sábado, 30 de outubro de 2010

Joyce, João Donato, Tutty Moreno e "Aquarius": mais música do grande Brasil!

Capa do CD "Aquarius"
fotos de Tutty Moreno

Rio de Janeiro, a bela rua Rio Branco, há muitos anos!

Joyce, "Slow Music"














London Samba

"Uma nova colecção de canções de muita classe, gravadas por Joyce Moreno, a cantora guitarrista e compositora brasileira, acompanhada pelo marido, o percussionista Tutty Moreno – cujo percurso vai da bossa nova ao jazz-fusion dos anos 70 e 80- na bateria, e pelo piano do famoso compositor de bossa nova Joao Donato.

Subtil, ligeira como uma pena, acompanhada pela assinatura da flauta de Donato, é a voz de Joyce, cantando.

Juntam 13 canções, incluindo uma versão da famosa “Femina”, de Joyce, e a clássica “Amazonas”, de Donato".

Refiro-me ao novo CD, saído em Maio de 2010, intitulado "Aquarius".

João Donato de Oliveira Neto (mais conhecido apenas como João Donato), nasceu em Acre, em plena Amazónia, e é um pianista, acordeonista, cantor e compositor brasileiro.

o garoto acordeonista é Donato...


Donato foi amigo de todos os expoentes do movimento bossanovista, como João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes , entre outros, mas nunca foi caracterizado unicamente como tal, e sim um músico muito criativo e que promove fusões musicais, de jazz e música latina.

Como num eterno retorno, a música dele tão avançada - sempre "em movimento"!- está sempre de volta para o futuro.

Em 2007, Donato faz um tour em 15 cidades do Japão, terminando-a em Tóquio. Na 10ª edição do Festival dos 100 Gold Fingers (bienal) gravou um DVD com os melhores momentos do concerto.
Apenas um breve "apanhado" de alguns dos sucessos e gravações e deslocações de Donato que girou o mundo todo, viveu nos Usa, voltou ao Brasil, voltou a sair etc... Sempre em movimento...

Assim: a sua música "Amazonas", "A rã" e "Caranguejo", gravados por Sérgio Mendes, tiveram enorme sucesso junto do público americano, nos anos 70.


Em 1972, volta para o Brasil e grava o LP "Quem é quem".

Em 2003, recebe o Prémio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte ). Vários shows em Cuba, na Rússia e no Japão e em muitas cidades brasileiras, lançando o CD "Managarroba".

Os cantores Marisa Monte, Marcelo D2, Joyce e João Bosco participam no disco. Joyce acompanha-o no tour do Japão.

Em Novembro de 2004, recebeu das mãos do President Lula e do ministro da Cultura, o cantor Gilberto Gil, a Medalha da Ordem do Mérito Cultural, a medalha mais ambicionada e valiosa do país.

Em 2005, grava e lança o seu primeiro DVD, "Donatural - João Donato ao vivo".

Convidara Leila Pinheiro, Joyce, Emílio Santiago, e Gilberto Gil, como suportes da banda formada por Robertinho Silva (drums), Luiz Alves (acoustic e electric bass), Cidinho (percussion), Jessé Sadoc (trumpet), Ricardo Pontes (sax e flauta) e Donatinho (keyboards).

Em Junho de 2006, com Paulo Moura, lança o CD "Dois Panos para Manga", no programa de televisão de Manga.

Em Agosto de 2007, esteve na Dinamarca participando num workshop de músicos de Jazz.

Entre outras escolheu tocar um seu arranjo musical da canção "O Homem de Aquarius" de Tom Jobim.

Escolhi apenas (na Wikipédia) alguns dados da sua biografia infindável de sucessos e novas músicas e participações com os mais variados nomes da música do Brasil.

Fiquei com a sensação de que João Donato é alguém generoso que todos gostaria de apoiar e ajudar com a sua experiência e com o seu "nome".

Joyce e Diana Krall

Joyce eu conhecia, até porque sou "seguidora" do seu blog bem interessante que se chama "outras bossas" e vos aconselho -que encontrei citado noutro blog "Jazz+Bossas+Baratos/Outros", de Érico Cordeiro, onde encontro sempre as grandes músicas dos eternos grandes nomes do Jazz...

