“Minha terra”, de
Amílcar Barca
De vez em quando, oiço voz fina, canora,
Que dos recantos do
meu quintal
P'los ares erra.
É voz que canta? É
voz que chora?
Voz de criança, ou de
jogral?...
Em todo o caso,
é voz que fala:
“Minha terra, minha terra… minha terra…»
E eu me embeveço ao escutá-la:
“Minha Terra, mi…»
"Tu, ó escurinho"
Tu que nasceste assim dotado, ó passarinho,
P'ra articular o som da voz,
Tu, ó escurinho,
Que, como nós, tens esta bossa
(Entendo bem quando tal som pelo ar flutua)
Tu tens razão: a terra é tua!
A terra é tua, a terra é minha…a terra é nossa.
Eu não te invejo, ó ave parda,
Porque tu nada me arrebatas do que é meu.
A própria terra é que se entrega e nunca tarda,
Em sacrifícios pelos seus filhos,
Que és tu, sou eu
E somos todos viventes.
De mim, não há, pois empecilhos.
Pelo contrário, se mo consentes,
Ecoarei a tua voz, sempre que possa:
«Minha terra, minha terra...»
«Minha terra, minha terra...»
Porque a verdade nisto se encerra,
Toda inteirinha:
A terra é minha!
«A terra é minha, a terra é tua, a terra é nossa.»
Vai, passarinho,
Comer,
cantar, voar, pousar, fazer teu ninho...
É
o direito, o dever, que a vida acossa.
Proclama
pois, ao sol e à lua:
«A
terra é tua, a terra é minha, a terra é nossa.»
ilustrações de José Pádua
Poema de
Amílcar Barca (in “Antologias de Poesia da Casa dos Estudantes do Império 1951-1963”,
I Volume, “Angola e São Tomé e Príncipe”, Edição ACEI, com ilustrações de José Pádua, Henrique Abranches e outros, 1995, pg.45-46.)
Lindo poema e gostei das imagens escolhidas:)
ResponderEliminarUm beijinho e uma boa semana:)
Tenho me referido à Casa dos Estudantes do Império
ResponderEliminara respeito de Alda Lara que muito admiro.
Não conhecia este poeta...
Que bom este perfume tropical...
Beijinhos
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