sábado, 11 de junho de 2016

Ari Shavit e "A minha terra prometida"

Um livro isento, honesto, sem preconceitos nem partidarismos, o livro de Avi Shavit "A minha terra prometida". O subtítulo do livro explica: “Israel: a história e as contradições de um país em guerra para sobreviver”.
As diversas facetas de uma realidade invulgar e muito difícil de ‘julgar', resumidas nesta frase. 
Avi Shavit é descendente dos primeiros sionistas, ingleses que chegaram a Jaffa em 1897. Nasceu em Rehovot, em 1957, estudou Filosofia na universidade de Jerusalém e, desde 1995, escreve para o jornal de centro-esquerda ‘Ha’aretz’, jornal com fortes tradições democráticas e de grande isenção política.
Shavit vive, pois, as contradições e o “paradoxo” do seu país, como explica:
“Por um lado, Israel é o único estado ocidental que ocupa o território de outro povo; por outro, é o único Estado ocidental cuja existência mesma é continuamente ameaçada. São esta ocupação e esta ameaça que tornam única a sua condição. Ameaça e ocupação são os pilares da nossa existência.”
De quem era aquele território, afinal? A quem o ‘tiram’ os sionistas judeus, em 1948? De quem se tornam eles ‘independentes’? 
mapa da repartição do Império Otomano
A Palestina está sob Mandato Britânico, desde o final da I Guerra que levou à queda e repartição do Império Otomano, império que se espalhava da Turquia à Síria, como se vê no mapa. 

Tratado Syke-Picot (1916) vai repartir o Médio Oriente entre França e Inglaterra, ficando a Palestina sob o governo britânico e o Líbano e a Síria sob mandato francês.
 o General Allenby, em Jerusalém (1917)

A terra habitada por árabes, tribos nómadas, beduínos e drusos mas havia séculos, porém, que convergiam para ali os judeus de todo o mundo, a fugir aos ‘pogroms’, do Oriente e do Ocidente.  
Rússia, judeus vítimas de um 'pogrom’ 
Em 1882, respondendo ao apelo do Dr. Lev Pinker depois de um novo massacre de judeus, na Rússia, criam, em Jaffa, a primeira colónia agrícola.
Antes e depois do Holocausto, começam a aparecer os fugitivos da Polónia, Rússia, Alemanha, Áustria e, no final da Guerra, vieram os sobreviventes dos campos de concentração. Em 1897, chega a Jaffa, um barco vindo de Inglaterra. Nele, como disse, vem o avô de Shavit. 
Em 1882, Liverpool, judeus refugiados

Pouco antes muitos  refugiados judeus tinham chegado a Liverpool, fugindo dos 'pogroms' russos e ucranianos. É um encantamento para ele aquela extensão de desertos e dunas com montanhas ao fundo. 

No kibbutz  de Ein Harod criado por um judeu alemão que trouxe para aquela zona jovens - órfãos de pogroms na Polónia e na Ucrânia- criam-se as novas estruturas.
Tudo acontece de repente. Chegam jovens sem futuro, nem família, sem nada. Não têm lugar na Europa, são perseguidos e esperam encontrar ali um refúgio. O Sionismo (2) começara a entusiasmar muita gente: voltar a Sião! A Jerusalém!
Rússia, 'pogrom’ de 1921 

Será alguma vez possível um mundo de paz? No fim e ao cabo é disto que falamos quando falamos de “utopias”. 
judeus fugidos da Europa no séc. XIX

E vejo a minha oliveirinha da paz doente. Uma 'praga' atacou-a, a praga do algodão, e vejam-na.
 raminho de oliveira doente... Como a paz?

