segunda-feira, 31 de agosto de 2015

BAUDELAIRE MORREU HÁ 148 ANOS...



Levou-me longe a leitura d’ Os últimos dias de Charles Baudelaire – de Bernard-Henri Levy- (*) de que aqui falei ontem. Fez-me procurar e reler tudo o que tinha guardado nas estantes: L’art romantique, o livro ‘Baudelaire par lui-même’ das Editions du Seuil, Colecção “écrivains de toujours”, volume organizado por Pascal Pia. Sempre um ‘utensílio’ magnífico pela síntese, pelas imagens, pelos extractos de poemas e textos, por temas, e pela voz do poeta a falar de si-mesmo

Livros que comprámos, ainda estudantes na Faculdade de Letras, e onde encontrei muito do que procurava: tantas coisas maravilhosas e esquecidas.
Baudelaire, por Courbet
 Courbet, L'Atelier du peintre - e Baudelaire

Reli as suas páginas íntimas, ‘Fusées’, ‘Mon coeur mis a nu’, ‘Pauvre Belgique!’, e ‘Le Spleen de Paris’. Voltei a ler leitura os Poemas, nas ‘Oeuvres Complètes’ (Pléiade)
 “L’Art romantique”, colectânea de bons artigos - porque Baudelaire era, além de poeta, um grande crítico de literatura e de pintura. Naqueles seus ‘ensaios’, inteligentes e sensíveis, lúcido sempre, debruça-se sobre os mais assuntos diversos assuntos e personalidades de artistas.

E faz críticas de pintura, dos Salões das Exposições que frequenta, em Paris – fala de Delacroix, por exemplo,  cuja pintura soube entender e explicar melhor do que ninguém.
Escreve sobre os escritores que o entusiasmam, como Théophile Gautier, Victor Hugo, Chataubriand ou Balzac – e outros desconhecidos do grande público como o jovem poeta Pierre Dupont. 
Théophile Gautier

A propósito desse poeta, diz: 
Prefiro o poeta que se põe em comunicação permanente com os homens do seu tempo e troca com eles pensamentos e sentimentos expressos numa linguagem nobre e suficientemente correcta. O poeta, posto num ponto da circunferência da humanidade, reenvia na mesma linha mas em vibrações melodiosas, o pensamento humano que lhe foi transmitido”. 

Pierre Dupont (cuja juventude se passa sob o reinado de Louis-Philippe) “transmite os sentimentos, as doutrinas, a vida exterior, a vida íntima e os modos e costumes dessa juventude”.
Juventude que era toda uma história de locais de perdição e de restaurantes de luxo. “Mas - acrescenta- alguns cantos e versos puros e frescos começavam já a circular em certos concertos ou clubes particulares.”

Baudelaire era um dandy. Interessa-lhe a essência do Dandismo:
O que é um homem superior? Não é o especialista, é o homem que vagueia no tempo livre, homem de Educação geral.
O aspecto ou, melhor, a atitude conta apenas como símbolo da superioridade do espírito e nada tem que ver com o dinheiro ou o poder. "É um diletante que odeia o utilitarismo moderno".
*
Baudelaire era um anarquista? Não creio. Esteve nas barricadas em 1848 (Mon ivresse en 1848, escreve mais tarde), nem ele percebe porquê. Era, sim, um rebelde e um provocador que não respeitava os ‘bons costumes’ dos burgueses.
Figura atraente e por vezes quase repulsiva, complexa, paradoxal, contraditória.
Li um pequeno texto de Le Spleen de Paris, intitulado “Les yeux des pauvres” que mostra a face escondida do seu dandismo que só aparentemente é egocêntrico.

O novo café iluminado, cheio de vidros brilhantes e de cristais. Lá dentro o poeta e a amada. Cá fora um pobre homem com dois filhos pequenos, um deles ao colo. Rostos sérios, olhos, abertos de espanto, que o olham fixamente.
“E os olhos do pai diziam: ‘Que bonito! Como é belo! Dir-se-ia que todo o ouro do pobre mundo veio enfeitar estas paredes.
Os olhos do rapazinho: ‘Que bonito! Que bonito! Mas é uma casa onde só podem entrar pessoas que não são como nós.’
Quanto aos olhos do pequenito esses estavam demasiado fascinados para exprimir mais do que uma alegria estúpida.
Os poetas que fazem versos dizem nas suas canções que o prazer torna a alma boa. A canção tinha razão nessa noite no que me diz respeito.  Não só me enternecera aquela família de olhos, como me sentia até envergonhado dos nossos copos e garrafas muito maiores do que a nossa sede. E virava os olhos para os teus, querido amor, para neles ler o meu pensamento; mergulhei nos teus olhos lindos, bizarramente doces, nos teus olhos verdes (…) E tu disseste: “Essa gente é insuportável com aqueles olhos abertos como portões! O criado não pode afastá-los?”

