sexta-feira, 6 de abril de 2012

O Filho do Homem, de José Régio



Sempre que chega a Páscoa, recordo o Cristo da Paixão da minha infância, o Senhor dos Passos. 

A Igreja do Calvário em Portalegre, onde íamos ver o Cristo "morto", com a minha avó.


As amêndoas de chocolate, os folares com os ovos pintados.


Mais tarde, noutra terra, as romãs...


O Filho do Homem...o Homem.


E vem-me sempre Régio à memória...
FILHO DO HOMEM

Subia eu o monte e alguns troçaram,
Enquanto a multidão, lá em baixo, ria.
Ria risos e troças que arranharam
Tudo o que em mim, sensível, se doía...

Todos eles, depois, me detestaram
Por eu me destacar da maioria.
Fortes, pois, contra um só, cem abusaram,
Enquanto a multidão, em volta, ria.

Vilanagem, fartar!, que estou cansado.
Eis-me, Ecce homo! – nu, vencido, atado.
Podeis cuspir-me à cara os vosso lodos.

Mas quanto mais de rastos, mais me prezo.
Só o meu amor iguala o meu desprezo...
E eu vingo-me expirando por vós todos!


in Biografia, Portugália Editora 4ª edição, Lisboa, s/d
José Régio, "Ecce Homo"


No Evangelho, conta São João:

"A Páscoa ia chegar dentro de 6 dias e Jesus vem a Betânia onde vivia Lázaro que Jesus tinha tirado de entre os mortos(...)". 

"No dia seguinte a multidão que viera para a festa ouve dizer que Jesus vem a caminho de Jerusalém. Pegaram em ramos de palmeiras e vieram ter com ele, gritando: Hossana! Bendito seja seja aquele que vem em nome do Senhor, o rei de Israel."


E continua, João (XIII-1):


"Antes da festa da Páscoa, sabendo que a sua hora de passar para o mundo do seu pai tinha chegado, Jesus que amara os seus neste mundo, amou-os até ao fim."
O  Cristo, que tenho em casa

E  o destino cumpre-se.

Jesus diz apenas: "Chegou a hora de o filho do homem ser glorificado." (XII-23)

"Eu, a luz, vim ao mundo para que os que se fiam em mim não permaneçam nas trevas". (XII-46)

Antes, Jesus dissera, escreve João, o apóstolo que Jesus amava:

"Agora, sinto a minha alma turbada. O que dizer? Pai, salva-me desta hora? Mas foi para isso que eu cheguei a esta hora..."(XII-27)
Leonardo da Vinci, pormenor da Última Ceia


E vem a solidão, o momento da dúvida, do desespero do Filho do Homem. 


Vem a sua primeira agonia.


Giovanni Bellini, Agonia de Cristo, no Horto das Oliveiras

E a morte...
Vittore Carpaccio, Morte de Cristo

in "Evangelho Segundo São João" ("Bíblia, Novo Testamento", edição da Bibliothèque de la Pléiade, Gallimard, pgs. 313-317)

7 comentários:

  1. E viva o Cristo vivo. Kristesco, um homem que fez o que era preciso fazer. Sempre achei ele bonito.

    bjs e feliz páscoa.

    bjs meus e nossos

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  2. Uma Santa Páscoa meu Belo Falcão Lunar.
    Beijinhos para todos

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  3. Bonito o poema e lindas as imagens escolhidas.
    Um beijinho e uma Boa Páscoa

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  4. A Páscoa que anda tão esquecida dos homens, tão perdida de significado, tão disfarçada de amêndoas de chocolate...

    Uma boa Páscoa para si e para o Manel

    Abraço

    Raul

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  5. Muito bonito e profundo este poema de Régio.
    Todo o post está muito interessante.
    Uma Santa Páscoa, MJ.
    Um beijinho amigo.

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  6. O que mais me "chega" é a simbologia da Via Crucis, como Jesus em cada passo se vai afundando no sofrimento, se cae e se levanta até percorrer inteiro o calvário da dòr.
    Desejo-te uma Páscoa Feliz, como se sempre fosse Domingo da Ressurreição, ou Domingo de Ramos, que para mim de pequena era "o máximo"...
    Beijinhos pascoais

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