domingo, 27 de julho de 2014

Falar de Charles Edward Haden...Silence!

Lembrar Charles Edward Haden... Nasceu em Shenandoa, no Iowa, no dia 6 de Agosto de 1937 e morreu há poucos dias em Los Angeles, no dia 11 de Julho. Foi um contra-baixista (duplo baixo?) americano.


Charlie Haden, em Pescara 1990


Nasceu em Shenandoah numa família de músicos country e folk. Tinha 2 anos quando se estreou profissionalmente, cantando com os pais. Continuou até aos 15 anos quando adoeceu com poliomielite. 


"Family Haden", Charlie em cima do piano, anos 30

Descobri muitas coisas e boas fotografias no blog keepswinging...de que deixo o link!





Em 1957, muda-se para Los Angeles e vai tocar com o pianista Hampton Hawes e com Art Pepper, o conhecido saxofonista (Arthur Edward Pepper, Jr. 1925-1982) de que quero falar em breve.



Charlie Haden tornou-se famoso ao tocar com Ornette Coleman no final dos anos 50. O saxofonista Coleman associa-se com ele - e esse encontro e entendimento culminam com a gravação do disco The Shape of Jazz to Come, em 1959.




Com Ornette Coleman e o seu quarteto

grande saxofone! Art Pepper e Chet Baker


Famoso pelas suas "linhas de baixo melódicas", dizem os que sabem, Haden é hoje considerado um dos mais respeitados contrabaixistas e compositores de jazz da actualidade.



"A exploração temática de géneros de música habitualmente não associados ao jazz tornou-se uma característica marcante de Haden com o seu Quartet West. 



Fundado em 1987, o quarteto era composto por Haden, Ernie Watts no saxofone, Alan Broadbent ao piano e Larance Marable na bateria. O grupo apresentava arranjos de Broadbent, românticos e elaborados e recebeu muitos prémios".

Curiosidade: em 1971, Charlie Haden passa em Portugal, participa no Festival de Jazz de Cascais em 1971 e dedica a canção "Song for Che" aos movimentos de libertação das (ex)colónias. 



Anos 70, Haden e Canção para Che

Festival Jazz de Cascais, em 1971

No dia seguinte ao concerto, foi preso no aeroporto de Lisboa e interrogado pela Pide-DGS, a polícia política portuguesa. Foi prontamente libertado graças à intervenção da embaixada americana em Lisboa, mas foi depois interrogado acerca da dedicatória pelo FBI, já nos EUA. (wikipedia)

Em 1976, com Carlos Paredes

Em 1990, grava, com o mestre da guitarra portuguesa, Carlos Paredes, o álbum Dialogues.







Tocou com os grandes deste mundo do jazz: Chet Baker, Keith Jarrett, Pat Metheny, e outros que agora não recordo.
Chet Baker, o inesquecível Chet Baker!

No final de 1997, colabora num dueto com o guitarrista Pat Metheny, explorando a música da sua infância, no álbum Beyond the Missouri Sky (Short Stories) e realizando uma digressão mundial com Metheny.

 E continuou a tocar com ele... A fotografia, aqui em baixo, é de 2001.


Faleceu em Los Angeles, no passado 11 de Julho, em consequência da poliomielite que tivera em adolescente e lhe deixara sequelas.


Depois de o ouvir e tanto ler sobre Haden, agradeço a Agostinho (do blog omundoegrande) por mo ter lembrado.


Com Chet Baker
Com Keith Jarrett
Com Carlos Paredes
http://youtu.be/7HL2pM97Mi8

sábado, 26 de julho de 2014

O Ratinho e o Ouricinho foram à Feira do Livro!



Os amigos têm andado muito calados, é verdade. A Isabel vai sempre perguntando por eles, mas não tem acontecido nada de especial, Isabel. 

Calmos, no quotidiano invariavelmente igual, da janela para a varanda, a ver as imagens dos livros e a brincar com as frutas e a fazer composições artísticas com a Gatinha japonesa. 

Ou algumas leituras e pouco mais.
Mas ontem fomos à Feira do Livro a Cascais!  Foi uma aventura, uma festa, claro. Adoraram as barracas cheias de livros, o carrocel, o Jardim e tudo.

- Ó Ratinho Poeta, tu já viste  o carrocel?
Era o Ouricinho sempre atento às coisas luminosas e coloridas.
- Vi, disse, taciturno, o Ratinho, que contemplava o jardim e as pessoas.


O Ratinho é mais interiorizado, muito observador, menos expansivo. Pouco se manifesta mesmo quando gosta.


- Olha, um porco e um galo no carrocel! Um galão mesmo! Parece um perú...Hihihi. Não queres dar uma voltinha?
- Não me apetece. Prefiro ver de fora. Gosto de andar por aqui, a ver os livros com calma…
- Olha a massa frita! 
E apontava com o dedinho esticado.
Logo, o Ratinho, interveio:
- Diz-se “farturas”. Ou “churros”, acho que é em espanhol.
- Eu cá chamo-lhe “massa frita”!

