quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Para a Luísa que faz hoje anos! Janis Joplin - "To Love Somebody"


Tenho três amigas que fazem hoje -dia 29 de Fevereiro 2012, ano bissexto- anos. 

Que só fazem anos de 4 em 4 anos e que se calhar tiveram pena durante muitos aniversários...

Como dizia a Luísa custava-lhe ouvir: "Ah! tu não fazes anos hoje (dia 28, dia 27 ou até dia 1 de Março...) mas mesmo assim parabéns!"
Muitos parabéns, Luísa, Lior e Ruti, wherever you are!


O Ratinho e o Ouricinho associam-se, a cantar "Happy Birthday"... Adoram estas coisas festivas!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Livros! As escolhas do Ratinho: António Nobre e o "Só"


Há dias vi o Ratinho Poeta a olhar para uma revista. Lia, pensava, fechava a revista, voltava a abrir na mesma página.

Até que me perguntou:
- Leste isto sobre as bibliotecas que estão a desaparecer, em Inglaterra?

Parecia verdadeiramente indignado.
- Oh! Oh!

E puxava os dois pêlos do bigode, muito enervado.
- Li. É chocante...
- Já pensaste que, se as bibliotecas públicas desaparecerem, onde vão as pessoas que não têm dinheiro para comprar livros, ler? Encontrar os livros de estudo?


Agora tinha saltado para o computador.
O ouricinho veio espreitar-nos. Trazia qualquer coisa na mão que nos queria mostrar.

- Há tantos estudantes em Inglaterra  que estudam nas bibliotecas. E cá, também- disse o Ratinho.
Reflectiu uns momentos e acrescentou:
Livraria Lumière

- Outros estudam por fotocópias. E isso é uma pena. Não podem “viver” com os livros, tocar-lhes!
- Tens razão...

- E mais ainda! Todo o trabalho de uma biblioteca desaparece! A atmosfera! O convívio com as outras pessoas que lá vão. O passeio que se dá, para o ir buscar um livro, trazer outro e, pelo meio, a conversa com quem lá está.

Largo da República e Palácio Acciaioli, à esquerda

Lembrei-me da velha Biblioteca do Palácio dos Acciaioili, em Portalegre, onde era o meu liceu. 
Uma biblioteca a sério!
O liceu fora “adaptado” para ser liceu, mas era uma antiga casa senhorial. 
Escadaria do velho Liceu, hoje Escola Superior de Educação

Vejo sempre as escadaria que subia para a biblioteca com as suas  filas de  prateleiras até ao alto e candeeiros lindos no tecto. Nas horas em que os professores faltavam, quantas vezes para lá fui ler um Camilo, o Júlio Dinis, poesias...

Pensei que o Ratinho tinha muita razão.

O Ratinho disse:
- Tu tens muitos livros, e fazes bem! Andei por aqui à roda e vi imensos títulos bons.

Espreitava os nomes e murmurou, contente:

- Oh! Oh! Olha o “Só” do António Nobre... Gosto muito!

Virou-se para o ouricinho que continuava muito calado.
- Tu não gostas de poesia, Dany?

O ouricinho, muito sério, respondeu:
- Sim. O “Só”?... Dizem que é o livro mais triste que se escreveu em Portugal!
- Foi o próprio poeta que o disse! Como é que sabes?, perguntei eu, divertida.
- Destino de poeta... é assim, disse o ouricinho. Era ele que o dizia...


Sentou-se num cofrezinho de madeira e declamou:


“Ao mundo vim, em terça feira
Um sino ouvia-se a dobrar”...

E encolheu os ombros, triste. O Ratinho olhava-o surpreendido e um pouco de lado.
- É bem verdade - concordou.

Abriu o livro que tinha na mão e leu, pausadamente:

"Caía a noite. Eu ia fora,
Vendo um estrela que lá mora,
no Firmamento português
E ela traça-me o meu fado
“Serás poeta e desgraçado!”
Assim se disse, assim se fez."

Quando acabou, perguntou ao ouricinho:
- Como é que tu sabias?
- Sabia. Cada um é poeta à sua maneira. E ser poeta é difícil. A solidão mata!

