema que se encontra nos Cahiers de Douai, ou Cahiers de Demeny ou ainda Recueil de Douai  - que contem 22 poemas de Rimbaud adolescente - que ele confia ao poeta, seu amigo e também de Victor Hugo, Paul Demeny  (1844 -1919).

Rimbaud, o revoltado, o fugitivo, o aventureiro descobre-se, em 1870, com 16 anos, anti-bonapartista (Napoleão III) e contra a guerra franco-prussiana, onde morreram milhares de jovens.

(*) Deixo uma tradução do (intraduzível) soneto ("O Adormecido do Vale") 
http://antoniocicero.blogspot.pt/2010/01/arthur-rimbaud-le-dormeur-du-val-o.html

E a voz de Serge Reggiani que tão bem "diz" o poema, antes de cantar "Le déserteur", de Boris Vian.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Graham Greene: os seus livros e os filmes que se fizeram...




 Henry Graham Greene nasceu em 2 de Outubro de 1904 em e morreu no dia 3 de Abril de 1991, na Suíça. É considerado um dos maiores romancistas do século XX e teve não só sucesso literário como popular.

Greene pertencia a uma família influente, ligada ao fabrico e à indústria da cerveja, Eram donos da Greene King Brewery. 
Estudou no Colégio de Brekhamstead, onde o pai ensinava e onde nasceu ele próprio.
Mais tarde foi para Oxford e estudou História no Balliol College.
Os seus livros pertencem a um género de romances que prendem os leitores pela acção contínua, pela qualidade da escrita, pelos caracteres, pela autenticidade dos ambientes e pelo ambiente em que se movem. Geralmente aliava os problemas humanos a situações policiais ou de espionagem. E dizia, então, que esses livros eram de “distracção” para ele. Acho-os tão sérios e profundos como os outros

Graham Greene pertenceu aos Serviços Secretos Britânicos, ao famoso SIS - mais conhecido por M1 6 (Military Intelligence, Section 6) que é a agência de espionagem que fornece ao Governo Britânico informações sobre os serviços secretos estrangeiros. 

O Ministério do Medo sai em 1943 e, nesse ano, Fritz Lang realiza um filme sobre ele.
Instalações do SIS, London, hoje, no Albert Embarkment


Graham Greene e Alec Guiness, Cuba, 1959

Em 1959 estava em Havana, aquando da revolução contra Batista, e correu grande parte  da América do Sul e da África, onde situou muitos dos seus romances. 
Nesse ano mesmo, é filmado O Nosso Agente em Havana (que fora publicado em 1958), por Carol Reed, com Alec Guiness e Maureen O'Hara. Graham Greene guardou desde esses tempos um respeito e amizade por Fidel Castro.

Alfred Hitchcock quisera comprar os direitos do livro mas G.G não quis que fosse ele a fazer o filme porque não "via" o seu livro feito ao modo do suspense de Hitchcock. Aceita Carol Reed que já filmara o Terceiro Homem.
Proposto em 1967 para o Prémio Nobel, não o ganhou nunca. O que tantas vezes aconteceu: o Prémio Nobel nem sempre "acerta"...
Uma injustiça segundo a minha opinião porque poucos escritores falaram tão bem da complexidade da “alma” humana e dos seus paradoxos, chamemos-lhes assim; das lutas interiores; da fé e da dúvida; do remorso e da compreensão do outro; do amor e do medo.


O escritor inglês William Golding (1911-1993), Prémio Nobel da Literatura em 1983, refere-o como sendo “o escritor mais completo – o 'cronista'- da consciência e da ansiedade do homem do século XX.”

Um dos seus livros que prefiro -que já li e reli e que sei que vou voltar a ler- é "Brighton Rock”. Dele fez um filme Roy Boulting, em 1947, com um bom actor como Richard Attenborough, na figura do terrível Pinky. Personagens dolorosas e doloridas, magoadas pela vida e pela miséria, gente pisada, e, como fundo, a bela e indiferente  cidade de Brighton e o seu Peir.


