sábado, 7 de janeiro de 2012

O Ratinho e Marilyn Monroe...

O Ratinho estava pensativo outra vez.


- O que tens, Ratinho?
- Achas que as pessoas famosas podem ser infelizes?, perguntou.


O ouricinho estava encostado a ele, a ouvir, como sempre.

O Ratinho Poeta stava a olhar para a caixa onde guardo  os meus sapatos  que estão sempre desarrumados. Essa caixa tem  uma tampa com fotografias da Marilyn Monroe...


- Era tão bonita,disse, numa voz suave.
- Quem?

A princípio não estava certa a quem o ratinho se referia.
- Ela... A Marilyn...

- Ah! A Marilyn. Sim, acho que era frágil, sensível...
- Frágil?, perguntou, surpreendido. Ela?
- Penso que sim. As pessoas famosas podem ser frágeis, sofrer como as outras...
- Por quê?
- Talvez porque estão mais expostas...

O ouricinho meteu-se na conversa, agitando a cabeça.

- Olha o Truman Capote...
- O quê?!, espantei-me.
- O escritor. Tu conheces.
- Eu sei. E o que foi que ele fez?


Perguntei só pela curiosidade de o ouvir responder.
- Foi infeliz. Era frágil também...
- Ah!
- Eles até eram amigos... - disse o ratinho Poeta.

Reflectiu e acrescentou:

- Sim, tens razão, podem estar mais expostos...
- Claro que sim, disse o ouricinho Danny. É a fama, a popularidade, não é?
Virava-se para mim, para eu confirmar. O ratinho  voltara a olhar para a caixa. Parecia fascinado com aquela imagem.

- Sim. É o olhar dos outros, impúdico.  A câmara que filma, a máquina fotográfica que entra pela vida deles dentro...

- Pode ser...Achas?

O ratinho não parecia muito convencido. Eu insisti:

- Esse olhar, esse espiolhar da vida não os deixa respirar à vontade.
- Mas ela também sofreu com isso? Parecia tão forte, tão alegre. Tão cheia de vida!


O ouricinho interrompeu-o:
- Sabes lá o que ela sentia, por detrás dessa alegria! Até podia fingir... Era uma actriz, não era?

Gostava de os ouvir falar.
- Que pena... E tinha uma voz tão bonita!

O ratinho estava agora sentado na tampa, para ver com mais atenção.
- Tem um olhar triste...

- Matou-se, não foi?, acrescentou o ouricinho, inseguro.
E encostou-se mais a ele.
- Oh! –disse o ratinho Poeta- esse é um mistério ainda a desvendar! Não se sabe tudo...

E continuou, com ar preocupado:
-Pode-se ter suicidado... Pode ter sido assassinada...

Tinham razão os dois. Mas onde teriam ido descobrir  tantas coisas? Surpreendiam-me e enterneciam-me aqueles dois!

- Como é que sabem?, perguntei, a rir-me.
- Li umas coisas na internet... Ouvi também na televisão...
Eu tinha calculado. Agora tinham a mania da internet e estavam sempre a discutir por causa de um computador micro com malinha que o ouricinho tinha arranjado...


- Tenho pena dela, sabes?, repetiu o Ratinho.
- Eu cá também, disse o ouricinho, compungido.
- Bela e famosa... Julgamos que isso chega para dar a felicidade, não é?

E o Ratinho tinha o ar de um filósofo que muito pensara já  no assunto. 

- Claro, ratinho, acrescentei, não chega...


Franziu os bigodes, sério:
- Pois é... Eu sei. E a solidão?
- É verdade! E a solidão?, perguntou o ouricinho. Eu sei o que isso é! vivi sozinho...
- Nós sabemos! Mas agora não estás sozinho!, disse eu. Tens amigos.

O ratinho ainda acrescentou, deixando-me espantada: 
- Quando se está sozinho, para que servem as outras coisas?...


Como é que ele pensava assim?


- Mas os amigos sim, esses contam!, terminou o ratinho.

O ouricinho que estava quase deitado na tampa da caixa, disse ainda mais uma vez:

- Que pena, que pena...


Suspirou.

- Era tão bonita, não era? 


Fiquei a olhar para eles, nostálgica e ia pensando:


"Tão bonita que ela era... Por que não foi feliz?"

7 comentários:

  1. Ó Maria João
    fartei-me de rir com estes filósofos, não com o que eles disseram, que é certo ( a exposição mediática e o querer ser perfeito, como a princesa Diana, não traz felicidade, e fragiliza), mas com as posições que eles adoptam para reflectir e conversar.

    A fotografia nº9, de perna cruzada, a nº12 de pernas para o ar, mas sobretudo a nº10, com o "micro computador com malinha"...Bem...fico extasiada!
    Adoro! Adoro! Estes simpáticos! Anda por aí outro amiguito...
    Posso roubar aqui para o blogue a foto do micro computador!POSSO? POSSO?...

    Beijinhos

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  2. Ó, Isabel! Ainda bem que gostaste. Não estava muito inspirada...mas eles "salvam" sempre a situação... Podes tirar todas as fotos que quiseres!
    Bom domingo e beijinhos

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  3. Há pessoas que tendo vidas complicadíssimas têm sempre uma atitude positiva, e outras que tendo quase tudo a favor não conseguem ser felizes. É um mistério, uma forma de estar na vida. Marilyn teve uma infância dolorosa, mas isso não justifica tudo, talvez o facto de ser tão sexy sempre atraísse a homens incapazes de amá-la, também não se sabe, ou talvez fosse ela que era incapaz de amar e tirar partido à vida.
    Às vezes nem as próprias pessoas se conhecem, quanto mais os outros...
    Tem cuidado com o ouricinho, que tem saídas muito perspicazes, e como viveu sózinho, teve muito tempo para pensar!
    Beijos

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  4. Eles "salvam" a situação, porque a Maria João os deixa.
    Os seus textos são sempre inspirados.

    OBRIGADA, vou já roubá-la!
    Bom Domingo também. Está aqui mais um lindo dia se sol.

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  5. O ouricinho e o ratinho são mais filósofos que muitos que escrevem livros! O que eu me divirto com eles. Quanto às pessoas sensíveis, acho que sofrem sempre (de)mais...
    Beijinhos

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  6. As pessoas sensíveis são...sensíveis, Luísa, sofrem... Mas as que não são sensíveis? essas têm pele de rinoceronte...não sofrem. Mas nós não queremos ser rinocerontes...
    AS pessoas de sucesso -que aparentemente teriam tudo- sofrem, tens razão Maria. E vá-se lá saber por quê? estas filosofias dos meus amigos são "caseiras", mas pensadas a sério! Ou não fossem os doois filósofos! tens razão, o ouricinho está sempre a ouvir...e a pensar!Foi a solidão, coitadinho!
    beijos

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  7. Gosto muito destes posts com o ratinho e com o ouricinho e este está muito especial pelo tema e pela ternura (achei o máximo o micro computador que o ouricinho arranjou)
    um beijinho
    Gábi

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