Telavive
é a mais bela cidade em estilo Bauhaus (*)
do mundo. Em 2003, essa zona foi, justamente, considerada Património Mundial Cultural, pela UNESCO.
Foram
contabilizados mais de 1500 edifícios, “sujeitos
a diversos planos de restauro e de preservação”. E considerados protegidos,
a partir de então. Muitos tinham sido deitados abaixo, mas outros salvaram-se e
têm uma perspectiva de restauro em vista.
Há
mais casas neste estilo em Telavive do que no resto do mundo. Cidade construída
pelos arquitectos, artistas e técnicos - judeus fugidos da Alemanha nazi, na
década de 1930.
Lembro-me
de ver esses edifícios, de grande simplicidade arquitectónica, na rehov Bialik, na Rotschild, na Kikar Dizengoff
(com a sua fonte colorida), na rehov Sheinkin, na Ben Yehuda.
Ou,
na Sederot Ben Gurion, o edifício do Café Apropo, onde foi deflagrada uma
bomba poucos meses depois de termos chegado a Israel. O “Apropo” é um belo
Café em estilo Bauhaus onde costumávamos
ir – e onde o Manuel passava todos os dias antes de ir almoçar.
O
atentado kamikaze ocorreu no dia 21 de Março de 1997, na véspera do Purim, que é
a festa das crianças, espécie de carnaval. Morreram três jovens mulheres uma delas
grávida.
Nunca esqueci a foto de um bebé de 6 meses, vestido de clown que se salvou porque a mãe se deitou por cima dele e o salvou, morrendo. Recordo o jornal do dia seguinte em que uma jovem polícia agarrava o bébé nos braços.
Na manhã seguinte, o Café Apropo, com a esplanada e as vidraças destruídas completamente e parte da mobília lá dentro, abriu normalmente.
Nunca esqueci a foto de um bebé de 6 meses, vestido de clown que se salvou porque a mãe se deitou por cima dele e o salvou, morrendo. Recordo o jornal do dia seguinte em que uma jovem polícia agarrava o bébé nos braços.
Na manhã seguinte, o Café Apropo, com a esplanada e as vidraças destruídas completamente e parte da mobília lá dentro, abriu normalmente.
Vieram
empregados, amigos e clientes e -ou quem passava – e todos varreram vidros,
endireitaram as cadeiras, limparam, lavaram, arranjaram o que tinha arranjo,
deitaram fora o resto. No final, em copos de papel, bebemos café, chá, sumo de
romã e comemos os bolinhos que cada um levou. Hoje existe no jardim em frente um monumento às três vítimas.
A
cidade começou a ser construída por volta de 1909 quando sessenta famílias vindas da
Europa ocuparam o areal de dunas frente ao mar, nas proximidades da cidade
portuária de Jaffa, Era um espaço, vazio e desértico, onde se estende hoje a Promenade junto ao mar o passeio público que vai até Jaffa.
S.
J. Agnon (**), grande escritor israelita que ganhou o Prémio Nobel em 1970,
conta essa odisseia no seu livro mais famoso, “Tmol
Shilshom” : Ontem e Anteontem.
Shmuel
Joseph Agnon nasceu em 1887 em Butshatsh, na Galicia oriental, então região da
Polónia e morreu em Telavive em 1970. Recebeu o Prémio Nobel em 1967 com a
escritora Nelly Sachs.
“Cerca
de sessenta chefes de família reúnem-se e formam uma Sociedade Imobiliária porque
todos querem construir uma casa naquela Terra santa para eles. (…)
“Construiremos belas casas, plantaremos diante
de cada uma pequenos jardins, traçaremos ruas largas e direitas. Faremos reinar
o nosso espírito de um puro Israel nestes lugares e assim que pudermos, teremos autonomia.”
"o terreno desértico onde constroem a cidade..."
Decidem que cada um dá 20 francos e começam à procura dum terreno. Decidem que a cidade
terá de ser criada longe da cidade velha. “Encontrámos
o terreno no deserto da cidade; mas não se encontrou dinheiro para o pagar.”
Esse
areal de dunas foi, pois, dividido, loteado e sorteado e cada uma das tais famílias de que falei se encarregou de construir, em comunidade, casas, traçar estradas e desenhar ruas.
Como explica Agnon, compraram “um terreno, formado em parte por colinas de areia e, em parte, de vales e ravinas.”com a ajuda de Kéren Kayémeth." (***)
E a grande tarefa começa. “Arrasam-se as colinas, deita-se a areia nos
vales, trazem-se pedras do mar e enterram-na. Partem-se pedras, os martelos
soam todo os dia e os rolos compressores aplainam. (…) nivelam-se os fossos.
Camelos e burros transportam a areia.”
E
a cidade de Telavive cresce em todos os sentidos. Uma das zonas, a central,
ainda hoje, vista do alto, no meio dos arranha-céus moderníssimos, distingue-se
facilmente das outras: um agrupamento de casas baixas, “pequenos edifícios com formas de caixas e tecto branco” – que
reflectem o estilo tradicional da arquitectura modernista Bauhaus.
São
cerca de 3000 os edifícios construídos, entre 1931-1939, num estilo simples e
funcional mas “artístico”.
O
que significa o estilo Bauhaus, ou Escola Arquitectónica Bauhaus? Fundada, em 25 de Abril de 1919,
por Walter Gropius - cuja intenção era combinar e juntar arquitectura,
artesanato e academias de arte.
