quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Wilkie Collins: A Pedra da Lua e A Mulher de Branco, dois belos livros de suspense...















Uma boa notícia para os apreciadores de boa literatura "policial", ou boa literatura apenas:
"A Pedra da Lua" (A Pedra Lunar, na edição brasileira), de Wilkie Collins, saíu há pouco em nova edição, na "Relógio de Água".
Estão, pois, de parabéns os leitores e a editora que fez uma boa escolha (além de ter escolhido uma bela capa de um grande pintos romântico!)...

Alguns dados biográficos sobre o escritor e a feitura desta obra
Wilkie Collins (1824–1889), escritor inglês e criador da novela de detective escreveu inúmeros ensaios, novelas, mais de doze peças de teatro e publicou 23 romances entre os quais "A Mulher de Branco" (1860) e "A Pedra da Lua" (1886), de que me ocuparei hoje um pouco.Opiniões de outros escritores sobre "A Pedra da Lua":

Diz Dorothy Sayers (grande romancista policial inglesa, de que convém fixar o nome e ir procurar, por exemplo, "O Crime exige propaganda", "Os crimes do Bispo"; "As férias do carrasco", tudo na colecção Vampiro)):

" Collins é o maior mestre que conheço na literatura de ficção policial!"

Jorge Luis Borges:

«A Pedra da Lua não é apenas inesquecível pelo seu enredo, também o é pelos seus protagonistas (...) e até pela presença Cuff, o primeiro detective da literatura britânica
T.S. Eliot:

«Este é o melhor e maior romance policial escrito até hoje
P.D. James (outra escritora inglesa de romances policiais, bem conhecida!):

«Wilkie Collins consegue [manter o interesse e a emoção] com mestria através do recurso a diferentes narradores para contar a história. Essa ideia, essencial para o êxito do romance, ocorreu-lhe quando assistia ao julgamento de um crime de 1856 e ouviu os depoimentos de diferentes testemunhas e o efeito causado nos espectadores por uma série de provas cada vez mais comprometedoras

Pois é verdade: Wilkie Collins (1824-1889) é um grande escritor. Utilizando elementos da literatura de folhetim, hábito muito comum no século XIX, inventa um novo género.
Collins sofreu de uma forma de artrite conhecida por "gota reumática" muito dolorosa e acabou dependente do opium que tomava sob a forma de laudanum) para aliviar essas dores. Como resultado sofreu de alucinações paranóicas delusions, a mais notável a ideia de ser constantemente acompanhado por uma figura subjectiva a quem chamava 'Ghost Wilkie'.
A sua novela The Moonstone refere os efeitos do ópio e da dependência por ele criada.

Resumo breve do livro: Um enorme diamante - a pedra da lua do título - traz uma maldição ligada a uma infâmia cometida muitos anos antes, mas mesmo assim é roubado no dia do aniversário de dezoito anos de uma bela jovem.


De repente, veio-me uma dúvida e, logo, a ideia luminosa: por que é que a "Relógio de Água" não publica já a seguir A Mulher de Branco?

Havia esse romance na velha colecção "Romano Torres" mas está "indisponível" em toda a parte.

Existe uma edição relativamente recente da Europa-América, em dois volumes, na colecção Livros de bolso/Série Clube do Crime, mas possivelmente estará esgotada também.

Deixo a ideia...

Li pela primeira vez há muitos muitos anos Wilkie Collins!
Com grande entusiasmo.

Talvez tenha sido primeiro A Mulher de Branco, e, mais tarde, O Diamante da Lua, assim se chamava na edição saída em 1953, numa velha colecção -da tal editora Romano Torres- que traduzia (bem?, mal?,truncados? Não faço ideia) autores famosos!



Eu adorava os livros daquela colecção! Que deve ser recordada pelo trabalho importante que teve em dar aos jovens -e menos jovens- uma possibilidade de lerem, de forma talvez mais simplificada, a boa literatura -sobretudo a literatura inglesa.

Ainda conservo alguns deles, entre os quais os dois livros deste grande autor inglês talvez um dos precursores do “romance de detective”, inquérito, mistério. E muitos outros cujas capas fui encontrar na internet (site da Biblioteca Nacional) e todos os títulos estão "indisponíveis"...
Havia também Walter Scott, Charles Dickens e o seu divertido e inesqucível Pickwick's Club, Natanael Hawthorne (“A Letra Escarlate”), A Feira das Vaidades, de Thackeray, Jane Austen e Orgulho e Preconceito (Sangue Azul, chamava-se), etc .
Reli os dois romance de Collins há pouco tempo. Desta vez li "The woman in white" em inglês, mas o The Moonstone -o tal Diamante da Lua, hoje publicado como A Pedra da Lua- esse reli-o na velha versão que, desta vez, me pareceu mais fraca, possivelmente pela tal tradução que aos 12 anos não me incomodava nada saber se era boa ou má...

A Mulher de Branco é um livro fantástico! Maravilhoso, empolgante, sem dar um momento de trégua ao leitor que pensa, pensa sem conseguir desvendar o mistério da famosa e desconhecida "mulher de branco"!