Vem-me uma forma de tristeza, de desconsolo, ao ler o livro. Um dia será diferente? Os homens darão alguma vez a mão ao outro homem, e dividirão com ele o que têm? Os homens deixarão alguma vez de atacar os outros homens? Deixarão de matar e de morrer? Deixarão de andar com a mala às costas, a fugir?
Não me refiro só ao Médio Oriente - é igual por toda a parte. Basta ver o que se passa hoje mesmo, com outros migrantes. Vencerá o ódio, o rancor e o ressentimento? Será sempre o medo a causa dos males?
Lembro o meu amigo Inácio que me dizia, em Telavive: “Sabe, Maria João, os sentimentos que mais comandam não é o amor e o ódio e sim o amor e o medo”.
Medo, sim. Migrantes, bem antigos, à procura da sua terra foram os judeus: escorraçados da Europa. Escreve Ari Shavit: "Desde que tenho memória, recordo o medo. O medo existencial."
Como haveriam aqueles 'deserdados da vida', perseguidos por todos, não tentar segurar a terra que lhes fugia das mãos? 
Como não querer fugir ao ódio, às perseguições de séculos? Como não agarrar aquele deserto, aquela areia que fizeram verde? Como não amar as cidades que que arrancaram às dunas, tirando a areia e pondo pedra sobre pedra. Como o foram Telavive, Rishon le Zion e Rehovot?
 judeus migrantes 1948
"Como comentador político, desafio todos os dogmas da direita quanto os da esquerda. Aprendi que no Médio Oriente não existem respostas fáceis nem soluções rápidas para este conflito"- escreve Shavit.
kibbutz Ein Harod, judeus na apanha do algodão 

No kibbutz  de Ein Harod, criado por um judeu alemão que trouxera consigo um grupo de órfãos (sobreviventes de pogroms na Polónia e na Ucrânia), criam-se as novas estruturas, as novas tecnologias, desenvolvem os novos estudos agrários. 
Ein Harod, 1936