Personalidade riquíssima de cultura aberta e de grande sensibilidade. Um incompreendido que é, por vezes, incompreensível para os que frequenta. Frágil e susceptível, feroz nos ódios como nos amores ou nas apreciações literárias.
Detestava George Sand, por exemplo. Talvez não aceitasse uma mulher vestida de homem, uma “dandy” no feminino. Coisa inaceitável para ele que escreve “a mulher é o contrário do dandy. Logo, causa horror.” (in L’ Art Romantique, Mon coeur mis à Nu, pg. 407)
E repete, adiante: “A mulher é sempre vulgar, o que quer dizer o contrário do dandy”.
Há nele muito de misoginia, de um sentimento quase grotesco e primário da “inutilidade” da mulher que – segundo ele- se limitava a ter um corpo e nunca um espírito. Chega a perguntar: “Que conversas poderia ter uma mulher com Deus, se ela não tem espírito?”
Jeanne Duval, por Manet, em 1862

Problema que arrastará, atraído mais pela mulher dita “fácil” que procura nos bordéis de Paris e de Bruxelas. Uma vaga paixão por Madame Sabatier que tinha um dos salões literários de Paris não levou a nada se não aos poemas que lhe mandava, anónimo. Um amor passageiro que dura alguns anos pela actriz Marie Daubrun que encontra no Théâtre de la Gaîté, em 1850.
Marie Daubrun 




Jeanne Duval, por Baudelaire

Não podemos esquecer que o seu único amor foi uma prostituta, Jeanne Duval, uma prostituta com quem dividiu a sua vida. Sem pôr nisto algo de crítico...
Jeanne Duval, desenhada por Baudelaire

Mas não será antes uma questão de misantropia? Porque na sua filosofia só o dandy é quem tem todas as qualidades de Educação Geral, e é um homem superior -espiritualmente. Os outros homens são vulgares e banais (como as mulheres….)
Baudelaire, dandy, aos 21 anos, por Emile Leroy
Baudelaire, dandy ainda, em 1855 (foto de Nadar)

O que Baudelaire é de certeza é um homem céptico e um grande pessimista. A quem os abismos arrastam e que ele próprio procura.
Admiram-no alguns seus ‘pares’, como Gustave Flaubert que lhe escreve uma bela carta, ao receber o jornal em que foram publicados três poemas dele.
“Merci pour le journal. Vos trois pièces m’ont fait enormement rever. Je les relis de temps à autres. Elles posent sur ma table comme des choses de luxe qu’on aime regarder. L’Albatros me semble un vrai diamant. Quant aux deux autres morceaux, mon papier serait trop court si je me mettais à vous parler de tous les détails qui me ravissent.” (*)
Gustave Flaubert

A jovem geração, os chamados “fantaisistes”: de Mendès, Mallarmé, Verlaine e Rimbaud admiram-no – mas chegam demasiado tarde. 
Verlaine e Rimbaud. quadro de Fantin-Latour

Stéphane  Mallarmé, por Edouard Manet (1876)

No fim da vida, quase lhe metem medo e não os quer ver. O jovem poeta inglês Charles Swinburne aprecia-o. Não lhe interessa sabê-lo.
Charles Swinburne, por Dante Rossetti

Com certeza pensa: o que são estes jovens ao pé dos grandes críticos como Sainte-Beuve ou os dois Théophile (Gautier e Silvestre)? 
 Sainte-Beuve
Théophile Silvestre

Quem era afinal Baudelaire? Como encontrar a resposta se não andando à procura como ele andou? 

