quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Passaram 60 anos sobre a morte de um ídolo: James Dean


James Byron Dean nasceu na Indiana, em Marion, a 8 de Fevereiro de 1931. Actor que morreu jovem, com apenas 24 anos, num desastre com o seu automóvel de corridas. Um Porsche 550 Spyder descapotável


Era o dia 30 de Setembro de 1955. Estava numa auto-estrada perto de Cholame, na Califórnia. Teria entrado na estrada em sentido contrário. Fractura da coluna e hemorragias internas. Morre pouco depois, a caminho do hospital. 
Contou o mecânico que viajou com ele na ambulância que o ouviu "gemer como uma criança que chama pela mãe, ou como um homem que encontrou Deus". Estas são palavras cuja veracidade não se pode confirmar. Mas quem sabe o que ele viu nesse momento? 

Apagara-se o “sopro” que o mantivera vivo. Era um jovem insatisfeito que desafiava a vida constantemente. 

Entra no filme de Nicholas Ray, “Rebel without a cause”, personificando a juventude rebelde, inconformista, angustiada, infeliz daqueles anos. 

Ou de sempre? O filme chamou-se Fúria de Viver, em português. Falava do mal-estar de certa juventude, da incompreensão, da relação difícil com os adultos. Da inconsciência, da violência latente da adolescência tardia.
Ali, contracenou com Natalie Wood e Sal Mineo. Todos eles vão ter uma morte trágica. 

Natalie (nascida em 20 de Julho de 1938) morre, muitos anos mais tarde, em 29 de Novembro de 1981, afogada, enquanto viajava com o marido e um amigo no próprio iate. Nunca se conheceram bem as causas da sua morte. Sabe-se apenas que tinham todos bebido muito.

Sal Mineo, nascido a 10 de Janeiro 1930, no Bronx, filho de emigrantes da Sicília, continua a sua vida de actor até 1976 quando, na noite de 12 de Fevereiro, é atacado apunhalado mortalmente por um desconhecido. 
James Dean, Natalie Wood e Sal Mineo

Por curiosidade, vi que John Lennon ofereceu dinheiro a quem informe sobre o assassino de Mineo. Que acabou por ser condenado em 1979 a prisão perpétua.
John Lennon e os Beatles, chegada a Nova Iorque


Digo por curiosidade, porque, em 1980, com 40 anos, John Lennon é assassinado por um fanático.

Em 1954, quando James Dean é convidado para o papel principal de “A Leste do Paraíso”, de Elia Kazan, tirado do livro de John Steinbeck, assina simultaneamente um contrato segundo o qual não poderá guiar carros de corrida.  

Um ano mais tarde morre num carro de corrida… Há sessenta anos.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Optimista/Pessimista...


Zvi Mairovitch

Conforme os dias, dia sim dia não, sou optimista ou pessimista. Em relação ao que se passa no mundo ou em relação à vida? Tudo em geral. O pessimismo, quando vem, é muito forte!
Receio que a utopia que defendo com unhas e dentes não tenha hoje razão de ser. Um mundo melhor? Ou, distopicamente pensando, virá um mundo pior?
Será, ao menos, possível um mundo de paz e de justiça, num dia longínquo -ou nem isso? 
No fim e ao cabo é disto que falamos ao falar de “utopias”. Porque hoje querer acreditar num mundo de paz parece utópico, quando as imagens que nos rodeiam falam apenas de guerra, de tortura, de infelicidade e de morte. 

Terá de ser sempre assim? Acreditar é apenas uma questão de vontade e de persistência, digo para mim... 
Leio um livro que a minha amiga Lea me deixou: "La mia terra promessa" de Ari Shavit, de que falarei aqui um dia. Não posso dizer que seja animador. Mas é belo tentar acreditar!
Edna Dagan, Oração

Vem-me uma forma de tristeza, de desconsolo ao deparar com as imagens de hoje, com os artigos que leio e não consigo entender. 
Um dia será diferente? Um dia o nosso olhar verá outras imagens? 
Sandro Botticelli, Natividade mística

E os homens que fogem das guerras e da morte terão o apoio de outro homem? Terão compaixão, generosidade, interesse pelo "seu caso"?
O homem dará a mão ao outro homem e dividirá com ele o que tem? Perguntará, apenas, sabendo que é um "terrestre" como ele: "Donde vens, amigo? De que mundo e de que sofrimentos?"
Arjen Galema, Encontro na Noite, 1949

Ouço já os comentários de alguns: “Dividir com essa gente? era o que faltava! Nós suámos para ganhar o que temos!”