Deserto do Negev e Universidade
Um punhado de jovens que deixaram tudo para trás: pais, famílias destruídas e que se fixaram num local inóspito, desabitado e duro, para criar um sítio de paz para todos os judeus perseguidos do mundo!
Nas terras pedregosas, nos altos das colinas agrestes, começaram a criar um mundo que querem seu. Traziam a juventude e o sonho.
Rapazes e raparigas de calções e camisas leves, com sandálias ou botas, trabalhavam de sol a sol e, à noite, dançavam à luz das fogueiras. Dançavam, tocavam música, riam, como se quisessem esconjurar o mal em redor deles. Sentiam-se selvagens e eram vistos como estranhos.
Em tendas, sem conforto, que os protegiam da humidade da noite e do sol escaldante, deitavam-se a ler, até de madrugada, a aprender o que achavam que não sabiam. E liam Tolstoi e discutiam o que liam. E acreditavam no socialismo. 
Estudaram agricultura e secaram os pântanos e erradicaram a malária. Abriram poços, canalizaram águas subterrâneas, tornaram produtivas as terras dos paúis. 
Plantaram laranjais e mais laranjais, cruzaram estirpes de laranjeiras diversas, as de Valência com as Shamouti. 
Instalaram enfermarias e sentiram-se felizes por ajudar os vizinhos árabes das aldeias próximas, cujos filhos morriam de malária e disenteria e cujos campos pouco produziam. Viviam de algumas, poucas, culturas de subsistência.
Cheios de energia, puseram em prática os ensinamentos, foram bem recebidos, porque, com uma agricultura de processos modernos, criavam benefícios, para árabes e judeus. Mas não vai durar...
Shavit faz correr o tempo e a evolução deste grupo através dos olhos dum jovem agricultor - de 1926 a 1936: as esperanças enormes e, logo, os receios. 
Na noite, os jovens cantavam e dançavam em roda das fogueiras. Ouviam Bach e Beethoven, nos gramofones, e tinham medo. Porque não sabiam se ia durar aquele instante de paz. Porque tinham a memória marcada de perseguições. E no DNA, o medo...
Telavive, 1948
Eram os anos 1920 e 1930. Os anos em que se construiu Telavive (inaugurada em 1936), em que se desenvolveram os kibbutz (unidades agrícolas, comunitárias) que foram um cimento para a criação de um Estado.
Escreve Shavit: “Depois das matanças de 1936 – do início do que iria ser a ‘guerra civil’ da Palestina- os judeus da Palestina sofreram uma metamorfose: a inocência e a capacidade de se auto-iludirem – e até certas inibições morais- desapareceram.” 
E as ilusões… 
Biblioteca de Rehovot, hoje
"Rehovot, cidada criada pelos judeus vindos de Inglaterra, vai crescendo. (...) Durante 2000 anos os judeus não tiveram um lugar para viver. Agora têm e é Rehovot(...) Em 1936, Rehovot é uma cidade tranquila, serena, calma. 
Os primeiros tiros ouviram-se em Abril de 1936. Ao cair da noite, vinte automóveis foram parados numa espécie de checkpoint e os passageiros roubados e espancados. 
guerra 1936-1939
Dinheiro para a causa árabe, diziam, para as armas e munições. Dois judeus foram mortos. (...) Em poucos dias vários judeus foram mortos com pedras, martelos e facas. O kibbutz de Kfar Menachem foi incendiado e, nos campos de Ein Harod (onde viviam os tais jovens agora crescidos), as laranjeiras são arrancadas ou destruídas. "(op.cit. pg.72)
Começava a chamada 'guerra civil' árabe-sionista que vai durar de 1936 a 1939. 
Em 1941, as tropas alemãs do general Rommel avançam, pelo deserto da Líbia, e chegam a Alexandria. Os ingleses pensam abandonar a Palestina e refugiarem-se na Índia. 
O mufti de Jerusalém, entretanto, fora recebido em Berlim por Hitler. Espera-se a todo o instante a entrada de Rommel em Jerusalém. O que será o fim dos judeus.
A solidão do judeu é imensa. Em 1943, escreve Yitzhak Tabenkin – citado por Avi  Shavit:
“Sentimos uma grande solidão (…) Não há modo de sabermos quantos judeus conseguirão sobreviver ao extermínio”, que começara em 1942. O primeiro comboio carregado de judeus de Paris chega a Auschwitz nesse mesmo ano. E continua: “Nenhuma garantia de que os nazis os não exterminem todos (…) Mas o mais amargo de tudo é a consciência da nossa solidão e de saber que o mundo é nosso inimigo.” (op.cit.pg.98)
Mas, nos anos 20 e 30, eles ainda não o sabiam. Criavam orquestras, faziam grupos musicais: aparece não se sabe de onde um piano! O céu por cima das suas cabeças tem estrelas brilhantes, os espaços abertos inspiram um sentimento de liberdade nunca sentida. 
Jascha Heiffez
Um dia,  chega da América, o violinista Jascha Heiffez. Menino-prodígio, judeu de Vilnius, tocava desde os 3 anos e deu o primeiro concerto aos 16 anos. Agora com 25 anos, quis tocar para os judeus da Palestina que desejam a paz.
Como diz o Salmo: “Serão os dóceis que um dia terão a paz”… Será?
"Em 14 de Maio de 1948, poucas horas antes de se extinguir o Mandato Britânico e já a meio de uma guerra civil entre árabes e judeus foi declarada a Independência do Estado de Israel. Os Estados árabes reagiram imediatamente." (wikipedia)
Na Palestina do Mandato Britânico, Israel vai ser um estado independente. E começa um longo conflito tendo de um lado Israel e do outro vários estados árabes.
árabes, em 1948
A partir daí nada vai ser simples. Muitas decisões vão ter de ser tomadas que dividem, que magoam, que trazem injustiças. mas tratava-se de vida ou de morte. De terra livre - ou de novos pogroms? E, por isso, surgem situações trágicas entre judeus e árabes. Em que sofriam todos. Como em Lydda, vila árabe de onde fugiram ou foram afastados os árabes.
árabes fugindo de Lydda
"Aprendi que no Médio Oriente não existem respostas fáceis nem soluções rápidas para este conflito. E compreendi que a situação de Israel é extremamente complexa, se não trágica.”
E hoje? Têm uma terra. Têm um Estado. Têm universidades, museus, tecnologia e investigadores em todos os campos! No entanto, continua a ser o único estado Ocidental que tem de lutar pela sobrevivência. 
A verdade é que, em grande parte, o mundo continua a ser o inimigo.
Desde que tenho memória, recordo o medo. O medo existencial. O Israel em que cresci, o dos anos 60, era um país vital, exuberante e cheio de esperança, mas eu tinha a sensação constante de que, para lá das belas cores e dos jardins (…) se agitava um oceano ameaçador.”

