sexta-feira, 13 de abril de 2012

Degas, Monet, Renoir et les autres....

Auguste Renoir, Mme. Monet et son fils (1874)

A propósito da Exposição no Musée d' Orsay sobre Degas ( e de outra ainda recente sobre Monet) veio-me à ideia o que estes pintores - hoje tão admirados!-  sofreram no seu tempo: incompreensão, insultos, desprezo...

Muito tempo passou até Degas ser “Degas”...

 Leio no livro do filho de Auguste Renoir (1), Jean Renoir, o que foi o resultado das primeiras tentativas de apresentação dos que  conhecemos como “impressionistas".
Claude Monet: "Impression: soleil levant "(1872)



Sucederam-se críticas ferozes, vulgares em que ridicularizavam os chamados "intransigeants" - intransigentes,  como eles se sentiam e se chamavam a si próprios, na sua revolução contra o academismo em que a pintura caíra.

Eles, quem? 

Alfred Sisley, Matin de Brouillard, 1872
Alfred Sisley, La leçon (1974)



"Bem, Renoir (1841-1919), claro", diz Jean Renoir. 
Pierre-Auguste Renoir, paisagem com vento (1872)




E Claude Monet (1840-1926), o grande Camille Pissarro (1830-1903) - considerado por muitos deles como o  Mestre-, Sisley (1839-1899), Paul Cézanne (1839-1900), Berthe Morisot (1841-1895) e Edgar Degas (1834-1917).

Expõem, primeiro, na Galeria de Durand- Ruel, na rue des Peletiers. 

Desastre total...

Acusam-nos de não ser mais do que um bando de loucos que pegaram nas tintas e as deitaram para cima das telas, esborrataram tudo  e...  assinaram!

Depois tentam leiloar as obras na sala Drout. Fracasso total, não vendem nem um quadro e ainda são insultados...

No tal leilão, um visitante insulta a pintora Berthe Morisot chamando-lhe "gourgandine" (mulher de má vida) e Pissarro dá-lhe um murro na cara. 


Berthe Morisot, Dans la salle à manger
Berthe Morisot, l'enfant au tablier rouge, 1972


Berthe Morisot, pintada por Manet, em 1872

Indigna-se Renoir: "Ela? Uma verdadeira Senhora!"




Grande reboliço. Vem a polícia.

A crítica é  dura. Ninguém compreende a “novidade”, confundindo-a com loucura, desejo de espantar, ambição. 


De facto, a pintura "consagrada" e estagnada do momento (do post-Delacroix) é a única que se vende e é apreciada.

A velha querela dos antigos e modernos.


Diz um dos críticos:

A Rue des Peletiers tem azar: depois do incêndio da Opéra, agora outro desastre. O passante ingénuo e inofensivo entra e depara-se-lhe um espectáculo cruel: cinco ou seis alienados, entre os quais uma mulher, um grupo de infelizes dominados pela loucura da ambição, reuniram-se ali para mostrar as suas obras (...)"


Mais adiante: " Muita gente desata a rir diante daquilo.   Eu sinto o coração apertado." (Pierre Wolf,  em Le Figaro).

Continua (...) "Espectáculo da vaidade humana levada à demência loucura galopante. (...) Como fazer compreender a M. Pissarro que as árvores não são violeta, que o céu não é cor de manteiga derretida, que não há paisagem nenhuma onde se veja o que ele pinta. (...)" 

Mais: "Ou vão dizer a M. Degas que há na Arte certas  qualidades que têm nome: existe o desenho, a cor, a execução e a vontade –ele vai rir-se na vossa cara, (...)" 

"Ou explicar a M. Renoir que um torso de mulher não é um amontoado de carnes em decomposição com manchas verdes e violáceas  que denotam o estado de putrefacção do cadáver...”
Auguste Renoir, menina a pentear-se
Auguste Renoir, retrato do filho, Jean

Os intransigentes não transigem e, pouco tempo depois, decidem organizar outra exposição, agora no Boulevard des Capucines, na local do fotógrafo Nadal (Maio de 1874).
Camille Pissarro, mulher a coser

 Diz logo um dos críticos: “Vendo a exposição dos Intransigentes no Boulevard des Capucines (1874) pode-se dizer que são loucos: se quiserem divertir-se à brava vão até lá!” (La Patrie, Maio 1874)


Berthe Morisot, La lecture

Do quadro "La Lecture" de Berthe de Morisot que é uma pequena maravilha, disseram: " Ela pinta uns riscos para cima outros para baixo e para o lado e já está..."


Cézanne é ridicularizado e as meninas de Renoir provocam o riso.


O quadro La Loge de Degas é considerada um horror: "Que carantonhas!"




O quadro de Monet,  “Impression” - que vai dar o nome ao grupo, e com o qual Renoir nunca concordou-  é "demolido" pela crítica! 

