Dando uma volta pela internet, descobri, num artigo de Merav Yudelevitich (no New York Time de 20/05/05), que Batya Gur, uma das minhas escritoras preferidas de romances policiais, morreu em 2005!
Quem era Batya Gur?, hão-de perguntar.
O primeiro que li chamava-se The Saturday Morning Murder: a Psychoanalytic Case e saíra em 1988 (o título da tradução portuguesa é: Assassínio do sábado de manhã, publicado pela Relógio d’Água, em 2002).
Fora publicado já–como os outros que se seguiram- pela prestigiosa casa editora americana HarperCollins Publishers, de New York, em 1992.
Fui buscar os exemplares que tenho na minha estante sempre à mão, e, com tristeza e muita nostalgia, abri o romance Assassínio do Sábado de Manhã.
“Levaria anos, e Shlomo Gold sabia-o, antes que pudesse voltar a arrumar o carro em frente do Instituto, na Disraeli Street, sem sentir uma mão gelada apertar-lhe o coração. (...) Ainda ouvia as palavras do velho Hildesheimer vibrarem-lhe na cabeça. O problema não era o edifício em si, dizia ele: não era o edifício que causava aquela ansiedade; mas sim os seus próprios sentimentos em relação ao acontecimento.”
Começo a lembrar a história, a intriga aparentemente impossível de resolver, as pistas falsas, a mente subtil por detrás -o assassínio quase perfeito!-, a análise psicológica contínua que a autora desenvolve em cada personagem. O leitor corre de página para página numa ansiedade crescente porque quer ver o mistério resolvido!
Os críticos costumavam dizer que o amor e a atracção pela escritora, e pelos romances dela, ia aumentando de livro para livro.
Muitas vezes, pensei:
“O próximo já não vai ser tão bom, não pode aguentar esta intensidade sempre...e manter o ritmo alucinante...”
Mas o próximo romance vinha, e -pegando num assunto completamente diferente- a acção centrada agora numa outra realidade (como por exemplo, Murder on a Kibbutz, que nos vai “ensinar”, paralelamente, o que era, no seu início, um kibbutz, como mudou, o que é agora...), misturando o suspense, a intensidade, a angústia de “perceber” o porquê ? do assassínio, o como?
Seguem-se outros livros:
Um crítico confessava: “Quando vejo a polícia às volta, sem saber quem foi o assassino (whodunnit?), pergunto aempre a mim próprio: “O que faria Michael Ohayon?!”
Batya Gur dizia do herói: “Fala por mim... o que não posso dizer, diz ele: ele é um homem, eu sou uma mulher...”
O jovem Comissário não é apenas um herói simpático, com boa apresentação, generoso. É igualmente uma pessoa culta, um cerebral, um introspectivo e um melancólico apaixonado. Formado em História, por Cambridge, é autor de uma dissertação de Doutoramento (inacabada) sobre as corporações na Idade Média...
As soluções que encontra saem, no fundo, da compreensão gradual desses mundos fechados e dos problemas filosóficos profundos que existem no coração de cada uma dessas comunidades.
É em 1988 que Batya Gur começa a escrever as séries policiais com o detective Michael Ohayon que vai imediatamente prender os leitores israelitas.
Batya Gur aparece a falar dessas sociedades –ou classes- fechadas como, por exemplo, um Instituto de Psicanálise (Saturday Morning Murder), o Departamento de Literatura, (Literary Murder: a critical case, 1991), um kibbutz (Murder on the kibbutz, 1994), o mundo dos músicos da música clássica (Duet Murder: a musical case, 1999) – cujas tensões, facciosismo e preconceitos são os que se observam no país, em movimento contínuo, interrogações, em convulsões, profundas e criativas...
E Ohayon vai procurar, na compreensão e no conhecimento da natureza humana, a solução dos casos. Consegue “quebrar” as regras de silêncio e entrar nessas sociedades fechadas sobre si mesmas.
Depois dos livros que referi, escreveu ainda The Bethlehem Road Murder(2004), Murder in Jerusalem (publicado póstumo, em 2007) e outros...
Abro agora Murder Duet (que, felizmente, ainda não li: sim, tenho um livro dela para ler!) que começa assim:
“Quando pôs o CD no aparelho e ia carregar no botão play, Michael Ohayon teve a impressão de ter ouvido um grito fino. Passou no ar, e desapareceu”.
A música era a 1ª Sinfonia de Brahams que adorava, e o grito era real, era o de uma bébé que gritava, abandonada ali na rua e que Michael, quando a vê pensa adoptar, se ninguém aparecer a reclamá-la...
Dizem, na notícia, que “foi vitimada por doença grave contra a qual lutou com esforço, trabalhando todos os dias quase até ao dia em que morreu, publicando todo o material que tinha e achava importante fosse publicado”.
Nota biográfica
Batya Gur (20 de Janeiro de 1947-19 de Maio de 2005), filha de sobreviventes do Holocausto, era uma crítica literária conhecida. Com um Doutoramento na Universidade de Jerusalém, ensinava Literatura e era Leitora na Open University. Ensinou muitos anos nos Estados Unidos. Era, também, uma activista social e uma figura política.
Durante muitos anos ensinou na Universidade de Ofakim, no sul de Israel. Foi nessa altura que, aos 39 anos, decidiu começar a escrever.
Passou os últimos anos da sua vida no bairro Germany Colony em Jerusalém. Era também uma activista social e uma figura ligada à política (Next to the Hunger Road, 1991), foi crítica literária e ensaísta no jornal "Haaretz".
Títulos em português:
Assassínio do Sábado de Manhã, de Batya Gur, editora "Relógio de Água", 2002
Colecção: Crime Imperfeito
Preço 14.00 €
Conselho (aos leitores interessados): Procurem já o Assassínio do Sábado de Manhã, da escritora Batya Gur! Vale a pena!
Não conhecia, mas vou seguir o seu conselho. Obrigada por ma dar a conhecer.
ResponderEliminarBeijinhos
Vai gostar. Bom Ano Novo! Bjs
ResponderEliminarTambém não conhecia a escritora e nem o seu trabalho, mas fiquei curiosa.
ResponderEliminarVou procurar.
Abraços,
Marise.
É muito escritora especial porque, no fim e ao cabo, é uma pessoa culta, interessante, interveniente que fala de assuntos, ambientes que conhece bem, intriga super bem arquitectada, com nível. Nunca é vulgar -o que eu acho importante...
ResponderEliminarAbraço grande
falcão