domingo, 31 de janeiro de 2010

Para começar a semana com suavidade: a delicadeza e a melancolia da música de Frédéric François Chopin


























Frédéric François Chopin (nasce em 22 de Fevereiro de 1810 e morre, em Paris, a 17 de Outubro de 1849), compositor polaco e virtuoso do piano, foi um dos mestres mais importantes da época romântica e da história da música.
A sua técnica sofisticada e a sua elaboração harmónica são comparadas historicamente com as de outros génios da música, como Mozart e Beethoven.

Nasceu na aldeia de Żelazowa Wola, no Ducado de Varsóvia, filho de mãe polaca e pai exilado-francês.
Considerado na sua terra natal como uma criança prodígio, aos vinte anos Chopin deixou a Polónia para sempre com rumo a Paris.
Alguns dados sobre a sua actividade:
Antes, em Agosto de 1829, três semanas depois de sair do Conservatório de Varsóvia, Chopin fez uma brilhante estreia, em Viena.
Em Dezembro de 1829, no Merchant's Club de Varsóvia, ele realizou a première do seu "Concerto para piano em fá menor".
Em 17 de Março de 1830, no Teatro Nacional de Varsóvia, fez a primeira apresentação de seu outro concerto para piano, em mi menor.
Em 2 de Novembro de 1830, Chopin deixou Varsóvia para dar concertos na Europa Ocidental.
Nunca mais voltou à Polónia.
Em Setembro de 1831 já está em Paris. Em Paris, fez carreira como intérprete, professor e compositor e, em 1835, tornou-se cidadão francês, muito possivelmente para evitar problemas relacionados com os seus documentos, com a Rússia Imperial que ocupara a Polónia.
Chopin foi elogiado por muitos artistas consagrados como Heinrich Heine, Alfred de Vigny e Eugène Delacroix.
Foi apresentado a alguns dos principais pianistas da época, incluindo Friedrich Kalkbrenner, Ferdinand Hiller e Franz Liszt, e criou amizades pessoais com os compositores Hector Berlioz, Felix Mendelssohn.
A música de Chopin já era admirada por muitos compositores seus contemporâneos, incluindo Robert Schumann.
De 1837 a 1847 teve uma relação muito agitada com a escritora francesa George Sand (pseudónimo de Amantine Aurore Lucile Dupin).
Músico de grande sensibilidade artística, a suavidade dos seus "nocturnos", das suas "sonatas" é incomparável.
Houve quem dissesse que Chopin "viveu de leve, tocou de leve e morreu de leve..."(Aqui houve uma troca voluntária. Foi Eça que disse de Júlio Dinis coisa no género. Eu achei que podia parafrasear...)
Apreciado desde sempre, é um compositor amado até aos dias de hoje por vários artistas: André Gide foi um deles.
Contemporâneo de Lizt, outro grande romântico, uniu-os uma amizade forte até à morte dele.
De facto, Chopin, de saúde frágil, morre cedo, aos 39 anos, vítima de tuberculose pulmonar, a doença da época. Está enterrado no cemitério Père Lachaise onde se encontram escritores, poetas, músicos, cantores...

Toda a obra existente de Chopin inclui o piano assumindo algum papel, predominantemente como um instrumento solo, e suas composições são amplamente consideradas como repertório essencial para este instrumento.

Na maioria das vezes a sua música é tecnicamente exigente, mas o seu estilo, no geral, enfatiza mais a nuança e a profundidade expressiva do que o virtuosismo técnico.
Improvisou novas formas musicais, como a balada, e introduziu significantes inovações nas formas existentes, como a sonata para piano, a valsa, o nocturno, o improviso e o prelúdio, entre outras.


Alguns críticos citam as suas obras como "os principais pilares" do romantismo, na música erudita do século XIX.
Chopin mostrou-se sempre nacionalista mesclando a sua música com elementos eslavos.
As suas mazurcas e as polonaises são fundamentais ainda hoje para a música clássica da Polónia.
(Wikipedia)
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NOTA:

"Música clássica ou música erudita é o nome dado à principal variedade de música produzida ou enraizada nas tradições da música secular e litúrgica ocidental, que abrange um período amplo que vai aproximadamente do século IX até ao presente, e segue cânones preestabelecidos no decorrer da história da música. As normas centrais desta tradição foram codificadas entre 1550 e 1900, intervalo de tempo conhecido como o período da prática comum."
(Wikipedia)


Ilustrações

1. pintura de Teofil Kwiatkowski -representando Chopin a tocar a Polonaise (pintado entre 1849 e 1860)
2. retrato de Chopin, óleo de Delacroix (1838, Musée du Louvre)
3. retrato de Chopin por Ary Scheffer
4. casa onde nasceu Frédéric Chopin
5. retrato de Chopin, por Francesco Hayez pintor veneziano
6. retrato de George Sand
7. poster do filme "Impromptu" sobre a vida amorosa de Chopin e George Sand, de James Lapine (1999)

sábado, 30 de janeiro de 2010

Jazz para o fim de semana: Paul Desmond Quartet e a canção "Wendy" e outras músicas...




