Uma
cantora de música judaica sefardita, saberão alguns. Sim, foi uma cantora,
apreciada, de música judaico-espanhola, cantando em ladino, a língua dos judeus sefarditas de certas zonas: um misto de espanhol, hebraico, grego.
Nasceu
em 1942, em Boston, numa família judaica de origem askhenazi e morreu em 2008 com 65 anos. Era, além de
cantora, uma guitarrista de classe.
Começou
cedo a cantar e, mais crescida, tocava nos casamentos ou festas religiosas das
famílias amigas.
Estudou
na Universidade em Boston, e nesses anos 60, virou-se para a música de jazz, e
os seus primeiros trabalhos estavam ligados à música predominante: do folk, aos blues e ao rock.
Depois
de uma estadia no Hawai, decide instalar-se em San Francisco distinguindo-se logo
no circuito dos coffeehouse da Bay Area, e de dia trabalhava numa Escola
Elementar.
Joan Baez
Nos
anos 60 e 70 tocou em espectáculos com Joan Baez e Tim Hardin, e participou do
grupo III Winds (anteriormente Prophet) com Ken Frankel e outros.
Sempre com o mesmo profissionalismo na guitarra, com a sua voz clara e suave, era
porém uma cantora despretensiosa.
Depois
de uma estadia de uns anos no Hawai instala-se em San Francisco distinguindo-se logo no
circuito das "coffee-house" da Bay Area,
e, de dia, trabalhava numa Escola Elementar.
Mais
tarde, interessou-se pelas comunidades judaicas do Norte da Califórnia e
começou a entrevistar os mais velhos, procurando coligir as canções populares de
outros tempos, folclore trazido pelos
judeus sefaradim expulsos da
Península Ibérica, em 1492, e cantadas em ladino.
Nessa
procura, encontra canções através de portugueses de Macau e de Timor Leste e aprende uma
canção sobre a Paz. Em 1995, vem cantá-la a Lisboa, na homenagem a Aristides
Sousa Mendes – o diplomata português que, em Bordeaux, durante a ocupação das
tropas nazis, salvou milhares de judeus, concedendo-lhes vistos para fugirem de França.
Para
facilitar o entendimento do texto pelo público de língua inglesa, traduzia as letras. E
falava das pessoas que lhe tinham transmitido esse material e essas histórias de vida. Contava dessa cultura antiga vinda da Espanha medieval e conservada miraculosamente.
Viajou pela Europa, quis saber mais coisas sobre os cripto- judeus, das comunidades que viveram escondidas, na sua duplicidade de religião. Cristãos-novos por obrigação e judeus em casa nas tradições nunca esquecidas. Veio a Portugal, foi a França, Espanha...
Viajou pela Europa, quis saber mais coisas sobre os cripto- judeus, das comunidades que viveram escondidas, na sua duplicidade de religião. Cristãos-novos por obrigação e judeus em casa nas tradições nunca esquecidas. Veio a Portugal, foi a França, Espanha...
Museu de Arte judaica, em San Francisco
Apresentava-se
em concertos, girando por lugares variados, sempre com uma vivacidade enorme, a alegria e
um sorriso.
Gravou alguns CDs, com canções lindas, que por vezes lembram as cantigas de amigo ou de amor do nosso lirismo trovadoresco.
A sua preocupação, além de conservar estas canções que se teriam perdido sem o seu trabalho constante, foi também a vida e os costumes desses judeus da Península Ibérica, Portugueses e Espanhóis.
Gravou alguns CDs, com canções lindas, que por vezes lembram as cantigas de amigo ou de amor do nosso lirismo trovadoresco.
A sua preocupação, além de conservar estas canções que se teriam perdido sem o seu trabalho constante, foi também a vida e os costumes desses judeus da Península Ibérica, Portugueses e Espanhóis.
Um dia, de
repente, cancelou todos os concertos. Sofria de um cancro no seio e "aguentara" durante 20 anos: trabalhara e cantara até ao fim.
Morre em Março de 2008, em Boston.
Dizia: "Não tenho tempo para estar doente! Há tanta coisa a fazer!"
Os amigos publicaram uma notícia da sua morte no New York Times, falando da pessoa que ela era.
Dizia: "Não tenho tempo para estar doente! Há tanta coisa a fazer!"
Os amigos publicaram uma notícia da sua morte no New York Times, falando da pessoa que ela era.
***
Por curiosidade, deixo uma explicação do que era - ou é - o "ladino".
Era a língua dos judeus, conhecida também como judeo-espanhol (el djudezmo) no tempos medievais até à expulsão.
Era a língua dos judeus, conhecida também como judeo-espanhol (el djudezmo) no tempos medievais até à expulsão.
Originária da Península
Ibérica - quando nela tinham existido grandes comunidades judaicas nas cidades de Portugal e
Espanha- era usada pelos judeus.
Era uma mistura de palavras hebraicas, do dia-a-dia, mais as da língua da região onde viviam- que tanto podia ser Ccstelhano, como português, árabe ou catalão.
Era uma mistura de palavras hebraicas, do dia-a-dia, mais as da língua da região onde viviam- que tanto podia ser Ccstelhano, como português, árabe ou catalão.
Jovem mulher sefardita
Supõe-se
que será ainda falada nas comunidades sefarditas em Israel, nos Balcãs, Sérvia,
Macedónia, Grécia, Salónica, Bulgária e Turquia. Também no norte de Marrocos. Assim começou a "diáspora" dos Judeus.
Expulsos
da Espanha em 1942 - e de Portugal um pouco mais tarde, partiram pela Europa
fora, por Marrocos e muitos foram recebidos pelo Império Otomano- o de Ataturk- que os tratou
com muito respeito.
Conheci
em Telavive uma senhora originária dessa Turquia “sefarad” com quem muito conversei e se tornou uma amiga. Em francês, geralmente, mas ela também falava em
ladino e eu entendia-a!
Essa senhora, a minha amiga Victoria, ainda é viva e vai fazer 99 anos. Nesta fotografia, estamos as duas num Café da Dizengoff str, em 2008.
Para quem quiser saber mais.
Ouçam Judy Frankel...Para quem quiser saber mais.
Não conhecia e gostei muito da música.
ResponderEliminarA sua amiga é uma resistente! Fantástico, com 99 anos. Na foto, então teria 88. Estava óptima! Creio que já tinha aqui passado, essa foto.
Gostei do post!
Beijinhos e bom feriado:)
Uma Boa Páscoa
ResponderEliminare um beijinho
Gábi
Texto muito bom!
ResponderEliminarMe interesso pelo tema dos criptojudeus de Portugal. Infelizmente não existem muitos registros do Brasil.
Obrigado!