Esse medo existencial tão conhecido dos judeus de todos os tempos e lugares: da Inquisição aos vários massacres pelo Ocidente e pelo Oriente. 
“Uma manhã de 1967 - conta Shavit- perguntei ao meu pai se os árabes um dia venceriam. Se iam deitar-nos todos ao mar. Dias depois começou a Guerra dos 6 dias". 
Israel é  atacado por três países árabes: o Egipto, a Jordânia e a Síria, apoiados pelo Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Argélia e Sudão. Consegue vencer e "empurrar" os invasores. Para sempre? Não, não acaba aqui. 
Anos mais tarde, o Egipto ataca de novo, num dia festivo para Israel, o Dia do Perdão e do Jejum, o Yom KippurEm Outubro de 1973,  Tropas do Egipto, passam, através do canal de Suez, secundadas pela Síria que vem do Norte, dos Montes Golan.
Tropas do Egipto, 1973
Monte Hermon (nos Montes Golan)
"Em 1973, ouviram-se tocar as sirenes que anunciavam o desastre. Naquela tarde tranquila de Yom Kippur, estava eu na cama com gripe e ouço os caças F4 passarem por cima da nossa casa, em direcção ao Canal de Suez para afastar o exército egípcio que atacara Israel de surpresa. Muitos deles não regressaram. Tinha 16 anos e, quando soube da derrota dos nosso nos Golan e no deserto do Sinai, fiquei estarrecido."
Guerra do Kippur, linha defensiva Bar Lev
Apesar de vencerem a guerra, o traumatismo dos primeiros embates com os países árabes que atacam de surpresa deixaram um gosto amargo nos israelitas. De facto, muitos dos pilotos dos F4 não voltaram, como diz Shavit. E houve bastantes baixas nos soldados israelitas.

