sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Reggiani lê Baudelaire, "Sarah", e canta Moustaki , "La femme qui est dans mon lit"...

                 O poema de Baudelaire:"Sarah"

 Esta é a parte do poema que Reggiani escolhe para ler no 

disco. O poema é muito mais completo. 

            "Si vous la rencontrez, bizarrement parée,

          Traînant dans le ruisseau un talon deschaussé

     Et la tête et l'oeil bas comme un pigeon blessé,

      Messieurs, ne crachez pas de jurons ni d'ordure 

      Au visage fardé de cette pauvre impure 

      Que déesse Famine a par un soir d'hiver,

      Contrainte à relever ses jupons en plein air. 

      Cette bohème-là, c'est mon bien, ma richesse, 

       Ma perle, mon bijou, ma reine, ma duchesse..."

                      Charles Baudelaire

É sempre um grande prazer Ouvir Serge Reggiani cantar recitar 

o poema "Sarah" e, a seguir ouvir a bela canção cuja letra 

Moustaki escreveu inspirado no poema de Baudelaire, musicando-

a de um modo único de doçura e melancolia, que intitulou: "La

 femme qui est dans mon lit...

Serge Reggiani e Georges Moustaki interpretaram muitas canções
 
de Moustaki como "Ma liberté", "Ma solitude"... Eram, no
 
fundo, dois espíritos artísticos que emigraram das suas terras
 
 - a Itália para Reggiani e o Egipto do judeu Moustaki e da
 
 sua canção famosa, "Le métèque" - o estrangeiro que sempre
 
 foi. Apesar da amizade e protecção da grande Edith Piaf e da
 
 amizade de todos os "compagnons de la chanson" - tantos
 
 "métèques"!
  
 Georges Moustaki

“La femme qui est dans mon lit

n'a plus vingt ans depuis longtemps.

Les yeux cernés par les années,

Par les amours au jour le jour,

La bouche usée par les baisers,

Trop souvent mais trop mal donnés,

Le teint blafard malgré le fard,

Plus pâle qu'une tache de lune.

La femme qui est dans mon lit

n'a plus vingt ans depuis longtemps.

Les seins trop lourds de trop d'amours

Ne portent pás le nom d'appâts,

le corps lassé trop caressé,

Trop souvent mais trop mal aimé.

Le dos voûté semble porter

Les souvenir qu'elle a dû fuir.

La femme qui est dans mon lit

 n'a plus vingt ans depuis longtemps.

Ne riez pas. N'y touchez pas.

Gardez vos larmes et vos sarcasmes.

Lorsque la nuit nous réunit,

Son corps, ses mains s'offrent aux miens

Et c'est son cœur couvert de pleurs

Et de blessures qui me rassure.”

 

“Ao contrário do que se poderia julgar, esta poesia de Charles Baudelaire não faz parte das primeiras edições de “Fleurs du Mal” – apesar de certos editores a terem  acrescentado depois.

Foi publicada pela primeira vez e a título póstumo, em 1875, com o título de “Poésies diverses”. Sarah foi uma figura que teve muita influência sobre Baudelaire ainda jovem. 

Encontramo-la em muitos dos seus primeiros poemas. Parece que ao contrário do que possa parecer ela era - segundo contavam- muito bonita.

               Charles Baudelaire, foto de Nadar

O poeta sente-se próximo dela e, sobretudo mais para o fim da vida, reconhece-se nela - como “âme soeur” ou “femme damnée” que se ama, ou “albatroz” perseguido ou, mesmo, “poeta maldito” – outro dos temas 'baudelaireanos'.

Baudelaire ama-a, precisa dela como se fosse a “menina dos seus olhos” – se ousarmos dizê-lo...”

 
Paul Valéry

Sobre "Les Fleurs du Mal" escreveu o poeta fancês Paul Valéry:

«As 'Flores do Mal' não contêm poemas nem lendas nem nada que tenha que ver com uma forma narrativa. Não há nelas nenhum discurso filosófico. A política está ausente por completo. As descrições, escassas, são sempre densas de significado. Mas no livro tudo é fascinação, música, sensualidade abstracta e poderosa

Sobre o este seu livro, escreveu Baudelaire, numa carta:

«Neste livro atroz, pus todo o meu pensamento, todo o meu coração, toda a minha religião (travestida), todo o meu ódio