Paul Desmond (Paul Emil Breitenfeld) nasce em 25 de Novembro de 1924 em S. Francisco, Califórnia. Inveterado fumador, morre de cancro, em 30 de Maio de 1977 depois de mais uma "tournée" com o Dave Brubeck Quartet.


Foi um saxofonista alto, e também compositor, que ficou famoso por tocar no quarteto de Dave Brubeck, (entre 1959 e 1967).

Primeiro, enquanto estudou na Universidade, foi clarinetista e foi através do circuito universitário que o "Quartet" ganhou fama, passando depois a actuar no exterior.

Durante dezasseis anos Paul Desmond foi, de facto, o principal solista do Dave Brubeck Quartet, com cuja Band iniciou a carreira de saxofonista, onde tocou de 1948 a 1950.

Só trabalhou como saxofonista regular do Quartet, a partir de 1951. Nessa altura, compôs a canção Take Five, talvez o maior sucesso do grupo.


Depois de abandonar o Brubeck Quartet em 1967, Desmond começou sua carreira como freelance.
O que fez até a sua morte, em 30 de maio de 1977.

Fazia parte do West Coast Jazz (*), e uma das suas composições mais conhecidas é Take Five.
Paralelamente ao seu trabalho com Brubeck, Paul Desmond tocou também com
Gerry Mulligan, Jim Hall e Chet Baker.

Alguns Albuns famosos:

"Desmond Blue"

"Take Ten"

"Easy Living"

"Summertime"

"Like Someone in Love" (com Chet Baker)

"Together" (com Chet Baker.

(Conselho: clickar no azul para ver!)













Interessante ver que, numa época que idolatrava Charlie Parker e o seu frenético estilo "bebop" (e hard bop), Paul Desmond criou o próprio “som” -ou estilo- que -segundo palavras suas- devia imitar o som de um “dry martini"...
Definia-o assim:

"Eu penso que tenho esse som no fundo da minha cabeça e quero que o meu instrumento soe como um dry martini".
Esse tom, suave e original, tornou-o favorito não só dos críticos como dos fans ganhando “jazz polls” umas a seguir às outras.

Afirmava:

"I have won several prizes as the world's slowest alto player, as well as a special award in 1961 for quietness."
["Ganhei vários prémios como o saxofonista alto mais lento, e também um prémio em 1961 pela tranquilidade..."]

Era um homem calmo, modesto, conhecido entre os amigos pelo encanto e delicadeza, que tanto tocava o seu jazz-cool como tocava igualmente os compositores de música clássica, ditos "modernos", Darius Milhaud ou Bela Bartok (segundo contou o próprio Dave Brubeck).

Hoje, tantos anos (32 anos!) depois da sua morte, a música de Desmond agrada da mesma maneira e entusiasma as pessoas que o ouvem.
Em 1977, ele e Chet Baker (muito envelhecido) tocam de novo juntos, editando o álbum "Together".

NOTA PARA QUEM QUISER SABER MAIS:
(*)
O West Coast Jazz é uma forma de jazz criada em Los Angeles, ao mesmo tempo que o hard bop se desenvolvia na costa leste dos EUA, em Nova Iorque, nos anos 50 e 60. O West Coast Jazz era considerado como um sub-género do cool jazz.

Era um estilo de jazz mais calmo, menos frenético que o hard bop, e as suas músicas caracterizavam-se pelas suas composições mais elaboradas.

Ainda J.D. Salinger: artigo de "Le Monde"


Para os que "dominam" o francês, deixo este artigo muito bem feito, de Martine Silber, tirado da edição online de "Le Monde", do passado dia 28 de Janeiro 2010.
Foi uma minha amiga, Alexandra Cruz, que me "alertou" para este artigo. Ela, uma "amadora" de bons livros e que me "aconselhou" alguns, através da minha filha...
O fenómeno Salinger atingiu com força a França desde muito cedo -mas só a partir dos Nove Contos é que os jovens franceses vão procurar ler tudo o que está para trás e que tinham deixado passar.
O título The Catcher in the Rye tivera, em francês, uma tradução pouco "ortodoxa", ou pouco feliz, digamos assim, um "título falhado" segundo a articulista: L'Atrappe-Coeur (mais tarde "passado" para o plural: l'Attrape-Coeurs).
E, porque "jogava" com o título de um livro muito amado, em França, L'Arrache-coeur de Boris Vian, não atraíu os leitores.

Franny e Zooey fora um livro muito criticado pela negativa, nos USA e na Grã Bretanha, e vários (importantes) escritores do momento o tinham criticado (e ao seu autor) àsperamente.
Daí um pouco a sua recusa em publicar.
No entanto, a figura do jovem Caulfield desafia o mundo inteiro e permanecerá imortal.
Um crítico francês, Robert Kanters, compara The Catcher - em português, À espera no Centeio- ao romance maravilhoso, e "mítico" também, de Alain-Fournier, Le Grand Meaulnes.
De facto Meaulnes e Caufield são duas personagens de adolescentes que "crescem" com dificuldade e se agarram a esse momento da post-infância (que sabem vai ser perdido) e que fogem para a frente de certo modo, acelerando as emoções, as exigências e o inevitável sofrimento.
(Prometo falar em breve do Grand Meaulnes outro dos meus livros bem-amados.

