Um
dia recordaremos este parêntesis nas nossas vidas “normais” que foram agitadas
pela tempestade que nos caiu em cima e que a muitos “deitou abaixo. E tantas novidades trouxe, tantas incompreensões, tantos medos.
Todas as mudanças que aconteceram de há cerca de dois meses para cá, levaram-nos a aceitar ver imagens estranhas.
Não
falo só das mortes, falo de uma liberdade roubada, de um viver confinados sem
saber até quando nem como tudo terminará.
Sentimo-lo
necessário sem dúvida para nos proteger da pandemia mas perturbador devo dizer.
Porque tudo o que acontece é "inexplicável" (por enquanto) e perturbador - com acontecimentos estranhíssimos que só esta pandemia pode justificar.
Ruas desertas, sem gentes e sem carros, sem cães mas com a invasão de outros animais que aparecem das florestas perto, desorientados também como os homens, perdidos na cidade que parece abandonada, à procura de comida.
Bandos de veados, bambis, javalis, macacos invadem as cidades - do Japão, da Ásia mas igualmente em lugares mais perto de nós.
Devemos achar normal? Não dar por nada como se nada existisse de estrambótico lá fora e cá dentro? A falarmos uns com os outros de longe?Não podemos.
Porque tudo o que acontece é "inexplicável" (por enquanto) e perturbador - com acontecimentos estranhíssimos que só esta pandemia pode justificar.
Ruas desertas, sem gentes e sem carros, sem cães mas com a invasão de outros animais que aparecem das florestas perto, desorientados também como os homens, perdidos na cidade que parece abandonada, à procura de comida.
Bandos de veados, bambis, javalis, macacos invadem as cidades - do Japão, da Ásia mas igualmente em lugares mais perto de nós.
Devemos achar normal? Não dar por nada como se nada existisse de estrambótico lá fora e cá dentro? A falarmos uns com os outros de longe?Não podemos.
Talvez
seja mais angustiante o deixar passar fingindo que não se dá por nada, que as
medidas estão certas, que é só aguardar uns tempos.
A sentir sempre uma bola no estômago a fazer-nos pensar: quando é que isto acaba?
A sentir sempre uma bola no estômago a fazer-nos pensar: quando é que isto acaba?
Tive
a ingenuidade de pensar quando veio a “ordem” de confinamento: “bem, vou aproveitar esta pausa de vida para
ler um pouco mais, arrumar as estantes com os livros deitados uns em cima dos
outros, alguns a precisarem de cola e de um pouco de amor”.
E
até sonhei fazer mais coisas: “arrumar, na casa, o que está há anos por arrumar, as gavetas
principalmente, mas também armários, e deitar fora todas aquelas coisas inúteis
de que nunca mais me servirei, para libertar espaços..."
Tanta
estupidez e ingenuidade minhas! Ainda arranjei uma
vez as gavetas do meu quarto, mas muito pouco duraram arrumadas, com o
frenesim em que vivo hoje. Nada melhorou em casa e as costas é que ficaram mal.
Faço tudo hoje em grande agitação, quase correndo: faço isto, aquilo, tudo inútil para fingir que faço, a adiar o momento em que finalmente me vou poder sentar confortavelmente a ler um livro.
Mas logo me distraio a "falar" com os meus amigos "bichos humanos". Têm sempre opiniões e queixam-se muito de solidão e de aborrecimento. Respeitam as distâncias, fazem ginástica, conversam a distância, mas aborrecem-se! O mais mimoso é o meu Ouricinho Dan que se queixa de solidão e não aceita desculpas!
Faço tudo hoje em grande agitação, quase correndo: faço isto, aquilo, tudo inútil para fingir que faço, a adiar o momento em que finalmente me vou poder sentar confortavelmente a ler um livro.
Vou escolher um livro, olho em volta e vejo as pilhas de coisas: máquinas de roupa para lavar, roupa
para estender, roupa para passar, num ritmo frenético.
E lá vou outra vez - agora a mil à hora, buscar a tábua de passar, o ferro e, em vez de me sentar no sofá com o tal livro, fico ali em pé a passar a ferro.
E lá vou outra vez - agora a mil à hora, buscar a tábua de passar, o ferro e, em vez de me sentar no sofá com o tal livro, fico ali em pé a passar a ferro.
Penso
com muitas saudades na Svitlana, minha ajudante nestas coisas todas, que me
sabe aliviar com um sorriso ou uma gargalhada e nunca se queixa deste trabalho que
tanto custa.
Confinada
ela, confinada eu, confinados todos, foi um drama para organizar a nossa vida, ao nível mais essencial. De facto,
o essencial passou a ser “comer”, variar o que cozinho, lembrar-me de pôr
vegetais - e comer fruta – e já agora também comer umas leguminosas – as tais
proteínas vegetais ou lá como lhes chamam.
Ao
fim de pouco tempo percebi que não há variação possível e que já não me
apetecia comer nem carne, nem peixe (poucas vezes tentei), só me sabem ainda bem
os ovos cozidos,
Acabei
por me fixar num jantar: uma taça de leite quente com muesli, corn flakes e frutas
secas. Acabaram as idas à pastelaria Bijou em Cascais.
Não
posso esquecer a alternativa que é umas fatias de pão alentejano com queijo (como
boa alentejana que sou).
