quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"O principezinho" de Saint-Exupéry em Kaboul...

cena d' O Principezinho, em Kaboul, no Centro Cultural Francês, "o acendedor de candeeiros"...

O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry, é um dos livros mais belos e mais conhecidos pelo mundo fora.

Um livro que tanto interessa os adultos, como as crianças. Lido nos diversos momentos da nossa vida (como qualquer livro que tenha coisas a dizer...) traz-nos sempre um pensamento bom, uma ideia, ou outra, ajuda-nos, comove-nos, empurra-nos para diante, muda-nos...

A história fala de um rapazinho que vivia num planeta que se chamava "Asteróide B612", e que um dia caiu na Terra.

Por curiosidade, no fundo... Queria aprender outras coisas, ver outras realidades, conhecer o mundo que não tinha visto.
Vai viajando de asteróide em asteróide e encontrando personagens diferentes: um rei sem súbditos para mandar, um homem vaidoso solitário que ninguém elogiava porque não havia lá ninguém, um bêbedo triste, um homem de negócios que só pensava em contas, um acendedor de candeeiros (que decidia se acendia o dia, ou a noite...), etc.

Encontra uma rosa, que logo ama:
"- Como és bela!
- É verdade, não é?, respondeu docemente a flor. E nasci ao mesmo tempo que o sol...
O principezinho percebeu que ela não era nada modesta, mas era tão encantadora!"
E falam, falam, falam... O principezinho gostava muito de falar, de criar novos amigos.
Encontra também uma raposa...E falam, falam e o principezinho aprende. À despedida diz-lhe a raposa:

"- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só vemos bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível aos olhos, repetiu o principezinho, para se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que torna a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que perdi com a minha rosa... diz o principezinho, para se lembrar.
- Os homens esqueceram esta verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tornas-te responsável para sempre daquilo que « prendeste ». És responsável pela tua rosa…
- Sou responsável pela minha rosa, repetiu o principezinho para se lembrar."~
Encontrou ainda um geógrafo que conhecia os mares, as cidades e os rios, mas que nunca os tinha visto... e que lhe diz que procure conhecer o planeta Terra.

Assim, o principezinho foi parar ao deserto do Sahara, onde encontra o escritor desta história, um aviador que ali aterrara...
O Principezinho pede-lhe : "Por favor, desenha-me uma ovelha.”
E conversaram e ficaram amigos.
Quando se separam, o escritor sabe que nessa noite, a estrela do Principezinho vai estar por cima do lugar onde o avião caiu...

Diz-lhe que vai sentir saudades dele...
O Principezinho responde-lhe que, à noite, deve olhar para as estrela todas. Assim, vai sempre poder "vê-lo".
"A minha estrela é pequenina de mais para se ver daqui. Mas, assim é melhor, para ti, a minha estrela vai ser uma qualquer. E gostarás de olhar para as estrelas todas..."


Creio que, sempre que quisermos, podemos ver a estrelinha de onde o principezinho nos observa com ternura e se lembra de nós...
Hoje lembrei-me desta história porque li no Le Monde (de 3 de Outubro, num artigo assinado por Frédéric Bobin, enviado especial do Monde em Kaboul) que O Principezinho passara por Kaboul.

Intitulava-se o artigo: “Lição de humanidade e de compreensão mútuas: Le Petit Prince representado em Kaboul”

Sim, Kaboul. No Afganistão, no meio da guerra, terrorismo etc. Sim, no meio de polícias, entre barragens, montanhas áridas e pedregosas, homens armados e tantos meninos com os olhos abertos que querem aprender!
“Le Petit Prince”, o principezinho da nossa história surge em cena, representado pela Companhia Teatral afgã, AZDAR, posto em cena pelo encenador Arash Absalan, no Centro Cultural Francês.

cena da mesma peça: o "principezinho e a rosa"

Diz o realizador, o iraniano Absalan:

A mensagem do Petit Prince é mais do que uma mera mensagem de paz, A noção fundamental é a capacidade de “apprivoiser l’autre” e de nos deixarmos “apprivoiser par lui”... É isto que torna o diálogo mais rico.”

E lá está ele, o Principezinho, num palco estrelado, algures no Afganistão, que encontra um rei, uma rosa, uma raposa, um vendedor de estrelas, um acendedor de candeeiros, etc etc.

E, com o seu cachecol amarelo traçado ao pescoço, lá vai ele “apprivoiser” -prender- a assistência, como na história de Saint-Exupéry.

Apprivoiser (*) é difícil de traduzir. Encontro no dicionário da Porto Editora: domesticar, amansar, familiarizar, acostumar-se a, mas não é bem “domesticar”, nem nada disso: tem um sentido mais forte, mais emotivo, afectivo, mais do coração...(*)
“Trazer a si”? "Prender?"
No fundo, é dar aos outros enquanto se traz dos outros o que eles também querem dar...

O público são os alunos dos dois colégios franceses de Kaboul mas a eles juntaram-se as crianças da rua de Kaboul que uma iniciativa local tenta atrair e associar à criação teatral. O público ri às gargalhadas enquanto se sucedem no palco as coisas absurdas que fazem os adultos empoleirados nos seus planetas”, refere o articulista.

E termina de um modo muito belo: “Durante o espaço de uma manhã 500 principezinhos afgãos entraram no mundo de Saint-Exupéry”.

É bom ler estas notícias! Verdadeira lição de humanidade e de vontade de compreensão do outro que é –necessariamente- diferente de nós!

Deixo-vos algumas "pistas", para continuarem esta "procura".

Como o principezinho, devemos procurar, querer conhecer, encontrar, descobrir...o outro!

(*) Acabo de saber pela minha amiga Amélia Mota (que foi minha colega na Escola de Sintra ...) que a palavra-chave é "cativar"!!!

http://fromkabul.over-blog.com/

(as imagens da peça foram respeitosamente tiradas, por mim, deste blog, acima referido)

Arash Absalan está ligado ao Théâtre du Soleil e trabalhou com a relizadora Ariane Mouchkine. Deixo alguns “videos” com trabalhos dela.

(Este Petit Prince de Kaboul é a manifestação de uma criação teatral no Afghanistão, diz Frédéric Bobin, que quer expandir-se. A troupe Azdar, criada por Guilda Chahverdi, com o apoio da "Association française Hasards d'hasards", de Clichy-la-Garenne (Hauts-de-Seine), já levou à cena, em Kaboul, "L'Histoire du tigre", de Dario Fo, "Ubu roi", d'Alfred Jarry, e "Macbeth", de Shakespeare. )
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Anúncio da peça em Kaboul:
http://www.freedomtocreate.com/default.asp

03 Jun 2010
The Little Prince - Performance by Azdar Theatre
Kabul, Afghanistan: Join Azdar Theatre for an evening of theatre in the garden of Turquoise Mountain. The group will be performing a play called The Little Prince directed by Arash Absalan

4 comentários:

  1. "No teu mundo os homens cultivam mil rosas no mesmo jardim...E não encontram o que procuram...
    Y no entanto o que procuram poderia encontrar-se numa só rosa ..."
    ..."Mas os olhos estão cegos.É necessário procurar com o coração."
    ..."Serás sempre meu amigo"—disse o princepezinho.
    Beijinhos

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  2. "Serás sempre minha amiga?"
    É um livro único!
    Beijinhos e boa noite

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  3. "O importante é invisível aos olhos"
    Será preciso dizer algo mais ?
    Abraço Falcão

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  4. O 'meu' livro, o livro de antes e de depois, de agora e de sempre.
    Clara
    (Maria Clara Paulino)

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