Aqui fica o artigo para quem quiser saber mais sobre Salinger:

"Le succès du Catcher n'a pas été immédiat – il lui faudra quatre ou cinq années avant de devenir un livre "culte" – mais il ne fera que croître et embellir avec la publication des recueils de nouvelles qui vont suivre, même si la critique anglo-saxonne, qui avait encensé les premiers livres, se mobilise pour descendre en flammes Franny and Zooey.

De John Updike à Norman Mailer en passant par John Steinbeck, George Steiner, Mary McCarthy ou Katherine Anne Porter, c'est à qui vilipendera le plus l'auteur et ses œuvres : il ne sait pas écrire, il ne rédige que de "prétentieux divertissements", il n'a aucune maturité, il est une sorte d' "industrie" à lui tout seul, "un homme sandwich"...

Les paroles s'envolent, le succès reste.

Quand The Catcher in the Rye est publié en France, par Robert Laffont, en 1953 – sous ce titre raté mais qui lui est resté, L'Attrape-cœurs, qui faisait écho au déjà très célèbre roman de Boris Vian : L'Arrache-coeur –, il passe quasiment inaperçu, atteignant à peine 7 000 exemplaires jusqu'en 1960, alors qu'à la même époque il s'en vendait quelque 250 000 exemplaires par an aux Etats-Unis, rien qu'en édition de poche.

Ce sont les Nouvelles (Nine Stories), publiées en français en 1961, qui produisirent sur les jeunes Français et sur les critiques cette onde de choc qui se fait sentir encore aujourd'hui chez tous ceux qui les ont lues, il y a donc quelque quarante années. Ce sont les lecteurs des Nouvelles qui vont se précipiter sur le roman.


Un bulletin publicitaire des éditions Robert Laffont cite, au moment de la publication de Franny and Zooey, les avis (français et prémonitoires) émis à propos de L'Attrape-cœurs par d'éminents critiques comme:
Robert Kanters, qui compare Salinger à Alain-Fournier (et le livre au Grand Meaulnes);
ou Kléber Haedens : "L'auteur vient de prouver que l'on pouvait toujours rendre neuf et surprenant le thème le plus usé de l'écriture."

L'Attrape-cœurs comme les Nouvelles ont été traduits par un jeune homme de 19 ans qui signe Jean-Baptiste Rossi et qui deviendra plus tard Sébastien Japrisot. Ces traductions n'ont pas toujours emporté l'adhésion du public.

L'éditeur fit retraduire The Catcher en 1986 par Annie Saumont – en ajoutant un "s" au titre qui devint L'Attrape-cœurs – mais aujourd'hui cette version a également beaucoup vieilli...

Grâce peut-être à ces traductions contestées, J. D. Salinger a été souvent le premier auteur lu directement en anglais par les jeunes Français.

Pour des raisons jamais vraiment explicitées, Salinger s'est retiré du monde et n'a plus rien publié, à part une longue nouvelle dans The New Yorker daté du 19 juin 1965, Hapworth 16,1924, dont on attend une réédition(*) toujours repoussée (mais promise sur Amazon.com pour novembre 2002).

Cette disparition a sans aucun doute été l'un des facteurs du mythe Salinger, l'auteur en qui tant d'adolescents voyaient cet écrivain dont parle Holden Caulfield, le narrateur :
"Mon rêve, c'est un livre qu'on n'arrive pas à lâcher et quand on l'a fini on voudrait que l'auteur soit un copain, un super-copain et on lui téléphonerait chaque fois qu'on en aurait envie."

J. D. Salinger a déçu toutes ces espérances en refusant tout courrier, tout entretien, tout hommage, que ce soit sous forme de livre, de film ou même de site Internet. Cela n'a pas empêché quelques paparazzi de faire des photos terribles de cet homme vieillissant.
Et surtout, très récemment, une de ses anciennes petites amies, Joyce Maynard, publiait ses Mémoires, At Home in the World ; elle a même vendu aux enchères les lettres qu'il lui avait adressées, lettres achetées par un admirateur qui les lui a retournées. La fille de Salinger a également publié un livre de souvenirs, faisant de lui un portrait accablant."

Martine Silber
Nota
(*) Muito gostaria de encontrar esse livro! Esperemos que a Amazon acorde! Já passaram uns anitos desde a promessa, para 2002.
Ou será que a amazona já acordou - e eu é que ando a dormir?- e o livro já anda por aí? Se souberem, digam-me alguma coisa!
Mas não em francês: confesso que foi a língua em que menos gostei de ler o Catcher!
(**) Deixo-vos outro "divertimento": vão à procura de Holden Caulfield em Nova Iorque!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Lembram-se dos Blues Brothers, de John Landis?

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Um filme maravilhoso de John Landis!


Cheio de bons sentimentos : fazem falta os bons sentimentos!


De humor!: faz falta o humor!



De solidariedade: faz falta a solidariedade!


Com o John Belushi e os seus olhos azuis-turquesa escondidos debaixo dos óculos escuros, o Dan Aykroyd no seu melhor papel (também era engraçado em "Poltrona para dois"...) e uma quantidade de "estrelas" verdadeiras: Aretha Franklin, Ray Charles, James Brown, John Lee Hooker, Cab Calloway (the little mice, lembram-se?)...


