quinta-feira, 19 de abril de 2012

Miguel Hernandez morreu há 70 anos



Para a minha amiga Maria, uma andaluza portuguesa, que ama a poesia de Miguel Hernandez



Múrcia, Praça da Catedral

Miguel Hernandez nasceu em 30 de Outubro de 1910, na terrinha de Orihuela, perto de Múrcia, no sudeste da Espanha. 

Os pais eram pobres, tinham umas terrinhas e ovelhas e Miguel foi pastor dos rebanhos de seu pai. 

Depressa se sentiu poeta, mas o pai desencorajou-o, a vida era dura, como pensar em poesias?

Teimoso, consciente da sua verdade e da vocação sincera que sentia, conseguiu com a ajuda de amigos e graças à sua memória fantástica  ir estudando a Literatura Espanhola, saber da Cultura, interessar-se pelo que lhe era à partida proibido.

Em 13 de Janeiro de 1930 sai o seu primeiro poema “Pastoril”, no “Pueblo de Orihuela”.

Sijé  (Ramón Marín Gutierrez ), conhecido por Ramón Sijé, ajuda-o nesse seu desejo de culturafoi o seu mentor e amigo mais velho.


o amigo e poeta Ramóm Sijé (1915-1935)

E Miguel Hernandez continua a escrever os seus poemas.

Em 1931, passa os primeiros seis meses  em Madrid.

Volta a Orihuela e apaixona-se. O  noivado com Josefina Manresa é longo. Só casarão em 1937.
Em 1937, com a mulher, em Jaén, onde vão viver uns tempos


Em 1933, publica o primeiro livro “Perito em luas”.

Em 1934, nova estadia em Madrid. 

Desta vez  conhece outros escritores Pablo Neruda, Francisco Garcia Lorca e Vicente Aleixandre.
Aproxima-se ideologicamente destes poetas - próximos do Governo Republicano- e das suas ideias socialistas.

Afasta-se de Orihuela, de Sijé e do seu catolicismo. Quando o amigo vem a Madrid visitá-lo, percebem que um fosso os separa. Mas a amizade perdura.

Em 1935, participa na Homenagem a Pablo Neruda  o que lhe traz inimizades fortes e incompreensões.
Sijé não lhe perdoa o que considera uma traição.

Nesse ano, Ramón Sijé morre, com uma pneumonia, e Miguel Hernandez sente-se culpado, sofre por se terem afastado, por não se terem visto.

 E é então que escreve a belíssima “Elegia” a ele dedicada.
"En Orihuela, su pueblo y el mío,/se me ha muerto como del rayo Ramón Sigeiro, / a quien tanto quería."

E solta o seu lamento. A las desalentadas amapolas/daró tu corazón come alimento”...

E desola-se por a morte lhe ter “arrancado” o seu amigo. A morte não tem perdão...

Yo quiero ser llorando el hortelano
De latierra que ocupas y estercolas,
Companero del alma, tan temprano.

Alimentando lluvias, caracolas
Y órganos mi dolor sin instrumento
A las desalentadas amapolas

daré tu corazón por alimento.
tanto dolor se agupa en mi costado
que por doler me duele hasta el aliento.”

E mais:

(...)
“Temprano levanto la muerte el vuelo,
temprano madrugo la madrugada,
temprano está rodando por el suelo.

No perdono a la muerte enamorada,
No perdono  a la vida desatenta,
No perdono a la  tierra ni a la nada.”

Em 1936, a 18 de Julho, dá-se o golpe de estado fascista do Generalíssimo Francisco Franco, a partir de Melilla, Norte de África. 
bandeira das Forças de Franco


Franco entra em Espanha pelo Sul.
Miguel Hernandez,  em 1936, lendo os seus poemas


Miguel Hernandez, em 1936, na Radio


brigadas republicanas, 1936

Estala a Guerra Civil Espanhola. Que vai durar até 1939, e vai ser sangrenta. Com milhares de mortos de parte a parte.


Madrid, ruínas de um bunker, 1936
Alcazar de Toledo

Brigadas Internacionais, brigada polaca, 1936


Chegam a Espanha as Brigadas Internacionias que vêm em auxilio do Governo legal Republicano. Entre eles virá os escritores André  Malraux, Hemingway  e tantos outros.
Miguel Hernadez escolhera o seu campo: arrola-se nas Forças Combatentes Republicanas, no 5ª Regimento.


Conhece Rafael Alberti e Luis Cernuda. Durante a República participa em vários encontros de intelectuais antifascistas. Faz parte dos grupos ou “Missões” que procuram levar a cultura e a educação às zonas mais desfavorecidas de Espanha.