Sandro Boticelli, Abraço místico...

Vencerá o ódio, o rancor e o ressentimento como –tantas vezes – acontece nas nossas vidas pequeninas - as que vivemos a par da Vida com letra grande. Sempre o medo será a causa de outros males, de outras dores?
"Não somos heróis, nem anjos, somos homens", diz Ari Shavit no seu livro.
Telavive 1921

Lembro o meu amigo Inácio que me dizia, em Telavive: “Sabe, Maria João, os dois sentimentos que mais comandam os homens não são o amor e o ódio, mas sim o amor e o medo”. 
Eu nunca tinha pensado nisso e impressionou-me ouvi-lo.
O medo? Os maus sentimentos, a desconfiança do outro, sempre? Sempre, a raiva? Sempre, estar na defensiva, ter de usar a couraça, para não nos ferirem mais?
Sandro Boticelli, Fortitude

Marc Chagall, Guerra

Nunca o raminho de oliveira e o sorriso? O circo e a festa? E sinto-me estúpida a querer acreditar nisso: que sim, que um dia o sorriso vai vencer as palavras maldosas que se lançam como pedras. E o céu continua indiferente? 
Era o que sonhávamos, quando sonhávamos? Para isto crescemos, trabalhámos, aprendemos e tivemos filhos? E o que lhes ensinámos não foi justo?
 Mary Cassatt, Mãe e filhos

Como explicar-lhes, hoje, que para eles não há lugar neste mundo que “moldámos” (foi culpa nossa porque o deixámos desenvolve-ser assim?); nesta sociedade de corrupções várias, de indiferenças e de egotismos; nesta corrida ao dinheiro, ao ganho, ao roubo?

Por que não há-de existir a palavra boa que “anima” o outro, que nos ajude a viver melhor o nosso dia? Um sorriso, um suspiro de bem-estar? Um pouco de poesia? Uma gargalhada? 
Penso no Rabbi Nahman de Breslav, um homem maravilhoso que "pregava" a alegria: "Nada nos ajuda tanto como a alegria. Liberta o espírito e enche-o de calma." 
E, noutra passagem, apoia-me na vontade de acreditar: "Mais vale ser um louco que acredita em tudo do  que um céptico que não acredita em nada -nem mesmo na verdade!"
Marc Chagall, Criação do mundo
Nézò, Rostos e barcos

Lembro um poema lindo de António Couto Viana. Lembro-me de o ouvir cantado, num pequeno 'single' há muitos anos:´

Trova Dor 

Ciência inútil e cega!
Os homens chegam à lua,
Mas a minha mão não chega à tua!

Ai, se as duas se encontrassem,

Como manda o coração,
Talvez os homens voassem
Neste chão.

Ciência que mais importa:
A poeira poluída
Da lua morta
Ou nossas mãos que são vida?


Sandro Boticelli: Primavera (pormenor)

Uma mão estendida para outra, a pancadinha  na face – que não seja interpretada logo como perversa, ou demasiado familiar?, em vez de se pensar ser apenas como dizer: estou aqui, não estás sozinho. Sim:
Talvez os homens voassem


Neste chão.

A minha teimosa utopia gastou-se com os dias? Talvez não. Vou acreditando menos do que acreditava: acredito dia sim, dia não: hoje é não, portanto. Demasiado cansada das imagens e das palavras. 
Anjos e demónios - quais os anjos e quais os demónios?
Sandro Boticelli, Anjos ou demónios
Mas há-de voltar um dia-sim! Porque a minha esperança quer manter-se viva. Hei-de voltar a querer acreditar que um dia, sim um dia…
Sandro Boticelli, Natividade mística: abraço?

Porém, hoje, não sei se alguma vez o homem dará a mão ao outro homem: "a minha mão não chega à tua."

Diz o Salmo 37.11 “Os suaves ganharão a terra prometida. E terão a paz.” Como o meu livrinho de salmos é inglês/hebraico fiquei a hesitar no sentido de “suaves”.
Livro dos Salmos

Sandro Boticelli: "E terão a paz.”