Quando estou triste ou deprimida, vou ver o DVD dos "Blues Brothers"!

(Nota: Filme de John Landis, "The Blues Brothers", 1998

Morreu Jerome David Salinger, o criador de Holden Caufield e de Seymour...


Há um ano –mais dia menos dia- sei que era em Janeiro, li no El Pays um artigo sobre Salinger. Fazia 90 anos.
Falava do " silêncio atroador" de Salinger.
Porque o silêncio a que se remetera era infinitamente mais barulhento do que o “falar” quase quotidiano de tantos outros escritores... Que falam, sim, mas o falar deles é como se fosse silêncio porque não pouco ou nada acrescentam à vida.
O mais íntimo dos escritores contemporâneos é um autor escondido que, no entanto, gera uma indústria popularíssima de fanáticos, críticos e comentadores, a Indústria Salinger, como uma vez referiu George Steiner.”

Não sei se havia essa tal indústria Salinger, sei que foi um autor importante para mim. Há muito de subjectivo em todas as escolhas, claro. Questão de sensibilidade, de momento, de "mood"...

Salinger foi um escritor “mítico” para muitas gerações de jovens, e menos jovens, desde a publicação, em 1951, de Catcher in the Rye.
Li-o na primeira edição portuguesa, de "Livros do Brasil". Intitulava-se “Uma agulha em palheiro” e foi traduzido por Jorge de Sena (a quem se deve, além da sua obra de poeta e romancista, uma Literatura Inglesa).

Achei o livro fantástico, uma descoberta que fui continuando, mais tarde, com a leitura de outros livros dele.

Continuava o artigo:
Em tempos de mania publicitária e exibicionista, J.D. salinger eludiu combativamente a intrusão espectacular de jornais e televisões. Pôs processos a biógrafos. Sofreu indiscrições autobiográficas de mulheres que viveram próximo dele.” Salinger nasce em N.Y, em 1919, filho de pai judeu americano e de mãe de ascendência irlandeso-escocesa. Não foi grande aluno e acabou os estudos numa Academia Militar, na Pensilvânia. Completou a formação cultural, depois, na Europa: Paris, Viena, Londres e Varsóvia.

Voltou aos USA e esteve 9 semanas numa Universidade, escrevendo críticas de cinema para a revista da Universidade.
Ofereceu-se como voluntário na II Guerra, trabalhou na contra espionagem inglesa, foi um dos soldados que desembarcaram na Normandia em Junho de 1944. Em França perseguiu agentes da gestapo e colaboracionistas franceses.

Antes de partir para a Guerra, vendera à revista “The New Yorker” um conjunto que só seria publicado mais tarde, em 1964.

O primeiro conto a ter sucesso (publicado na New Yorker) foi “Dia perfeito para um peixe-banana” (publicado em português no livro “Nove contos”, da editora Bertrand, numa tradução muito boa de Vasco Pulido Valente e Sttau Monteiro.

O seu herói é Seymour Glass.
Autobiográfico? A verdade é que Seymour é um veterano de guerra como Salinger. Sofre de depressão. O final é imprevisível.

De facto, a alegria de que Salinger falara e de que escrevera depois da vitória, transformara-se em tristeza. Chegaram tempos difíceis. A guerra fria, a opressão silenciosa, as perseguições “Maccartistas” a tudo e todos os que se aproximavas de “esquerda”: intelectuais, escritores, cineastas, organizações.

Salinger foi-se afastando da vida em sociedade. Não quis participar nas apresentações dos seus livros, nem fez conferências, nem participou em congressos universitários...
Afastou-se sem permitir que “invadissem a sua vida privada”...
Pergunto agora. Será que essa reclusão lhe trouxe a possibilidade de escrever mais? Quem me dera! Fico à espera.
Como tantos outros “fans”de Salinger e do jovem Holden Caufield, personagem inesquecível.

O adolescente Caufield cuja fuga do colégio e os momentos de vida que se seguem, a sua rocura de “não crescer para não cair na corrupção {dos sentimentos} e na insensibilidade das pessoas crescidas”.

Para quem crescer, amadurecer, era sinónimo de “crescer com dor” na tentativa de não perder a inocência, a pureza da infância e dos seus ideais e sonhos.

A última obra dele que se conhece foi “Hapworth, 16, 1924”, saída em 1965.

Não li o livro, mas sei que se trata do seu personagem principal, Seymour, à roda do qual tudo girou sempre. A carta que escreve aos pais num campo de férias, em Hampworth.

