Sem cifrões, mas com certeza bem importantes para quem os lê...
Miguéis morre, faz hoje trinta anos. Falei aqui há pouco dele (ver links abaixo).
Quero apenas lembrá-lo.
Tantos escritores bons e esquecidos, que há por esse Portugal fora! De quem ninguém se lembra...
Tantos escritores bons e esquecidos, que há por esse Portugal fora! De quem ninguém se lembra...
Gostava de recordar um livro dele que li há pouco: “Nikalai! Nikalai!”(*)
Livro em que se conta a história triste, dramática e ao mesmo tempo divertida, contada com o humor de Miguéis, de dois refugiados russos, cossacos dos exércitos do Czar Nicolau II.
Depois da Revolução de Outubro, de 17 deixam a Santa Rússia e espalham-se pela Europa.
Depois da Revolução de Outubro, de 17 deixam a Santa Rússia e espalham-se pela Europa.
Estes dois, Othon Kirílovitch Buldógov e Vladimir Mirônovitch Tatarátsin, caem em Paris.
Ali sobrevivem num quarto imundo minúsculo em que dividem o espaço, onde mal cabem, de um mansarda.
Vivem na miséria. Vão, quando podem, comer à Pensão russa, de Madame Papelótskaya, para os amigos apenas Kátia Ivânovna, ex-vivandeira do exército...
Ali se reúnem os saudosos soldados, oficiais lembrando o seu amado Nikalai, para eles espécie de D. Sebastião...
Ali se reúnem os saudosos soldados, oficiais lembrando o seu amado Nikalai, para eles espécie de D. Sebastião...
Com os olhos cheios de nostalgia da Rússia, bebendo vodka e comendo pirojskis.
Isto, quando a Madame Papelótskaya está para ali virada, pois geralmente a comida da pensão é uma sopa aguada –o célebre bortch russo feito com bocadinhos de carne (com osso!), beterrabas, ou couves e uma colherzinha de natas ácidas...
Isto, quando a Madame Papelótskaya está para ali virada, pois geralmente a comida da pensão é uma sopa aguada –o célebre bortch russo feito com bocadinhos de carne (com osso!), beterrabas, ou couves e uma colherzinha de natas ácidas...
E umas "côtelettes" à Pojarsky ou à Pálkin, sempre iguais, de que se queixam todos...
Mas por vezes, em ocasiões especiais, têm direito aos pastelinhos de carne, os tais pirojkis...
Depois cantam as canções da sua terra, dançam à cossaca, agacham-se de mãos na cintura e saltam esticando as pernas, no meio da dança... E choram.
Depois cantam as canções da sua terra, dançam à cossaca, agacham-se de mãos na cintura e saltam esticando as pernas, no meio da dança... E choram.
Miguéis compreende bem os problemas dos exilados russos, ele próprio emigrado em New-York, durante anos.
E sabe contar a história com sensibilidade e ternura.
E o que acontece, depois?
Bem, depois, depois, depois...
Vão ler o livro! Vale a pena.
Vão ler o livro! Vale a pena.
Todos os livros dele valem a pena...
(*)
1ª edição, Editorial Estúdios Cor, 1971
2ª edição, Editorial Estampa, 1982
3ª edição, idem, 1985
Deixo alguns links sobre o autor, que podem interessar a quem gostar dele:
http://sobreorisco.blogspot.com/2010/10/jose-rodrigues-migueis-morreu-faz-hoje.html
Este´é fundamental, para quem saiba inglês:
Gosto de José Rodrigues Miguéis como, e talvez por acaso ou coincidência, não sei muito bem, de todos os que pertenceram à Seara Nova. Não conheço o livro que apresenta, mas fiquei com um travo de procura.
ResponderEliminarO que escrevo agora, (no comentário a este texto), servirá também, para quase todos os outros que fazem parte deste magnifico blogue.
Este blogue é o exemplo do que deve ser o incentivo ao conhecimento e à cultura, que tão arredados andam das nossas preocupações!
Diz a M.João,que foi professora e acha que se é para sempre professor.
No seu caso, por favor, substitua o "acha" por "tenho a certeza", pois qualquer pessoa de bom senso, não verá qualquer presunção, o blogue fala por si.
Bem haja por ter sido professora e pela vida que proporcionou aos seus alunos, estou certo. Pela minha parte continuarei a seguir tudo o que seja conhecimento.
interesting,thanks
ResponderEliminarAmigo Rialto, fiquei muito sensibilzada com o que me diz. Penso que me entendeu: eu gosto de ensinar, não quero abandonar o que sempre considerei uma espécie de "missão" (sem sentido religioso, mas quase...)! Era o que eu sabia e gostava de fazer.
ResponderEliminarOs livros e a cultura são o que considero mais importante na vida! Quis "contribuir" para isso.
"Aposentada", refugiei-me neste blog, para continuar...
os meus amigos dizem:"para que perdes tempo com isso? Ninguém quer saber..."; "escreve as tuas coisas, não percas tempo..."; ou: "o teu blog é demasiado pedagógico, é o seu defeito..."
Felizmente oiço alguém que perceb as minhas motivvações (ou necessidades?)!