E continuou a dizer versos de António Nobre:

Adeus! Eu parto, mas volto breve,
À tua casa que deixei lá!
Leva-me o Outono  (não tarda a neve)
Leva-me o Outono  (não tarda a neve)
No meu regresso, que sol  fará!

Adeus! Na ausência meses são anos,
Dias são meses, que aí são ais:
Ah tu tens sonhos, eu tenho enganos,
Eu sou sozinho, tu tens teus Pais.”

O Ratinho concordou com um acenar de cabeça.
- "Eu sou sozinho. Tu tens teus pais..."

O ouricinho mostrou  finalmente o que trazia na mão.
- Olha! Vejam o que aqui tenho!
Fomos logo espreitar, curiosos. Era uma fotografia a cores. A fotografia de um ouricinho bebé, na concha de uma mão...

- É o teu retrato! - disse o Ratinho, com um ar enternecido.
- Não. Não tenho retratos desse tempo. Foi na internet! Mandaram-mo pela internet!

Virou-se para mim, excitado:
- Foi a Claudia, a tua amiga lá de Guildford. É a mão dela, com certeza!
- Mandou-te a ti?, espantou-se o Ratinho, talvez com aquele maldito ciúme a roer.
- A mim, sim! Eu é que sou um ouricinho e ela lembrou-se de mim. Pode ser de algum parente meu, lá em Inglaterra.

Olhou-nos com um ar empertigado.
- Algum Duque!

O ratinho interveio.
- Fico contente...


Hesitou, e disse:
- A mim também me mandaram uma vez a fotografia de uma ratinha, pela internet...
- Hi! Hi! Hi! Para namorares?, riu-se o Dany.
- Não sei... Mas ela era muito gorda! Não gostei dela.
- Ai o coração, o coração!, suspirou o ouricinho.

Sorri, deliciada,  porque eles me enterneciam. Era a minha vez agora:
- Ouçam mais uma poesia...
"Meu coração não batas", ou "Coração solitário Caçador"...

Meu coração não batas, pára!
Meu coração, vai-te deitar!
A nossa dor, bem sei, é amara,
A nossa dor, bem sei, é amara:
Meu coração vamos sonhar..."

- Que tal esta?

- Lindo!, disseram os dois em coro.


E abraçaram-se!

São assim os meus amigos...


SOBRE ANTÓNIO NOBRE:

Nasceu no Porto em 16 de Agosto de 1867. Ali estudou a escola primária e secundária. Depois foi para Coimbra onde se matriculou na Universidade, no Curso de Direito, em 1888. Desiludido com os resultados, magoado, deixa Coimbra em 1890 e vai para Paris onde faz uma licenciatura na Sorbonne em Ciências Políticas - que termina em 1894. 
António Nobre, em Paris
Em Paris conheceu alguns poetas franceses entre eles Paul Verlaine.
retrato de Verlaine, por Eugène Carrière, 1890


Em 1893 edita em Paris o seu único livro: "Só".

Depois a tuberculose leva-o pelo mundo fora à procura  de reencontrar a saúde.
A cura não existe, porém, e volta para o Porto onde morre em 18 de Março de 1900.
Tinha 33 anos e era um grande poeta!

Estes versos foram tirados da edição d“Só”,  Publicações Dom Quixote - Biblioteca de Bolso - clássicos, Lisboa, 2000, com um Prefácio do poeta  Mário Cláudio.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Um livro, ou um escritor: Jane Austen e Winchester


Livros e escritores: Jane Austen!

Viajando, viajando, há pouco fui parar a Winchester!

Lembrava-me da canção dos Beatles, “Winchester Cathedral”, mas havia outra memória que não identificava no momento. Para mim  Winchester era algo mais!

Para começar, uma linda catedral. 

A construção da Old Minster, a catedral saxónica, é iniciada por meados de 648. Foi substituída pela Catedral Normanda e finalmente demolida em 1093 quando o velho e o novo edifício se transformam num só. 

Reconstruída, destruída, restaurada... e os séculos vão passando sobre  ela. O  tempo passa por cima dela e  deixa as suas marcas.

Como os diversos estilos que vai acumulando. 

