domingo, 8 de julho de 2018

Poema Terra Minha, de Amílcar Barca



“Minha terra”, de Amílcar Barca

De vez em quando, oiço voz fina, canora,
Que dos recantos do meu quintal
P'los ares erra.
É voz que canta? É voz que chora?
Voz de criança, ou de jogral?...
Em todo o caso, é voz que fala:
“Minha terra, minha terra… minha terra…»
E eu me embeveço ao escutá-la:
“Minha Terra, mi…»
"Tu, ó escurinho"

Tu que nasceste assim dotado, ó passarinho,
P'ra articular o som da voz,
Tu, ó escurinho,
Que, como nós, tens esta bossa
(Entendo bem quando tal som pelo ar flutua)
Tu tens razão: a terra é tua!
A terra é tua, a  terra é minha…a terra é nossa.

Eu não te invejo, ó ave parda,
Porque tu nada me arrebatas do que é meu.
A própria terra é que se entrega e nunca tarda,
Em sacrifícios pelos seus filhos,
Que és tu, sou eu
E somos todos viventes.
De mim, não há, pois empecilhos.
Pelo contrário, se mo consentes,
Ecoarei a tua voz, sempre que possa:
«Minha terra, minha terra...»
Porque a verdade nisto se encerra,
Toda inteirinha:
A terra é minha!
«A terra é minha, a terra é tua, a terra é nossa.»
Vai, passarinho,
Comer, cantar, voar, pousar, fazer teu ninho...
É o direito, o dever, que a vida acossa.
Proclama pois, ao sol e à lua:
«A terra é tua, a terra é minha, a terra é nossa.»

ilustrações de José Pádua

Poema de Amílcar Barca (in “Antologias de Poesia da Casa dos Estudantes do Império 1951-1963”, I Volume, “Angola e São Tomé e Príncipe”, Edição ACEI, com ilustrações de José Pádua, Henrique Abranches e outros, 1995, pg.45-46.)

2 comentários:

  1. Lindo poema e gostei das imagens escolhidas:)

    Um beijinho e uma boa semana:)

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  2. Tenho me referido à Casa dos Estudantes do Império
    a respeito de Alda Lara que muito admiro.
    Não conhecia este poeta...
    Que bom este perfume tropical...
    Beijinhos
    ~~~~

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