Joyce Moreno é uma pessoa simples e o seu blog é limpo, aberto, cheio de humor e boa disposição.
Vê-se que Joyce sabe admirar os outros...

Que é amiga: vão ver lá "As três garotas de Ipanema"...

Foi no blog de Joyce que me entusiasmei e quis fazer este post!... Até "pedi emprestadas" algumas fotografias!

Espero que gostem!

Amanhã o Brasil vota e eu quero estar presente falando da sua música maravilhosa, do seu calor, da sua criatividade.


O Brasil merece...

Sei que vai escolher bem. Nunca se pode -nem deve!- voltar para trás, não é?


Ainda há música no Brasil! "A BANDA MALUCA" - Joyce Moreno e Lucina em 27 05 2009

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

As Humanidades e a Tecnologia ou "O Tesouro dos saberes esquecidos", de Jacqueline de Romilly...




“Num século em que a cultura é tecnológica, é preciso re-descobrir as virtudes das “humanidades” e de uma formação geral de ordem intelectual e moral.”

São palavras de uma estudiosa da Grécia e do Helenismo.
Tem 93 anos e chama-se Jacqueline de Romilly. Nasceu em 26 de Março de 1913, em Chartres. Estudou filologia e história, especializando-se no historiador grego, Tucídides.
Formada pela famosa Escola Normal francesa, primeira mulher a ser eleita para o Collège de France, “cidadã” honorária da Grécia, em homenagem aos seus combates pela Cultura Grega antiga, em 2002 é nomeada “embaixadora do Helenismo”.

Membro da Academia Francesa, em 1988, é a segunda mulher, depois de Marguerite Yourcenar, a entrar para a Academia.

De origem judaica por parte do pai, foi suspensa das suas funções de professora durante o regime de Vichy, em 1941, tendo de viver escondida.
Faz o doutoramento em Letras, em 1947.
Dizia ela na entrevista: “Tucídides foi o homem da minha vida!” (*)

Considera-o o primeiro verdadeiro historiador pois foi o primeiro a procurar “a causa mais verdadeira e a menos confessada, libertando a História das contingências divinas e do anedótico, ditando assim as bases da objectividade histórica”.

Com mais outros seis “sábios” foi eleita pela revista “Le Nouvel Observateur” um dos “sete gigantes do pensamento do século XX ainda vivos”.

Com ela, entre outros, escolheram Jacques Le Goff, historiador, François Jacob cientista, Edgar Morin, etc. A eles é dedicado esse número da revista que a todos vais entrevistar (nº 2387 de 5 a 11 de Agosto de 2010).

Mulher de grande lucidez, defende posições bem interessantes nos tempos que correm, como, por exemplo, a importância da filosofia e de outras disciplinas dos “estudos clássicos” no curriculum dos estudantes das “áreas científicas” –além das outras, evidentemente.

Lembra que ainda há na Europa quem o tenha compreendido: “as universidades anglo-saxónicas, cujos licenciados em Helenismo podem ser igualmente banqueiros ou astrofísicos”.

Para ela, o século de Péricles, foi o primeiro “século das luzes”.

Lúcida, inteligente e com enorme sensibilidade, pouco fala de si, dizendo que o seu sucesso se deveu apenas a “estar no sítio certo”, quando a situação da mulher começou a mudar.

É bom ver que as pessoas de valor guardam, quase sempre, modéstia e simplicidade...

Pensei que era interessante deixar-vos mais esta “mensagem” sobre o saber...



(*) Tucídides viveu no século V a.C, o chamado "século de Péricles", nome do grande estadista ateniense.

Escreveu "A História da Guerra do Peloponeso" que conta a guerra entre Esparta e Atenas ocorrida no século V a.C.
Preocupado com a imparcialidade, relata os factos com concisão e procura explicar-lhes as causas.

Tucídides escreveu essa obra pois pensava a Guerra do Peloponeso fora um acontecimento de grande relevância para a história da Grécia. Esta sua obra é considerada no mundo inteiro como um clássico, e representa a primeira obra de seu estilo.


