PALAVRAS D’UM CERTO MORTO
Botticelli, Adoração da Madalena, pormenor de "Descida da Cruz"
"Ha mil annos, e mais, que aqui estou morto,
Posto sobre um rochedo, á chuva e ao vento:
Não há como eu espectro macilento,
Nem mais disforme que eu nenhum aborto...
Só o espírito vive: vela absorto
N'um fixo, inexoravel pensamento:
«Morto, enterrado em vida!» o meu tormento
É isto só... do resto não me importo...
Que vivi sei-o eu bem... mas foi um dia,
Um dia só — no outro, a Idolatria
Deu-me um altar e um culto... ai! adoraram-me.
Como se eu fosse alguem! como se a Vida
Podesse ser alguem! — logo em seguida
Disseram que era um Deus... e amortalharam-me!"
In “Os Sonetos Completos”, 1ª edição, Porto, Livraria Portuense,
1890, pg. 69 (a grafia respeita a da referida edição)
É um poema triste.
ResponderEliminarMas eu desejo-lhe um domingo muito alegre e cheio de Primavera!
Um beijinho grande:)
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ResponderEliminar~ ~ Escrito um ano antes do seu lamentável fim.
~Uma perigosa sensibilidade - mórbida e doce.
~ ~ Celebremos a ressurreição e uma nova vida
~abençoada por Deus, pela Natureza com Amor.
~ ~ ~ Dias brilhantes. ~ ~ ~
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O poema é lindo. A Madalena, esta em particular é para mim êxtase.
ResponderEliminarPáscoa Feliz!:))
Estive a ler tudo, quanta fecundidade intelectual em tão pouco tempo!! "Utilizei" o "teu" fragmento de Botticelli no meu post de hoje. Beijinho
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