sábado, 7 de dezembro de 2013

Um pintor português e a ideia do Oriente: Freitascruz

A pintura de Freitascruz impressionou-me. 
landscapes from nirgendowland #019


Este - abaixo- é um dos quadros dele que prefiro. Intitula-se landscapes from nirgendowland. (nowhereland? a terra de aqui e agora?) 

landscapes from nirgendowland #018, 2012

Paisagem?  Nesta cor azul, vejo a onda forte de um mar encapelado, fios verdes que me parecem algas, destacando-se no céu que imagino branco-acinzentado. Paisagem, recordação, ou sonho? Algo que me lembra o espírito de Hokusai de que tanto gosto?

A grande onda, Hokusai

No fundo, a obra de arte -depois de criada e publicada- escapa ao seu autor. Como explicar um poema? Como entender um quadro? Nada é igual. Nunca é idêntico o sentimento de uns e de outros. E (possivelmente) nada é como o autor pensou que fosse. A obra ganhou vida, "libertou-se" e cada um que a (ou lê) ... imagina-a, transforma-a com a própria sensibilidade, na sua própria  emoção estética. (E lembro, nisto tudo, o que dizia Régio sobre a obra de Arte e muito nos ensina...)


Capa do catálogo-livro [parenthéses]

entre parenthèses #003 noeud


Tive conhecimento do pintor, há pouco tempo, no Verão passado. Gostei das suas pinturas que revelam sensibilidade; gostei das cores matizadas, do seu delicado contorno, que lembra (sendo completamente diferente)  o traço de certos pintores japoneses, nas  atmosferas, nos ambientes, na suavidade... 
landscapes from nirgendowland #016

O que não admira, pois, no fim e ao cabo,  Freitascruz conheceu essas paragens e é um viajante do Oriente ainda hoje. Vive actualmente no Laos.



                                            landscapes from nirgendowland #018


Filho de diplomata, nasceu em Paris, em 1965. Viajou, "perdeu países" e ganhou outros. Estudou Direito e Ciências Políticas, mas era a Arte que lhe interessava. De facto, desde 1976 que começara a pintar. 
Escolheu a sua vocação, pois, e desde então pinta, cria...



É um viajante, sem terra e sem raízes, que, ao mesmo tempo,  sente que pertence a todas as terras,  porque em todas está em casa.


kokoro no uta/poetry of soul (gallery mssohkan, kobe, japan)

Na introdução ao livrinho-catálogo, da última exposição em Osaka, em Dezembro de 2012, leio:

landscapes from nirgendowland #002



"este livro apresenta uma selecção de pinturas e instalações realizadas entre 2005 e 2012 período correspondente a um breve regresso a portugal e aos anos que vivi no japão. os primeiros trabalhos, no entanto, são ainda reminiscências do borneo e dos quatro anos que lá vivi antes –a chuva, o calor dos trópicos. as pinturas da série “entre parenthèses” foram feitas em portugal e acabadas no japão. a ideia das “landscapes from nowhereland" é a noção de que a minha vida se realiza na terra nowhere (terraagoraaqui). não tenho laços ou ligações sólidas a um lugar fixo e sinto-me em casa em toda a parte. "now.here."


imagem da net

O pintor deu-nos uma pista para as suas obras. Penso que o mais honesto é deixar-vos as imagens. Cada um, por si, terá o entendimento que souber, ou sentir...


somewhere, elsewhere, now.here, 2009

landscapes from nirgendowland #015
beyond batik -jalan jalan


landscapes from nirgendowland #003



landscapes from nirgendowland #013


the long sea, 2012

zipangu/ acrylic and m.media on wood, 2012


foreground: longboat/barca -kokoro no uta, 2012


dentro, uma pintura (zipangu), e fora, uma instalação

beyond batik - monsoon, 2006



Lamento que as fotografias nem sempre dêem a realidade das imagens. E, sobretudo, das cores... Algumas fotografei-as eu, para lhes dar uma certa inclinação. Espero que o autor me perdoe.


7 comentários:

  1. Gostei muito das pinturas!

    Às vezes, gostava de ter oportunidade de saber o que os artistas queriam dizer com o que pintaram ou escreveram. Realmente cada um de nós interpreta a obra de maneira diferente e se calhar completamente diversa do que o autor quis expressar.
    Talvez por isso o seu valor: porque toca cada um de maneira particular.
    Mas às vezes tenho mesmo pena de não poder falar com o autor...

    Gostei muito do post!

    Um beijinho grande :)

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    1. O principal, querida Isabel, é olhar! Sentir o que te "fala" aquela obra. Claro que cada um tem de sentir de modo diferente, tens toda a razão. Possivelmente os artistas é que podem não gostar de como vemos o que eles quiseram dizer...

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  2. Maria João,
    Gostei muito. Não conhecia. Obrigada por esta partilha que entrelaça o ocidente com o oriente.
    Tudo perfeito.
    Beijinho.:))

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  3. Querida Maria João, deixo aqui o meu sentido agradecimento por esta surpresa tão agradável que me facultou o poder ver e ler o meu próprio trabalho com um distanciamento e uma objectividade que há muito não me eram oferecidos e que tanto alento me dá para descortinar os passos que ainda tenho que dar.

    Um beijinho com amizade

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    1. Ainda bem! É difícil aceitar o que dizem sobre nós, mas vi que gostaste e fico contente! Beijinho também

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  4. Gostei muito, coisa rara em mim, pois tenho pouca sensibilidade ( ou conhecimento !) para a pintura abstracta.
    Admiro as pessoas que são cidadãs do mundo, deve ser muito enriquecedor.
    Feliz semana, beijinhos

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  5. estranhos e belos em simultaneo...adorei...obrigada.Mané

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