Obras de Jacqueline de Romilly, em português:

"A Tragédia Grega"

Editora: Edições 70

Colecção: Lugar da História

Ano: 2008

PROFISSÃO PROFESSOR!

imagem do filme de Peter Weir (1989) "Clube dos Poetas Mortos": um professor amado...

a sala de aula é um "ring de box"?

Tudo o que se refere ao saber, à cultura, à procura de, ao questionar a vida me interessa sempre.
Penso nos professores, inevitavelmente, pois são eles os que mais indicados estariam para essa transmissão de saberes. E para ajudar a crescer adolescentes que se interrogam, procuram respostas, têm exigências também.

Universidade La Sorbonne, Paris


Penso no papel que eles desempenham hoje na sociedade (tão diferente do que deveriam desempenhar) e da fractura que existe entre uns e a outra...
Penso no modo como “são lançados ao barulho”, para a sua profissão, tantas vezes sem a devida preparação pedagógica – que é fundamental- e abandonados nas escolas sem qualquer apoio seja de quem for...

Pego na palavra de Philippe Claudel –numa entrevista dada ao jornal Le Monde-, escritor e professor de "Comunicação e Media", na Universidade de Nancy, depois de ter sido durante vários anos professor do ensino secundário.
Portanto, “simples” professor de liceu.

“Deveríamos venerar os que transmitem o saber. É a coisa mais importante da história do mundo: não há humanidade sem essa transmissão. Quando uma sociedade não é capaz de reconhecer o papel civilizador da educação, e de compreender que tal função é essencial e que se deve exercer em condições satisfatórias, anda às avessas...”

Refere-se à França –mas podemos “adaptar” tudo ao que se passa entre nós. O problema é igual- idêntico...

E acrescenta:

“É necessário que o país volte a amar os seus professores".
imagem do filme de Robert Donat, "Adeus, Mr. Chips" (1939), adaptado do livro de James Hilton. Mr. Chips é o símbolo do professor bem-amado...
"Assistimos a anos de torpedeamento, de liquidação da imagem do professor, imagem que se “degradou” consideravelmente, hoje. São humilhados, mal pagos e ocupam um lugar miserável no seio da sociedade.”

De facto, numa sociedade onde o dinheiro, a aparência, o bling-bling, o poder parecem contar mais do que a sabedoria e a cultura, o professor mal-pago tem um status symbol inferiorizado ao dos grandes patrões ou banqueiros. Ou apenas, empresários.

Em seguida, afirma:

“Na sala de aula quem sabe é o professor e não o aluno. (...) Não é pelo facto de se navegar pela internet ou ver programas de divulgação nas televisões que os alunos passa a saber tanto como os professores.”

Completamente de acordo. Na sua aula o professor deve ser o que transmite o saber. O que sabe, e deve ser respeitado.
Para tal se deve preparar e deve ser ajudado passando pela fase de “aprendiz” ele próprio.

Se o professor é a base do edifício do "conhecimento" dos seus alunos, deve ser valorizado, apreciado. E não acabar, como tantas vezes, a vagabundear de terra em terra, sem trabalho.


Deve fazê-lo, no entanto, quanto ao meu modo de ver e experiência de muitos anos, de modo que, no momento em que ensina, “passe” igualmente uma corrente de afectividade. Sem a relação humana, não se constrói nada...

Chocou-me uma vez ouvir um professor dizer:

“Eu? Não, não vou à festa dos alunos no final do ano! Eles não são os meus amigos, eles são os meus alunos, e eu sou o professor.”

Como se dissesse: “Boulot, boulot...cognac, cognac!”

Ou: "eu cá não misturo alhos com bugalhos..."
Faz mal.

Não exageremos na “separação”, no afastamento professor/aluno. Que não deve existir. Como não deve existir a sensação de "inimigos", ou de sala de aula/campo de batalha...
De onde se sai com stress, onde se entra como num ring...
Se o professor tem de ser “aquele que sabe” e, como tal, ser aceito pelos alunos, é o que lhes “traz” o conhecimento de alguma coisa, isso não impede que uma verdadeira “relação” se estabeleça entre uma parte e a outra.
Porque sem “sintonia”, ou como lhe queiram chamar, é difícil transmitir seja o que for.