Mas...Aqui não se vê nada!”, diz Leroy, no jornal Charivari.

 Segundo eles, a bruma não era um tema para pintar.

"Já agora, por que não pintar uma luta de negros, num túnel?"

Monet, Estrada de Inverno

Ao que Monet responde: “Pobres cegos que querem ver tudo nítido através do nevoeiro!” (p.186)

Renoir sente-se desanimado, quer voltar a "decorar" os cafés como fizera. Degas mão tem problemas, vivera sempre bem, mas os outros têm reais dificuldades. 

Cézanne, la Maison du Dr. Gachet


Cézanne, Auto-portrait
Cézanne decide voltar a Pontoise.

É Monet quem reage com grande coragem a este mau resultado da exposição.

Pensa, pensa : “Onde é que haverá mais bruma?”... 


Numa bela manhã, vai acordar Renoir: "Descobri! Na Gare Saint-Lazare!"


E decide ir pintar a Gare Saint-Lazare com o vapor dos comboios que chegam à estação. Ou que partem. 
Claude Monet, Gare Saint-Lazare


Veste o melhor fato, leva a bengala de castão dourado e dirige-se ao director dos caminhos de ferro e propõe-lhe pintar a estação: 


Pensei na Gare du Nord mas achei que a vossa tinha mais cartácter...”, explica. 



Monet e a série de "Gare Saint-Lazare"


Bem recebido vai fazer uma série de quadros sobre a Gare Saint-Lazare, o azul e a bruma, o fumo dos comboios.


Que encantou também o Ratinho Poeta.


Renoir sente-se desanimado, pensa voltar à decoração de cafés...

Degas, danseuses

Degas é outro dos “sacrificados” pela crítica. Das suas bailarinas diz um: “As pernas são tão moles como a o tule  das saias...”

Edgar Degas, La Loge

No entanto, algo se "move". A juventude reage a favor desta renovação. Na Escola das Belas- Artes, os alunos aplaudem o Impressionismo.

Como conta Jean Renoir, começam a vir procurar o pai e perguntar-lhe coisas:

"M. Renoir, como se faz?"


"M. Renoir, devemos deitar fora o tubos de tinta preta?"

 Um grupo de estudantes vem mesmo dizer-lhe: "Já deitámos agora mesmo os tubos de preto no Sena!" 

E Renoir que lhes ensina, calmamente:
Renoir, La Loge


"Fizeram mal. O negro é uma das cores mais importantes! A natureza está cheia de negro misturado com as outras cores."

E explica: 

Renoir, O Pescador

"Os cavalos não  são negros, ou brancos: os cavalos são baios, têm pelos das duas cores, o que faz um lindo cinzento claro... (...) Devemos usar o preto, mas misturando-o como faz a natureza!..."

Nem tudo estava perdido no Reino da Dinamarca!






(1) Jean Renoir: "Pierre-Auguste Renoir, mon père", Gallimard, Folio nº 1292

6 comentários:

  1. Gostei tanto deste post.
    Adorei as pinturas.
    Fico com vontade de ler todos os livros de que vai falando. Este deve se interessante.

    O ratinho poeta e o ouricinho têm muito bom gosto. Alguém duvida?

    Um beijinho grande

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  2. Estes homens foram grandes percursores da pintura contemporânea. O século XX viria a ser um século de intensa criação e muito se ficou a dever aos impressionistas que fizeram a parte mais difícil do trabalho: o corte com os canones tradicionais da pintura figurativa.
    Sem estes pintores não teria havido o fulgor da primeiras décadas do século XX, com a explosão de expressionistas, fauvistas, futuristas, abstracionistas, surrealistas, cubistas, etc.
    Se os canónicos da pintura romantica do séc. XIX tivessem regressado à terra 50 anos depois, certamente teriam ficado petrificados com a influência que os impressionistas tiveram em Van Gogh, Matisse, Kadinski, Munch, Schiele, ou até Dali, Mondrian e Picasso...

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  3. Uma bela homenagem ao impressionismo.
    Boa noite MJ e um beijinho. :)

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  4. É difícil, e certamente injusto, comparar os movimentos artísticos, mas o impressionismo é certamente incontornável na história da arte. E ainda que enfrentando inicial resistência, como é frequente acontecer quando se rompem tradições, conquistou o reconhecimento e valorização devidos. Alguns destes artistas tiveram a felicidade de assistir em vida ao reconhecimento do seu mérito. Mas no extremo oposto há os que nunca viveram essa satisfação, como inevitavelmente me ocorre o exemplo dramático de Van Gogh.
    Parabéns pela belíssima e justíssima homenagem que aqui presta.
    E votos de um bom fim de semana!

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  5. Bom sentar aqui e ler sobre ele, o amigo pintor dos ciganos de Arlês.
    Viemos dizer que valeu a sua torcida e a sua ajuda magistral.

    bjs muitos de todas nós

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