A aparência é grandiosa, sobretudo a vista sobre a Catedral do lado noroeste, mostrando a fachada oeste, a torre, o transepto, a imensa nave...

Relvado em volta, comum em toda a Inglaterra.

Frente à Catedral um adro espaçoso,  lajeado. 

Em redor, a cidade velha, os jardins, as flores, as árvores,  o verde imaculado que nos espreita por toda a parte.

A linda nave central, infinita, os tectos pintados e esculpidos em madeira - que se podem ver nos seus pormenores, através de espelhos sabiamente colocados.

Um jogo de espelhos, de cores, de dourados, de pedra branca.

(Oh! como a Agatha Christie devia gostar disto ela que tanto escreveu sobre os jogos de espelhos.)

Dentro, a luz, os vitrais, as ogivas, os espaços abertos. 

Entusiasmei-me, gostei, e andei de cabeça no ar a ver tudo. 

Um grupo de jovens preparava um concerto e arrastam o peso dos violoncelos até se conseguirem organizar e começar a tocar.

Vou lendo o Guia que comprei à entrada. E, de repente, descubro aquilo de que me esquecera: a escritora Jane Austen está ali enterrada, na Catedral! Era a memória esquecida...

Procuro a nave lateral esquerda. Lá está, na parede de pedra,  a lápide negra com letras gravadas a ouro.

Em baixo, no degrau, um ramo de flores brancas que me pareceu sem vida.
Tinha preferido que não estivesse lá.
Ao lado, havia uma Exposição sobre Jane Austen e os lugares nos arredores de Winchester por onde ela passara, vivera: Bath, Southampton, Chawton, Winchester...

... Até morrer, com uma doença incurável, ainda hoje incerta, na cidade de  Winchester, acompanhada apenas pela irmã, e grande amiga, Cassandra.

É uma personalidade que admiro muito.

Relembro coisas da biografia dela, das opiniões dela, do que ia descobrindo dentro das pessoas em toda a parte.
NOTA: Existe um blog completíssimo sobre Jane Austen: 

Jane Austen nasceu em Steventon e passa muitos anos com  a família no Presbitério (o pai de Jane era Presbítero).


Quando fala, por exemplo, da  realidade -a matéria prima, podíamos dizer...-  sobre a qual escreveu.

Diz em carta de 9 de Setembro de 1814:

"Há três ou quatro famílias nesta aldeia campestre: é o que tenho para trabalhar!”

As mesmas aldeias provincianas de sempre - e as suas gentes –foram o seu material.

Houve, em tempos passados, ainda o pai era vivo, uma estadia em Bath com a família, no ano de 1801.
Bath e as férias


Bath era um local de termas, de convívio nas férias, e aparece muitas vezes citado nos seus romances.

A seguir à morte do pai, em 1806, há a mudança para Southampton com a mãe e as irmãs.

Mais tarde, em 1809, mudam de novo, devido a dificuldades financeiras, para Chawton onde o irmão, rico, lhes empresta a casa.

Muito doente, em 24 de Maio de 1817, decide ir viver para Winchester à procura de um tratamento que a salve. Ali  vai morrer,  em 18 de Julho de 1817.

Segundo a sua biógrafa, Claire Tomalin, nada de especialmente traumático se passara durante a vida dela (tal como, aparentemente, na vida das crianças de que falou Dickens)- tudo parece tão vulgar, tão banal.
Catredal de Winchester, Precinto
Mas não significa que, se olharmos atentamente para a sua infância, tenha sido sempre calma a vida dela no presbitério...

Foi, pelo contrário, -continua Claire Tomalin- uma infância cheia de eventos, de tristeza e de alguns acontecimentos que deixaram nela as suas marcas. (...) Coisas que, no entanto, soube ultrapassar.”

E das quais falou maravilhosamente...

Muito doente, em 24 de Maio de 1817, decide ir viver para Winchester à procura de um tratamento que a salve.

Ali  vai morrer,  em Julho de 1817. 

Deixo-vos o que vi... E com o que escolhi para lerem...
As fotografias de Winchester que não estão legendadas são minhas...

Boa semana com Elvin Jones - "You Are Too Beautiful"


Encontrei no blog Jazzzzz+Bossa+Baratos...
Ouçam...