"Em Janeiro de 1991 rebenta a 1ª Guerra do Golfo. Telavive é bombardeada pelos 'Scuds' iraquianos. Temia-se um ataque químico. Durante semanas, por onde quer que se andasse, trazíamos máscaras anti-gás e, quando tocavam as sirenes anunciando um iminente ataque missilístico, fechávamo-nos em divisões hermeticamente fechadas, com as máscaras postas. Mesmo que a ameaça não fosse real, havia naquele processo inquietante algo de terrificante.”
Telavive, Promenade
Devo dizer que vivi alguns anos em Telavive e foi-me dado experimentar um pouco dessa sensação. Esperava-se um ataque químico, por parte do Iraque e, durante dois dias, os que não tinham a tal divisão hermética, colaram plásticos e oleados nas janelas e taparam todas as frinchas. Esgotaram-se nas lojas os plásticos! Tínhamos um 'bunker' em casa e tive direito à minha máscara anti-gás. Felizmente, o tal ataque não aconteceu.
na Dizengoff Street, o Segafredo o meu café preferido
Muito se falou, então, do que acontecera anos antes: dos scuds lançados sobre Haifa e Telavive, durante a Guerra do Golfo. Contaram-me como, num supremo desespero e desafio, iam de máscaras debaixo do braço até ao café do Hotel Hilton onde se reuniam os diplomatas estrangeiros.
Para saberem as notícias mais recentes. E acabavam a noite, na praia, a ver o céu e a ver os scuds.
Telavive, a 'cidade branca' saída das dunas
E, depois, em 1994, vieram os ataques terroristas,  em Hadera e em Telavive.  Aqui, na Dizengoff Street, no autocarro da Linha 5 (que muitas vezes apanhei) onde um kamikaze se fez explodir, numa hora de ponta. Mortos e feridos, e terror. Em 1995, um atentado no dia da festa do Purim à entrada do Centro Comercial Dizengoff, no coração de Telavive. Passara-se um ano antes de eu chegar. Outros aconteceram, depois, como no Café Apropo, um belo edifício em estilo Bauhaus. Morta uma mulher grávida e a mãe desta criança, que vêem, nos braços duma polícia. 
no Café Apropo, 2001
Ou na estação central de autocarros. Ou, em Jerusalém, no Café Chagall. Desses tive conhecimento próximo. Ou à entrada da discoteca Dolphinarium, que recordo bem pois vivíamos ao lado da Promenade. 
Era o ano de 2001, e, à beira-mar, um terrorista explode o cinto armadilhado. 
Nunca ouvi um ruído igual na minha vida! Percebi quanto pode ser terrificante um atentado! Eram onze e meia da noite. Abri a janela: um silêncio impressionante, de repente, como se ninguém pudesse respirar! Segundos depois, as ambulâncias passaram perto. 
Nessa noite, morreram vinte raparigas despedaçadas pela bomba e pelos estilhaços de pregos e pedaços de ferro. Nessa noite, as jovens não pagavam e havia muitas russas - que nem judias eram- entre as mortas. As que sobreviveram, vi-as na televisão cheias de buracos no rosto pasmado e sangue no corpo.
ruínas da discoteca Dolphinarium
Continua Shavit: “Em Março de 2002, Israel é envolvido numa nova onda de terror. Foram centenas de pessoas que morreram, vítimas dos ataques suicidas palestino que se faziam explodir dentro de autocarros, nos cafés, nos locais nocturnos e nos centros comerciais. Uma noite, enquanto estava no meu escritório em Jerusalém ouvi um barulho terrível. Pensei: deve ser no ‘pub’ do nosso bairro".
Jerusalém, Café Moment (2002)
"Quando cheguei ao bar, três miúdos jaziam mortos ainda em frente das cervejas que bebiam. Uma outra, ainda pequena, estava num canto sem vida. Os feridos gritavam e choravam. 
Enquanto observava o inferno, o jornalista dentro de mim, perguntava: “O que vai acontecer? Até quando se pode suportar esta loucura? Chegara um dia em que a vitalidade pela qual os israelitas são conhecidos deverá render-se às forças mortíferas que os querem destruir?” (Prefácio, pg. XII)
Shavit militou no grupo pacifista “Paz agora”, de que faz parte Amos Oz e tantos outros, mas afastou-se. No entanto acredita fortemente que a paz tem de ser procurada a todo o custo.
“Só há poucos anos, entendi que os meus medos têm que ver também com o futuro do meu país e igualmente com o modo como se têm desenvolvido certas políticas que pretendem expandir-se.”
(...) “O modo como considero seja a ameaça a Israel, seja a atitude de ocupação de Israel, tornou a minha voz diferente de outros, nos canais da informação. 
Como comentador político, desafio todos os dogmas da direita quanto os da esquerda. Aprendi que no Médio Oriente não existem respostas fáceis nem soluções rápidas para este conflito. E compreendi que a situação de Israel é extremamente complexa, se não trágica.”
'Via para a paz" de Israel ao Egipto (escultor Dani Karavan)
Creio que é muito difícil. Trágica, sem dúvida. E mais difícil ainda de perceber para os que a não vivem! Porque não se consegue imaginar esta forma de viver 'cercados' por uma imensidade de países árabes que não reconhecem -grande parte deles- a existência mesma de Israel. E outros -que pensam apenas em 'destruí-lo'.
raminho de oliveira pode curar-se... E a paz?
Avi Shavit sabe, porém, que a única solução é a paz. É o único modo de haver um futuro para Israel. Mesmo que se ceda naquilo que pode doer. Algo se avançou desde os acordos de Oslo. 

Ramallah tem hoje um desenvolvimento económico? Bons hotéis em Ramallah e em Gaza? 
Hotel Ramallah
Nem todos morrem de fome? Claro que não!


Hotel ArcMed, em Gaza
No entanto, não é suficiente para a Paz...

