domingo, 14 de abril de 2019

Judy Frankel (1943-2008) Quem era Judy Frankel?


Uma cantora de música judaica sefardita, saberão alguns. Sim, foi uma cantora, apreciada, de música judaico-espanhola, cantando em ladino, a língua dos judeus sefarditas de certas zonas: um  misto de espanhol, hebraico, grego.
Nasceu em 1942, em Boston, numa família judaica de origem askhenazi e morreu em 2008 com 65 anos. Era, além de cantora, uma guitarrista de classe.
Começou cedo a cantar e, mais crescida, tocava nos casamentos ou festas religiosas das famílias amigas.
Estudou na Universidade em Boston, e nesses anos 60, virou-se para a música de jazz, e os seus primeiros trabalhos estavam ligados à música predominante: do folk, aos blues e ao rock
Depois de uma estadia no Hawai, decide instalar-se em San Francisco distinguindo-se logo no circuito dos coffeehouse da Bay Area, e de dia trabalhava numa Escola Elementar.
Joan Baez 

Nos anos 60 e 70 tocou em espectáculos com Joan Baez e Tim Hardin, e participou do grupo III Winds (anteriormente Prophet) com Ken Frankel e outros. Sempre com o mesmo profissionalismo na guitarra, com a sua voz clara e suave, era porém uma cantora despretensiosa.
 Tim Hardin

Depois de uma estadia de uns anos no Hawai instala-se em San Francisco distinguindo-se logo no circuito das "coffee-house" da Bay Area, e, de dia, trabalhava numa Escola Elementar.
Mais tarde, interessou-se pelas comunidades judaicas do Norte da Califórnia e começou a entrevistar os mais velhos, procurando coligir as canções populares de outros tempos, folclore trazido pelos judeus sefaradim expulsos da Península Ibérica, em 1492, e cantadas em ladino.

Nessa procura, encontra canções através de portugueses de Macau e de Timor Leste e aprende uma canção sobre a Paz. Em 1995, vem cantá-la a Lisboa, na homenagem a Aristides Sousa Mendes – o diplomata português que, em Bordeaux, durante a ocupação das tropas nazis, salvou milhares de judeus, concedendo-lhes vistos para fugirem de França.
Para facilitar o entendimento do texto pelo público de língua inglesa, traduzia as letras. E falava das pessoas que lhe tinham transmitido esse material e essas histórias de vida. Contava dessa cultura antiga vinda da Espanha medieval e conservada miraculosamente.
Viajou pela Europa, quis saber mais coisas sobre os cripto- judeus, das comunidades que viveram escondidas, na sua duplicidade de religião. Cristãos-novos por obrigação e judeus  em casa nas tradições nunca esquecidas. Veio a Portugal, foi a França, Espanha...
Museu de Arte judaica, em San Francisco

Apresentava-se em concertos, girando por lugares variados, sempre com uma vivacidade enorme, a alegria e um sorriso. 
Gravou alguns CDs, com canções lindas, que por vezes lembram as cantigas de amigo ou de amor do nosso lirismo trovadoresco. 
A sua preocupação, além de conservar estas canções que se teriam perdido sem o seu trabalho constante, foi também a vida e os costumes desses judeus da Península Ibérica, Portugueses e Espanhóis.


Um dia, de repente, cancelou todos os concertos. Sofria de um cancro no seio e  "aguentara" durante 20 anos: trabalhara e cantara até ao fim. Morre em Março de 2008, em Boston. 
Dizia: "Não tenho tempo para estar doente! Há tanta coisa a fazer!" 
Os amigos publicaram uma notícia da sua morte no New York Times, falando da pessoa que ela era.
https://archive.nytimes.com/query.nytimes.com/gst/fullpage-9F04E3D6133AF935A35757C0A96E9C8B63.html
 ***
Por curiosidade, deixo uma explicação do que era - ou é - o "ladino". 
Era a língua dos judeus, conhecida também como judeo-espanhol (el djudezmo) no tempos medievais até à expulsão. 
Salónica

Originária da Península Ibérica - quando nela tinham existido grandes comunidades judaicas nas cidades de Portugal e Espanha-  era usada pelos judeus. 
Era uma mistura de palavras hebraicas, do dia-a-dia, mais as da língua da região onde viviam- que tanto podia ser Ccstelhano, como português, árabe ou catalão.
Jovem mulher sefardita

Supõe-se que será ainda falada nas comunidades sefarditas em Israel, nos Balcãs, Sérvia, Macedónia, Grécia, Salónica, Bulgária e Turquia. Também no norte de Marrocos. Assim começou a "diáspora" dos Judeus.

Expulsos da Espanha em 1942 - e de Portugal um pouco mais tarde, partiram pela Europa fora, por Marrocos e muitos foram recebidos pelo Império Otomano- o de Ataturk- que os tratou com muito respeito. 

Conheci em Telavive uma senhora originária dessa Turquia “sefarad” com quem muito conversei e se tornou uma amiga. Em francês, geralmente, mas ela também falava em ladino e eu entendia-a!
 
 Essa senhora, a minha amiga Victoria, ainda é viva e vai fazer 99 anos. Nesta fotografia, estamos as duas num Café da Dizengoff str, em 2008.
Para quem quiser saber mais.


Ouçam Judy Frankel...

3 comentários:

  1. Não conhecia e gostei muito da música.
    A sua amiga é uma resistente! Fantástico, com 99 anos. Na foto, então teria 88. Estava óptima! Creio que já tinha aqui passado, essa foto.

    Gostei do post!
    Beijinhos e bom feriado:)

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  2. Texto muito bom!
    Me interesso pelo tema dos criptojudeus de Portugal. Infelizmente não existem muitos registros do Brasil.
    Obrigado!

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