É-lhe penoso não estar em casa e sofre com a obrigação de ter de aprender a ser grande.
Gostava de saber o que diria Seymour se o autor lhe desse (será que deu? mistério...) a palavra, agora, depois de grande...
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Algumas obras traduzidas:

"À Espera no Centeio" (no Brasil: "O Apanhador"), nova tradução de Catcher in the Rye (Ed. Difel);
“Carpinteiros levantem alto o pau de fileira e Seymour- Introdução”(Raise High the Roof Beam, Carpenters and Seymour, An Introduction” (tradução de B. Mendes, Livraria Bertrand, s/d).
"Franny e Zoey" (ed. Bertrand)
“Nove Contos” (tradução de Vasco Pulido Valente e Luís Sttau Monteiro), Livraria Bertrand.
Este livro, Nove contos, tem, como epígrafe:

Todos conhecem o som de duas mãos que aplaudem.
Mas qual será o som de uma só mão que aplaude?”
São histórias de solidão, da dificuldade de viver, do absurdo. da banalidade dos dias. Cheias de humor trágico e de sofrimento.

Escolho alguns títulos, entre os meus preferidos...

*Dia perfeito para o peixe-banana;
*Pouco antes da guerra com os esquimós;
*Para a Esmé, com amor e sordidez ;
*Neste conto, o narrador encontra um caderno:
Escritas a tinta, numa letra miúda e desesperadamente sincera, estavam as palavras “Meu Deus, a vida é um inferno”.
Nada que conduzisse a estas palavras ou que lhes desse seguimento. Sós, sobre a página no silêncio do quarto, as palavras pareciam ter a estatura de uma acusação incontestável.”

Então, X, o narrador, escreve por baixo a lápis:
Pais e professores, ponho-me a pensar “o que é o inferno?” e sustento que o inferno é o sofrimento de ser incapaz de amar”;

*Linda boca e verdes os meus olhos;
*Teddy (história de uma dureza e secura terríveis);
*Ao fundo do jardim, junto ao barco.
(A jovem Boo Boo Tannenbaum, nome da heroína de “Carpinteiros” e de “Seymour” –a única irmã da família Glass- conta a uma amiga as fugas do filho:
Tem fugido de casa desde os dois anos, mas nunca para muito longe. O mais longe que foi –pelo menos na cidade-, foi até ao Mall, em Central Park. Sempre são dois quarteirões. A mais curta acabou à porta do edifício da nossa casa. Ficou à espera para se despedir do pai.”
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NOTA: Para quem possa estar interessado neste autor: escrevi neste blog outros dois "postrs" sobre Salinger, nos dias 18 de Abril e 5 de Maio do ano passado...

domingo, 24 de janeiro de 2010

Chet Baker o anjo sem dentes e "Almost blue"



CHET BAKER no "El pays"

"La voz del ángel desdentado"

artigo de Elsa Fernandez-Santos

"Chega a Espanha o mítico filme de Bruce Weber sobre Chet Baker. (...) Para Bruce Weber (a quem se deve o filme: Let’s Get Lost, sobre Chet Baker) a enorme capacidade de sedução de Chet Baker nascia da sua "inocência".

Diz Bruce Weber:
"Não podias deixá-lo e passares à frente, querias viver ao lado dele. A estranha inocência de um homem que assegura que o dia mais feliz da sua vida foi quando comprou o seu Alfa Romeo S.S e que o pior foi aquele em que perdeu, a murro, todos os dentes. De todas as suas histórias, falsas ou reais, a da dentadura foi sempre a mais terrível e incómoda".
De facto, um dia, arrancaram-lhe, um a um, os dentes da boca, num ajuste de contas, sobre o qual nunca contou toda a verdade.
Durante seis meses, Baker foi incapaz de pegar na trompette. Esse incidente abriu uma brecha enorme na sua carreira musical. Três anos parado na prateleira até que Dizzie Gillispie voltou a chamá-lo para actuar em New York.
O Chet Baker de Let's get lost já não é o jovem James Dean do jazz - das fotografías de William Claxton.

E Bruce Weber continua:
"Costumam preguntar-me onde está a beleza daquilo tudo e eu nunca sei muito bem o que responder. Vejo sempre beleza no que me rodeia, talvez seja esse o meu “dom”. (...) Não sei o que é a beleza, sei o que é o respeito.”

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Deixo-vos esta passagem de um artigo, de homenagem a Chet Baker (a tradução é minha), no jornal El pays (citado no blog "sobre o risco", em 13 de Setembro de 2009), referindo-se ao filme Let's Get Lost (de 1988), de Bruce Weber, apresentado nessa data, em Madrid.

Comecei a ouvir Chet Baker -e a admirá-lo- tarde.
Eram os anos 90, eu estava em S. Tomé e a minha filha gravava-me cassettes, para ouvirmos no pequeno aparelho de pilhas, quando (o que acontecia frequentemente..) a minha cozinheira Milly me vinha dizer: “Dôtôra, a energia já foi embora...”

Restava-me o tal rádio-gravador de pilhas e as cassettes de Chet Baker ou das "Ladies do Jazz", e muitos outros nomes que na altura não conhecia, na compilation que a minha filha escolhera.
Ainda guardo algumas dessas cassettes: Style Council, Dirty Mind, Tears for Fears (The hurting), Marvin Gaye (outro dos preferidos), Curtis Mansfield.
Essas músicas que adorei na altura foram ( e algumas ainda são)
a minha companhia durante anos.