Virou-se para mim:
- Era assim que lhe chamavas quando eras pequenina, não era? E ias com o teu pai à Feira das Cebolas… Escreveste já isso numa história…

Sorri. Ele tem razão, eu dizia sempre "massa frita". Sempre que passo numa feira e vejo as barracas cheias de todas as coisas boas, lá vem a recordação da “massa frita” da minha infância. E  a memória volta atrás, dolorosa e ao mesmo tempo suave na sua nostalgia.


Senhor Doutor, então hoje trouxe as suas meninas à feira?” E o meu pai: “Sim, D. Rosa, viemos ver a feira à noite…
E revejo as luzinhas bruxuleantes das tendas iluminadas a petromax, cheias de tudo aquilo que eu adorava: brinquedos, balões, bolas, porta-chaves… 
Sim, houve um ano em que tive a mania de comprar porta-chaves. E pendurava-os no cinto. E comprei, até na feira, um cinto vermelho, cheio de trevos de quatro folhas dourados a enfeitar.
E lá vinha o cheiro das farturas, o vapor que se libertava daquelas panelas gigantescas onde se fritavam tiras enroladas, enroladas sem fim, de massa, a fritar, dourada como o sol. E as "farturas", nos papéis de embrulho que nos dava a D. Rosa, vinham a escaldar, cheias de açúcar e de canela. 
Tanta melancolia nestas lembranças. Acordou-me destes pensamentos a voz do Ouricinho. Tínhamo-nos aproximado da barraca dos livros de espionagem e policiais.


- Olha um livro do John Le Carré! Tu gostas… Já o leste? É barato, custa só cinco euros!
- Obrigada, Ouricinho, não o tenho e vou já comprar.

- Viste os livros do Tom Sharpe? Lembras-te das maluqueiras do Wilt?

Como não me havia de lembrar? Muito me ri eu com esses livros! Respondi-lhe:
- Então não lembro, Ratinho? Eram histórias de loucos e muito me ri com elas...
- Olha, livros para crianças! Compras para nós?, pediu o Ouricinho, já instalado na barraca do lado.


- Claro… Qual queres?
E ele acrescentou, entusiasmado com um caixote de revistas.
- Viste estas revistinhas de cow-boys? Levas também para nós?


- Sim, meu querido, lia! Claro que levo para vocês. E para mim...
As velhas histórias da Colecção Apache - que eu lia adolescente e cujos heróis depois desenhava e recortava para depois inventar eu as minhas histórias…

A atracção que têm as feiras dos livros, para mim, é inegável. Sempre assim foi. Cada capa me encantava! Queria comprar todos os livros, mesmo os que já tinha lido e que me atraem sempre da mesma maneira... 

Chego a encontrar três edições (em línguas diferentes...) dos livros de que mais gostei! E lá fico a hesitar com os autores: Scott Fitzgerald, Allan Poe, Leskov, William Golding, o terrível Golding!





Tão bom que é ler! Tão bom que haja feiras do livro onde as pessoas possam comprar livros a preços acessíveis e continuar a ler!
Demos um grande passeio e fomos até à Praia dos Pescadores. No caminho vimos um lindo "orgue de Barbarie"!


- Olha o realejo! 
E os olhos do Ouricinho ficaram presos ao boneco que agitava a mãozinha a bater no coração.
- O Arlequim! Tão bonito que ele é!


- Chama-se orgue de barbarie, corrigiu o Ratinho, divertido, porque estava encantado também com a beleza daquela novidade.
- Tanto faz, disse eu, em português é realejo...


Frente ao mar, no pontão onde atracam os barcos de pesca, lá estava a "minha" boneca. Digo "minha" porque encabeça a proa de um barco que se chama "Maria João". 


O Ratinho olhou e protestou, indignado:
- Viste o que fizeram à tua boneca? Que bárbaros!
- O que foi?, era o Ouricinho curioso.
- Deram cabo da carinha dela! Queimaram-na. E roubaram-lhe o chapéu cor de rosa que lhe ficava tão bem!


Era verdade, estava queimada, com um punhado de cabelos arrancado, sem o seu chapelinho de praia. O Ratinho e o Ouricinho quase choravam, a olhar para ela. 
Lá longe o carrocel girava com a sua musiquinha alegre.


Sim, bárbaros, pensei, com tristeza. Por quê esta vontade do homem, este prazer, de destruir a beleza e a poesia de outro homem?


Virámos costas ao barco, tristes, e fomos ver a baía. O tempo passou depressa, e gostei muito da tarde em Cascais. Havia um vento fresco, o mar tinha um azul lindo e os barcos estavam cheios de cor. Lembrei-me da maravilha dos barcos e do mar de Turner!