El- Andalus, em Granada

Nesse mesmo ano, entre outros acontecimentos, há a prisão e assassínio do poeta Garcia Lorca, em Granada - onde viera buscar sossego na sua Andaluzia natal.
a bela Cádiz, na Andaluzia

baterias das Forças Republicanas 

Durante a Guerra, Hernandez  participa no "Congresso Internacional de Escritores", em Madrid e em Valência.


Miguel Hernamdez, em Moscovo~

Em 1939 está em Moscovo onde vai assistir ao “5º Festival de Teatro de Moscovo”. 


Ruínas em Corbera, dos tempos da Batalha do Ebro


A guerra de Espanha continua um pouco mais.

Depois destas atitudes, sabe que corre perigo na Espanha franquista, mas não procura exilar-se por lá.


Acabada a Guerra, tenta refugiar-se na Embaixada do Chile sem sucesso. Tenta fugir mas é apanhado na fronteira portuguesa em Rosal da Fronteira: se de lá estava Franco,  de cá estava Salazar, não havia muita escolha.


É preso, libertado com pena suspensa.

Mas em Setembro de 1939 é denunciado por um oriolano quando volta à terra a visitar os pais de Sijé e é preso outra vez. Desta vez é levado para a prisão de Torena em Madrid.

Em 1940, é julgado e condenado à morte. Depois, a  sentença é comutada em 30 anos. 
Miguel Hernandez num desenho de Buero Vallejo, numa das prisões onde se encontraram


Com a mulher, em 1939,  talvez

Fragilizado, tuberculoso, Miguel Hernandez morre na prisão de Alicante, em  28 de Março de 1942.

Fez há pouco 70 anos que morreu...

“A las desalentadas amapolas/ daré tu corazón por alimento”...



NOTA: Óptimo site sobre Miguel Hernandez: "enorihuela" de onde retirei a maior parte das fotografias que usei, a quem muito agradeço.



http://www.enorihuela.com/miguelhdez.html





Mais informações úteis:

http://www.poetryfoundation.org/bio/miguel-hernandez

E sobre a Guerra de Espanha:



13 comentários:

  1. Que post triste e bonito. É fato que morremos pelo que acreditamos.

    bjs as duas

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  2. Que bom trabalho!
    Miguel Hernandez é a minha debilidade, não consigo ler "las nanas de la cebolla", que escreveu moribundo, sem emocionar-me.
    Obrigada pela dedicatória, és "un cielo".

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    1. Síntese agradável e muito útil. Parabéns.
      Também sinto o mesmo quando leio " las nanas de la cebolla". O seu amor amor à mulher e ao filho impressiona. E quando, da cadeia, escreve pequenas histórias e poemas ao filho!Uma ternura!Há, porém, um poema que reputo da maior importância poética que tem como título "Vuelo".Um convite à sua leitura.Obrigado.

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  3. Um post esclarecedor.
    Não conheço o poeta, mas acho que já ouvi a Maria falar dele (?).
    Haverá alguma coisa em português? Vou ver.
    Um beijinho

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    1. Isabel, tens no comentário de J.M. Romana, em baixo, a resposta à tua pergunta! um beijo

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  4. MJ,
    Muito bonita esta postagem. O poema é lindo.
    Beijinho. :)

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    1. José Manuel Romana- Guarda21 de abril de 2012 às 04:20

      Para a Isabel:
      Não sei se a sua obra completa, que é pequena, está traduzida. Mas José Bento, poeta e excelente tradutor,contempla-o com 14 poemas na Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, nas edições Assírio e Alvim. Lá estão os poemas: "Elegia", " Canção de embalar da cebola" e "Voo".Bom fim de semana para todas.
      José Manuel Romana

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    2. Obrigada, Ana! Ajuda-me o seu apoio... beijo

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  5. Obrigada, amigo Romana! estava sem saber como ajudar a Isabel, que bem merece! Conheço o trabalho do José Bento que foi -e é (pois ainda está vivo! Sei que mora em Sintra, pois uma ex-aluna minha é vizinha dele)- muito importante.
    Já agora uma palavra de apreço para a Assírio & Alvim que tem traduzido tanta coisa boa em que "os outros" não pegam!
    Abraço

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    1. Obrigada ao José Manuel Romana e a si Maria João. Já tinha estado a ver no site Wook e não encontrei nada em português. Vou ver outra vez e procurar se há essa antologia. Obrigada. Estive a ler o "Vuelo" que colocou hoje e apercebo-me da sua beleza, mas não consigo perceber todo o poema e tenho pena.
      Um beijinho

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  6. Uma guerra terrível, em que os republicanos foram abandonados pelas democracias europeias; onde os fascistas foram apoiados pelos nazis (ou nunca venceriam); onde morreu mais de 1 milhão de pessoas; onde as tropas de Hitler se treinaram para a 2ª guerra mundial, onde morreram mais de 50 milhões de pessoas; onde se enterrou a Cultura e a Esperança, na península ibérica...

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  7. Bem verdade! Para não esquecer, também...

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