Tenho de inventar coisas para me adoçarem a quarentena. E escolho outros "petiscos". E, então, recordo a velha amiga Adélia, irmã da minha querida Florinda - a da infância e a da minha casa de São João, já com ela a tratar dos meus filhos.
A Florinda que não quis ir connosco para Roma, preferiu ficar em Alegrete, na sua terra, porque não podia deixar cá as irmãs e os sobrinhos. E a sobrinha preferida, a Maria Helena, que viveu e estudou também em minha casa alguns anos.
Tenho de inventar coisas para me adoçarem a quarentena. E escolho outros "petiscos". E, então, recordo a velha amiga Adélia, irmã da minha querida Florinda - a da infância e a da minha casa de São João, já com ela a tratar dos meus filhos.
A Florinda que não quis ir connosco para Roma, preferiu ficar em Alegrete, na sua terra, porque não podia deixar cá as irmãs e os sobrinhos. E a sobrinha preferida, a Maria Helena, que viveu e estudou também em minha casa alguns anos.
Pois
a "minha" Adélia explicava-me que nada melhor havia no mundo do que uma chávena
de café acompanhada com pão com queijo.
Claro que não tem nada que ver com o capuccino no Caffè degli Specchi, com um "strudel".
De preferência, escolho pão alentejano e um queijinho alentejano que por aqui aparece, de Nisa ou Tolosa. Aqui por São João e arredores, vivem muitos alentejanos o que é bom!
Claro que não tem nada que ver com o capuccino no Caffè degli Specchi, com um "strudel".
De preferência, escolho pão alentejano e um queijinho alentejano que por aqui aparece, de Nisa ou Tolosa. Aqui por São João e arredores, vivem muitos alentejanos o que é bom!
Estou a ficar como a Adélia. Comer? Ah, sim, mas só se for uma fatia de pão com queijo e um café!
Não
me parece que a situação volte alguma vez a ser o que foi. Talvez acabem até os
queijinhos alentejanos.
Hoje, quando a noite chegar, vou tentar seguir um conselho da Gui: jogar um jogo de sociedade: o "Backgamon".
Tenho um lindo estojo com entalhes de nácar que creio trouxe do Cairo, mas sei que a Gui me trouxe outro de Baku. O problema maior vai ser arranjar um parceiro: o Manuel não gosta de se divertir com jogos.
O mais certo é voltarmos ao filme da Netflix, uma boa série inglesa chamada "VEXED". Com humor (inglês), acção, bons actores, boas histórias!
Como vai ser?, insisto. Não sei o que responder, recuso-me a pensar. Voltaremos às festas, aos natais de antes? Sei que vai dar uma volta completa aos nossos hábitos, aos encontros (distantes), aos contactos, às amizades.
Tenho um lindo estojo com entalhes de nácar que creio trouxe do Cairo, mas sei que a Gui me trouxe outro de Baku. O problema maior vai ser arranjar um parceiro: o Manuel não gosta de se divertir com jogos.
O mais certo é voltarmos ao filme da Netflix, uma boa série inglesa chamada "VEXED". Com humor (inglês), acção, bons actores, boas histórias!
Como vai ser?, insisto. Não sei o que responder, recuso-me a pensar. Voltaremos às festas, aos natais de antes? Sei que vai dar uma volta completa aos nossos hábitos, aos encontros (distantes), aos contactos, às amizades.
Se
ao menos a volta fosse uma “volta por cima”! E finalmente pudesse ler os meus livro à vontade, ver o que se passa na rua, ver um sol a brilhar...
Estamos as duas na mesma! de certa forma é como se tivéssemos a vida em suspenso. Não me consigo sentar tranquilamente a ler, um bocadinho. Ou há roupa para lavar, ou passar, ou almoço para fazer, ou sopa para fazer,ou aspirar ou compras para arrumar, ou o lixo para levar ou...ou...ou...
ResponderEliminarMas a minha vida está assim há uns anos. Por isso queria tanto reformar-me, para ver se tenho tempo para mim. Agora estou em casa, mas a escola continua a consumir-nos muitas horas...
Enfim, é a vida!
Como vai ser nos próximos meses, ou anos? Quem sabe. Vamos esperar para ver!
Já comprei o livro do Herman Melville. Comprei um com os contos, onde estão os contos que referiu. Também comprei um de poemas.
Um beijinho e ânimo, que os amiguinhos estão aí para animar!!
Eu pensei que iria ler todos ou muitos dos livros que tenho na lista de espera. Acho que muitas vezes me sinto angustiada ou ansiosa demais para ficar a ler. Estou a torcer para que arranjem depressa um remédio que seja eficaz em todos os casos e sem efeitos secundários.
ResponderEliminarum abraço e esperemos que vá melhorar
Tive de me rir, és um caso.
ResponderEliminarQue tenhas um bom dia de primavera em todo o seu esplendor. Aqui já deixam passear os velhos, de 1o a 12 h. Eu gosto de ir mais cedo, não aguento o sol a essas horas, certamente irei antes, á hora dos desportistas... Espero que nenhum polícia se meta na minha vida, pois não perjudico a ninguém. Beijinhos
Sempre apreciei a liturgia do carnaval
ResponderEliminarmas agora com todos mascarados
máscaras em cima de máscaras
detesto ir à rua
mas vou
clandestino
à hora dos pássaros
Bj