Ensinar é –tem de ser- uma relação de “empatia”, cimentada pelas atitudes de respeito de ambas as partes.

Não anda longe disto o artigo de Philippe Claudel. Para tal, insiste na importância de as turmas serem de vinte alunos, e não mais, para o professor conseguir “conhecer” cada um dos seus alunos...

De acordo, absolutamente!


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Os livros sempre: lembrando "Nikalai! Nikalai!", de José Rodrigues Miguéis

Falando de livros e escritores, e do seu valor incomensurável na vida!...

Sem cifrões, mas com certeza bem importantes para quem os lê...


Miguéis morre, faz hoje trinta anos. Falei aqui há pouco dele (ver links abaixo).

Quero apenas lembrá-lo.
Tantos escritores bons e esquecidos, que há por esse Portugal fora!
De quem ninguém se lembra...

Gostava de recordar um livro dele que li há pouco: “Nikalai! Nikalai!”(*)

Livro em que se conta a história triste, dramática e ao mesmo tempo divertida, contada com o humor de Miguéis, de dois refugiados russos, cossacos dos exércitos do Czar Nicolau II.

Depois da Revolução de Outubro, de 17 deixam a Santa Rússia e espalham-se pela Europa.

Estes dois, Othon Kirílovitch Buldógov e Vladimir Mirônovitch Tatarátsin, caem em Paris.

Ali sobrevivem num quarto imundo minúsculo em que dividem o espaço, onde mal cabem, de um mansarda.

Vivem na miséria. Vão, quando podem, comer à Pensão russa, de Madame Papelótskaya, para os amigos apenas Kátia Ivânovna, ex-vivandeira do exército...

Ali se reúnem os saudosos soldados, oficiais lembrando o seu amado Nikalai, para eles espécie de D. Sebastião...

Com os olhos cheios de nostalgia da Rússia, bebendo vodka e comendo pirojskis.

Isto, quando a Madame Papelótskaya está para ali virada, pois geralmente a comida da pensão é uma sopa aguada –o célebre bortch russo feito com bocadinhos de carne (com osso!), beterrabas, ou couves e uma colherzinha de natas ácidas...
E umas "côtelettes" à Pojarsky ou à Pálkin, sempre iguais, de que se queixam todos...

Mas por vezes, em ocasiões especiais, têm direito aos pastelinhos de carne, os tais pirojkis...

Depois cantam as canções da sua terra, dançam à cossaca, agacham-se de mãos na cintura e saltam esticando as pernas, no meio da dança... E choram.
Miguéis compreende bem os problemas dos exilados russos, ele próprio emigrado em New-York, durante anos.
E sabe contar a história com sensibilidade e ternura.

E o que acontece, depois?

Bem, depois, depois, depois...

Vão ler o livro! Vale a pena.

Todos os livros dele valem a pena...
(*)
1ª edição, Editorial Estúdios Cor, 1971
2ª edição, Editorial Estampa, 1982
3ª edição, idem, 1985
Deixo alguns links sobre o autor, que podem interessar a quem gostar dele:

http://sobreorisco.blogspot.com/2010/10/jose-rodrigues-migueis-morreu-faz-hoje.html




Este´é fundamental, para quem saiba inglês:


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Marraquexe, a vermelha...



Muito se tem falado de Marraquexe...
Talvez seja uma das cidades marroquinas mais conhecidas, mais faladas, mais cheias de mistério.

Uma das cidades imperiais –makhzen- de Marrocos, cidade santa e de peregrinações. Certo. Rodeada das altas muralhas do século XII que encerra dentro delas a cidade velha.
Mas sobretudo sítio de grande movimento, beleza, jardins, perfumes.

A mim, aquela terra encantou-me desde o primeiro dia.

A imagem da praça Jemaa-el-Fna é inesquecível. Tem uma cor especial.