O Poeta da insatisfação, sem dúvida, que diz de si:

Parece-me que estaria bem num lugar, o lugar onde não estou e este problema da mudança é uma coisa que discuto com a minha alma a toda a hora. ‘Diz alma minha, pobre alma fria, o que achavas de viver em Lisboa? Lá deve estar calor e tu estarias alegre como um lagarto.” 
E continua a falar com a alma que silenciosa nada responde. Até ao momento em que "enfim a minha alma explode e grita: não me inetressa nada para onde! Não quero saber onnde! Desde que seja fora deste mundo"! 


Alma insatisfeita…que só está bem onde não está!” (Le Spleen, "L’ Art Romantique", p.303)

*  O Poeta da Beleza:
 “O que é o Belo?”, pergunta a si próprio. E vai acrescentando respostas.
“Encontrei a definição do ‘meu’ Belo. É algo ardente e de triste, algo um tanto vago, que dá espaço à conjectura.”
 “A irregularidade, isto é, o inesperado, a surpresa, o espanto são uma parte essencial da característica do Belo.”
"O Belo é sempre bizarro."

* O Poeta da Liberdade, da Solidão e da Beleza era também o do Absoluto, do medo do Tempo inexorável, do Nada e o do Abismo.


O Douleur…ô Douleur! Le Temps mange la vie”
(“L’Ennemi”, pg.112)
*
“Relógio! deus sinistro, assustador, impassível,
Cujo dedo ameaça e nos diz: “Lembra-te”
das vibrantes Dores que no coração cheio de medo
Se espetarão como num alvo.”
(in Relógio”)
*
E o Tempo engole-me minuto a minuto,
como a neve imensa cobre o corpo gelado”.
*

“Morne esprit, autrefois amoureux de la lutte,
L’espoir, dont l’éperon attisait ton ardeur,
Ne veut plus t’enfourcher! Couche-toi sans pudeur,
Vieux cheval dont le pied a chaque obstacle bute.

Résigne-toi mon coeur; dors ton sommeil de brute.
Esprit vaincu, fourbu! Pour toi vieux maraudeur,
L’amour n’a plus de goût, non plus que la dispute.
…….
Le Printemps adorable a perdu son odeur!

Et le Temps m’engloutit  minute par minute,
Comme la neige immense un corps pris de roideur.
……
Avalanche, veux-tu m’emporter dands ta chute?

(‘Le gout du néant’, in “Baudelaire par lui-même”, pg. 108)

*

Que fazer, então? 
Enivrez-vous!” Escreve: “Para viver, embebedem-se, seja do que for! Não necessariamente de álcool
De poesia, de virtude…
De vento, de vagas,
de estrelas e de pássaros
*
Acrescentando:
“Um dia em que na solidão morna do quarto onde acordares te sentires bem, porque a tua bebedeira passou, pergunta ao vento, à vaga, à estrela e ao pássaro que horas são.
E o vento, a vaga, a estrela o pássaro e o relógio dirão: ‘É hora de te embriagares!’ De vinho, de poesia ou de virtude, como quiseres.”
(Le Spleen, L’ Art romantique, p. 286)
*
Poeta do(s) Abismo(s): 
"Tive sempre a sensação física e moral do abismo, não só do abismo do sono, como do abismo da acção, do sonho, da lembrança, do arrependimento, do remorso, do belo e do número, etc."


“Tudo é abismo, - acção, desejo, sonho
Palavra!”
...
Tenho medo do sono como se tem medo de um buraco
Cheio de vago horror, levando-me sabe-se lá onde
Só vejo infinito através das janelas (…)”
*
Deita-te, sem pudor, velho cavalo cansado
 que passo a passo tropeças no caminho”.

De facto, Les Fleurs du Mal, colectânea de poemas que sai em 1857, é logo atacado violentamente no jornal le Figaro, acusado de "insulto aos bons costumes"
O livro é retirado e o autor e o editor obrigados a pagarem uma multa cada um. E a condição de serem tirados seis poemas para o livro poder voltar a ser publicado. Em 1860, assina novo contrato com Malassis para a segunda edição de Fleurs du Mal, Paradis artificiels, Curiosités esthétiques. Em Fevereiro de 1861, é posta à venda segunda edição, amputada deses poemas e acrescida com outros textos poéticos e em prosa. extos esses agrupados em seis temas: Spleen et IdéalTableaux parisiensLe Vin, Les Fleurs du MalRévolte e La Mort. 
Em 1863, Baudelaire cede ao editor Hetzel o direito exclusivo de publicação de um volume de versos (3ª edição de Les Fleurs) e um  outro de poemas em prosa, Le Spleen de Paris.
Em 1864, le Figaro começa a publição de Le Spleen de Paris, mas depressa a interrompe.
Em 1866, recebe  a notícia que um jovem poeta Mallarmé escreve no "Artiste" um grande louvor da sua obra e Paul Verlaine (21 anos) elogia-o na revista L'Art. E dirá a uma amigo: "esta gente nova mete-me um medo de cães. Quero é estar sossegado sozinho!"