Outros livros põem questões religiosas e morais. O Poder e a Glória ou O Nó do Problema (The heart of the matter) li-os na velha Colecção Dois mundos e impressionou-me a dureza e intolerância do seu catolicismo. Greene convertera-se tarde ao catolicismo e talvez seja mais difícil uma conversão tardia seja a que religião for.

Do livro The Heart of the Matter, diz ele: “A piedade é cruel, destrói. O amor nunca está seguro quando a piedade ronda.”
Depois há os romances de espionagem, ou passados pelo mundo, durante os diversos conflitos de guerras e revoluções. Como o Confidential Agent que se passa durante a Guerra Civil  de Espanha (1939). Foi escrito apenas em seis semanas, carregado de anfetaminas, fechado no quarto que alugara em Bloomsbury. 


Este – como tantos outros dos seus livros (quase todos!) foi adaptado ao cinema. Por Herman Shumlin (1898-1979), com Charles Boyer e Lauren Bacall nos principais papéis. 
O Terceiro Homem é realizado por Carol Reed em 1949 - filme inesquecível com Orson Welles, Joseph Cotten e a belíssima actriz italiana, Alida Valli.

Otto Preminger

E poderia falar ainda de O Nosso Agente em Havana filmado em 1959 por Carol Reed de quem Greene gostava muito, ou O Factor Humano, realizado pelo grande Otto Preminger, e seu último filme, em 1979. 
Revi há pouco tempo, o Americano Tranquilo, em DVD, com Michael Caine, filme de 2002, de Philip Noyce. Havia já uma versão de 1958.



Fidel Castro e Alec Guiness nos tempos do "nosso agente"


Graham Greene morre em 1991, em Vevey, com uma leucemia.


Morreu, com uma leucemia, em Vevey (Lago de Genève), onde vivia há anos, em 1991. 


terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Música, sempre! A cantora Peggy Lee, a Big Band de Benny Goodman e "Dream Street" Jasmine

Já terei falado de Peggy Lee? provavelmente sim, mas sempre que a ouço, sinto vontade de falar dela e, sobretudo, de a pôr a cantar! Tem uma voz sublime e é uma das primeiras cantoras de Jazz e de Blues branca.
Peggy Lee (Norma Deloris Egstrom) nasceu no dia 26 de Maio de 1920 e morreu a 21 de Janeiro de 2002.  O pai era sueco-americano e a mãe dinamarqueso-americana  - ambos imigrantes que chegaram à América, nos finais do século XIX.

Cantora de jazz e blues e de pop music, compositora e actriz teve uma longa carreira durante umas 6 décadas. É considerada uma “woman’s blues song (mulher cantora de “blues”). 
Começou por cantar na rádio e acabou na Big Band de Benny Goodman. 
Ainda muito jovem, interpreta a bela canção pop 'Why don’t you do right?', escrita por Joseph “Kansas Joe” McCoy, em 1936. 
Uma das suas melhores interpretações da canção, por Peggy, foi gravada em 27 de Julho de 1942, em New York,  com a Orquestra de Benny Goodman.


Orquestra de Benny Goodman e Peggy Lee

Exactamente no "set" do filme musical, ‘Stage Door Canteen” (com Katherine Hepburn), de Frank Borzage.


Mulher sofisticada, complexa e multifacetada, escreveu músicas para filmes, representou e gravou discos em que a sua poesia se misturava com a música de jazz, pop e art.

Trabalhou  com Harold Arlen, John Mercier e colaborou com vários compositores como Francis Lai ou Sonny Burke.


Apreciada por cantores como Sinatra, Louis Amstrong, Ella Fitzgerald e mesmo Duke Ellington que dizia dela: "Se eu sou o Duque, Peggy é a Rainha”.
Peggy Lee é citada como sendo a cantora do século XX que mais influenciou cantores como Paul McCartney, Bobby Darin, Madonna e outros.

Como actriz, foi indicada para um Oscar pelo seu papel no filme de Jack Webb, Pete Kelly’s Blues, um filme policial, em que representa uma vocalista imposta pelo gangster com que vivia.

Jack Webb