Tem algo das “mil e uma noites”, ou das “histórias das arábias” que li –lemos todos...- na adolescência, com os derviches, os encantadores de serpentes sentados no chão de pernas cruzadas e olhar brilhante, ou os mágicos, os adivinhos, os “ladrões de Bagdad” que chegavam ao cair da noite.


Ainda, os contadores de histórias cuja voz melodiosa, feita de entoações diferentes, vão enchendo de imagens os ares.

Fixando o olhar nos ouvintes postados em círculo à roda dele. Apontando um dedo magro esticado, ora para um, ora para outro, vai perguntando coisas numa língua que não entendo. Os risos, meio assustados, são a resposta. Revelam receio e prazer ao mesmo tempo, sente-se a expectativa de quem escuta avidamente o conto, sem perder o narrador de vista. Vê-se na curiosidade dos sorrisos contidos das mulheres, na fila atrás, que puxam uma ponta do véu para tapar a cara
.

A noite descera por detrás dos oito séculos da Koutoubia, e do seu alto minarete, onde o pôr do sol era cada tarde diferente e sempre belo, nos tons rosados, vermelhos e nas nuvens escuras que apareciam no céu.

Impressionava pensar que em tempos fora ali a praça dos supliciados e que era normal, na madrugada cinzenta, ver as cabeças cortadas dos desgraçados espetadas em estacas...

Subia na noite o fumo das tendas onde se começara a cozinhar, os cheiros fortes das espetadas de quadradinhos de borrego grelhados com cominhos.

Podia ficar tempos perdidos a observar aquela praça...

Girava no meio das gentes que enchiam o espaço da Jemaa-el-Fna, seguia o fluxo da multidão, a ver o que comiam. Sopa de grão ou lentilhas, bem temperada de especiarias picantes, e quente, que se chamava harira, os merguez, pequenas salsichas de carne de borrego, ou as saladas.


Um nunca acabar de tendas com frutas secas de todos os tipos, amêndoas, pistáquios, tâmaras.

Ia de barraca em barraca, como nas feiras da minha infância, a “petiscar” um pouco de tudo o que havia, até chegar em frente dos grandes alambiques, bem areados e brilhantes como ouro acobreado, de onde saía um chá vermelho, forte e perfumado, que parecia puxar-nos a alma para cima de dentro das entranhas, trazendo-nos uma força e um calor maravilhosos na noite fria.

Nunca percebi o que havia dentro dos alambiques mas a bebida cheirava a canela, curcuma e sei lá a que mais.

Seguia, parava fascinada, continuava outra vez.

Num dos lados da praça, o lado norte, ficava a entrada do souk, no labirinto das ruas da Medina.

Nesse extremo da praça havia os sumos de laranja onde costumava ir de manhã beber logo um copo enorme de sumo, acabado de espremer, que me sabia bem. Detrás das pilhas de laranjas, esteticamente arrumadas, espreitava o sorriso de uma mulher gorda, envolvida em roupas azuis.

Ali perto, na noite de Marraquexe, iluminada pelos lâmpadas de acetilene poisadas no chão, vendia-se tudo. Havia os vendedores de amuletos, remédios em caixinhas de todos os feitios -ou seriam poções mágicas?-, de dentaduras de plástico de vários tamanhos, braceletes, bugigangas, pantufas de ponta levantada...

Por vezes, pelo meio das pessoas entretidas, aparecem os vendedores de água, com os chapéus redondos e bicudos e campainhas que tocavam para os anunciar.

Um grupo de cegos, em cadeirinhas baixas, estendia aos passantes uma bandeja, pedindo. E a moeda dada passava de bandeja em bandeja até ao último que a guardava num saquinho.

Outras vezes eram grupos “gnawa” que vinham dançar, ou apenas tocar os tambores, alaúdes, agitando-se num ritmo acelerado e frenético que lembrava o dos feiticeiros.

Juntavam-se grupos de mulheres e homens, em volta do encantador de serpentes, acocorado no seu tapete colorido, com o turbante cor de turquesa e a djellaba amarela. As serpentes moviam-se, coleantes, de escamas prateadas reluzindo na pele negra, macia como seda, entre os dedos, pintados de henné, do homem do turbante.