Em 1859, Wilkie Collins começa a publicação, em folhetim, do romance The Woman in White (A Mulher de Branco”, publicado depois em 1860).
Romance extremamente fascinante e moderno, penso eu, por muitas razões.

Por exemplo: o autor dá-nos diversas “versões” dos acontecimentos, cada uma apresentada pelos vários protagonistas: numa espécie de “diário” -ou “cartas” por vezes- que revelam aspectos muito diferentes uns dos outros.

Tudo depende da perspectiva, do ponto de vista, da boa-fé em que cada um dos "narradores" se põe; ou conforme a relação afectiva que liga os diversos personagens entre si...

Assim, só o leitor pode “julgar” (e com dificuldade...) essas diversas versões, –conforme as situações- inclinando-se ora para um lado ora para o outro, hesitando, tentando perceber o que há de verdade ou de mentira, ou apenas ocultação dos factos, voluntária ou involuntária, em cada uma delas.
Mas o leitor sabe pouco...

Tudo é contado pouco a pouco, diria a conta-gotas, sempre com grande suspense e, no final de cada capítulo (ou folhetim saído), há sempre a dúvida, a curiosidade, o pasmo.


Quem é a mulher de branco?
Existirá mesmo a mulher de branco?

Por que motivo a imagem da mulher de branco se associa a outra mulher?

De facto, A Mulher de Branco é um romance de mistério, ou então -termo que recebeu na época em que saíu- “romance de sensação”.
Há quem o considere (Edgar Allan Pöe) como o primeiro romance do género (“policial”, série noire, ou giallo italiano, diríamos hoje, conforme as línguas) detectivesco.

Em que consiste a intriga?
O romance inicia-se com a “versão” dos factos contada por Walter Hartrigh, jovem pintor londrino, e do “extraordinário” (sentido literal da palavra “fora do ordinário”) encontro que teve uma noite com uma misteriosa mulher vestida de branco, em Londres.

A mulher misteriosa fugira não se sabe bem de onde: sente-se vítima de perseguição, e Hartright ajuda-a a atravessar as ruas sombrias de Londres até um ponto em que se separa dele e lhe pede que não procure saber dela.
E desaparece, na noite.


Continuando o seu caminho, o destino coloca-o como professor de pintura de duas irmãs órfãs, aliás meias-irmãs, na província inglesa.
A mais velha, Marian Halcombe, é uma figura interessante de mulher mas que nada deve à beleza. O que a grande inteligência permite fazer esquecer a quem com ela se relacione.

Lembra-me a frase de Henry James sobre a escritora George Eliot, em carta à mãe: “é uma mulher muito feia, mas, pouco tempo depois de conversar, é muito fácil apaixonarmo-nos por ela...”
É Marian que escreve a segunda “versão” do que acontece e apresenta novos mistérios, indecifráveis para os personagens e, é claro, ainda mais para o leitor...
A irmã mais nova, Laura Fairlie, pelo contrário é de uma beleza fora do vulgar e de uma sensibilidade e fragilidade enormes.

E Hartwright apaixona-se por ela...
Outras personagens aparecem: Sir Percival Glyde, o tio e tutor, personagem de grande egoísmo, o Conte Fosco e a mulher, personagens ambíguas, e outras figuras. Não adianto a história porque não quero que percam a curiosidade.

Entrego-vos os dois livros...Mas digo só mais uma coisa que lhes pode interessar:
O romance foi adaptado pela BBC (*) para uma série televisiva de grande qualidade –como sempre são as séries inglesas! -e que, segundo dizem, se mantém fiel ao suspense e ao mistério de uma forma que não atraiçoa o espírito do livro.

(*) The Woman in White (
1997) do realizador Tim Fywell que também já realizou The Moonstone e, mais recentemente, fez filme tirado da novela magistral de Henry James (**), terrificante, The turn of the screw (de que existe uma bela tradução de João Gaspar Simões, Calafrio, Portugália Editora, 1965, na colecção "O livro de bolso").

Nota:

(**) Outros livros de Henry James: Daisy Miller (procurem, há imensas traduções), Portrait of a Lady, The Author of Beltraffio" ou The Wings of the Dove.

1 comentário:

  1. Olá

    Adorei seu blog e a coleção de livros cujas capas vc expõe [obras escolhidas de autores escolhidos] eu possuo há muitos anos, desde minha adolescência.

    Amo a literatura inglesa e todos estes autores são meus ídolos.

    Há pouco tempo encontrei as Mini Séries da BBC com alguns destes títulos e estou compartilhando no meu blog de cinema.

    Talvez vc se interesse de assistir [eu adorei todos, já que a BBC tem uma marca de qualidade garantida e os atores ingleses são excepcionais].

    Parabéns pelo seu blog, foi delicioso encontrar este paraíso literário.

    Um beijo

    SoniaSRRJ

    Eis o link onde postei as Mini Séries no meu blog:

    http://soniassrjcinema.blogspot.com/search/label/%5BMINI%20S%C3%89RIE%20BBC%5D

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