Breve biografia :

Chet Baker nasce no Oklaoma, em Yale, em 23 de Dezembro de 1929. Virtuoso da trompette, muito cedo, aos 22 anos faz uma prova para a “band” de Charlie Parker, o famoso “Bird”.
Tornam-se, logo, amigos para a vida.
Em 1952, entra na band de Gerry Mullingan.
Morre cedo, em 1888, em Amesterdão.
O seu estilo “cool”, a sua lentidão, o tom melancólico, uma certa amargura tornam o estilo de Chet Baker único. Grandes músicos de Jazz, trompetistas como ele, tais como Dizzy Gillespie e Miles Davis apreciavam-no e deram-lhe o seu apoio.




Mais informações no belo site:
http://www.100anosdemusica.com.br/jazz_chetbaker.htm

Jazz Guitar: Django Reinhardt e o "Jazz Manouche"

Pequena biografia:
Django Reinhardt (Liberchies, Bélgica, 1910-1953) foi um guitarrista de jazz.
Foi um dos pioneiros do jazz na Europa e também um dos primeiros músicos, não negros, nesse estilo musical.
É o autor da famosa canção "Olhos Negros"( "les yeux noirs").
Django Reinhardt passou a maior parte de sua juventude num acampamento cigano próximo a Paris. Tocava banjo, guitarra e violino nos chamados "bal-musettes", de Paris, desde muito cedo.
Começou com o violino e por vezes também tocava um banjo, que tinha ganhado.
Na primeira gravação conhecida (de 1928), toca banjo.
Ouçam Django Reinhardt e, depois, Os "Lachés" (conjunto de Jazz Manouche):




"manouche"- ou rom, cigano, tzigane, "gens du passage"...

sábado, 23 de janeiro de 2010

Um Certificado do Lobinho para mim? Que bom...

Recebi uma mensagem/comentário no meu blog, ontem.
Dizia assim:

"Parabéns também para si! Um dos blogues a que atribuí o prémio "certificado de qualidade" foi ao seu! Por isso, toca a transferir a imagem, nomear pelo menos cinco blogues de qualidade e responder ao questionário!" (Austeriana)

Ontem tinha ido ver o certificado atribuído ao "bicho-carpinteiro" e hoje tenho eu própria um "lobinho"!
Já aqui o pus... Fiquei feliz.

Agora tenho, como missão, indicar cinco blogues que eu ache "de qualidade" e responder a um (longo e difícil) questionário.


Para já, vou pôr mais lobinhos por aqui aqui... Porque eles merecem.



CINCO BLOGUES DE QUALIDADE

Vida/Literatura/Jazz/Sinceridade/Filosofia


" A HORA DA LEITURA"

...viajar pela leitura...

Filosofar é preciso !!!

portugalagoia

JAZZ + BOSSA + BARATOS


PRÉMIO LOBINHO
QUESTIONÁRIO e RESPOSTAS

a) Tens medo de quê?


Do que é incontrolável na natureza e nos homens.

b) Tens algum "guilty pleasure"?

Oh! Sim! Vou todas as noites roubar pão com queijo, quando devia fazer dieta.

c) Farias alguma "loucura" por amor/amizade?


Penso que seria capaz disso.

d) Qual o teu maior sonho? (Não vale responder Paz, Amor e Felicidade ;)

Os sonhos vêm pouco a pouco... Para já, que Baracka Obama se aguente, e consiga fazer o que ele esperava (e nós, com ele) poder fazer!

e) Nos momentos de tristeza, abatimento, isolas-te ou preferes colo? (Não vale brincar)

Isolo-me, se posso...

f) Entre uma pessoa extrovertida e outra introvertida, qual seria a escolha abstracta?


Difícil de dizer em abstracto. Em concreto, escolhi para viver uma pessoa bem extrovertida.

g) Sentes que te sentes bem na vida, ou há insatisfações para além do desejável?

Sinto-me bem comigo. Penso que a vida se acelerou demasiado e eu própria também. Queria um pouco mais de tranquilidade. Parar.

h) Consideras-te mais crítico ou mais ponderado? (mesmo sabendo que há críticas ponderadas)

Acho-me mais ponderada do que crítica...

i) Julgas-te impulsivo(a), de fazer filmes, paciente ou... (define o que te julgas no geral).

Não sou impulsiva, não faço fitas. Sou paciente, às vezes de mais.


j) Consegues desejar mal a alguém e eventualmente concretizar? (Responder com sinceridade)


Não. Até agora.


k) Conténs-te publicamente em manifestações de afecto (abraçar, beijar, rir alto...)

Sou reservada, naturalmente, mas não do género de me conter nessas coisas!

l)Qual o lado mais acentuado? Orgulho ou teimosia?

Orgulho. Mas tanta teimosia!


m) Casamentos homossexuais e/ou direito à adopção?

As duas coisas. A adopção é sempre uma decisão delicada em todas as circunstâncias. Não vejo a diferença.

n) O que te faz continuar com o blogue?

A necessidade de comunicar, penso, e a de escrever tudo o que penso e falar do que gosto. Fui professora, sinto-me sempre “professora” e, talvez por isso, não resisto à tentação de “estudar” e “ensinar”, quero dizer: apresentar ideias sobre o que estudei...

o) O número de visitas ou de comentários influencia o teu blogue?