Encolhia-me, mas os olhos continuavam fixos no réptil e na língua fina que saltava de repente como movida por uma mola. Recuava, então, e todos os observadores recuavam comigo. Voltava a aproximar-me, atraída pelos gestos lentos daquelas mãos avermelhadas.

Cansada, já tarde, ia sentar-me na esplanada do “Café de France”, mesmo lá no último andar, a ver o espectáculo que ia durar a noite inteira. Devagar, ia sorvendo uma tigela de “harira” escaldante.

Amanhã tudo recomeçaria porque o encanto da Jemaa-el-Fna renova-se todos os dias, de manhã à noite, no seu turbilhão de gentes, de barulhos, de cheiros e de cores.
Música e dança Gnawa em Marraquexe:

"Azimuth": O Brasil e a sua música, em Londres...

imagens do espectáculo dos Azimuth, ontem, em Londres, foto de DLC (http://arquivo-fotografico.blogspot.com/)

O BRASIL EM LONDRES

Ipanema, Rio de Janeiro

"Azymuth" é um grupo de três músicos, de “electric funk jazz”, do Rio de Janeiro.

Criado em 1972, os seus membros são José Roberto Bertrami (tecladista), Alex Malheiros (baixo e guitarra), e Ivan Conti (bateria, percussão).

José Roberto Bertrami

Chamam “Samba Doido" à sua música.
De 1979 to 1989, gravaram vários álbuns para a Milestone Records. O maior sucesso foi "Jazz Carnival" em 1979.

Desde os inícios dos anos 90, começaram a gravar em Londres, para a marca Far Out Recordings, enquanto continuavam instalados no Brasil e iam fazendo “tours” pela Europa.

Os "Azymuth" também se interessaram pela produção de álbuns de outros artistas e criaram novo projectos através dos anos, incluindo um álbum da cantora e compositora brasileira Ana Mazzotti, e do primeiro álbum, Equilibria, em 2005, por Sabrina Malheiros, filha de Alex Malheiros.

Sabrina considera os Azymuth e João Gilberto como as suas influências mais antigas no seu estilo musical.

O que me interessa, porém, é referir que os Azimuth deram um show em Londres!

ontem, frente ao The Jazz Café (foto de DLC)

Ontem, dia 25 de Outubro, estiveram em Londres, a tocar no conceituado The Jazz Café (*), em pleno centro, em Camden Town.

Com sucesso!

Segundo informações em primeira mão, do "nosso observador em Londres":

Foi um bom espectáculo! Eles estão em super forma, mesmo com mais de 60 anos em cima.
O Ivan Conti é um baterista impressionante! Fiquei de boca aberta! O Alex Malheiros -que toca guitarra- também tocou baixo, mas com uma pinta!
Só tocaram uma hora e meia, mas foi o suficiente para se perceber. São músicos fora do vulgar.

Não deixei de pensar na injustiça que há neste mundo, pois eles, que são melhores que mais de metade das estrelas mundiais, estavam a tocar numa discoteca quando deviam no mínimo estar a tocar no O2 para milhares de pessoas...!”

Deixo o "comentário" tal como foi dito...
E já agora um video para poderem ouvir os "Azimuth"



P.S. Dedico este post a todos os meus amigos brasileiros e aos "fans" de boa música de todo o mundo!!
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About The Jazz Cafe London:

Hear the modern legends of jazz, soul, world, funk, hip hop and dance at The Jazz Café in London.
If you love live music, book your tickets for a great night out at The Jazz Café. In the heart of Camden you'll be able to hear bands and singers you love.
The Jazz Cafe London Address
Camden Town

sábado, 23 de outubro de 2010

Ouvir os "Everything but the girl": night and day





















Everything but the Girl (EBTG) é um grupo inglês de duas pessoas, criado em Hull no ano 1982, formado pela vocalista –e ocasionalmente guitarrista- Tracey Thorn (nascida em 26 de Setembro de 1962) e pelo guitarrista, tecladista e cantor Ben Watt (nascido em 6 de Dezembro de 1962).

Tracey Anne Thorn além de cantora é também compositora das suas canções.

