sábado, 11 de fevereiro de 2012

"Bonjour Tristesse", de Françoise Sagan, e a voz de Juliette Gréco...




Françoise Sagan,  romancista francesa, autora de peças de teatro,foi best-seller internacional aos 19 anos (1954), com o livro” Bonjour Tristesse”,  título inspirado nos primeiros versos de um poema de Paul Éluard que começa:


 "Adieu tristesse
bonjour tristesse" (1).


Mais tarde, Jean Seberg vai entrar no filme de Jean-Luc Godard, "A bout de souffle" (1960), com Belmondo.

Em 1958, o romance é levado ao cinema por Otto Preminger, com actores importantes como David Niven, Deborah Kerr e Jean Seberg.


Jean Seberg era uma actriz muito jovem mas Preminger teve confiança nela. 


Dizia ele:  Claro que, se tivesse escolhido Audrey Hepburn, teria sido menos arriscado, mas eu gosto de correr riscos. Tenho confiança nela. Claro que ainda tem que aprender umas coisas sobre a arte de representar...”


(Dois anos mais tarde, em 1960, Jean Seberg vai ser a figura central do filme de Jean-Luc Godard, "A bout de souffle", com Jean-Paul Belmondo.)


Juliette Gréco canta “Bonjour Tristesse”, no filme. No fundo, foi por causa da canção que me lembrei de Sagan.

Como explicar o sucesso do livro?

Não importa explicar, acho. No fundo, é um livro que responde a algumas necessidades e preocupações da época.

Necessidades de sempre: Por quê a solidão? Por quê a insatisfação?

Adorável monstrozinho”, chamou-lhe o escritor François Mauriac, porque ela era une enfant terrible, incorrigível, dizia o que pensava e provocava tudo e todos.


Acusaram-na de escrever sobre problemas "petit-bourgeois".

De ter uma "vida agitada, estilo boémio-chique”, de frequentar as festas de Saint-Tropez, ser amiga do famoso costureiro  Saint-Laurent.


De ter um potente Aston-Martin descapotável, “tipo 007”, guiado a velocidades impensáveis, até ter um acidente quase mortal.
                                               Sylvie Testud, no filme


Acusam-na de beber  de mais, de usar drogas pesadas. 


imagens do filme


Em 1957 quase morre num acidente com o seu Aston-Martin e acaba na cadeia porque cheia de cocaína... Em consequência das terríveis dores desse acidente, e dos tratamentos com morfina,  ficou dependente da cocaína.

Tudo verdade, mas Mademoiselle Tristesse sofria de tristeza, melancolia e sabia escrever sobre isso. E nela havia com certeza uma profunda insatisfação.

A tristeza dói e a melancolia deixam marcas nos olhos...

Sentimentos “pequeno-burgueses”? O que é isso? Sentimentos são sentimentos e basta. 


Le mal de vivre” acontece, não é uma invenção  da Barbara, e espreita a cada canto.

A sensação de tédio, de abandono, o vazio em redor, não é apenas a heroína do Bonjour Tristesse que as sente, num certo Verão e em que se convence que se apaixonou...

Está nela, Françoise Sagan, essa insatisfação, a expectativa, esse desejo de um absoluto qualquer, o desejo que acontecesse alguma coisa!  

 “La noia” ou “la nausée”? 


O vazio, o cansaço e o tédio - misturados com a neura - é uma coisa insuportável!  Endoidece. “La déprime”? 


Falava-se menos de depressão e astenia nesses tempos mas quem sabe se não sofreria disso...Não se queria aborrecer. Queria ser surpreendida pela vida a cada instante!

Françoise foi grande amiga - e confidente- de Sartre (1905-1980) a quem levava, às escondidas, o whisky que ele estava proibido de beber, e que bebiam juntos de certeza e ele depois escondia nos lugares mais inimagináveis!

Ela, tímida mas conversadora, era uma pessoa que o compreendia e com quem ele se sentia à vontade...

Tinham nascido nos mesmo dia 21 de Junho (com uma diferença  de 30 anos...) e Françoise admirava as ideias políticas e a filosofia de Sartre. 


Em 1980, no dia em que ele faz 75 anos (e ela, 35) escreve-lhe uma carta de amor!
Terminava, dizendo: “Que vida exemplar para um homem que num pensou ser exemplar."

Françoise  foi também companheira de loucuras de Juliette Gréco: de festas, de soirées literárias e musicais nos caveaux (as “caves”) da época, em Paris.
Era o  existencialismo, a “nouvelle vague” do cinema ia aparecer... 


Em 2008, saiu um tele-filme sobre a sua vida, realizado por Diane Kurys, com uma actriz que se parece muito com ela, Sylvie Testud, chamado “Sagan” (Bonjour Sagan).


A vida dela era como um romance,  um romance triste...

Gostei de  ler “Bonjour Tristesse”, há muitos anos, e gostei do que li sobre ela e do que ela disse sobre si própria, numa longa entrevista, na ARTE,  pouco tempo antes de morrer.


Françoise Sagan morreu em 24 de Setembro de 2004, de descompensação cardio-respiratória.


Arruinada...

Nessa entrevista, pouco antes de morrer, falando aos arranques, voz baixa, na sua timidez, guarda o mesmo ar de adolescente que sempre teve,  precocemente envelhecida.


Em 1957, escrevera, depois do acidente que sofreu em 1957: 


"Habituei-me pouco a pouco à ideia da morte como uma ideia simples, uma solução como outra qualquer se esta doença não tiver cura. Seria triste, mas necessário. Sou incapaz de enganar o meu corpo muito tempo. Matar-me? Meu Deus, como se pode estar sozinha, às vezes."

(1)
Adieu tristesse 
Bonjour tristesse 
Tu es inscrite dans les lignes du plafond 
Tu es inscrite dans les yeux que j'aime 
Tu n'es pas tout à fait la misère 
Car les lèvres les plus pauvres te dénoncent 
Par un sourire 
Bonjour tristesse 
Amour des corps aimables 
Puissance de l'amour 
Dont l'amabilité surgit 
Comme un monstre sans corps 
Tête désappointée 
Tristesse beau visage 




3 comentários:

  1. Li o livro mas não recordo nada agora mesmo, teria que ir ver.
    O que sim recordo é que alguém muito especial para mim naquele momento me comparou com ela quando eu tinha 13 anos ( oxalá...)
    Hoje tenho muito frio, e com a morte de Whitney Houston ainda mais.
    Mando-te um beijo com muita amizade, a ver se entro em calor!

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  2. MJ
    Parabéns pela beleza! Adorei este post. Não li este livro.
    Que bom que voltou embora os sítios que nos acolhem sejam sempre difíceis nas despedidas...
    Obrigada.
    Bonjour
    Bjs. :)

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  3. Gostei muito de ler este post.
    Nunca li o livro, embora já tenha ouvido falar dele. A tristeza e a solidão toca a todos em determinados momentos da vida. Há certamente pessoas mais sensíveis a elas.
    Não sabia da morte da Whitney Houston. Estou agora a ver no comentário da Maria. Ainda era muito nova...

    Um beijinho grande e bom domingo

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