A nossa viagem a Trieste, nossa e do Ratinho e
do Ouricinho acabou! Hora de regressar a casa! Com um certo alívio, acho. Tinham
saudades? Talvez. Os outros amigos estavam à espera.
O primeiro a falar foi o passarinho negro.
Sempre atento aos dias que passam, ao tempo que faz, empoleirado na janela, foi
o primeiro a ver-nos chegar.
- Então que tal a viagem? Parecia que nunca
mais voltavam!
Olhou de lado para umas figurinhas que me pareciam desconhecidas.
-Eles até vieram espreitar e saber o que tinha acontecido. Vem aí o Natal e vocês todos lá por fora!
Olhou de lado para umas figurinhas que me pareciam desconhecidas.
-Eles até vieram espreitar e saber o que tinha acontecido. Vem aí o Natal e vocês todos lá por fora!
As tais figurinhas costumam vir no Natal e são dois bonecos a fingir de Pai Natal e o outro um limpa-chaminés Vêm ajudar a enfeitar a árvore de Natal. E ficam por lá, a dar luz e cor com os
balões vermelhos e dourados.
- Ah! Tinha muita vontade de voltar a casa!, suspirou o Ouricinho.
-Tanta beleza que existe em Trieste, um mar lindo, um céu luminoso como o nosso, pessoas boas...mas concordo contigo: voltar é bom.
-Tanta beleza que existe em Trieste, um mar lindo, um céu luminoso como o nosso, pessoas boas...mas concordo contigo: voltar é bom.
O Ratinho parecia cansado. Até o
passarinho reparou.
- Estás com um ar cansado!
- Sim, venho cansado! As maletas são um
inferno! Bem dizias tu, Jana.
"Pois são", pensei cá para dentro:
“como eu as detesto”!
O Ratinho continuou a conversa:
O Ratinho continuou a conversa:
- Desta vez o burrinho Alfonso não foi e quem
se encarregava das chaves e das malas era eu… Uma grande responsabilidade,
claro.
O Ouricinho espreitou-o pelo canto do olho e
sorriu. A verdade não era bem esta e o Ouricinho sabia, mas o Poeta gostava
de se mostrar importante.
O Burrinho, agarrado às chaves de outras malas
velhas que já não serviam, tinha um olhar triste. Talvez pensasse: “não precisaram de mim
desta vez”. Agarrava as chaves com força na patinha. “Se calhar nunca mais
vão precisar de mim…”
O Ouricinho olhou pela janela do quarto, viu as
árvores e a chuvinha fina que descia pelos vidros devagarinho - e quase se
comoveu:
- Que lindas as nossas árvores!
- Que lindas as nossas árvores!
Todos concordámos. Eram lindas. A Gatinha japonesa concluiu o nosso
pensamento:
- Como dizia aquele
poeta inglês, "home, sweet
home!"...
O Ratinho acrescentou - ele era sempre o mais sábio:
- Sim. Acho que se chamava Howard Payne. Ou coisa parecida.
Demos uma volta pela casa “para matar saudades” –disse o Ratinho- e fomos ver a varanda.
O Ratinho acrescentou - ele era sempre o mais sábio:
- Sim. Acho que se chamava Howard Payne. Ou coisa parecida.
Demos uma volta pela casa “para matar saudades” –disse o Ratinho- e fomos ver a varanda.
- Que bom ver isto tudo!, disse o Ouricinho.
Era a nossa bem conhecida desarrumação geral,
pela casa toda. Coisas que não couberam nas malas da ida, gavetas meia
fechadas, papéis e livros aos montinhos por aqui e por ali.
E a varanda? Fez-me pena ver as minhas flores
tão mimosas e cheias de cores lindas quando parti e, agora, restos de folhas
secas caídas, misturadas com terra molhada. Só as flores do ibisco amarelo
tinham algum brilho, na tarde enevoada.
À volta, os vasos, partidos com a terra
espalhada, que as chuvadas tinham deitado ao chão. O ar murcho das
folhas mortas, batidas cruelmente pelos ventos que vêm do mar, entristeceu-me.
Tanto trabalho que me deu conseguir aquelas
poucas flores depois do Verão quente e sem fim que foi o deste ano! Para ter de recomeçar um trabalho difícil.
Mas o Ratinho repetiu a frase do amigo e isso animou-me:
- Que bom voltar a casa!
Eu esqueci-me da tristeza que as flores
estragadas me tinham trazido.
“Tudo se recupera, nada se perde, tudo se
transforma,” e comecei a rir porque era uma frase que uma vez escrevi num
caderno de Ciências. Tudo ia renascer mais cedo ou mais tarde. Lá fora, em frente da casa, o salgueiro, que tinham querido abater um dia, revelava um belo colorido de Outono. O Outono começou tarde, é certo...
- Sim! É bom voltar…, acrescentei.
O Manuel ouviu-nos e suspirou - mas de
impaciência - e com nostalgia na voz:
- Ah! Ainda tenho à frente mais onze meses até
voltar à minha Itália...
E nós fingimos que não o ouvimos. Eu pensava já noutras histórias que vou contar de Trieste...