Walter Gropius (1883-1969)
estilo Bauhaus, Gropius em Dessau
Cafetaria, em Dessau
Subsidiada,
inicialmente, pela República de Weimar (república
em democracia representativa semi-presidencial, criada depois do fim da Iª
guerra), após a mudança do governo de
Weimar, em 1925, a escola desloca-se para Dessau, cujo Município era liberal.
Em
1932, fugindo às perseguições nazis, a escola muda para Berlim. Em 1933, os Nazis proíbem
a escola Bauhaus - acusada de ser um foco de judaísmo e bolchevismo - e fecham-na, definitivamente.
Era considerada pelo Nazismo uma 'frente'comunista e judaica porque muitos dos que ali trabalhavam e estudavam eram na maioria judeus alemães e judeus russos.
Art Nouveau
Era
um movimento que vinha no seguimento da Art
Nouveau e do movimento Arts & Crafts: a tentativa de unir as artes plásticas, consideradas até ali artes
superiores, ao artesanato e ao trabalho manual (artes inferiores, dando-lhes a
mesma importância).
edifício de Walter Gropius, estilo Bauhaus
Walter
Gropius, e um grupo de arquitectos e artistas de vanguarda, conseguem unificar
as duas visões com o Bauhaus (‘casa
estatal de construção’).
Kandinsky, Composição 8, 1923
Wassily Kandinsky(1866-1944)
Wassily
Kandinsky, Paul Klee e outros pintores e artistas de várias nacionalidades estiveram intimamente ligados ao Bauhaus.
Kandinsky nasceu em Moscovo mas, em 1928 , nacionalizou-se alemão e foi professor na Escola Bauhaus. Mais tarde, fugido aos nazis nacionalizou-se francês, em 1939. Introdutor da abstracção no campo das artes visuais, foi professor na Universidade Bauhaus.
Marcel Breuer outro arquitecto e designer, inspirado no estilo Bauhaus, desenhou esta bela cadeira a que chamou "Wassily".
Desenhista nato, Klee realizou experiências sobre a
cor e escreveu sobre a teoria da cor. Foi um expoente do cubismo,
expressionismo e surrealismo.
Kandinsky nasceu em Moscovo mas, em 1928 , nacionalizou-se alemão e foi professor na Escola Bauhaus. Mais tarde, fugido aos nazis nacionalizou-se francês, em 1939. Introdutor da abstracção no campo das artes visuais, foi professor na Universidade Bauhaus.
A cadeira "Wassily"
Marcel Breuer, edifício Bauhaus, nos USA
Marcel Breuer
Marcel Breuer
Paul
Klee foi amigo de Kandinsky e ensinaram os dois na Escola Bauhaus. Nasceu no
cantão suíço, perto de Berna, em 18 de
Dezembro de 1879 e morreu em Muralto (Suíça) em 29 de Junho de 1940. Viveu na Alemanha.
Paul Klee (1879-1940)
Paul Klee, 1931
Walter Gropius (1883-1969)
Foi Gropius que acreditava num ensino experimental e
uma visão interdisciplinar e defendia a integração
da arte com a técnica que permitiu este 'intercâmbio' de "artes" e nacionalidades.
O seu movimento Bauhaus e Modernismo no design e na arquitectura, foi a primeira escola de Design no mundo.
O seu movimento Bauhaus e Modernismo no design e na arquitectura, foi a primeira escola de Design no mundo.
Tel Aviv
O
Bauhaus teve um impacto fundamental
no desenvolvimento não só da arquitectura do ocidente europeu, como, também, em
Israel, nos USA e no Brasil onde se exilaram muitos dos que vinham fugidos do
regime nazi.
***
(*)
A Escola Arquitectónica Bauhaus foi fundada, em 25 de Abril de 1919, por
Walter Gropius. Escola de design,
artes plásticas e arquitectura de vanguarda iniciada na Alemanha, em Weimar. A República de Weimar era uma democracia
representativa semi-presidencial, criada depois do fim da Iª Guerra.
(**) Shai J. Agnon (1888-1970) viveu em Israel
de 1909 a 1913 e participou na fundação de Telavive. O livro “Tmol Shilshom”
sai em Israel, em 1946. Leio-o na tradução francesa, “Le chien Balak”, Éditions
Albin Michel, 1971.
"O cão Balak" é a segunda personagem principal do livro. “Simboliza
o judeu perseguido mas igualmente o homem em geral, na sua procura de verdade de
perfeição e de absoluto.” Em inglês, o título é “Only Yesterday”.
(***)
Kéren Kayémeth LeIsrael (K.K.L.) é o
Fundo Nacional Judaico, fundado em 1902, que provinha das colectas para auxiliar
os refugiados, comprando terrenos na Palestina para a criação de um Estado.
Deve ser uma cidade bonita, os judeos são muito inteligentes e eficazes. Em apenas 100 anos passou de 60 famílias a mais de 400 000 habitantes. As desgraças quando não nos matam fazem-nos mais fortes sem dúvida. Que passes uma semana quentinha e que tudo vá saindo bem por aí. Beijinhos
ResponderEliminarMuito interessante, todo o post.
ResponderEliminarGosto do estilo das casas. Muito bonitas, apesar das linhas aparentemente simples.
Um beijinho grande e uma boa semana:)
Interessantíssimo! Bom dia!
ResponderEliminarTenho visto muitos vídeos sobre Televive e a cidade de uma maneira geral, muito me encanta. As pessoas vivem muito bem, em plena harmonia, independentemente do modo, opção e estilo de vida. Gostaria imenso de conhecer, especialmente após, ler este teu post.
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