terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

"JE SUIS FINN"... o realizador assassinado na Dinamarca


Sim, hoje sou Finn Norgaard o documentarista dinamarquês que foi assassinado em Copenhague, num Centro Cultural onde se realizava um debate intitulado "Arte, blasfémia e liberdade de expressão".
Finn Norgaard


foto do site da Universidade
E porque penso que todas as palavras valem a pena e que os testemunhos são para ser conhecidos e espalhados para que o maior número os possa conhecer. 
E porque eu acredito que só o saber, o conhecimento e a luta contra a ignorância poderão vencer a batalha da 'barbárie' que nos ataca, aqui deixo o que conta um seu amigo, Lars K. Andersen:  um pouco do que ele foi e quis e esperou fazer. E que fez! Até ser assassinado estupidamente por um jovem daqueles que ele, com o seu sentido da rectidão e generosidade, costumava procurar ajudar...
Andorinha da Dinamarca

“Finn e eu conhecemo-nos na Universidade de Copenhague, onde ele estudou cinema. Assistimos à época da explosão  de todos as maravilhas oferecidas pelos vídeos que ele aproveitou logo. Lembro-me que partimos para Londres onde tínhamos começado um projecto sobre um grupo inglês, mas éramos muito jovens e abandonámos o projecto. Depois, retomámos um filme, juntos, sobre um grupo icónico da cena hippie dinamarquesa. (…) Finn trabalhou com uma energia considerável e conseguimos fazer dele um documentário, acabado em 1988, cuja procura e ideias inspiram hoje um grupo, os Itsi Bitsi, que dentro de semanas se apresentará aqui. (…) Depois, eu segui um grupo rock e Finn continuou na sua procura de realizar a sua ambição de documentarista, mantendo empregos no sector da produção, especialmente com a sociedade 'Zentrepa' do realizador Lars Von Trier, até conseguir a sua própria companhia. Tinha começado a realizar documenários para a 'tv' dinamarquesa, seguindo sempre o seu ideal de justiça e equidade e de fraternidade. 
Era uma pessoa que filmava com o coração. Conheci-o sempre ancorado à esquerda. Ao longo sua vida, foi ganhando um interesse pela espiritualidade através sobretudo da meditação e do budismo. Mas o coração estava sempre do lado dos pobres, dos fracos, dos deserdados da nossa sociedade. Em 2008, fez um filme “Lê Lê: De jyske vietnamsesere", em que acompanhava uma família de refugiados vietnamitas que queriam abrir um restaurante em Copenhague. (…) 
Muitos dos sus projectos se ligavam aos problemas da integração dos jovens, muitas vezes de origem árabe, que não encontram o seu lugar nesta sociedade e que podiam ser atraídos pelo crime. Finn acreditava que, filmando-os, poderia fazê-los sair dessa espiral. É tristíssimo e absurdo que tenha sido morto por um dos jovens aos quais consagrava os filmes. O assassino matou alguém que era, afinal, o seu melhor amigo”.
(In Libération, 17 de Fevereiro 2015)
E agora?
O país chora os seus mortos e as ilusões perdidas. A Universidade pôs a bandeira a meia haste, no dia 14, em homenagem a dois dos seus ex-alunos. De facto, tanto Finn como o judeu Dan Uzan (**), que foi morto para proteger outros judeus, numa cerimónia de "Bar Mitzvah", na Sinagoga, tinham estudado naquela Universidade. 
Os dinamarqueses pensam que nada vai ser nunca mais igual, na Dinamarca, país de abertura e pacífico: "Copenhague nunca mais vai ser a mesma cidade..."



Na Sinagoga, realizava-se a Bat Mitzvah desta menina


Creio que a 'Sereiazinha' de Copenhagen virou a cara de lado, porque não quer olhar, está triste...
(*) Finn Nørgaard, realizador e produtor dinamarquês de filmes documentários, nascido em 1959, morre em 14 de Fevereiro de 2015, no tiroteio frente ao Centro Cultural, no Centro de Copenhague.
(**) Dan Uzan era o 'segurança' da Sinagoga de Copenhague. Tinha 37 anos. Filho de pai  israelita e de mãe dinamarquesa.

3 comentários:

  1. Improváveis somos todos nós
    um rio com duas margens
    firmes na espuma das águas
    quando um belo barco passa
    por uma nesga de sol

    Bj

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  2. É incompreensível esta vontade de violência gratuita, por todo o lado. É como diz, pura ignorância!! Se assim não fosse, todos saberiam que há lugar para toda a gente. Temos que saber respeitar os outros e respeitar as suas ideias. Mas gente fanática e ignorante não respeita nada nem ninguém. De tão ignorante julga-se dona da verdade única e absoluta: pura ignorância!

    A Maria João faz sempre post excelentes!
    Um beijinho grande:)

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    1. Oh, Isabel...obrigada, fiel leitora do meu blog!
      É tanta coisa junta! Ignorância acima de tudo, mas ódio, raiva, incapacidade de aceitar o outro...
      Um beijinho

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