Quando
se trata da vida de um homem, errar não é permitido! No entanto, quantos
morreram nas prisões acusados de delitos que não cometeram? Quantos esperam nos "corredores da morte" que alguém se interesse e descubra que estão inocentes? Ou quantos foram já justiciados - injustamente?
Quero
lembrar um homem, Gerry Conlon, irlandês da Irlanda do Norte, acusado pelo
governo britânico de ter posto uma bomba num “pub” do Surrey, em Guildford, provocando a morte de cinco pessoas.
Estava inocente, mas esteve preso durante 15 longos anos. Gerry Conlon morreu, há dias, em Belfast.
Estava inocente, mas esteve preso durante 15 longos anos. Gerry Conlon morreu, há dias, em Belfast.
monumento às vítimas do "massacre" de 1972
Era o ano 1974,
eram os tempos do IRA, do terror, dos atentados à bomba contra o "domínio" britânico. Era a "guerra"!
Em 1972, o exército inglês dispara e mata uma série de jovens irlandeses que protestavam nas ruas. Foi a chamada "Black Friday", a Sexta-Feira Negra! (**)
Em 1972, o exército inglês dispara e mata uma série de jovens irlandeses que protestavam nas ruas. Foi a chamada "Black Friday", a Sexta-Feira Negra! (**)
o grupo irlandês U2
Pouco depois, acontece a "resposta" violenta do IRA, no qual 22 bombas rebentaram em Belfast, causando cerca de 13 mortos e 100 feridos. Um domingo que passou a ser chamado "Bloody Sunday" ("domingo sangrento").
Onze anos mais tarde, Bono - que era ainda uma criança nessa altura- e os U2- criam e cantam a canção intitulada Sunday Bloody Sunday, inspirada nesse domingo. No entanto, a sua aproximação ao tema é cuidadoso, era um terreno minado.
Muitas vezes, os U2 cantaram com uma bandeira branca, no palco. Porque eles defendiam a paz.
A condenação de Gerry Conlon e de três amigos, em 1974, “foi
o maior erro judiciário inglês”. Conlon foi acusado e condenado a prisão
perpétua. Clamou sempre a sua inocência.
No dia 19 de Outubro de 1989, ilibado das acusações, é solto. E diz à multidão que o espera à saída da prisão: “Passei 15 anos da minha vida na prisão por algo que não fiz. Vi o meu pai morrer na prisão acusado do que não fez.”
De facto, o pai viera de Belfast a Inglaterra, em 1975, para falar com os advogados do filho e foi
parar à cadeia, onde morreu, doente, em 1980.
Houve
um erro? Não. Houve um “engano” propositado: convinha arranjar o mais depressa
possível um culpado, antes que o pânico se espalhasse. Ele foi "esse" culpado necessário,
apesar de estar inocente.
o jovem Gerry
Gerry, o miúdo pobre de Belfast, era uma "presa" fácil para a polícia e o “culpado” ideal! Andava pelo Surrey sem eira nem beira, tinha 20 anos, estava desempregado, não tinha família nem ninguém que se preocupasse em defender a sua inocência.
cena de interrogatório e tortura, no filme
Assim
aconteceu: as provas, forjadas pela polícia, levaram-no à cadeia. Depois, veio a tortura
(sim!, tortura). Foi humilhado, espancado e ameaçada a sua família. Acabou por
confessar o que não tinha feito.
Quinze anos mais tarde, é reabilitado. Ele e os outros três que foram presos com ele, "os quatro de Guildford". Os inocentes.
1989, ilibado, com a mãe, Sara, e a advogada
E Gerry Conlon sai da cadeia. Valeu-lhe a campanha que se "montou" na televisão, e a acção de alguns ex-juízes e um cardeal
que se interessaram pelo seu caso.
E a advogada que o quis defender.
E a advogada que o quis defender.
A polícia fora obrigada a “rever” o caso e a
reconhecer que faltavam no dossier da sua inculpação documentos que tinham sido
sonegados: documentos que eram o álibi dele - "provavam" que ele e um amigo estavam noutro lugar!
Sim, sai
da cadeia mas tem a vida destruída! Não consegue reconstrui-la nem reconstruir-se, como hoje se fala tanto dos ex-presos, ex-drogados: reconstruir-se! Como?
Em 1990, Conlon escreve um livro autobiográfico, Proved Innocent, que é levado ao cinema por Jim Sheridan (1993), com o título de "Em Nome do Pai", com a actriz Emma Thompson (a advogada de Gerry) e com Daniel Day-Lewis no papel dele.
Os U2 fazem parte da banda sonora do filme, com Sinhead O'Connor, Gino Rota e outros músicos.
Em 1990, Conlon escreve um livro autobiográfico, Proved Innocent, que é levado ao cinema por Jim Sheridan (1993), com o título de "Em Nome do Pai", com a actriz Emma Thompson (a advogada de Gerry) e com Daniel Day-Lewis no papel dele.
Os U2 fazem parte da banda sonora do filme, com Sinhead O'Connor, Gino Rota e outros músicos.
Gerry Conlon: filme e realidade
O
dinheiro que recebeu dos direitos do filme e a indemnização que o estado lhe
deu foram gastos em três tempos.
Entre droga, álcool e tentativas de suicídio, Gerry Conlon não tinha salvação. Nunca se curara do pesadelo que vivera!
Implica-se na defesa dos que, inocentes, aguardam nas cadeias, interessa-se pelos aborígenas na Austrália e por outras minorias pouco defendidas.
Não conseguia "salvar-se" sozinho. Ou não queria.
Um cancro dos pulmões trouxe-lhe o fim. Gerry Conlon morreu, no passado dia 21, na sua terra natal, Belfast.
Que o Anjo de Fillipino Lippi o acompanhe, como acompanhava Tobias...
Entre droga, álcool e tentativas de suicídio, Gerry Conlon não tinha salvação. Nunca se curara do pesadelo que vivera!
Implica-se na defesa dos que, inocentes, aguardam nas cadeias, interessa-se pelos aborígenas na Austrália e por outras minorias pouco defendidas.
Não conseguia "salvar-se" sozinho. Ou não queria.
Um cancro dos pulmões trouxe-lhe o fim. Gerry Conlon morreu, no passado dia 21, na sua terra natal, Belfast.
Que o Anjo de Fillipino Lippi o acompanhe, como acompanhava Tobias...
(*) Irish Republican Army- Exército Republicano Irlandês (Irlanda do Norte)
(** )Em 1998, Tony Blair encarregou uma "comissão" de saber até que ponto a matança do Bloody Sunday teria sido culpa dos militares. Em 2000, David Cameron dirá que o
massacre causado pelas tropas britânicas foi "injustificado" e "injustificável", e pediu desculpa.