 No 'dossier' de Fleurs du Mal, escreve: 

"Amassei a lama e transformei-a em oiro". 
*
"Trazia nos olhos a força do coração
Por Paris o seu deserto vivendo sem fogo nem lugar,
Tão forte como a besta, tão livre como um Deus." 
*
Era tempo de acabar. Mas o fim demorou a chegar. De Bruxelas para Paris, para um hospital. A agonia foi longa e o sofrimento imenso! Morre no dia 31 de Agosto de 1867, às 11 da manhã. Em 2 de Setembro é enterrado no cemitério de Montparnasse.
Tudo fica por dizer, mesmo depois de tanto procurar. Basta olhar a bibliografia sobre Baudelaire em qualquer manual: não tem fim!

Anjo ferido, de Hugo Simberg


 (*) Resposta de Gustave Flaubert ao envio de La Revue Française – de 10 de Abril de 1859- onde tinham aparecido três poemas de Baudelaire: L’Albatros, Sisina e Le voyage.




Ryuichi Sakamoto- 'Merry Christmas Mr Lawrence'

sábado, 29 de agosto de 2015

CHARLES BAUDELAIRE, e o livro de Bernard-Henri Levy sobre os últimos dias do Poeta...


 Baudelaire, por Gustave Courbet

Comecei há dias a ler o livro de Bernard-Henri Levy “Os últimos dias de Charles Baudelaire” (Quetzal, 1989). Acabei-o ontem.
Li dos dias “imaginados”, a partir de dados das páginas íntimas e de outros documentos, mas romanceados pelo filósofo-escritor francês, um homem inteligente e culto.
Bernard-Henri Levy

O livro ofereceu-mo, no dia dos meus anos, em 1989, a minha grande amiga Lívia – minha amiga desde os 14 anos. Nesse ano tínhamos voltado de Itália, depois de 15 anos por lá, e o moral não estava famoso. Tempos difíceis para nós. 

E a Lívia aparecia sempre para a conversa, aos domingos, com o seu entusiasmo e as suas gargalhadas que nos ajudavam a re-aclimatar…

Eu tive o melhor remédio do mundo, nesse regresso: retomar o meu lugar de professora de Francês e Português no Liceu de São João. Num tempo em que ser professor era uma bela profissão motivante!

A verdade, porém, é que só o li agora, passados estes anos todos. Reencontrei-o, por acaso, como sempre me acontece, é claro. Lá estava a letra da minha amiga e a dedicatória afectiva: 
De Baudelaire fiquei sempre com uma visão sobre a imutável perversidade dos ‘Paraísos’! Espero que gostes!”

Baudelaire – que triste destino! Que tristes os seus últimos dias. Que triste fim.
O livro de B-H. Levy  trouxe-me de volta um escritor que amava e do qual recordava tão pouco. Reli vários livros, entre eles L’Art Romantique (Juillard - Littérature, 1964) e "Baudelaire par-lui-même" (Editions du Seuil, collection Ecrivains de Toujoursque ainda tínhamos comprado nos tempos da Universidade. 

Nestes ‘ensaios’, inteligentes e sensíveis, Baudelaire debruça-se sobre assuntos e escritores dos mais diversos. Os escritores como Théophile Gautier, Victor Hugo, Balzac. Ou Delacroix o pintor que admirou. 

Lendo o livro de Lévy, vejo que nem sempre estes se portaram bem com ele. Nem lhe pagaram os favores que lhes fez, ao escrever tanto sobre eles!
Homenagem a Delacroix, de Fantin-Latour (Baudelaire à direita)


Charles Baudelaire era uma companhia perigosa? Talvez eles achassem que sim, que os comprometeria na sua preocupação de ‘gens biens pensantes’. Flaubert falaria dos bourgeois que desprezava e a quem chamava “pignoufs”.