Não influencia, mas tem um grande valor a apreciação (seja ela qual for) dos outros sobre o meu trabalho.

p) Na tua blogosfera pessoal e ideal, como seria ela?


Nunca pensei nisso. Séria, com nível, com respeito, com certeza...

q) Deviam haver encontros de bloguistas? Caso sim em que moldes e caso não porquê?

Não me parece importante porque acho que ser bloguista tem qualquer coisa de “íntimo”, privado. O encontro será nos próprios blogues.

r) Sabes brincar contigo mesmo e rir com quem brinca contigo? (Não vale responder com ironias).

Sim. Aprecio a auto-ironia. A ironia dos outros não me ofende se não tiver a intenção de magoar.

s) Já agora, qual ou quais os teus principais defeitos?

A teimosia. Talvez a condescendência.

t) E em que aspectos te elogiam e/ou achas ter potencialidades e mesmo orgulho nisso?

Persistência, capacidade de trabalho e de ouvir os outros.

u) Entre uma televisão, um computador e um telemovel, o que escolherias?

Escolhia o computador! Até porque com ele podia ver filmes e saber as notícias... O telemóvel vem “por necessidade”. Não gosto de telefonar.

v) Elogias ou guardas para ti?

Elogio directamente.

w) Tens a humildade suficiente para pedir desculpa sem ser indirectamente?

Sim.

x) Consideras-te, grosso modo, uma pessoa sensível ou pragmática?

Sou uma pessoa sensível que sabe ser pragmática.

y) Perdoas com facilidade?

De mais.

z) Qual o teu maior pesadelo ou o que mais te preocupa?

Tudo o que se refere à vida dos meus filhos. (Mas não me considero mãe-galinha)


Agora, convido os cinco blogues que escolhi a virem retirar o "certificado do lobinho", apresentarem cinco blogues de qualidade e, depois, responderem ao Questionário.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Certificado de qualidade atribuído a um blog humano: "o bicho carpinteiro". Estou de acordo!


Tive um convite para ir "olhar" o blog "bicho-carpinteiro" -onde, por acaso, vou quase todos os dias, porque gosto de ler o que lá diz...

Recebeu um "Lobinho" pela sua humanidade.
Concordo!
Neste campo de batalha que é, tantas vezes a vida, faz bem sentir essa humanidade.
Convido-vos, pois, a irem dar uma olhadela ao blog.

Havia um questionário a responder e, numa das respostas, Austeriana (autora do blog) cita Theodore Roetke, poeta americano -que não conheço, confesso:

"We learn by feeling. What is there to know? I learn by going where I have to go"

Gostei. Parabéns.

Ofereço ao bicho-carpinteiro uma canção de que gosto muito: "Insensatez"...
Porque no fundo para acreditar em certas coisas - na Utopia!...a tal que dá sentido à vida...- é preciso um pouco de Insensatez...

Imagem:
Vasnetsov (grande pintor russo do século XIX), "Campo de batalha"


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Corto Maltese, Hugo Pratt e as "baladas" do mar salgado e de Veneza!
































Conheço o Corto Maltese há tantos anos! Li as suas aventuras em Roma, “aconselhada” pelos meus filhos. Lembro-me que eram uns livrinhos pequenos, de capa mole, que um dos ainda conserva...





Desenhador, gráfico, escritor, Hugo Pratt (1927-1995) é conhecido em todo o mundo pela sua fantástica banda desenhada cujo herói é o marinheiro Corto Maltese: um aventureiro e um anarquista, como o seu criador, no fundo, seu alter ego. E um mito! De facto a vida de Hugo Pratt foi uma aventura pelos vários portos e peripécias da vida. Viajou pelos quatro cantos do planeta e transformou o seu diário de bordo na matéria daquilo que sempre chamou "literatura desenhada".

Nasce em Veneza onde passa a infância e passeia por todos os seus sestieri, pátios, praças, pontes, "porteghi" e “sottoporteghi”...
Como ele próprio diz, na “Introdução” à edição francesa (Fable de Venise, Casterman, 1981), de Una Favola di Venezia, a aventura começa cedo.

Nos passeios a pé, com a avó, ao longo dos canais até ao Ghetto, e com todas as histórias que, cedo, lhe começam a contar e ele ouve interessado.

Fala das origens judaicas da família por parte da mãe, os Genero, que eram “judeus sefarditas-marranos que vinham de Toledo onde se tinham convertido ao cristianismo, depois das sangrentas matanças de 1360 em Espanha”.


Fala do encanto dessa avó, viva e terna, que o leva a visitar uma velha amiga que vive no tal Ghetto (onde os judeus foram confinados durante séculos), a Senhora Bora Levi. Olhando da janela para o pátio, de lajes brancas com o seu poço de mármore, cheio de musgo à volta, repara que se chama Corte Sconta detta Arcana. Era uma espécie de pátio interior com muitas portas ou entradas debaixo das casas.

Mais tarde vai ser o título de um do seus livros - do qual, em 2002, foi tirado um filme, como veremos), uma espécie de pátio cheio de entradas "secretas".

