“Quero um cavalo de várias cores,
quero-o depressa que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
que só cavalos de várias cores
Podem servir.
Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva – nimbos e cerros –
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.
Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.
Deixem que eu parta, agora, já,
antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho.
Mas como posso partir sozinho
Sem um cavalo de várias cores?”
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Nascido em Barcelona em 20 de Março de 1922, Reinaldo
Ferreira era filho do escritor e
jornalista Reinaldo Ferreira, o conhecido Repórter X (1).
Poeta, escritor de
várias novelas, Reinaldo Ferreira (filho), viveu em Moçambique, a partir de 1941. Estudou, acabou o Liceu e
continuou por lá.
De vez em quando vinha a Portugal mas logo voltava para
Lourenço Marques (hoje, Maputo).
Autor de reportagens, ficções várias, peças de teatro,
realizador de filmes foi sem dúvida uma personagem fascinante, com uma
fulgurante pela vida.
Publica artigos e poemas nas revistas culturais de
Moçambique, escreve letras de canções mas a sua obra poética só foi publicada,
póstuma, em 1960, em Moçambique.
“Poemas” sai, por iniciativa do Governo-Geral de
Moçambique, organizada pelos amigos, que promovem igualmente uma marcha fúnebre
ao túmulo do Poeta.
Em 1962, é publicada em Portugal, pela Portugália - precedida
de um ‘estudo analítico’ de José Régio que admirava muito o Poeta.
Escolhi esta poesia de entre muitas de que gosto, porque queria apresentar os meus cavalos preferidos: 'Dom Quixote no cavalo azul' e o meu cavalo árabe, de El-Jadida, oferecido em Marrocos por um bom amigo.
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(1)O chamado “Repórter X” nasceu em Lisboa, em 10 de
Agosto de 1897 e morreu, também em Lisboa, no dia 4 de Outubro de 1935. Tinha 38
anos.Os seus livros são mistérios policiais e aventuras.