Para Shavit, os "cenários" possíveis são estes: 1.Israel continua a ocupação que ele considera criminosa hoje; 2. Israel torna-se num estado de apartheid; 3. Israel vai tornar-se num estado para duas nações;4. Israel escolhe uma via drástica e, apesar de grandes sofrimentos, retirar-se-à para os confins estabelecidos quando dos acordos de Oslo.
o Sarona Market
Para isso a verdade é que têm de ser as duas partes a negociar! E se a ameaça continua, a ocupação vai continuar também. E os atentados repetem-se. O último, há dois dias, no Centro Comercial de Telavive, o Sarona Market que é um dos pontos de encontro dos telavivianos, nos cafés e bares e cinemas. 
Como bem dizia Rabin "a paz faz-se com os inimigos, não com os amigos!"
Diz Shavit: "Exactamente porque estamos circundados de incerteza, nós israelitas insistimos em acreditar em nós, no Estado-nação, no nosso futuro. Mas, no decorrer dos últimos anos o meu medo nunca me abandonou..."
* * *

(1) A Palestina quer dizer a região total que abrange o que é hoje o estado de Israel e igualmente o Reino da Jordânia, a Síria, o Líbano, o Iraque, resultantes da queda do antigo Império Otomano. 
(2) Theodore Hertzl, depois do caso Dreyfus (a cujo julgamento vergonhoso assistiu) conclui que os judeus têm de ter um refúgio. Em 1886, sai o livro “O Estado Judaico”.

Em 1917, a Declaração Balfour diz: “A favor do estabelecimento na Palestina de um lar para o povo Judeu (…)sem prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não-judaicas na Palestina".


7 comentários:

  1. É impressionante tudo o que o seu post conta (e que já sabemos, mais ou menos) e mais impressionante ainda que não se vislumbre uma solução para este problema que se arrasta, com prejuízo para todos. Não compreendo que a solução escolhida seja sempre a da destruição.

    Um beijinho e espero que a sua oliveirinha recupere. Fico sempre com pena quando me morre alguma plantinha, o que acontece de vez em quando, porque não tenho grande jeito. Hoje comprei uns vasos e terra nova para mudar uns cactos.

    Bom domingo:)

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  2. Estive a ver do livro no Wook, mas não há em português...

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  3. Um texto que diz muito sobre a luta de um povo e seu país contra o antisemitismo milenário... e bem forte, entre nós!

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  4. Sim, nada é simples, as respostas nunca são fáceis nem as soluções rápidas. A incerteza é como uma herva ruin que não deixa de crescer e a dor do mundo gira sempre à volta das nossas cabeças.
    Uma coisa é certa: o povo judio tem um coeficiente intelectual alto, a inteligência é hereditária, e oxalá sejam capazes de encontrar soluções que acabem com tanto sofrimento.
    Bom trabalho, Jana, uma vez mais. O livro deve ser interessantíssimo.

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  5. Um processo de paz nunca é fácil, especialmente neste caso.
    Lembro as palavras de Mahatma Gandhi - «An eye for an eye
    only ends up making the whole world blind»
    É urgente uma luta heróica para suster a vingança...
    A guerra nunca origina paz, pelo contrário, gera ódios.

    Quando jovem, fui admiradora e apoiante incondicional
    dos israelitas, hoje penso de maneira diferente...
    Gostei muito do seu texto e vou gostar de ler o livro.

    Uma semana simpática e muito agradável.
    Beijinhos, MJ.
    ~~~~~~~

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    1. Tudo é difícil, quem me dera pensar que o não é...Sei que o 'olho por olho' não é nunca a solução para nada. Nem o ódio. Não consigo talvez ver com imparcialidade total esta situação, tentei ser objectiva. A verdade é que 'ver por dentro' é sempre condicionante e eu vivi por dentro muita coisa e tenho amigos que viveram coisas horrendas em Telavive e noutros locais. sei que não é com prazer que vão combater, mas não sei como reagiria a Europa (aliás, vê-se com os recentes atentados...) se estivesse rodeada de países que a querem eliminar. Desejo a Paz - como os meus amigos de Telavive a desejam mais do que ninguém! Mas tem de haver um encontro de vontades. "E é com os inimigos que se faz a paz"...

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  6. Li do começo ao fim, sem parar, completamente envolvida e sentida, pelo fato de, ainda o mundo caminhar, sem despertar pela paz.
    Mais uma postagem excelente e plena de oportunidade de conhecimento, por aqui.
    Agradecida pela leitura, deixo um beijinho e o desejo de paz e de uma ótima semana.

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