Um dia a Senhora Bora Levi vai mostra-lhe "as sete portas secretas” para as quais, diz, são precisas sete chaves e leva de facto uma menorah com ela (candelabro hebraico de sete braços) .



E continua: “É ali que ouço pela primeira vez os nomes de Simão o Mágico, Origenes, Arius, Tertuliano, Hypasia e Agostinho. Foi neste mundo que enfeitiçante que me falaram da Clavícula de Salomão e da Esmeralda de Satan que, segundo a tradição, se teria soltado da cabeça do anjo do Mal para se tornar no símbolo da Ciência maldita entre os homens...”



Depois dessas tardes, a avó levava-o outra vez para casa, mas antes paravam sempre para ela jogar um número no loto, segundo a kabbala veneziana.
Evoca as tias, jovens irmãs da mãe: Ida, Duma e Eglantine Foà, cujos retratos desenha no livro.






Ou o esboço do rosto da maravilhosa Louise Brookszowyc, heroína da Favola di Venezia, personagem complexa, que vive numa casa velha, debruçada sobre os tectos de Veneza. Mais tarde, Pratt acompanha os pais à Etiópia (que era nessa altura colónia italiana)onde, cedo, se habitua aos costumes e aprende as línguas, entre as quais swahili e o abissínio. Durante a Revolução na Etiópia, em 1941, é preso e enviado para Itália.
A aventura continua. Durante a ocupação alemã foi capturado pelos SS e esteve em Veneza numa prisão. Consegue evadir-se, e junta-se aos aliados, entretendo-se a organizar espectáculos para os soldados.

Em 1967, conhece Florenzo Ivaldi, e ambos decidem lançar uma nova revista mensal, “Sgt. Kirk”, onde aparecem os primeiros esboços de Una Ballata del Mare Salato (A Balada do Mar Salgado), com um personagem, Corto Maltese, ainda num papel secundário.
Só a partir da segunda metade dos anos 70 -e anos 80-, é que Hugo Pratt desenvolve as aventuras de Corto Maltese.


Corto é um aventureiro e um anarquista, como o seu criador, no fundo. Personagem que "teria nascido" em 1887 -mas nada é certo nesta figura que sai de uma espécie de "maravilhoso" onde tudo é possível e onde as pessoas se cruzam nos tempos como tantas dimensões.
Hugo Pratt põe na boca de Corto afirmações revelam ter ele encontrado figuras históricas como os escritores Jack London, Frederich Rölfe (Baron Corvo), John Reed, ou, ainda, o próprio Staline! Corto Maltese vive em vários tempos, ou várias vidas e nada lhe é impossível.
Companheiros de aventuras são os outros personagens que não esquecemos e que passam muitas vezes de história para história: desde o Capitão "Rasputin", o russo, (que ora é amigo, ora inimigo feroz), o "Monge" que vive na Ilha de Escondida onde tem todos os poderes, e outros que aparecem e desaparecem, como o "piccolo piede d'argento", de Una Favola di Venezia, figurinha inesquecível (ver na página da B.D. ao alto, em cima, na Piazza San Marco com Corto).
E as fascinantes figuras femininas: a loira e sofisticada "Pandora", a "Bocca Dorata"- a mágica esotérica brasileira, mais a sua jovem discípula "Morgana",

ou a perversa "Veneciana" e, ainda, a aristocrática russa "Marina Seminova" que atravessa as estepes siberianas num comboio blindado, durante a Revolução Russa.





O mesmo comboio que Corto Maltese e Rasputine, são contratados para assaltar, por uma sociedade secreta chinesa, as "Lanternas Vermelhas", porque nele se estariam as jóias, o tesouro Imperial do Czar, no livro Corto Maltese na Sibéria.















Depois desta apresentação do herói e do seu autor, quero contar-vos uma história engraçada ligada à minha experiência de professora. Fazia parte do programa de Francês a leitura de uma obra em banda desenhada. Não resisti ao desejo de lhes mostrar Corto Maltese!
Escolhi Fable de Venise e foi garnde o entusiasmo. Leram, projectámos algumas imagens.

Mostrei-lhes também A Balada do Mar Salgado que, depois, emprestei a quem se mostrou interessado (numa tradução portuguesa, agora).
Penso que foi a particular beleza dos desenhos, a poesia das figuras, o encanto do mar e de Veneza que os entusiasmou...
Para mim era reviver um prazer...

O grande desenhador de B.D. "fumetti"(*), como dizem os italianos, morre em 1995, na Suíça.



Não assiste, pois, à adaptação para filme animado do livro La cour secrète des Arcanes, realização de Pascal Morelli (uma co-produção: França/Itália/Luxemburgo, 2002).

Algumas obras sobre Hugo Pratt (Do outro lado de Corto -Hugo Pratt- Conversa com Dominique Pettifaux, editions Casterman)

E chega de conversa, o principal são as belas imagens que aqui ficam desta figura mítica e do seu criador!

(*) sabem por que se chama "fumetti"? Porque a banda desenhada tem uma espécie de umas nuvenzinhas onde estão as "falas" das personagens que se assemelham a pequenos rolos de fumo, então de fumo passa ao diminutivo fumetti.É pois um texto dentro de uns "fumozinhos" que saem da boca das personagens...