O inglês “meek é, traduzido, “manso”, “dócil”. Só que não acredito que se precise de ser “dócil” para ganhar a terra prometida. A luta, a rebeldia fazem parte da procura do “justo”. Por isso prefiro dizer que serão os “suaves”- tal como o ‘doce Rabi’ de que fala Eça, num conto maravilhoso- que terão a terra prometida…

Sandro Boticelli, Tentações de Cristo, O leproso

“A vida é um momento efémero, um sopro, uma passagem”, como diz o Salmo 39, e nem sempre e fácil encontrar um sentido para essa fragilidade e precariedade da vida humana. Onde estão os suaves, os rectos, os bons?

Seja como for, enquanto passa, a tal vida efémera, a folha seca que somos e se vai perder no vento, o sopro que pouco dura, pode trazer-nos muita coisa!
Mary Cassatt, Leitura no jardim

Traz-nos os amigos, os livros, as pinturas, a arte que nos emociona e transforma uma tarde cinzenta num dia de sol.
Oded, Céu e mar

A palavra cheia de ternura que nos vem ajudar! Ah, sim acredito que isso existe numa vida.
que devemos estender a mão para os outros, acredito também! E que vale a pena lutar por isso mesmo. 
Chagall, Les amants et le claire de Lune

Será que, depois de escrever tudo isto, vou acabar o dia...optimista? Terá sido do luar desta noite de Setembro?
Arthur Dove, A lua e o mar

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Boa noite! A ouvir: Ella Fitzgerald ~ Sophisticated Lady~e Duke Ellington




They say into your early life romance came
And in this heart of yours burned a flame
A flame that flickered one day and died away

Then, with disillusion deep in your eyes
You learned that fools in love soon grow wise
The years have changed you, somehow
I see you now

Smoking, drinking, never thinking of tomorrow
Nonchalant
Diamonds shining, dancing, dining
With some man in a restaurant
Is that all you really want?

No, Sophisticated Lady, I know
You miss the love you lost long ago
And when nobody is nigh you cry

Is that all you really want?

No, Sophisticated Lady, I know
You miss the heart you lost long ago
And when nobody is nigh you cry



quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Primeiro dia de Outono...

Chega o Outono e lembro Irene Lisboa.
Kandinsky, Outono em Murnau, 1903

De facto o título do seu livro de poemas (assinado ainda João Falco) Outono havias de vir latente triste adequa-se aos dias que chegam latentes, cinzentos, frescos, com um pouco de chuva e uma calma de que ele fala nestes poemas de Outono.


Com o vento 'reboado, manso, grave, contínuo' e a luz  da tarde 'terna, morta, casta'. Ainda azul, por vezes.
a luz  da tarde (MJF)

E os 'passos leves e lentos' da jovem mulher que entra na mata e dá o seu passeio, antes que a noite caia por completo.
Iaaac Levitan, Noite de Outono


E a calma do Outono, tempo dede que Irene Lisboa fala nestes seus poemas.
Isaac Levitan, Passeios de Outono

Passeios  
"Sons.
Som do vento, reboado, manso, grave, contínuo.
Passos lentos, leves…
Com passos lentos, leves, meditativos, atravesso~
Eu a mata.
O vento cimeiro, sem me tocar, acompanha-me,
Repete-se monocórdico.
Quem o imitaria?
Um músico só.
 Paisagem de Outono, Isaac Levitan (1888)

Saio da mata.
A luz da  tarde, terna, morta, casta, enche tudo.
Envelhecer, lembra-me.
Envelhecer, indiferente, sem poesia.
Achar suave o tempo, a luz, amoráveis, benignos!
Coisas externas, de favor, e no coração não ter nada… "


Isaac Levitan, Noite de Outono no Boulevard, 1883

Noite
Tenho sono…
Como dizem as crianças.
Dava-me vontade às vezes a esta hora…

Entram sons pelas janelas.
Dava-me vontade de flutuar…
Alegre noite!
E sem saber porquê.
É do levíssimo vento que entra subtil, que refresca
Subtil.
E dos sons que parece que sobrenadam confusos
E soltos.
Sono, cansaço?
Sono ou cansaço…
Noite fresca. E calma, romântica, benfazeja,
Quase estival.

 (in 'Outono Havias de Vir, João Falco)´