Thorn começou a sua carreira musical no grupo Marine Girls tocando guitarra e vocalista. Gravaram dois albuns (Beach Party em 1981 e Lazy Ways em 1982) e vários singles.
Formalmente, as "Marine Girls" separaram-se em 1983.
Tracey Thorn com Everything But The Girl tem sucesso, enquanto as restantes do grupo, as "Fox Sisters" gravam com "Grab Grab the Haddock".

O álbum Beach Party foi assinalado no diário
de Kurt Cobain entre os seus 50 favoritos álbuns - para os que se interessam pelo artista...


Tracey Thorn colaborou também com a grande banda inglesa "The Style Council".
O grupo criado em 1983 pelo guitarista e vocalista Paul Weller e o tecladista Mick Talbot dos antigos "The Jam".
O grupo The Style Council"cresceu, incluindo depois o baterista Steve White e a então mulher de Paul Weller, a vocalista Dee C. Lee.

The Style Council:
Divirtam-se a ouvir! Eu gosto... Já agora ouçam as "Marine Girls" (gosto menos...)

Ainda o Cirque du Soleil...e trapézio triplo


Recordando o Circo da minha infância... A propósito do Cirque du Soleil que está em Lisboa até amanhã...

imagem de "Saltimbanco", o espectáculo deste ano do "Cirque du Soleil" , em Lisboa



uma imagem do espectáculo "Alegria", em Viena em 2009

O "Cirque du Soleil" está em Lisboa e hoje é o penúltimo espectáculo -intitulado "Saltimbanco".
É a 4ª vez que o Circo vem a Lisboa, com espectáculos que giram à volta de temas diferentes: desta vez é "saltimbanco" que vão representar...

O "Cirque du Soleil" nasceu no Canadá, na cidade de Québec, há mais de vinte anos, criado por Guy Laliberté, conhecido como precursor do movimento do novo circo. Recolhe os mais diversos elementos culturais e funde-os num arco-íris de cor e de movimento.
Nunca quis trabalhar com animais, mas com ele trabalham mais de 30 artistas internacionais, juntando a habilidade à imaginação.


Ao longo do espectáculo a tarefa dos artistas é ilustrar e deixar correr uma história que é contada - em música, palavras, imagens de beleza e movimento .


Amanhã é o último espectáculo. No Pavilhão Atlântico, para quem estiver interessado e ainda for a tempo...

Hoje, voltava de Cascais e, no combóio para S. João, vi o anúncio do "Cirque du Soleil", de que lhes falo acima...

Fiquei a imaginar, perdida nas minhas recordações. Fez-me pensar nos circos da minha infância, que vinham à cidade por alturas da Feira das Cerejas, no Verão, ou na Feira das Cebolas, em pleno Outono. E me enchiam a cabeça de sonho, de imagens, de ilusões...

Outro grande circo, o Circo Knie, de nacionalidade suíça...


"Era tanta coisa o Circo que eu amava... A equilibrista, gorda e pintada, que entrava em cena a correr, agradecendo os aplausos dando um salto e depois, deitada num pano de cetim azul com estrelas prateadas erguia alto nas pernas fortes um barril vermelho que ela fazia rodar cada vez mais depressa e que de repente parava com um movimento rápido dos pés pequeninos.

A contorsionista que transformava o corpo magro num arco, pousava os pés na cabeça e andava de mãos no chão.

Os saltos dos acrobatas, os grito
s, os aplausos, o rufar do tambor a meio do silêncio dos números de maior perigo.
artistas equilibristas do circo Knie

Viktor Vasnetsov, pintor russo, e os seus "Saltimbancos"


Mas era, sobretudo, a menina do trapézio, aquela figurinha branca lá no alto, cheia de lantejoulas, que me fazia ficar de coração apertado.

A brilhar, e a baloiçar-se de um lado para o outro, recortada na tela escura do Circo, e a minha cabeça a segui-la, de olhos bem abertos, entontecida por aquele movimento, angustiada sem saber porquê, mas com uma sensação de liberdade. Como se fosse eu a voar lá em cima e não ela. "