É Baudelaire quem escreve esta frase, em Fusées:
Faz em cada dia o que te ordena o dever e a prudência”. Sorrio: poucos foram, como ele, tão imprudentes! E tão contrários ao que comummente se chama o “dever”.

Baudelaire era um dandy. O Dandismo era uma coisa séria para ele. Uma regra de vida, uma atitude que era um símbolo da riqueza espiritual. 
Sim um provocador, um crítico dos bons costumes burgueses. Figura atraente e quase repulsiva, complexa,paradoxal, contraditória.
Baudelaire, jovem dandy, 1844, por Emile Leroy

Cultíssimo, as suas críticas de pintura, das idas aos Salões das Exposições – de Eugéne Delacroix cuja pintura soube entender e explicar melhor do que ninguém.
Sentimos um incompreendido que é, por vezes, incompreensível para os que frequenta. Personalidade riquíssima de cultura aberta e de grande sensibilidade. 
Frágil e susceptível, nos ódios como nos amores. E cujo (único) amor na vida foi uma prostituta, Jeanne Duval, mestiça da Ilha Mascarenhas (ou da Ilha Maurícia? Ou da Reunião? Ninguém sabia ao certo).

Bernard Henri-Levy escreveu um livro elucidativo sobre o poeta. Bem escrito, bem organizado e que, por vezes, nos dá a ilusão de que está tudo a acontecer ali, aos nossos olhos espantados. 

Relato terrível, com acento de verdade, dos horrores passados, dum homem cuja vida acaba com a decadência física mais completa.  O escritor, o poeta luminoso e trágico, o homem da palavra que vai acabar afásico. Sem poder falar, exprimir-se, comunicar. Sem poder escrever, desde o ataque que tivera tempos antes. Resta-lhe pensar, pensar, pensar.
Este livro permite-nos imaginar o que foram esses pensamentos, essa ansiedade, essa angústia.
As personagens deste romance são verdadeiras, existiram todas, de Jeanne Duval (e um pseudo-diário que ela teria escrito) ao crítico Sainte-Beuve, desde a mãe do poeta, Madame Aupick ou ao editor e amigo Poulet-Malassis. 
Os textos do poeta – das páginas íntimas de  Mon coeur mis a nu, de Fusées, de Pauvre Belgique!, dos Poemas ou de Le Spleen de Paris-  serviram de ‘pontos de apoio’ ao romance de B-H.L, para reinventar este mundo. 


A escrita do livro é atribuída a um imaginário dicípulo que recolhe tudo o que Baudelaire disse ou quis dizer, ou pensar, durante seis dias em Bruxelas.

E está lá tudo. A sensação de ter falhado o destino. O desânimo e o desespero dos últimos dias por não poder voltar atrás a recriar a vida.

Acreditamos que foi assim mesmo como Baudelaire “recorda” -e Levy conta- aquela vida de infelicidade, incompreensão pelo seu génio e pelo seu talento enormes.
***
Charles Baudelaire nasceu no dia 9 de Abril de 1821, em Paris, na rue Hautefeuille, e morreu em 1867, no dia 31 de Agosto, em Paris, às 11 horas da manhã. Tinha 46 anos e parecia um velho: estava gasto. Destruído pela sífilis, pelas drogas e pelo álcool.

Escreveu nos seus apontamentos, "Fusées":

"Dizem que tenho 30 anos, mas se vivi em cada minuto três..., então não terei 90 anos?"
ilustração de Rops, Les Fleurs du Mal, "Satã semeando"

 (*) Com “Les derniers jours de Charles Baudelaire”, B.H.Levy ganha o Prix Interallié de 1988. 
Bernard-Henri Levy nasceu na Argélia, em Béni Saf, de uma família de judeus argelinos, no dia 5 de Novembro de 1948. A sua família vive em França desde 1954. 
 Charles Baudelaire é “o herói bem real dum romance tão fiel às  exigência de verdade como às da imaginação. Será, acima de tudo, o homem miserável que é surpreendido no fim da sua vida, num quarto do Hotel Grand-Miroir, em Bruxelas. Durante os poucos dias em que, doente de sífilis, vai perder parte da razão e o uso da palavra. (…) É à volta desse B. exilado, convencido do falhanço, afásico pouco tempo depois, que Levy vai construir o seu romance.